domingo, 31 de agosto de 2008

Poema do domingo

Hope is the thing with feathers
That perches in the soul,
And sings the tune without the words,
And never stops at all,

And sweetest in the gale is heard;
And sore must be the storm
That could abash the little bird
That kept so many warm.

I've heard it in the chillest land,
And on the strangest sea;
Yet, never, in extremity,
It asked a crumb of me.

Emily Dickinson

sábado, 30 de agosto de 2008

Sarah Palin

A escolha de Sarah Palin foi uma excelente jogada da campanha de McCain.

Obama cometeu recentemente uma série de erros que podem ter lhe custado a eleição. O principal, é claro, foi não ter escolhido Hillary Clinton como sua vice. Era, provavelmente, impossível mesmo: os dois grandes egos não poderiam se suportar por muito tempo na mesma chapa, sem falar que Michelle Obama não poderia suportar uma rival na decoração da Casa Branca.

Depois Obama cometeu outro erro: escolheu Joe Biden como vice. Uma escolha segura, até poderia se dizer conservadora - que pode até acalmar o eleitor médio preocupado com a inexperiência de Barack em política externa, mas que vai em contra à imagem de "mudança geral" proposta por ele.

Finalmente, Obama concluiu a sua incrível sucessão de erros com um discurso apenas morno em um falso templo grego.

Se Obama tivesse escolhido Hillary de vice, McCain não poderia ter escolhido Sarah Palin: ficaria parecendo apenas um copião. Mas Obama escolheu Biden, e McCain aproveitou o erro, e colocou Sarah Palin na sua chapa.

Sarah Palin é um trunfo por várias razões: é conservadora, cristã, anti-aborto, pró-armas, e aproxima assim a base republicana de McCain, que havia se afastado dele. Ao mesmo tempo, é uma mulher, com cinco filhos e imagem de lutadora, que pode aproximar as mulheres trabalhadoras de de meia-idade desanimadas com a não-indicação de Hillary (e mesmo que dupla McCain-Palin só conquiste uma pequena fatia dos 18 milhões de seus votos, já será lucro).

Mas ainda há mais: Obama não pode atacar diretamente Sarah Palin, ou perderá votos. Sua melhor estratégia é ignorá-la. Pois, como diz o articulista americano Dick Morris:
Obama passou dois anos impedindo uma mulher de se tornar presidente, e agora precisa passar dois meses impedindo outra de se tornar vice - e para fazer isso precisa do voto das mulheres.
Esta vai ser uma eleição muito apertada e emocionante, e Obama já não tem mais a vantagem. O verdadeiro "change" é representado por Sarah Palin.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Valores familiares


Algumas pessoas devem achar que o cérebro da criança é um pequeno recipiente vazio pronto para ser enchido com a ideologia da moda. Na Suécia, saiu uma série de livros infantis cujos personagens incluem meninos que gostam usar sapatos cor-de-rosa e maquiagem, e famílias formadas por pais gays ou mães solteiras. "Essas famílias existem, são normais e precisam ser aceitas”, diz uma das editoras. Talvez tenha razão.

Mas já existem dezenas de livros infantis sobre pingüins gays, mamães lésbicas, pais aidéticos, ursinhos polares que morrem devido ao aquecimento global, e até um belo livrinho ilustrado sobre um garoto que tem um titio pedófilo.

Saudades de Branca de Neve, Bela Adormecida, Barba Azul e Chapeuzinho Vermelho, de quando as coisas eram algo mais sutis... (Se é que eram realmente).

O velho e a gostosa



Está quase confirmado que a governadora do Alasca, Sarah Palin, será a candidata a vice na chapa do McCain.

Parece uma boa jogada: ela é jovem, tida como conservadora, pode chamar o voto das mulheres pró-Hillary desiludidas com Obama, tem ótima gestão como governadora, e além de tudo é bonita. Em 1984, foi eleita Miss Wasilla e ficou em segundo-lugar no concurso de Miss Alasca.

Atualização: Está confirmado, é Palin mesmo. E, em outras notícias interessantes, a filha de 24 anos do McCain é blogueira. Confiram lá as fotos da McCampanha.

Agora sim, as eleições mais interessantes dos últimos anos começaram de verdade.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Red Ken e Chapolim Colorado: enfim juntos


Ken Livingstone, também conhecido como "Red Ken", ex-prefeito de Londres, socialista e simpatizante de terroristas, conseguiu um novo emprego: consultor de planejamento urbano do Chapolim Colorado, quero dizer, do Chávez. E mal começou já está puxando o saco de seu novo patrão:

"Acredito que Caracas vai se tornar uma cidade de Primeiro Mundo em 20 anos".

Pode ser. Ou pode ser que, do jeito que vão as coisas, o Primeiro Mundo se torne uma grande Caracas em 20 anos.

O círculo se fecha. Radicais islâmicos, ativistas de esquerda, idiotas úteis, políticos socialistas: "somos todos irmãos, braços dados ou não." O velho ditado nunca foi tão certeiro: diz-me com quem andas e te direis quem és.

Irmão rico, irmão pobre: a família Hussein Obama

Um acaba de ser coroado candidato a Imperador do Mundo, ganha várias centenas de milhares de dólares por ano e acredita que os EUA não são um país justo. O outro mora em uma favela do Quênia e sobrevive com menos de um dólar por mês. São Barack Hussein Obama e seu meio-irmão, George Hussein Obama.

Cara de um...

...focinho de outro.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um bicho às terças


Hoje falaremos da viúva negra (Latrodectus mactans). Com apenas um centímetro de diâmetro, é uma aranha de pequeno tamanho mas grande veneno: 15 vezes mais potente do que o da cobra cascavel, podendo mesmo causar a morte de humanos. Por sorte, tais mortes são raras pois devido ao pequeno tamanho de suas glândulas a quantidade de veneno que deposita é pouca, raramente suficiente para causar mais do que uma meramente incômoda inchação de até 15 centímetros de extensão no local da mordida, dor, tremores, salivação, taquicardia, suores, náusea, vômito, priapismo, falha renal, paralisia, caimbras musculares e tétano.

Não é um inseto mas um aracnídeo, atenção. Aliás a viúva negra alimenta-se principalmente de insetos, que captura com a sua teia.

A viúva negra tem esse nome porque, como a fêmea do Louva-a-deus, costuma matar e comer o macho da sua espécie após a cópula. No entanto, esse comportamento não ocorre sempre. Em alguns casos o macho vai embora tranquilo e até volta a copular novamente. Não sei se há estudos científicos a respeito, mas deve ter algo a ver com a satisfação sexual da viúva. Se o aranho é bom de cama, sobrevive. Se não, vira almoço.

