Nunca conheci ninguém que gostasse de Carnaval.
Tá bom, exagero um pouco. Havia exceções. Mas, em geral, o sentimento em relação ao Carnaval no meio em que cresci era mais bem de rejeição. Quando éramos crianças, nossos pais procuravam de todo jeito nos afastar da TV e seu festival de bundas, mas a verdade é que naquele período elas não nos interessavam. Mais tarde, na adolescência e juventude, quando chegava a época das festas carnavalescas, o negócio era ir para uma praia distante ou então no bar com os amigos. Carnaval era tempo de se esconder.
Percebo que, em geral, a sensação entre a classe média, ao menos no sul do país (não tenho dados para avaliar se ocorre também em outras capitais), é de não reconhecer-se a si mesma na "maior festa do mundo". Quais seriam os motivos?
Se o processo for limitado à região sul e sudeste do país, estaria explicado por uma mera diferença cultural entre o sul europeizado e o nordeste africaníndio. Se for de toda a classe média brasileira, a explicação tem mais a ver mesmo é com a diferença de classe social. Carnaval, em outras palavras, seria coisa de pobre. As referências da juventude de classe média são o rock e outros ritmos de origem estrangeira.
Isso era muito mais marcado antigamente. Apesar de algumas exceções como o Noel Rosa, morro e asfalto viviam separados. Foi provavelmente a partir da "bossa nova" nos anos 50 e 60 que a união aconteceu, e o interesse da classe média pelo samba e pelo Carnaval oficial aumentou. Hoje é até chique participar da orgia, ao menos em camarote VIP.
Curiosamente, à medida em que o Carnaval se tornou cada vez maior e mais popular -- "a maior festa do mundo" -- ele decaiu em qualidade. As alegres e inocentes marchinhas dos anos 40 e 50 deram lugar a sambas-enredo sem pé nem cabeça, e a nudez foi se tornando cada vez mais explícita, bem como o envolvimento dos bicheiros e traficantes.
Se bem que essa decadência na cultura brasileira e sua correspondente sexualização é geral, não limitada a um evento ou classe social.
Por exemplo, comparem as belas letras de Cartola, negro e pobre, com as letras de qualquer funk ou rap de hoje em dia. É de doer.
Aqui no exterior, é o contrário. Há grande interesse pelo Carnaval brasileiro -- não sei se é só pelas mulheres peladas, ou por motivos antropológicos, como o estudo de uma cultura alienígena, busca do exotismo etcétera e tal. Eu, quem diria, tenho até saudade de ligar a televisão e ver bundas 24 horas por dia.
E você, gosta de Carnaval?
Seja como for, boa festa a todos.
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sexta-feira, 4 de março de 2011
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Os melhores países do mundo
Saiu recentemente uma lista com os 100 melhores países do mundo, de acordo com a revista Newsweek. A Finlândia está no topo, seguida de Suiça e Suécia (não confundir). Japão está em 9, EUA estão em 11. Brasil em 48, logo atrás da Jamaica. O país latino-americano melhor colocado é o Chile, em 30. O pior país do mundo, ou ao menos desses 100, é Burkina Faso.
Nenhuma surpresa aí. Países pequenos, brancos e norte-europeus no topo. Países populosos e africanos lá no fim. Talvez seja politicamente incorreto observar isso, mas é isso mesmo.
Para ser franco, essas listas pouco me dizem. Certo que vive-se bem na Finlândia e nos países escandinavos, apesar de fazer frio pracaray. Mas pode-se viver bem em quase qualquer lugar do mundo, tendo dinheiro suficiente para isso; não tendo dinheiro ou trabalho, vive-se mal também no Primeiro Mundo. Há milionários americanos que vão para a Costa Rica ou para as Bahamas para fugir do fisco e vivem vidas mais confortáveis do que teriam em seu país natal. Há muitos imigrantes que vivem mal nos EUA e na Europa, ainda que claramente melhor do que em seus antros originais. Tudo é relativo. Tivesse eu dinheiro suficiente e não precisasse trabalhar, moraria na Itália ou na Espanha, que estão lá pela vigésima posição e não tem emprego mas têm sol e boa comida.
Alguns dizem que o sucesso do modelo escandinavo seria devido à tal social-democracia, mas na verdade tais países são bem menos "social-democratas" do que se pensa. No índice de liberdade econômica, a Dinamarca está em 9o, a Finlândia em 17o, e a Suécia em 21o. O Brasil? Na posição 113, atrás da Nigéria e do Camboja.
Naturalmente, não é possível replicar o modelo escandinavo em um país enorme e diverso como o Brasil, ainda mais com os políticos que temos. Continuaremos na posição 48 por algum tempo, se não cairmos mais alguns degraus. Mas temos sol, praia, futebol e carnaval, não é suficiente? O principal problema do Brasil é mesmo o crime e a política, mas me repito.
Nenhuma surpresa aí. Países pequenos, brancos e norte-europeus no topo. Países populosos e africanos lá no fim. Talvez seja politicamente incorreto observar isso, mas é isso mesmo.
