Figuras admiráveis, admito. Nem que seja pela coragem de lutar pelos seus ideais. Não é fácil levar cacete da polícia inglesa ou passar 27 anos na prisão e ainda assim continuar acreditando. Para uma pessoa como eu, um cínico que nem ideais tem, chega a causar inveja. Porém, eram falhos, como todos os homens. Tinham muitos defeitos que nem vale a pena repetir aqui, e nem é esse o objetivo do post. Eu simpatizo com Ghandi. Com King e Mandela, também. King disse uma coisa bacana certa vez:
"A covardia pergunta: é seguro?
A conveniência pergunta: é político?
A vaidade pergunta: é popular?
A consciência pergunta: é certo?
E chega uma hora em que o sujeito deve tomar uma posição que não é nem segura, nem política, nem popular, mas deve tomá-la porque é certa."Boas frases.
Os três são não-brancos, naturalmente. Faz parte do ritual de masoquismo diário do homem branco esquerdista ocidental. Mea culpa, mea maxima culpa. É verdade que Che Guevara, o Jesus de Nazaré dos esquerdistas, era branco, mas naqueles tempos ainda não se havia chegado à grande sacada do marxismo racial. Cotas raciais em Cuba? Imagina. Tanto que os líderes da Revolução Cubana eram todos brancos e universitários, assim como era Abimael Guzmán, o canalha líder do Sendero Luminoso, e ninguém nunca se importou. (Por sinal, é interessante a figura da também branca Yoani Sanchez: ela é uma feminista progressista pró-gays e pró-minorias contrária ao comunismo cubano. É a nova geração de esquerdistas contra a velha. Sim, a esquerda mudou.)
Mas também não é disso que eu queria falar. Afinal, se formos classificar por etnia, os piores comunistas foram os asiáticos. Mao matou setenta milhões e Pol Pot e seu grupo torturaram e mataram um terço da população de seu país em três anos. Um terço! Teve gente que morreu simplesmente por usar óculos. Afinal, isso era coisa de capitalista. Se vivêssemos em um mundo são, qualquer sujeito de bem se envergonharia de se dizer socialista, só por causa de Pol Pot.
Bem, mas o que eu queria dizer mesmo é que o esquerdismo é uma religião, e que é por isso que é tão difícil discutir com um esquerdista, ou mesmo tentar fazê-lo mudar de idéia, ou ao menos fazê-lo enxergar as coisas sob outro ponto de vista. Vejam o Sakamoto, por exemplo. Nunca vi alguém que escreva tantos absurdos. Será que acredita naquilo? Tenho certeza que sim. Tenho certeza também que ele jamais mudará. (Augusto Nascimento, de saudosa memória, odiava os japoneses, mas acho que simpatizaria com o Sakamoto.)
Costumava-se dizer que um conservador era um "esquerdista assaltado pela realidade", mas acho que nem isso é mais verdade. Houve recentemente vários casos de esquerdistas que foram literalmente assaltados, e nem por isso mudaram de idéia. Tornaram-se até mais intransigentes na sua defesa de criminosos, na sua idéia (falsa) de que o crime é causado por diferenças sociais inerentes ao capitalismo e blablablá.
Talvez o progressismo seja um culto suicida. Lembram de Jim Jones? Ele era maluco, certo, mas será que as suas crenças eram lá muito mais absurdas do que a de qualquer ideólogo esquerdista radical?
Bem, no outro dia, saiu uma foto do pessoal do MST cometendo a heresia de fazer fila no McDonalds, todos bem bonitinhos esperando sua vez. Consolei-me um pouco. Pareceram-me mais humanos. Se eles podem deixar a ideologia de lado por alguns instantes, nem que seja para um McLanche Feliz, significa que nem tudo está perdido. Talvez até o Sakamoto possa um dia entender que não precisa odiar a classe média para ser cool.