De resto, o canibalismo é comum entre as viúvas negras, não apenas durante o ato sexual. Pais comem filhos e irmãos se comem entre si. Uma indecência só.

As fêmeas da espécie podem viver até cinco anos. Os machos - até pelos riscos expostos acima - tem uma expectativa de vida muito menor, não chegando a um ano sequer.

A viúva negra costuma ter uma mancha vermelha no abdômen que é meio parecida, reparem só, com o logotipo do HSBC. Desconfio de algum maligno e venenoso plano de marketing.


Tentando livrar-se do petróleo

Uma companhia inglesa criou um avião militar de reconhecimento sem tripulante (UAV) movido a energia solar, que realizou 82 horas ininterruptas de vôo.

Em Israel planeja-se uma rede nacional de carros elétricos com postos de recarregamento de baterias por todo o país. A ambiciosa idéia é eventualmente substituir toda ou quase toda a frota de carros do país por carros elétricos. O empresário Shai Agassi tem um blog a respeito.

Na Califórnia, EUA, uma empresa israelense planeja construir o maior painel solar do mundo, com uma tecnologia revolucionária que geraria um número muito maior de kilowatts do que as células fotovoltaicas tradicionais.

De fato, EUA e Israel assinaram há algum tempo um acordo para desenvolver conjuntamente formas alternativas de energia que não sejam dependentes do petróleo, da energia solar, à eólica, a novas formas de produção energética ainda não completamente testadas.

O objetivo principal é diminuir a dependência no petróleo, e dessa forma não apenas ter um mundo mais limpo como também reduzir o poder de compra dos sheiks árabes, os ditadores persas, os terroristas islâmicos e os neo-comunistas venezolanos.

A idéia em si é boa. Resta saber se pode se tornar realidade.

Notas soltas sobre o aborto

Nem vou me deter agora na questão da moralidade do aborto, apenas observar as incríveis mentiras com as quais a campanha pró-abortista avança no mundo todo.

Do Oiapoque ao Chuí, de Buenos Aires a Lisboa, ativistas pró-aborto falam em milhões de abortos ilegais, milhares de mortes de mulheres em abortos ilegais mal-sucedidos.

Mentira, tudo mentira.

Os números utilizados para legalizar o aborto nos EUA nos anos 70 foram todos manipulados. Para convencer o público os ativistas mentiam descaradamente, diziam que ocorriam “milhões” de abortos ilegais no país, quando ocorriam apenas alguns milhares. Hoje a mesma técnica é utilizada, desconfie de qualquer número que ver… Como eles fazem para contar o número de abortos, se é ilegal?

Um dos responsáveis pela campanha abortista americana arrependeu-se, converteu-se ao catolicismo e assumiu que era tudo invenção. A propaganda era a alma do negócio. Uma mentira repetida muitas vezes...

O aborto, “direito”? Pode ser, mas se for é o direito mais triste que existe. As primeiras feministas eram contra o aborto. Porque sabiam que a maioria dos abortos ocorre por imposição dos maridos, namorados ou pais… Socidedade patriarcal, etcétera. Depois o aborto virou moda. Nunca entendi bem por que. Com tanto jeito mais fácil que tem de evitar a gravidez hoje em dia?

O aborto é uma indústria que gera bilhões de dólares por ano nos EUA. Um bilhão de dólares anuais ganha só a tal Planned Parenthood, maior rede abortista americana. Óbvio que eles querem que o número de abortos aumente. Curioso que contra esse capitalismo nenhum esquerdista proteste.

A luta pelo "direito" ao aborto (Como se alguém pudesse ter algum prazer em abortar) faz parte de um movimento que desvaloriza a vida humana, que acha que esta nada tem de sagrado e é igual a todas as outras vidas, de camelos, vacas, ratos, vírus. É igual a tudo, e portanto igual a nada.

De acordo com os utilitarianistas extremos, para evitar o sofrimento (viver, afinal, é sofrer) devemos encontrar um jeito indolor de matar toda a humanidade. Só a não-existência alivia o martírio eterno da vida. Diz uma velha piada judaica: "O melhor mesmo era nunca ter nascido. Mas quem tem essa sorte? Nem um em um milhão."

Ou como diria Brás Cubas: "Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseqüentemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria."

E por falar em Machado de Assis, fosse hoje, Capitu teria abortado, ou tomado a pílula RU-486 depois de transar com o Escobar, e estaria tudo resolvido na mais santa paz.

domingo, 24 de agosto de 2008

Poema do domingo

Pneumotórax

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira (1886-1968)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Droga é coisa de viciado?

Os últimos assuntos não tiveram muito sucesso, o pobre Kareem ficou ainda mais sozinho no seu post sem comentário nenhum, portanto ataco com um post com debate mais provável, especialmente em uma sexta à noite: drogas.

Drogas, liberar ou não?

A maioria dos liberais (no sentido brasileiro do termo) seguem a linha libertária de aprovar a descriminalização, afinal o Estado não deve se meter na vontade do indivíduo de se envenenar, etcétera e tal.

Raquel Reznik, do blog argentino Blogbis, é uma das que discorda. Embora a favor da liberdade, acredita que o uso de drogas não libera ninguém, e a liberação gera mesmo uma dependência maior do Estado, que deverá supervisar o seu uso "correto" e os inevitáveis problemas que o aumento do consumo causará, bem como até quem sabe ocupar-se da própria distribuição da mercadoria para evitar abusos.

Los peculiares circuitos neuronales de muchos librepensadores - que habitan alegremente en estas tierras de promisión - responsabilizan a los gobiernos por la existencia de las mafias del narcotráfico y de sus ilegales organizaciones conexas y/o satélites. Y como piensan que esas mafias existen debido a la vigencia de prohibiciones, cierran el círculo de la estupidez concluyendo que abolidas las restricciones, el problema desaparecerá.

La mente de estos 'iluminados' de café produce abstracciones sorprendentes, pretendiendo alegremente una libertad de uso personal con legalización plena, ignorando olímpicamente las consecuencias sociales de estos repugnantes hábitos.

Distinguir - a mi entender - entre el consumidor y el traficante, es una ilusión. Las cadenas se componen de eslabones, pero cada eslabón es a su vez una cadena.

La mayoría de las personas afortunadamente - aún - no quiere vivir rodeada de drogadictos.

Todo mundo quer "liberação das drogas", mas são poucos os que gostariam que o próprio filho as experimentasse e virasse um viciado.

Theodore Dalrymple, o grande articulista inglês, também é contrário (aliás, ele, médico, não acredita que existam "viciados" - para ele o vício em drogas, mesmo em heroína, é principalmente psicológico).

