A leitora Confetti me pergunta porque, não sendo judeu, escrevo tanto sobre Israel, e porque raramente critico o país.
Fair enough. Tento responder à questão.
Até 2001, pouco me importava com Israel e com o Oriente Médio em geral. Era até meio de esquerda. Aí vieram os atentados de 9/11, que me causaram um grande impacto. Talvez porque eu tenha estado em NY para visitar as torres gêmeas 1 mês antes do acontecido. Talvez porque meu irmão more lá. Talvez porque eu tenha morado um ano feliz nos EUA em um programa de intercâmbio. Ou talvez simplesmente porque os atentados foram uma coisa tão chocante na época.
Hoje virou história, claro. Mas tentem voltar mentalmente a 2001. Após o ataque havia uma real sensação de pavor no ar. Morava em Londres na época e as pessoas estavam comprando máscaras de gás com medo de ataques químicos (as máscaras de gás esgotaram em Londres). Era a mesma época que começaram aquelas misterioras mortes por
anthrax sobre as quais nunca mais se ouviu falar. Havia uma imensa paranóia no ar.
Acho que se o Bush tem um mérito, é o seguinte: bem ou mal, com as invasões ao Afeganistão e ao Iraque, ele acabou com aquela sensação de pavor. A Al-Qaeda revelou-se bem mais primária do que parecia. Os EUA mostraram que podiam acabar com, não um, mas dois governos autoritários pró-terroristas em questão de poucos meses.
Mas o terrorismo islâmico continuou, atacando então na Europa. Ao longo dos anos, comecei a investigar o Islã. Na época eu ficava pensando em Mohammed Atta. Na sua frieza, que me parecia quase extra-terrena. O sujeito tinha morado por muitos anos nos EUA. Tinha estudado lá, conhecido gente, se "assimilado" ao país. E aí com ele com outros terroristas seqüestra aviões, esfaqueia as aeromoças apenas para chamar a atenção do piloto e entrar na cabine, e depois joga o avião contra os edifícios mais famosos de NY matando 3 mil pessoas. Como é que alguém pode ser tão frio, fingir assimilar-se com o único intuito de matar milhares de pessoas? Seria o Islã uma religião tão cruel?
Não cheguei a uma conclusão a esse respeito, mas a busca de informações sobre o islamismo e o terrorismo naturalmente me levou a ler mais sobre Israel e sobre sua conflituosa relação com o terrorismo islâmico.
Não acredito em "conflito de civilizações". Tanto o mundo islâmico quanto o dito mundo ocidental estão muito longe de ser homogêneos e estáticos. O mundo islâmico está em briga entre si, e o ocidente também está em briga entre si. Mas, de qualquer modo, Israel está no centro do furacão. Em termos de geografia, religião, história, cultura. O terrorismo islâmico está fortemente relacionado com Israel. Para alguns, a causa do terrorismo islâmico é Israel (Não sou da mesma opinião, acho justamente o contrário: é a presença de Israel que, paradoxalmente, impede a expansão do terrorismo islâmico).
Desde então desenvolvi uma certa fascinação por Israel. Além de Brasil e Argentina, países com os quais tenho uma ambígua relação de amor e ódio, há três países que me fascinam: a Itália, o Japão e Israel. Dos três, conheço apenas a Itália, pois morei lá. Mas também morei por uns meses na Inglaterra e nos EUA e, embora tenha ótimas memórias, não tenho a mesma fascinação que tenho pela Itália. Difícil explicar. O Japão tampouco conheço. Menos ainda Israel. Mas por motivos culturais ou históricos ambos os países me causam uma curiosa fascinação.
(Não sou um caso único, nem o mais grave. Conheci uma garota da Bielorrússia, não judia, que morava na Itália e acumulava objetos judaicos, almofadas com a estrela de Davi e tinha o sonho de conhecer a "Terra Santa".)
Na verdade, meu interesse por Israel não está nem mesmo muito ligado à religião. Tem a ver mesmo é com a luta contra o terrorismo islâmico.
O blogueiro
Wretchard, em post sobre o anti-semitismo (tema que posteriormente comentarei), observa que o ódio contra os judeus tende a trazer a destruição, não dos judeus, mas daquele que os odeia. Hitler odiava tanto os judeus que perdeu a guerra. Estava mais preocupado em exterminar os judeus do que em uma estratégia coerente para vencer as batalhas. O extermínio foi, no fim das contas, contra-producente para a máquina de guerra nazista. Mas mesmo no fim, no bunker, Hitler escreveu uma carta em que lamentava "não ter descoberto antes que os judeus haviam se infiltrado tão fundo no governo da Inglaterra". Quer dizer, o maluco do Hitler não acreditava que havia perdido a guerra para os russos ou para os aliados. Estava convencido de ter sido derrotado pelos indefesos judeus.
Da mesma forma, o ódio que os terroristas islâmicos sentem contra os judeus e contra a diminuta Israel é contra-producente e terminará sendo a sua ruína. Pensem no Irã: um país de cultura milenar, perdido no atraso do fundamentalismo religioso, na pobreza, e cujo presidente, em vez de desenvolver sua ciência e sua cultura, pensa dia e noite em modos de destruir Israel. Os persas nem ao menos são árabes, muito menos sunitas: a "questão palestina" pouco lhes diz respeito diretamente. E no entanto gastam milhões de dólares e tempo e esforço com terrorismo e ameaças.
Acho que vivemos em uma época parecida aos anos 20 ou 30. Época de grandes mudanças, aparentemente invisíveis a olho nu, mas que podem terminar numa grande catástrofe mundial. Tudo depende de que direção tomar o curso dos eventos.
Israel, bem ou mal, está no centro disso tudo. A "causa palestina" é uma mera equivocação, um detalhe menor desse processo. A luta dos palestinos é apenas uma pequena jihad dentro da grande jihad. E a própria jihad é apenas um elemento em um processo de mudança global muito maior, que envolve China, EUA, Rússia, etc.
Como diz aquela maldição chinesa, vivemos em tempos interessantes.