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sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma questão de classe

Charles Murray está de livro novo. Para quem não sabe, Murray escreveu, junto com Richard Herrnstein, o livro "A Curva do Sino", um dos mais badalados (perdão pelo trocadilho) livros de ciências sociais dos últimos vinte anos, e um dos mais criticados também. Herrnstein faleceu pouco depois da publicação, mas Murray continuou publicando e apresentando-se em congressos.

"A Curva do Sino" foi acusado na época de ser um livro "racista", mas o que ele sugeria é algo até mais grave e problemático: basicamente, que QI e classe social estão intimamente relacionados. Existiria uma relação entre a riqueza ou pobreza de uma pessoa e sua inteligência. Atenção: isso não quer dizer que os pobres sejam burros e os ricos sejam inteligentes: muitos filósofos e escritores inteligentíssimos viveram na pobreza, ou ao menos bem longe da riqueza, e existem muitos ricos imbecis que herdaram a fortuna de pais mais espertos e trabalhadores, assim como existem pobres inteligentes cujos filhos subiram na vida. Mas, estatisticamente, haveria uma correlação geral entre QI e classe social, formando uma pirâmide com QIs mais baixos na ampla base e QIs mais altos no diminuto topo. 

Talvez para evitar polêmicas, neste novo livro Murray dedica-se exclusivamente aos brancos americanos, mas continua interessado na temática da inteligência, da educação e da cultura. O livro chama-se "Coming Apart: The State of White America" (Algo como: "Em Separação: o estado da América Branca". Obs: Não li o livro ainda, portanto baseio-me apenas em críticas que li, é bem possível que esteja passando algumas idéias que não são exatamente do Murray). 

O que ele diz é que está havendo uma divisão cada vez maior entre os próprios brancos nos EUA, entre uma superclasse de ricaços inteligentes que vive em uma bolha culturalmente isolada e uma classe média/trabalhadora cada vez mais burra e mais entregue ao ostracismo. 

Tal divisão não seria apenas financeira, como querem os marxistas, mas principalmente intelectual, cultural e moral. E está se tornando um problema, pois a tendência é que os dois grupos se separem cada vez mais. 

Os neoricaços vivem em casas milionárias em bairros exclusivos. Vão à Ópera e a exposições de arte moderna e bebem vinhos seletos no jantar. Comem comida orgânica e são atléticos. Casam no papel. Seus filhos estudam em Harvard e em outras universidades da Ivy League, o que por si só já garante a entrada em um clube exclusivo. Formam, assim, uma elite hereditária, uma espécie de nova aristocracia, ainda que, em termos, meritocrática.  

Já os brancos proletários vivem em zonas cheias de imigrantes cada vez mais ameaçadas pelo crime e pelo desemprego. Assistem às corridas do NASCAR e ao Superbowl na TV. Bebem a cerveja Pabst Blue Ribbon ou, no máximo, uma Bud Light (Heineken é coisa de boiola). Comem porcarias e engordam. Casam cada vez menos e costumam ter filhos ilegítimos aqui e acolá. Tais filhos estudam (quando estudam) em Community Colleges de segunda categoria, mas jamais chegarão a Harvard. Muitos abandonam os estudos e ficam mais pobres, e assim o problema assim se propaga através das novas gerações.  

Os sites racistas adoram apontar o mau comportamento dos negros do gueto, mas é fato que há uma porção de brancos "white trash" que apresentam um comportamento igualmente abominável. (Crianças abandonadas? Filhos matando pais? Pais colocando crianças na máquina de lavar ou na de secar? Um homem matando um casal porque estes tiraram sua filha da lista de amigos no Facebook? Tem de tudo, é só escolher.) 

O que Murray argumenta é que a classe média americana estaria perdendo as virtudes que tornaram o país uma grande nação: basicamente, esquecendo a importância do casamento, da família e da moralidade convencional; esquecendo da independência e do empreendedorismo e dependendo cada vez mais do Estado assistencialista; e perdendo a corrida pela habilidade educacional e cognitiva, em um mundo em que esta se torna cada vez mais importante.  

