domingo, 21 de setembro de 2008

Poema do domingo

Araras versáteis

Araras versáteis. Prato de anêmonas.
O efebo passou entre as meninas trêfegas.
O rombudo bastão luzia na mornura das calças e do dia.
Ela abriu as coxas de esmalte, louça e umedecida laca
E vergastou a cona com minúsculo açoite.
O moço ajoelhou-se esfuçando-lhe os meios
E uma língua de agulha, de fogo, de molusco
Empapou-se de mel nos refolhos robustos.
Ela gritava um êxtase de gosmas e de lírios
Quando no instante alguém
Numa manobra ágil de jovem marinheiro
Arrancou do efebo as luzidias calças
Suspendeu-lhe o traseiro e aaaaaiiiii...
E gozaram os três entre os pios dos pássaros
Das araras versáteis e das meninas trêfegas.

* * *

Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst (1930-2004)

4 comentários:

Anônimo disse...

chose, que tesao gostoso !
viva esse lindo sol na minha cabeça e todas essas possibilidades de ser, estar, olhar, fazer, acontecer, dançar, gozar, pensar, gostar, comer,dormir,dechifrar,pegar aviao,interessar, negar, etc e tal...:-))

Anônimo disse...

araras versàteis é lindo ! coxas de esmalte também !
painho vai curtir.....

Anônimo disse...

por mim, tinha poema todo dia !

Mr X disse...

:-)