Pessoalmente, não sei de que lado me colocar. A princípio, embora simpático à causa libertária, sou contrário à despenalização, por julgar que os aspectos negativos da medida suplantariam os positivos.

Evolução de uma viciada.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Primavera de Praga

Em 21 de agosto de 1968 tropas soviéticas invadiam a Tchecoslováquia, acabando tristemente com a chamada "Primavera de Praga". A belíssima cidade de Praga foi ocupada por centenas de tanques. Hoje, é a Geórgia que está ocupada por tanques russos. As situações são bem diversas, é certo, mas há certa preocupação com o que virá a seguir. O ex-presidente tcheco e herói da luta contra o comunismo, Vaclav Havel, medita a respeito.

A ignorância ao poder

A Argentina já teve um dos maiores escritores do século XX, Jorge Luis Borges, bem como vários outros escritores de primeira linha como Julio Cortázar, Ernesto Sábato, Roberto Arlt, Horacio Quiroga, Alejandra Pizarnik, Victoria Ocampo, etc.

Pois a presidenta Cristina Kirchner propôs, para a Feira do Livro de Frankfurt, no qual a Argentina é país convidado, que a cultura de seu país seja representada pelas seguintes figuras: Eva Perón, Carlos Gardel, Diego Armando Maradona e Ernesto Che Guevara...

Enquanto isso, no Brasil, Lula chamou os estudantes de babacas e seguiu seu hábito de falar através de analogias popularescas medonhas. Da matéria da Folha:

"Eu digo todo dia: governo para todos, não discrimino ninguém. Mas faço como a minha mãe. Se eu tiver um bife, não tem um filho mais bonito que vai comer sozinho não. Todos vão dar uma lambidinha." Lula fez diversas referências ao próprio passado no discurso. Numa delas, culpou seus antecessores pela violência urbana ao dizer que "a política econômica estabelecida neste país nos últimos 40 anos fez gerar duas gerações de jovens sem oportunidades". Então lembrou ser o oitavo filho de uma família pobre, na qual "ninguém virou bandido, nem nunca roubou um centavo".


Evidentemente, o conceito de "roubo" no dicionário petista é bastante limitado, e não inclui a apropriação de dinheiro público.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Kareem

Ali ao lado tem um banner que pede a liberação de Kareem. Confesso que coloquei o banner ali em solidariedade mas nunca dei muita atenção ao caso. Talvez seja o momento de falar um pouco do tema.

Abdul Kareem Soliman é um blogueiro egípcio que escreveu em seu blog alguns textos criticando bastante a religião muçulmana e o governo egípcio. Em fevereiro de 2007 foi condenado a 4 anos de prisão em uma cela solitária, por "difamar o Islã e a honra do presidente Mubarak". Foi ainda acusado ainda de "incitar a população à desordem pública, ao ódio ao Islã e à derrubada do governo".

Pode parecer ridículo, mas pelo "crime" de escrever um blog com suas opiniões, ele ainda está na cadeia, em uma cela solitária, e deve ficar ali até 2011. Aliás, recentemente sua condena foi até aumentada em 45 dias. Há informações que desde algumas semanas ele não está podendo nem mesmo receber visitas de amigos sem uma autorização especial.

Quanto a seus pais, o deserdaram publicamente pois sentiram-se "desonrados", e parece que para muitos muçulmanos a "honra" é mais importante do que a família. Aliás, seu pai chegou mesmo a dizer que o filho deveria ser executado se não se arrependesse! (Que melhor prova de que as críticas do filho à religião muçulmana estavam corretas?)

Estou enviando um cartão-postal para Kareem. Você também pode escrever para ele, seguindo os passos descritos aqui para enviar uma carta, ou simplesmente enviando uma mensagem para ele através do próprio site. Não vá escrever bobagem, afinal, é óbvio que todas as cartas enviadas são cuidadosamente revisadas pela polícia egípcia. Basta uma simples mensagem de solidariedade. Kareem lê inglês.

Para mais informações sobre o caso Kareem, veja a FAQ no site.

A liberdade de expressão é um luxo que temos hoje em dia. Aprecie-a enquanto ela ainda existe.

McCain na frente


Pela primeira vez, pesquisas colocam o candidato Republicano John McCain cinco pontos à frente de Barack Obama.

A inexperiência do candidato Democrata, seus recentes equívocos e suas fracas performances no último debate nada tem a ver com isso, é claro. Segundo os "experts" da mídia, a única razão para Obama estar atrás é o racismo dos americanos.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um bicho às terças



Muitos se preocupam com a extinção das espécies, mas há ao menos um animal que nem o mais radical dos ecologistas se importaria se estivesse hoje mesmo em extinção: estou falando, é claro, da barata.

Odeio barata.

Não me importo muito com moscas e mosquitos, até que gosto de aranhas, minhocas são simpáticas, e sapos e morcegos são até legais. Ratos, escorpiões e cobras não são lá muito divertidos, mas não me metem medo.

Mas odeio barata. Todo mundo odeia barata. Até Kafka tinha nojo de baratas, já que o inseto da "Metamorfose" não era uma barata, mas um tipo de besouro.
Aparentemente nem as baratas se suportam entre si, já que a maioria das espécies segue um comportamento solitário.

Por que as baratas causam tanto asco e rejeição nos seres humanos? Será que são aquelas patinhas "peludas"? Será a sua corrida rápida e rasteira, de direção sempre imprevisível? Será a sua cor nojenta? Serão aquelas antenas compridas em perpétuo movimento? Será o barulhinho que fazem quando vivas? Ou será o barulho que fazem quando esmagadas?

Será o fato de que muitas vezes permanecem vivas mesmo após pisada, borrifadas com DDT, envenenadas com cianureto e esquartejadas por uma vassoura? As baratas estão entre os animais de maior resistência: podem ficar até um mês sem comida e 45 minutos sem respirar; são ainda altamente resistentes à radiação nuclear.

Ou será que é o fato de que algumas espécies voam (os machos, as fêmeas não têm asas) e transmitem dezenas de doenças e alergias?

Ou será que é o seu número assombroso e distribuição mundial? Segundo um recente estudo, só na Grande São Paulo existem 3.5 bilhões de baratas.

Será que é o fato de que existem mais de 4 mil espécies de baratas conhecidas, incluindo uma barata no Peru que chega a 7 cm de comprimento? As piores baratas, consideradas como praga, são a Barata alemã (Blatella germanica) e a barata oriental (Blatta orientalis). Apesar do nome, ambas são originárias da África.

Não sei a razão. Sei que odeio baratas, e espero que esse bicho desgraçado entre logo em processo de extinção.

