sábado, 20 de setembro de 2008

Morte aos velhos


No livro "Diario de la guerra del cerdo", o escritor Bioy Casares imaginava uma sociedade hipotética em que os jovens começavam a matar os velhos.

Pois a Baronesa Warnock, britânica especialista em ética médica (é o que diz o jornal, e devemos sempre acreditar no que dizem os jornais), sugere que os velhinhos com Alzheimer e outras doenças degenerativas têm o "dever de morrer". É isso mesmo: ela disse dever, não direito.

Disse mais: disse que tais pessoas estariam "desperdiçando as vidas dos outros", bem como "os escassos recursos da saúde pública." Portanto, se tais pessoas não podem nem cuidar de si mesmas, deveriam ter a clareza de compreender que são apenas um gasto de tempo e esforço para seus familiares e para os médicos, e, caso não possam cuidar de si mesmas, deveriam ser "abatidas" (put down foi a expressão que ela usou - expressão mais utilizada com cães doentes).

Embora ela afirme que o procedimento seria estritamente voluntário (ninguém seria abatido contra a sua vontade), ao indicar que a saúde financeira do Estado ou a conveniência dos familiares é mais importante do que a vida do cidadão, coloca o velhinho numa sinuca de bico: o próprio ato de querer continuar vivo é um erro, um peso para os outros. Mais: é difícil saber se alguém que sofre de Alzheimer ou outro tipo de doença degenerativa está realmente o bastante lúcido como para saber o que está decidindo.

A mesma especialista, "uma das mais importantes nomes da filosofia moral britânica" (é o jornal que garante!), já havia sugerido anteriormente que os aposentados que não quisessem ser um peso para as suas famílias e para o Estado deveriam poder escolher a morte. (É impressionante como para essas pessoas o Estado é mais importante do que o indivíduo; é quase uma espécie de Deus).

Detalhe: a Baronesa Warnock tem 84 anos. Não consta que queira fazer parte do programa de extinção voluntária.

Mais terríveis do que as idéias da filósofa demente são os comentários abaixo. Embora a grande maioria seja contra, alguns afirmam coisas como esta:

"A compaixão é inútil se não for pragmática. O orçamento da saúde não é infinito. Portanto, escolhas devem ser feitas. Cada 1.000 gastos com um velhinho demente, que provavelmente teve a vida mais longa do que muitos, são 1.000 a menos gastos com crianças doentes".

Ou ainda: "O dinheiro público deveria ser utilizado em investir no futuro das pessoas, não em manter os semi-mortos vivos".

Em nome do pragmatismo e dos recursos limitados da saúde pública, já há gente querendo executar os velhinhos. Eis onde nos leva o "Estado de bem-estar social". E eis aí os perigos da eutanásia. Começa-se com os doentes terminais. Logo passa-se aos velhinhos com Alzheimer. Depois é a vez dos aposentados que o Estado já não pode sustentar. Os paraplégicos. Os portadores de Down. Os ciganos. Os judeus.

Enfim, acho que vocês entendem a idéia.

Um comentário:

Rafaela disse...

Mr. X seu blog é muito interessante.
Tornei-me seguidora e gostaria de convidá-lo a participar do meu.