quinta-feira, 8 de julho de 2021

No silêncio terrível do Cosmos

No silêncio terrível do Cosmos

Há de ficar uma última lâmpada acesa

Mas tão baça

Tão pobre

Que eu procurarei, às cegas, por entre os papéis revoltos,

Pelo fundo dos armários,

Pelo assoalho, onde estarão fugindo imundas ratazanas,

O pequeno crucifixo de prata — 

O pequenino, o milagroso crucifixo de prata que tu me deste um dia

Preso a uma fita preta.

E por ele os meus lábios convulsos chorarão

Viciosos do divino contato da prata fria…

Da prata clara, silenciosa, divinamente fria — morta!

E então a derradeira luz se apagará de todo…


Mario Quintana




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