A primeira mãe matou o filho com doses maciças de heroína comprada na rua, pois estava convencida que ele sofria imensamente após um acidente que causou sérios danos cerebrais. Não houve pedido algum do filho (a reportagem não deixa claro se ele podia mesmo se comunicar). A mãe é que parecia extremamente interessada em livrar-se do filho-problema.
No outro caso, uma mãe também matou a própria filha, mas livrou-se da acusa de assassinato. Aqui parece ter havido um desejo expresso da filha de acabar com a própria vida, ao qual a mãe respondeu com carinho, amor, e injeções de ar para causar embolia.
Por outro lado, a doença da filha - encefalomielite miálgica, também conhecida como "fadiga crônica" - é debilitante, mas raramente mortal. Além disso, o paciente está em plena consciência de suas faculdades.
Digamos que a filha sofresse de depressão - que, como sabe todo aquele que já passou por isso, também pode tornar a vida um inferno. Seria lícito também nesse caso matar um filho deprimido, ou ao menos incentivar o suicídio que ele tanto deseja, em vez de tentar salvá-lo?
Qual a linha que separa a compaixão do egoísmo? E a eutanásia do assassinato?
É curioso que haja hoje tanta ênfase no "direito de morrer". (Eu preferiria que alguém lutasse pelo direito de sermos imortais.) Será isso causado pela crise religiosa do Ocidente?
Afinal, por um lado, a tecnologia médica permite uma vida muito mais longa do que antigamente. Por outro lado, ao menos uma terça parte dessa "vida mais longa" vai ser passada na sofrível velhice. (A fonte da juventude ainda ninguém descobriu).
Somando-se a isso, a crise do cristianismo parece estar gerando o fim de qualquer idéia de que a vida seja "sagrada", de que o destino esteja "nas mãos de Deus". Segundo a narrativa pós-cristã, somos apenas matéria, órgãos, átomos, ou, como a própria Bíblia diz, pó. O importante é curtir a vida enquanto podemos com muito sexo, drogas e roquenrol, e depois, bye bye.
A obsessão com a morte é tanta que o escritor inglês Martin Amis já quer que sejam instaladas "cabines de suicídio" nas esquinas das ruas londrinas, para maior facilidade de velhinhos esclerosados e jovens com problemas mentais.
O Ocidente está em crise, não resta dúvida. Não há maior indicação disso do que a gritante presença de tantos indivíduos que se preocupam mais em morrer do que em viver - ou em dar à luz novas crianças.
Lamentavelmente, depois que o último velhinho europeu morrer e apagar a luz, o continente ainda vai estar repleto de jovens muçulmanos que não vão querer acabar com a própria vida com injeções de morfina em um hospital, mas sim explodindo-se com bombas em um bar ou um supermercado. Ou quem sabe até em um hospital.