Marxismo e pós-modernismo causam depressão

Jamais li uma linha sequer do tal Slavoj Zizek, mas ele parece ser bastante celebrado nos círculos culturais esquerdistas, pós-modernistas e neo-marxistas. Mas após ler esta breve entrevista com ele, variação do "questionário Proust", francamente... tenho certeza que jamais vou ler uma linha de sua obra meeesmo. Mais, tenho até pena daqueles que precisam conviver com o sujeito no seu dia a dia. Algumas de suas respostas aqui:

Aside from a property, what's the most expensive thing you've bought?

The new German edition of the collected works of Hegel.

What is your most treasured possession?

See the previous answer.

What makes you depressed?

Seeing stupid people happy.

What do you owe your parents?

Nothing, I hope. I didn't spend a minute bemoaning their death.

What does love feel like?

Like a great misfortune, a monstrous parasite, a permanent state of emergency that ruins all small pleasures.

What is your favourite smell?

Nature in decay, like rotten trees.

What is the worst job you've done?

Teaching. I hate students, they are (as all people) mostly stupid and boring.

What is the most important lesson life has taught you?

That life is a stupid, meaningless thing that has nothing to teach you.

Tell us a secret.

Communism will win.

Claro, é possível que as respostas sejam pura gozação, embora a sua foto pareça indicar que fale sério. E, depois de ter visto a constante simpatia e bom humor da Hirsi Ali mesmo sob a ameaça constante de morte, fica difícil aturar um chato deprimido destes.

Ayaan Hirsi Ali no Brasil


Fiquei sabendo de última hora e peguei só a parte final da entrevista do Roda Viva com a Ayaan Hirsi Ali, que está de visita ao Brasil. A entrevista completa ainda não está na rede, mas dá para ver um pequeno trailer bem bacana com imagens da entrevista e dos bastidores aqui.

O pouco que assisti do programa foi ótimo. Calma, tranquila, falando um excelente inglês, Ayaan Hirsi Ali discorreu sobre religião, islamismo, direitos das mulheres e liberdade de expressão.

É uma das maiores defensoras reais dos direitos das mulheres hoje no mundo, não por acaso uma mulher que sofreu mutilação genital e lavagem cerebral quando ainda criança. Hoje é crítica feroz do Islã, defensora da democracia, da liberdade de expressão, dos EUA e de Israel. Tenho uma que outra discordância com ela, mas é certamente uma figura de coragem admirável, das raras que existem hoje em dia.

No programa fica-se sabendo ainda que a moça não é lésbica.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Olimpíadas do Faustão

Confesso que estou me divertindo assistindo as Olimpíadas. Minhas atletas preferidas, pelo talento e a beleza, são a nadadora americana Dara Torres e a incrível russa do salto com vara, Elena Isinbayeva.

Mas diversão à parte é assistir os atletas brasileiros. Um caiu na prova de ginástica, outra pisou fora do tablado, outro quase é esmagado pelo próprio halteres na prova de halterofilismo, e a outra conseguiu até perder a própria vara. Tá certo, isso pode ser culpa das autoridades chinesas, que certamente tiveram a sua dose de falhas e até falsificaram a certidão de nascimento de algumas mini-atletas da ginástica. De qualquer modo, é um mistério. Onde foi parar a vara da moça?

Claro, todos choraram. Chora quem perde, chora quem ganha. Brasileiro adora chorar e ver choro. A nossa mídia é particularmente atraída pelo pranto. Talvez seja influência das telenovelas, não sei. O fato é que se o sujeito não chora na frente das câmeras, tem algo errado com ele.

Divertidas também são as desculpas dos atletas brasileiros ao perder. A maratonista brasileira, que chegou em 51, reclamou do calor. Ué, a Tomescu não sentiu calor por acaso? Outra, desclassificada no vôlei de praia, disse que "a gente não conseguiu se classificar, mas conseguiu um respeito mútuo". Parabéns.

Não sou como esses que torcem pelo fracasso dos atletas brasileiros. Ao contrário, espero que os atletas do país tenham sucesso, afinal todos sabemos que praticar esportes de elite não é nada fácil. Mas que está divertido pra quem torce contra, até que está.

"Era comprida assim... Não viu não?"

domingo, 17 de agosto de 2008

Poema do domingo


Musée des Beaux Arts

About suffering they were never wrong,
The Old Masters; how well, they understood
Its human position; how it takes place
While someone else is eating or opening a window or just walking dully along;
How, when the aged are reverently, passionately waiting
For the miraculous birth, there always must be
Children who did not specially want it to happen, skating
On a pond at the edge of the wood:
They never forgot
That even the dreadful martyrdom must run its course
Anyhow in a corner, some untidy spot
Where the dogs go on with their doggy life and the torturer's horse
Scratches its innocent behind on a tree.
In Breughel's Icarus, for instance: how everything turns away
Quite leisurely from the disaster; the ploughman may
Have heard the splash, the forsaken cry,
But for him it was not an important failure; the sun shone
As it had to on the white legs disappearing into the green
Water; and the expensive delicate ship that must have seen
Something amazing, a boy falling out of the sky,
had somewhere to get to and sailed calmly on.

W. H. Auden (1907-1973)

sábado, 16 de agosto de 2008

Sobre a eutanásia

Tomando como base a notícia linkada no post anterior, eu queria comentar hoje um pouco sobre a questão da eutanásia.

A eutanásia hoje é legal apenas na Holanda, na Bélgica e no estado americano de Oregon, mas existe uma campanha mundial para liberá-la em vários países, inclusive a católica Itália. Filmes como "Mar adentro" e "Million Dolar Baby", entre outros, tocaram o tema marcadamente a favor da eutanásia.

Pessoalmente, assim como no caso do aborto, considero a luta pelo "direito de morrer" algo macabra e deprimente. A eutanásia poderia ser, no melhor dos casos, um mal necessário para alguém que sofre muito, e no pior dos casos, a oportunidade para alguns de livrar-se de familiares inconvenientes, mas transformar isso num direito parece-me realmente bizarro. Até porque é um direito que atinge um número bastante limitado de pessoas, ou seja, aqueles que estão tão imobilizados que são incapazes de se suicidar sem a ajuda de outros. (Outro nome para a eutanásia é "suicídio assistido"). A lei não tem como impedir o suicídio, apenas aqueles que o promovem.

Além disso, outro problema é que a eutanásia traz más lembranças inescapáveis. Os nazistas começaram seu projeto genocida com a eutanásia de velhinhos, doentes terminais e deficientes físicos e mentais (o chamado projeto "Aktion T4"). Em poucos anos estavam colocando milhões de pessoas saudáveis nas câmeras de gás.

