"A Curva do Sino" foi acusado na época de ser um livro "racista", mas o que ele sugeria é algo até mais grave e problemático: basicamente, que QI e classe social estão intimamente relacionados. Existiria uma relação entre a riqueza ou pobreza de uma pessoa e sua inteligência. Atenção: isso não quer dizer que os pobres sejam burros e os ricos sejam inteligentes: muitos filósofos e escritores inteligentíssimos viveram na pobreza, ou ao menos bem longe da riqueza, e existem muitos ricos imbecis que herdaram a fortuna de pais mais espertos e trabalhadores, assim como existem pobres inteligentes cujos filhos subiram na vida. Mas, estatisticamente, haveria uma correlação geral entre QI e classe social, formando uma pirâmide com QIs mais baixos na ampla base e QIs mais altos no diminuto topo.
Talvez para evitar polêmicas, neste novo livro Murray dedica-se exclusivamente aos brancos americanos, mas continua interessado na temática da inteligência, da educação e da cultura. O livro chama-se "Coming Apart: The State of White America" (Algo como: "Em Separação: o estado da América Branca". Obs: Não li o livro ainda, portanto baseio-me apenas em críticas que li, é bem possível que esteja passando algumas idéias que não são exatamente do Murray).
O que ele diz é que está havendo uma divisão cada vez maior entre os próprios brancos nos EUA, entre uma superclasse de ricaços inteligentes que vive em uma bolha culturalmente isolada e uma classe média/trabalhadora cada vez mais burra e mais entregue ao ostracismo.
Tal divisão não seria apenas financeira, como querem os marxistas, mas principalmente intelectual, cultural e moral. E está se tornando um problema, pois a tendência é que os dois grupos se separem cada vez mais.
Os neoricaços vivem em casas milionárias em bairros exclusivos. Vão à Ópera e a exposições de arte moderna e bebem vinhos seletos no jantar. Comem comida orgânica e são atléticos. Casam no papel. Seus filhos estudam em Harvard e em outras universidades da Ivy League, o que por si só já garante a entrada em um clube exclusivo. Formam, assim, uma elite hereditária, uma espécie de nova aristocracia, ainda que, em termos, meritocrática.
Já os brancos proletários vivem em zonas cheias de imigrantes cada vez mais ameaçadas pelo crime e pelo desemprego. Assistem às corridas do NASCAR e ao Superbowl na TV. Bebem a cerveja Pabst Blue Ribbon ou, no máximo, uma Bud Light (Heineken é coisa de boiola). Comem porcarias e engordam. Casam cada vez menos e costumam ter filhos ilegítimos aqui e acolá. Tais filhos estudam (quando estudam) em Community Colleges de segunda categoria, mas jamais chegarão a Harvard. Muitos abandonam os estudos e ficam mais pobres, e assim o problema assim se propaga através das novas gerações.
Os sites racistas adoram apontar o mau comportamento dos negros do gueto, mas é fato que há uma porção de brancos "white trash" que apresentam um comportamento igualmente abominável. (Crianças abandonadas? Filhos matando pais? Pais colocando crianças na máquina de lavar ou na de secar? Um homem matando um casal porque estes tiraram sua filha da lista de amigos no Facebook? Tem de tudo, é só escolher.)
O que Murray argumenta é que a classe média americana estaria perdendo as virtudes que tornaram o país uma grande nação: basicamente, esquecendo a importância do casamento, da família e da moralidade convencional; esquecendo da independência e do empreendedorismo e dependendo cada vez mais do Estado assistencialista; e perdendo a corrida pela habilidade educacional e cognitiva, em um mundo em que esta se torna cada vez mais importante.
Não sei se Murray está correto, talvez eu compre e leia o seu livro para saber. O que parece é estar havendo mesmo uma desconexão cada vez maior entre as elites e o povão. Bem, sempre foi assim na Velha Europa, onde a maioria da população vivia na pobreza e na ignorância enquanto os aristocratas formavam uma elite hereditária vivendo no bem-bom. Mas a América era para ser um país diferente, a tal terra da liberdade, onde "qualquer um" poderia "chegar lá". Aparentemente, "chegar lá" está ficando cada vez mais difícil.
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