Para ser franco, essas listas pouco me dizem. Certo que vive-se bem na Finlândia e nos países escandinavos, apesar de fazer frio pracaray. Mas pode-se viver bem em quase qualquer lugar do mundo, tendo dinheiro suficiente para isso; não tendo dinheiro ou trabalho, vive-se mal também no Primeiro Mundo. Há milionários americanos que vão para a Costa Rica ou para as Bahamas para fugir do fisco e vivem vidas mais confortáveis do que teriam em seu país natal. Há muitos imigrantes que vivem mal nos EUA e na Europa, ainda que claramente melhor do que em seus antros originais. Tudo é relativo. Tivesse eu dinheiro suficiente e não precisasse trabalhar, moraria na Itália ou na Espanha, que estão lá pela vigésima posição e não tem emprego mas têm sol e boa comida.
Alguns dizem que o sucesso do modelo escandinavo seria devido à tal social-democracia, mas na verdade tais países são bem menos "social-democratas" do que se pensa. No índice de liberdade econômica, a Dinamarca está em 9o, a Finlândia em 17o, e a Suécia em 21o. O Brasil? Na posição 113, atrás da Nigéria e do Camboja.
Naturalmente, não é possível replicar o modelo escandinavo em um país enorme e diverso como o Brasil, ainda mais com os políticos que temos. Continuaremos na posição 48 por algum tempo, se não cairmos mais alguns degraus. Mas temos sol, praia, futebol e carnaval, não é suficiente? O principal problema do Brasil é mesmo o crime e a política, mas me repito.
Segredo da Finlândia é a sauna.
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terça-feira, 8 de junho de 2010
Nem dinheiro nem igualdade trazem felicidade
Um leitor recentemente reclamou que aqui quase só coloco links para textos em inglês. É verdade, mas é que é difícil encontrar bons textos sobre os temas que me interessam em português. Hoje repito a dose, dando dois links em inglês -- ainda por cima britânico -- para recentes textos de Theodore Dalrymple: um deles falando sobre a relação entre o crescimento econômico e a felicidade, e outro falando sobre os problemas causados pela utopia da igualdade social.
A conclusão do bom doutor parece ser que, nem o dinheiro ou as conquistas materiais trazem felicidade, nem a igualdade social é um bem desejável ou possível - muito antes pelo contrário, costuma arruinar muitas sociedades.
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009
A pilula da felicidade

Existe uma pílula da felicidade? O Fábio Marton passou um link para um website interessante, que parece saído de um romance de ficcção científica. É um grupo interessando em "paradise-engineering", isto é, na manipulação química do cérebro humano através de superdrogas, as quais não apenas terminariam com a angústia, o stress, a frustração como tornariam o cérebro mais potente, mais criativo e eventualmente permitiriam até obter a felicidade permanente.
Será que isso é possível? O argumento é que, sendo todo e qualquer sentimento mera química (dopamina, endorfina, etc.), não há razão para este não ser obtido através de drogas ou outros tipos de manipulação química. Sofrimento? Angústia? Pra quê? Tome Felizex.
Pessoalmente, confesso que, não sempre, mas em certas ocasiões, tenho certas tendências à depressão; ou melhor, nem chamaria de depressão, mas meramente de não-felicidade. É mais uma espécie de tédio com a vida, aquilo que os decadentistas franceses chamavam de ennui e os românticos ingleses de spleen. Existe uma pílula contra o ennui? Ou basta absinto?
Na verdade, como expliquei nos comentários lá embaixo (post sobre Huxley vs. Orwell), não creio muito que seja possível esse negócio de reengenharia mental:
As drogas não mudam o gênero humano, apenas alteram sua percepção e/ou comportamento, enfim, modificam a química do cérebro, mas não criam nada de novo. Talvez misturando-se com manipulação genética, mas mesmo assim, parece-me que a idéia de criar um ser melhor ou mais perfeito é inútil e impossível, ou só seria possível reduzindo a nossa consciência: isto é, transformando-nos em animais ou vegetais. São os cães ou as pulgas ou os rabanetes mais felizes do que nós? Acho que sim, se é que se pode chamar isso de felicidade.
Mas, mesmo aceitando que a felicidade perene nos humanos seja possível através do consumo de drogas sem qualquer efeito colateral (o que duvido, mesmo Prozac e similares causam diminuição da libido, por exemplo), é isso realmente benéfico?
Uma felicidade que independe completamente do nosso comportamento é realmente felicidade? E se a felicidade independe completamente do comportamento (basta tomar uma droga), para que mudar de comportamento?
Parece-me que a felicidade, como a pobreza, é um conceito meramente relativo. Comparamos constantemente com os outros ou conosco mesmos em outros períodos da vida.
Por outro lado, a depressão, quando ocorre, é de fato uma sensação que, ao menos em retrospecto, parece bastante inútil. Pergunto aos darwinianos presentes, em termos evolutivos, qual seria o valor da depressão? É um bug ou uma feature do ser humano? É possível erradicar a angústia existencial como outra doença qualquer?
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segunda-feira, 12 de maio de 2008
Qual o segredo da felicidade?