No fundo, o problema é que a eutanásia reduz o valor da vida, de direito "sagrado" religioso a mero fator de conveniência pessoal, médica ou dos parentes da vítima. Um tetraplégico lúcido pode decidir se quer morrer ou não. Mas uma garota em coma não pode decidir por si mesma se quer morrer ou não, e seu pai ou guardião é quem deve decidir isso por ela. Começa-se então matando velhinhos, tetraplégicos e mocinhas em coma. Depois disso, passa-se a matar bebês com deficiências genéticas (notem que nos mesmos países em que existem leis regulando a eutanásia também ocorre a eutanásia infantil de centenas de bebês com problemas congênitos).

Mas de fato, o sofrimento em certas doenças pode ser muito grande, e se você não acredita em valores religiosos e/ou na sacralidade da vida, então não parece haver razão lógica para opor-se à eutanásia.

O que vocês acham?


Atualização: Faltou observar que, assim como o aborto, a eutanásia é uma grande oportunidade para certas clínicas faturarem. Uma empresa suiça, Dignitas, já oferece seus servícios de suicídio assistido para doentes ou deficientes físicos e mentais por módicos preços que variam entre os 4 e os 7 mil euros, e agora pretende oferecer o mesmo serviço para as pessoas saudáveis, mas deprimidas.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Se não me matarem, me suicido

Um jovem gravemente doente quis ter seu "direito de morrer" reconhecido pelo governo, e pediu para que seu tratamento médico fosse interrompido. Como seu pedido foi negado, suicidou-se.

Não aconteceu em Portugal, mas na França.

A História não acabou

Se a pequena guerra particular entre a Rússia e a Geórgia esta semana serviu para alguma coisa (além da triste morte de milhares de civis), foi para acordar o resto do mundo de uma longa letargia.

Além de ilustrar exemplarmente os hipócritas double standards aplicados quando a guerra é realizada por EUA e Israel (passeatas nas praças, milhares de artigos em jornais, gritos da multidão) e quando é realizada por qualquer país não-ocidental (silêncio, desconforto, ninguém nas ruas), o evento mostrou que o que vale mesmo no mundo é o poder militar, e que esse negócio de diálogo e de ser bonzinho com os inimigos para que eles sejam bonzinhos conosco, só serve mesmo como papo de eleições.

O evento também mostrou que esse negócio de "fim da história" era uma grande bobagem. Fukuyama estava errado. Mas, como dizia Oscar Wilde, "é difícil profetizar, especialmente sobre o futuro." No comecinho dos anos 90 realmente parecia que o liberalismo iria triunfar: a União Soviética estava em frangalhos, até mesmo a refratária América Latina parecia estar abraçando o liberalismo, os tigres asiáticos cresciam, os países do Leste Europeu se uniam à velha Europa, etc.

E, no entanto, não foi bem assim. Hoje o arcaico socialismo ressurge com força na América Latina enquanto os ex-guerrilheiros de 1968 chegaram ao poder, não pelas armas, mas pelas urnas. A Europa enfrenta uma crise de crescimento e imigração sem precedentes. Os tigres asiáticos se revelaram de papel. E a velha Rússia mostra as garras neo-imperialistas e soviéticas.

O que o futuro nos depara? Segundo alguns, tudo isto terminará em uma confrontação mundial entre o eixo Rússia-Irã-Arábia Saudita-Venezuela-etc. (que querem petróleo caro) versus os aliados EUA-Índia-China (que querem petróleo barato). Exagero? Talvez.

Uma coisa é certa: a História não vai acabar tão cedo.

Cinco amigos

Uma divertida historinha sobre cinco amigos no colégio: Huguinho, Evinho, Danielito, Rafael e Cristina.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Um bicho às terças



O avestruz (Struthio camelus) pode não voar, mas na corrida é o mais veloz dos animais bípedes: pode correr a até 65 km/h. Vive exclusivamente na África; no Brasil encontra-se um parente menor, a ema.

Vive em grupos e alimenta-se de grama e outros vegetais; ocasionalmente de insetos. Pode passar vários dias sem beber água. Pode ser um animal agressivo, especialmente durante o período de reprodução. Há casos de seres humanos que foram mortos pelo animal em acesso de raiva.

Há dois mitos recorrentes sobre o avestruz. Um, o de que possa engolir quase tudo. Isso é verdade.

O outro é de que o avestruz enterre a cabeça na areia ao menor sinal de perigo. Isso, na realidade, não é exato. O avestruz normalmente se abaixa e encolhe o pescoço encostando a cabeça no chão para se camuflar com o ambiente, mas não há registro que literalmente enterre a sua cabeça.


 


segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Civilização é conquista!

"Civilização é conquista!", disse ela, "E deve ser ganha dia a dia."

Era uma senhora de uns 50 e tantos anos, de classe alta, em uma festa ou coquetel no Rio Grande do Sul, poucos meses após o 11 de setembro. Não lembro das circunstâncias nem do evento e muito menos quem era essa senhora. Mas a sua frase me marcou.

Ela tinha razão, é claro, embora eu só fosse entender o sentido completo muito tempo depois.

Civilização não é o default da humanidade. O default é o barbarismo, o default é o massacre, o default é Gaza e Zimbabwe e Complexo do Alemão e Ossétia do Sul e Sudão. É isso o que os esquerdistas de iPod na cintura e keffiyah no pescoço e cartaz contra o Bush na mão não conseguem entender. Para eles a civilização é algo que sempre esteve e sempre estará, que não exije nem esforço nem estudo. Centenas de anos de evolução cultural e tecnológica foram necessários para que esses imbecis pudessem usar esse iPod e reclamar do Bush e achar que socialismo é que é bacana.

A cultura e a tecnologia ocidental, o conceito de direitos humanos, a sociedade razoavelmente tolerante e livre na qual vivemos, tudo isso é algo muito recente e que exigiu o sacrifício e o esforço de muitas pessoas ao longo dos séculos. Mas eles não percebem. Para eles, tudo começou ontem, e o grande culpado por todas as desgraças do mundo é George W. Bush. Ou os EUA. Ou Israel. Ou a cultura branca capitalista ocidental. Ou algum outro bode expiatório que, no fundo, é o responsável por eles não estarem na miséria ou tendo a cabeça cortada por selvagens ou sua vida privada sendo vasculhada pela polícia estatal. Esses liberais ricos, ignorantes, cegos e infelizes são, como disse alguém em um outro blog, "sujeitos sentados no ombro de gigantes, reclamando da vista."

Se tem uma única mensagem no blog do Mr X, é essa. "Civilização é conquista." Tudo isto que temos hoje e desvalorizamos, liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de se dizer o que se quer em um blog, respeito às minorias e aos direitos humanos e até aos direitos dos animais, tudo isto pode acabar amanhã. A liberdade tem muitos inimigos, dos radicais islâmicos aos revolucionários aos sociopatas niilistas aos tiranos totalitários e ambiciosos de qualquer estirpe. Manter uma civilização livre e viva custa esforço e dinamismo. Custa o sacrifício de soldados e o esforço diário dos cidadãos.

Civilização é conquista! E se conquista dia a dia.

Bruegel: Os cegos guiando os cegos

domingo, 10 de agosto de 2008

Cadê os pacifistas?

Forçadas pelos crescentes bombardeios soviét... hã, russos, as tropas da Geórgia se retiraram da Ossétia do Sul (que não é ainda um estado independente mas se encontra dentro do seu território).

A Geórgia não é inocente, já que começou o conflito e matou muitos ossetas, segundo algumas contas mais de 1400 civis. No entanto não é páreo para a Rússia, provavelmente perderá o controle tanto da Ossétia do Sul quanto da outra província rebelde, a Abicásia. Ambas passarão, se não legalmente, ao menos informalmente à esfera de poder soviét... hã, russo.

O leste europeu está assistindo aos eventos com certo nível de pavor. Lembram do passado e sabem que eventualmente poderão ser os próximos se não se comportarem e esquecerem essa bobagem de sistema de defesa balístico.

O mais curioso de tudo é, na verdade, o incrível silêncio dos "pacifistas". Cadê os articulistas de jornal que vociferam contra a guerra do Iraque e a excursão de Israel no Líbano, cadê as multidões marchando em nome da paz, cadê os gritos pelos direitos humanos?

Enquanto Obaminha paz e amor fala em negociação pacífica e harmonia internacional, o mundo real espreita pela janela, e os vilões afiam seus dentes.

sábado, 9 de agosto de 2008

Poema do domingo

O Amor

Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zôo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o exame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra.

Vladimir Maiakovski (Geórgia, 1893 - Geórgia 1930)

Um clássico do vitimismo


Caiu hoje por acaso em minhas mãos um exemplar do livro de Eduardo Galeano, "As veias Abertas da América Latina". Havia lido o livro quando estava no segundo grau e eram ainda os anos oitenta, e aquelas teorias conspiratórias ainda podiam parecer algo subversivas a um adolescente.

Hoje, relendo algumas páginas, o livro parece pouco mais do que uma antologia do vitimismo pueril. Sua tese pode ser resumida em uma frase: a culpa por todos males da América Latina foi primeiro dos espanhóis, depois dos ingleses, e agora é dos norte-americanos. Buá, buá.

O livro foi escrito nos anos 70, e é impressionante e algo triste verificar o pouco que mudou a ideologia da maioria dos intelectuais latino-americanos desde então. A culpa pelo desastre é sempre dos outros - dos ingleses, dos americanos, dos militares, dos ricos, da classe média. Continuamos repetindo a mesma lenga-lenga chorosa.

Enquanto isso o Chávez implanta por decreto 26 leis autoritárias que haviam sido rejeitadas no plebiscito popular, praticamente impondo um estado policial na Venezuela, no qual a propriedade privada pode ser confiscada a qualquer momento. E tudo sob o aplauso de muitos intelectuais, inclusive o próprio Eduardo Galeano.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Guerra na Geórgia?


A União Soviética não morreu, ao menos não nos sonhos de alguns. Tanques russos entraram na ex-república soviética da Geórgia e há notícias de combates.

A situação, na realidade, é bastante complicada: dentro da Geórgia há o território da Ossétia do Sul, formada em sua maioria por russos étnicos, que declarou sua independência em um referendo informal. A Geórgia, naturalmente, não quer essa independência. A Rússia, ao contrário, estimula os independentistas, pois no fundo o que quer é somar mais território (as províncias independentistas são etnicamente russas e aliadas a Moscou). O governo russo acusa a Geórgia de realizar limpeza étnica. Já a Geórgia acusa a Rússia de invadir seu território. Quem está certo? Não se sabe, mas tudo parece indicar que seja um plano dos russos para controlar a Geórgia, ou ao menos parte dela.

(A Ossétia do Norte, caso alguém queira saber, fica dentro da Rússia. Segundo a Wiki, os Ossetas são descendentes dos Alanos, são um povo que fala uma língua de origem indo-iraniana, e são em parte cristãos e em parte muçulmanos.)

Veremos o que acontece nas próximas horas ou dias.

Atualização: nestes comentários do Weblog do PD, o Bruno Mota, que entende da Ossétia do Sul (e de praticamente qualquer outra coisa) bem mais do que eu, faz um apanhado bastante interessante da situação.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

É possível mudar a cabeça de alguém?

Nos meus velhos tempos de graduação na universidade tive um professor de Sociologia (matéria opcional) bastante bom (não era marxista, deve ser por isso) que dizia que não era possível mudar a mente ou a visão de mundo de uma pessoa, salvo em dois casos:

A) um líder muito carismático;

B) um evento muito catastrófico.

Todas as outras tentativas de mudar a mente de uma pessoa adulta (discutir, filosofar, provar por A + B, mandar estudar, mandar ler livros de História) seriam inúteis e infrutíferas, causando apenas que o sujeito se aferrasse cada vez mais à sua ideologia, por mais absurda e patética que esta fosse se revelando.

Já são anos que discuto via blogs, tentando – nem digo mudar a cabeça das pessoas – mas simplesmente tentar fazer com que pelo menos vejam ou tentem ver o outro lado. Vêm me falar sobre o tal “drama palestino” e aí eu mostro fatos e fotos. Nada. Continuam repetindo a mesma lenga-lenga como se não tivessem ouvido o que acabo de dizer.

Falam-me positivamente sobre o socialismo, o Chávez, o Fidel, as FARC... Nesses casos nem tento contra-argumentar, pois revelam ser casos perdidos... Mas apenas abrir-lhes ligeiramente os olhos... Inútil.

E no entanto, se penso na minha própria experiência, também mudei da esquerda genérica que seguia para a direita moderada que prefiro hoje, não através de discussões racionais, mas a partir de um evento catastrófico (11 de setembro, como a neo-neocon). Depois disso, sim, muitas discussões, leituras, pesquisas, análises, discussões em blogs, até ir passando cada vez mais para o “lado negro da força”. Mas o catalisador foi o evento que me fez repensar várias de minhas suposições sobre os EUA, o Bush, o Oriente Médio, o conservadorismo, o socialismo, etc.

Será mesmo que é o único modo de mudar? Será que não é possível convencer ninguém a partir da discussão?