E chegamos aos grandes temas. Qual o segredo da felicidade? E, especialmente, o que é a felicidade?
Dos artigos recentes chamaram a atenção dos opinadores compulsivos da blogosfera. Um deles, comentado aqui pela neoneocon, diz que os conservadores tendem a ser mais felizes do que os "progressistas". Não sei se é verdade: a felicidade é uma coisa muito difícil de definir. Porém, é certo que os esquerdistas querem sempre "mudanças", ou "change" como diria o Obama, indicando certa frustração. Quando o "change" revela-se ilusório, então, a frustração é ainda maior. Já os conservadores parecem aceitar de maior bom grado a imperfectibilidade da vida.
Bem, essa é uma teoria. De acordo com pesquisas, a família é a fonte de maior felicidade para as pessoas, e portanto os conservadores, que tendem a dar maior importância aos "valores familiares", seriam mais felizes.
Outro artigo é o último do Spengler. Ele faz uma comparação entre os países desenvolvidos que têm menor índice de suicídios e maior nível de natalidade. Chega à curiosa conclusão de que "Israel é o país mais feliz do mundo". Exagero? Possivelmente. Spengler nunca escondeu suas simpatias pelo judaísmo. Além do mais, seu "quociente de felicidade" é determinado apenas pelo número de suicídios dividido pela taxa de natalidade. Ninguém sabe definir o que é felicidade, mas certamente inclui outros fatores. Porém, o que fica claro é que certos países parecem ter maior apego à vida do que outros.
É realmente interessante observar a lista ali publicada: de acordo com esta, o nível de suicídios em Israel é de 6,2 sobre 100.000 habitantes, e a taxa de natalidade de 2.77, a maior do mundo desenvolvido atual. Do ranking, apenas a Grécia possui um nível de suicídios menor (3,2 sobre 100.000), porém condicionado por uma taxa de natalidade bem baixa (1,36). O campeão do suicídio e da baixa natalidade é a Lituânia (Incríveis 40,2 de suicídios, mais de dez superior à Grécia, e taxa de natalidade de 1,22). Some-se a isso que a Lituânia é também campeã nas taxas de aborto, e temos certamente um dos países mais deprimidos do mundo, praticamente à beira do suicídio.
O Brasil não está na lista, mas acredito que estamos bem. Certamente à frente da Argentina, onde reclamar da vida e do país é praticamente obrigatório. Pior, só na França.
Gatinhos em busca da felicidade.
Atualização: de acordo com este outro estudo, relativo ao "bem-estar subjetivo", a Dinamarca é o país mais feliz do mundo. E a Argentina está à frente do Brasil...
Dos artigos recentes chamaram a atenção dos opinadores compulsivos da blogosfera. Um deles, comentado aqui pela neoneocon, diz que os conservadores tendem a ser mais felizes do que os "progressistas". Não sei se é verdade: a felicidade é uma coisa muito difícil de definir. Porém, é certo que os esquerdistas querem sempre "mudanças", ou "change" como diria o Obama, indicando certa frustração. Quando o "change" revela-se ilusório, então, a frustração é ainda maior. Já os conservadores parecem aceitar de maior bom grado a imperfectibilidade da vida.
Bem, essa é uma teoria. De acordo com pesquisas, a família é a fonte de maior felicidade para as pessoas, e portanto os conservadores, que tendem a dar maior importância aos "valores familiares", seriam mais felizes.
Outro artigo é o último do Spengler. Ele faz uma comparação entre os países desenvolvidos que têm menor índice de suicídios e maior nível de natalidade. Chega à curiosa conclusão de que "Israel é o país mais feliz do mundo". Exagero? Possivelmente. Spengler nunca escondeu suas simpatias pelo judaísmo. Além do mais, seu "quociente de felicidade" é determinado apenas pelo número de suicídios dividido pela taxa de natalidade. Ninguém sabe definir o que é felicidade, mas certamente inclui outros fatores. Porém, o que fica claro é que certos países parecem ter maior apego à vida do que outros.
É realmente interessante observar a lista ali publicada: de acordo com esta, o nível de suicídios em Israel é de 6,2 sobre 100.000 habitantes, e a taxa de natalidade de 2.77, a maior do mundo desenvolvido atual. Do ranking, apenas a Grécia possui um nível de suicídios menor (3,2 sobre 100.000), porém condicionado por uma taxa de natalidade bem baixa (1,36). O campeão do suicídio e da baixa natalidade é a Lituânia (Incríveis 40,2 de suicídios, mais de dez superior à Grécia, e taxa de natalidade de 1,22). Some-se a isso que a Lituânia é também campeã nas taxas de aborto, e temos certamente um dos países mais deprimidos do mundo, praticamente à beira do suicídio.
O Brasil não está na lista, mas acredito que estamos bem. Certamente à frente da Argentina, onde reclamar da vida e do país é praticamente obrigatório. Pior, só na França.
Gatinhos em busca da felicidade.
Atualização: de acordo com este outro estudo, relativo ao "bem-estar subjetivo", a Dinamarca é o país mais feliz do mundo. E a Argentina está à frente do Brasil...
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