Algumas pessoas parecem mudar de opinião apenas por causa da chegada da maturidade. Mudar da esquerda pra direita parece ser uma mudança natural: David Horowitz, Reinaldo Azevedo... Até o Olavão, quem diria, já foi de esquerda radical na juventude... Há também casos de conversões da direita para a esquerda, mas são mais raros. Um deles é o da Arianna Huffington, do Huffington Post.

Evidentemente, a questão da mudança de visão de mundo não se refere apenas à “esquerda” e “direita” (que no fundo são generalizações abstratas), mas às mais diversas concepções enraizadas no indivíduo sobre política, sociedade, ética, percepção da realidade... Em outras palavras, ou melhor, só uma: a sua Weltanschauung.


Sucesso

Semana passada:

"É vital que a democracia tenha sucesso em um país islâmico"
Sidi Ould Abdallahi, primeiro presidente democraticamente eleito da Mauritânia.

Hoje
:

"Golpe militar na Mauritânia derruba presidente. Sidi Abdallahi preso."

O mundo islâmico às vezes lembra uma peça do Samuel Becket... "Tente de novo. Fracasse de novo. Fracasse melhor."

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um bicho às terças


O guaxinim, mapache ou ainda racum (Procyon lotor) é um simpático mamífero da família dos procionídeos, parentes ainda que distantes dos ursos. São encontrados na América do Norte e em algumas regiões da Europa.

Os guaxinins podem em teoria viver até 16 anos de idade, mas muitos hoje vivem próximos aos centros urbanos e devido à perseguição de predadores, doenças, caça por humanos e atropelamento, sua expectativa de vida é em geral de 3 anos ou menos.

São animais onívoros: comem insetos, frutos, nozes, e até peixes. Vivem solitários ou em pequenos grupos.

Não são animais domésticos, embora alguns malucos tenham como bichos de estimação. É o caso do nosso amigo abaixo:

Ecologistas irracionais

Sou um ecologista. Acredito que devemos poluir menos, preservar as florestas e proteger os animais selvagens. Como sabem todos os que conferem o "Bicho às terças", gosto muito dos animais. Mas certas atitudes dos ecologistas radicais são difíceis de entender.

Ontem, por exemplo, nos EUA, defensores dos "direitos dos animais" atacaram um cientista que trabalhava em um laboratório que realizava experimentos com animais. Jogaram um coquetel molotov na sua casa, incendiando-a e colocando em risco à vida do cientista e sua família, que teve que fugir pela escada de incêndio. Quase matam humanos em nome da "liberação animal".

A famigerada PETA já realizou operações para salvar coelhinhos das terríveis garras de... criancinhas de oito anos que os tinham como mascote. A criança chorou e o coelho provavelmente morreu de inanição ou atropelado, mas quem se importa? A PETA é que não. A PETA, por sinal, mata muitos cães e gatos que recolhe, pois, segundo sua ideologia doentia, para um animal é melhor a morte do que a humilhação de se tornar um animal doméstico.

A preservação do meio-ambiente e a histeria do aquecimento global vão na mesma direção: querer destruir o avanço tecnológico e industrial em nome da ecologia é um retrocesso.

De fato, o próprio conceito de "preservação do meio ambiente" é filho da Revolução Industrial.
O homem sempre esteve em luta de sobrevivência contra a Natureza, tentando dominar as suas potentes forças. A única razão pela qual estamos preocupados em preservar o meio-ambiente hoje é porque atingimos um nível de prosperidade suficiente para isso, bem como o conhecimento científico suficiente para entender um pouco melhor o planeta. De fato, não é coincidência que as sociedades avançadas industriais são as que melhor preservam o ambiente: pobres e miseráveis estão mais preocupados em comer do que em preservar as suas florestas e parques naturais. A industrialização, o aumento populacional, a poluição e o consumo energético são certamente desafios globais que impactam fortemente o mundo natural, mas não serão resolvidos com o retorno às selvas. Até porque, quem de nós está sinceramente disposto a viver sua vida (ou uma semana que seja) sem eletricidade e internet?

Muitos ditos ecologistas não amam os animais e nem as plantas: apenas odeiam a humanidade.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Batman é de direita?

Há uma discussão na blogosfera sobre se o novo Batman (The Dark Knight) seria um filme de direita. Há até quem compare Batman com George W. Bush. A discussão é irrelevante, primeiro porque a boa ficção deve ir além dos meros posicionamentos políticos em voga no momento, e segundo porque todo os super heróis são de direita. Se fossem de esquerda, não combateriam o crime, mas tratariam de dialogar com os criminosos ou apaziguá-los, de inscrever o Coringa em um curso de malabarismo e arte-terapia para regenerá-lo para a sociedade, ou de resolver o problema, não do crime, mas da pobreza e da desigualdade social, que como todos sabem é a origem de todo mal e toda violência.

O filme, de qualquer modo, faz referências bastante explícitas à questão da guerra contra o terrorismo, e ressalta pelo menos duas coisas: 1) apaziguar os vilões é uma escolha cômoda, mas não funciona, pois termina-se estando sempre à mercê do mal. 2) a luta contra os vilões gera inevitáveis sacrifícios, e por causa disso o justiceiro é vilipendiado por aqueles mesmos a quem auxilia (e aqui a comparação feita com os EUA e com George W. Bush).

De fato, a primeira coisa que chama a atenção no filme é o realismo da sua cenografia. Não estamos nos cenários góticos de Tim Burton ou dos quadrinhos. Este é o mundo real: se o herói não usasse uma estrambótica fantasia de morcego poderia ser mesmo um thriller noir. Também isso aproxima o filme da realidade diária da guerra contra o terror.

Pedro Sette Câmera, no blog O Indivíduo, faz ainda algumas interessantes observações sobre o filme e sua visão sobre o Estado de Direito. Segundo ele:

Na verdade, tanto o Coringa quanto o Batman são conservadores. As “ideologias” dos personagens são nuances de conservadorismo. O Coringa acha que a natureza humana é má; ele só quer empurrá-la mais ainda para o mal. O Batman acha a mesma coisa, mas gostaria que o sistema policial e jurídico fosse suficiente para combater o mal; ele se ressente de ser necessário, em vez de querer ficar aumentando o Estado.

Filme de direita ou não, é bom. Bons atores, bom roteiro, suspense, ação, emoção. Um filme de ação como há tempos não se via, isto é, com alguma inteligência.


Atualização: Na verdade, os X-Men são de esquerda, pois são a favor dos gays e outras minorias. Hulk é claramente de direita raivosa. O Surfista Prateado é de esquerda e a favor da liberação das drogas. O Homem-Aranha é PSDB desde criancinha, sempre em cima do muro.

domingo, 3 de agosto de 2008

Poema do domingo

The Road Not Taken

TWO roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the undergrowth; 5

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that the passing there
Had worn them really about the same, 10

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads on to way,
I doubted if I should ever come back. 15

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.

Robert Frost

sábado, 2 de agosto de 2008

Um bicho às terças





A candidata a vice Sarah Palin tem vários aspectos positivos, mas não acredito que a caça de alces seja necessariamente um deles.

Gosto de alces. Acho-os animais simpáticos e elegantes.

Os alces (Alces alces) vivem na região ártica do planeta: Alasca, Canadá, Sibéria e países escandinavos. Os machos são animais polígamos e, como a foto acima demonstra, procuram impregnar o maior número possível de fêmeas. Em muitos casos, costumam disputar as fêmeas a chifradas. Naturalmente, apenas os machos têm chifres ou galhada. Não se sabe se isso tem algo a ver com o comportamento das fêmeas enquanto os maridos estão longe de casa.

Após o período de reprodução, a galhada cai para que o animal possa conservar energia durante o inverno. Os galhos crescem novamente na primavera. Se o animal é castrado, seja por causas naturais ou artificiais, estes caem e em seu lugar crescem galhos deformados.

Os alces alimentam-se de plantas, inclusive plantas aquáticas. São, por sinal, ótimos nadadores, e podem inclusive mergulhar a profundidades consideráveis.

Os principais predadores naturais dos alces são os lobos. Também tigres siberianos e governadoras do Alasca costumam caçá-los.

Pouca gente sabe, mas no início de sua carreira, Woody Allen caçou um alce. Vídeo com o relato abaixo.




sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Matou a família namorada e foi ao cinema ao show da Mulher Melancia

No Brasil, um goiano chamado Mohamed (epa!) dos Santos matou e esquartejou sua namorada inglesa de 17 anos, e depois foi a um show da Mulher Melancia. Tirou fotos do corpo com seu celular, depois colocou os pedaços em uma mala e jogou no rio.

Na Argentina, um homem atropelou uma menina de 10 anos, colocou-a no carro prometendo levá-la ao hospital, mas em vez disso a levou a um descampado onde a estuprou e depois ainda molhou seu corpo com gasolina e ateou fogo. A menina conseguiu sobreviver, mas está com 60% do corpo queimado e provavelmente fique desfigurada para o resto da vida.

No Canadá, um passageiro de ônibus de viagem esfaqueou e decapitou o passageiro ao lado, um garoto de 20 anos, aparentemente sem conhecê-lo e sem ter motivo algum. Depois calmamente depositou a cabeça no chão ao lado dos passageiros chocados.

Todos esses três criminosos deveriam morrer, mas em nenhum desses países existe a pena de morte.

Muitos acreditam que a punição criminal existe para "recuperar" os criminosos, ou então para "desestimular" futuros criminosos. Na verdade, não é bem assim. A verdade é que a cadeia raramente recupera alguém, e criminosos sempre vão agir por mais terríveis que sejam as penas a eles impostas.

A punição criminal pelo Estado existe principalmente para impedir que cada indivíduo faça justiça com as próprias mãos. Se Fulano mata a filha de Ciclano, Ciclano e sua família matam Fulano para se vingar. Ainda funciona assim nas sociedades tribais.

Nas sociedades ditas modernas, o cidadão abdica do direito de se vingar do assassino dando esse direito ao Estado, após um julgamento para estabelecer que ele realmente seja o culpado. Porém, isso só funciona quando a punição realmente ocorre. Quando os assassinos são liberados em poucos anos (o estuprador da menina, por exemplo, já havia sido preso outra vez por abuso de menores e liberado), ou quando em certos casos nem mesmo são punidos, a fé na capacidade punitiva do Estado acaba, e tende-se novamente ao vigilantismo.

É por isso os liberais que defendem penas cada vez mais brandas para os criminosos estão equivocados. Fazendo isso, apenas estimulam o ressurgimento do "cada um por si".

Atualização: Sei que é um tema algo mórbido para uma sexta-feira à noite, mas enfim... Um breve adendo. Os filmes de Hollywood e os romances policiais nos fizeram acreditar que os assassinos em série são pessoas inteligentes e sofisticadas. Na verdade, está muito longe disso. Acho que foi o Nabokov quem disse que os assassinos são, quase sempre, rematados imbecis.

Vejam o Mohammed D'Ali dos Santos. Como não bastasse o nome infeliz, segundo o depoimento, ele matou a garota (com quem tinha um casamento arranjado para obter a residência em Londres) por que esta poderia dizer a sua mãe que ele cheirava cocaína... Portanto, para esconder que era um cocainômano, virou um esquartejador. E depois dizem que as drogas não fazem mal ao cérebro...

Governo, protegei-nos de nós mesmos

A prefeitura de Los Angeles decidiu proibir por um ano a abertura de novos restaurantes de fast-food em uma área pobre da cidade. O argumento é que "é preciso estimular a criação de alternativas mais saudáveis", já que um dos grandes problemas na área é a obesidade da população.

Curioso. Tempos atrás, os ricos eram gordos e os pobres eram magros e seu problema era a fome. Hoje os ricos são magros e os pobres são gordos e seu grande problema é o colesterol.

A preocupação do LA City Council com os gordinhos de classe baixa é louvável, mas talvez não leve em conta alguns aspectos fundamentais da natureza humana.

Ora, se há tantos restaurantes de fast-food na cidade talvez seja simplesmente porque as pessoas querem comer fast-food. Proibir a criação de novos restaurantes de fast-food não vai necessariamente implicar na abertura de restaurantes mais "saudáveis" pois, se houvesse interesse em restaurantes "saudáveis", eles já estariam lá. Ou alguém comeria a salada oferecida pelo McDonald's em vez do hambúrguer com batatinhas.

Além disso, a "comida saudável" custa mais e é bem possível que os pobres não tenham o dinheiro para comprá-la, ou simplesmente prefiram gastar seu dinheiro de outra forma.

As pessoas são gordas porque comem mal. E comem mal porque querem comer mal, não por causa das malvadas companhias de fast-food. A obesidade é certamente um problema nos dias de hoje em que há comida demais e exercício de menos, mas o governo não pode nem deve ser babá de ninguém. E é melhor ser gordo do que morrer de fome.

A obesidade é um grave problema na América.


Atualização: Ótimo artigo da Slate a respeito:

I assumed this idea would go nowhere because we Americans don't like government restrictions on what we eat. You can nag us. You can regulate what our kids eat in school. But you'll get our burgers when you pry them from our cold, dead hands.

How did the L.A. City Council get around this resistance? By spinning the moratorium as a way to create more food choices, not fewer. And by depicting poor people, like children, as less capable of free choice.