Não sei se Murray está correto, talvez eu compre e leia o seu livro para saber. O que parece é estar havendo mesmo uma desconexão cada vez maior entre as elites e o povão. Bem, sempre foi assim na Velha Europa, onde a maioria da população vivia na pobreza e na ignorância enquanto os aristocratas formavam uma elite hereditária vivendo no bem-bom. Mas a América era para ser um país diferente, a tal terra da liberdade, onde "qualquer um" poderia "chegar lá". Aparentemente, "chegar lá" está ficando cada vez mais difícil.  



Obs. Comentários serão moderados. Evitem insultos e generalizações sobre grupos humanos. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Devem os ricos pagar mais impostos?

Chega de falar sobre imigração, raça, cultura, decadência européia e todos esses temas que me deprimem profundamente. Vamos falar de um tema sobre o qual todos concordam: impostos. Todo mundo, até o Noam Chomsky, gostaria de pagar menos impostos, certo?

Bem, aparentemente, nem todos. O bilionário socialista Warren Buffet diz que quer pagar mais impostos e que acha que todos os bilionários deveriam fazer o mesmo. Os apenas milionários também entraram na onda e apoiam os projetos de Obama para aumentar os impostos sobre os ricos (e os nem tão ricos).

Bem, nada impede que eles doem toda a sua fortuna ao governo Obama, se assim quiserem, mas porque essa ênfase em uma mudança da lei? 

Há ainda um estereótipo que vê os ricaços americanos como sendo sagazes capitalistas, conservadores e fãs de Ayn Rand, mas isso está bem longe da verdade. O fato é que hoje a grande maioria dos bilionários, de Al Gore a Bill Gates, são socialistas, Democratas e estatistas. Por que isso ocorre? Essas pessoas não dão ponto sem nó, portanto deve haver uma grande vantagem em ser estatista. Provavelmente, ajuda a limitar o surgimento de possíveis concorrentes. Se você está no topo, você não quer mais competição, certo? 

Mas o que o povo acha de tudo isso? Políticos populistas querem nos fazer acreditar que os mais pobres querem sempre mais impostos sobre os ricos, mas isso não é sempre verdade.

Um artigo muito interessante da Economist, ao qual eu já fiz alusão no post anterior, fala sobre essa questão. A tendência era achar que o cidadão de classe média quer menos impostos aos ricos pois sonha em um dia ser rico também; quanto mais impostos aos mais ricos, menos estímulo tem o cidadão de classe média a se esforçar mais e subir de vida. Isso faz sentido, mas talvez essa não seja toda a verdade. O artigo descreve um curioso experimento que foi realizado por estudiosos:  

Os autores realizaram uma série de experimentos onde estudantes receberam aleatoriamente somas de dinheiro, separadas por 1 dólar, e informaram sobre a "redistribuição de renda" que se seguiria. Então cada um recebeu mais 2 dólares, que eles deveriam dar seja à pessoa diretamente acima deles, seja à pessoa diretamente abaixo deles na "classe social". Em concordância com a teoria da "aversão ao último lugar", as pessoas que estavam a um degrau da classe mais baixa eram as mais propensas a darem o dinheiro às pessoas acima delas: recompensando os "ricos" mas garantindo que ao menos alguns continuassem mais pobres do que eles.  

Segundo o estudo, portanto, não é que as pessoas necessariamente imaginem que um dia serão ricas, o que não querem é estar entre os mais pobres dos pobres, querem sempre ter alguém abaixo de si. Coisas da natureza humana. 

O que fazer? Pessoalmente, e nesse ponto concordo com o Ron Paul, sou a favor da abolição do imposto de renda, e que o único imposto existente seja sobre as vendas, de modo que os ricos (ou aqueles que consumem mais) pagarão de acordo com o que consomem, sem burocracias e sem firulas. É claro que com essa medida advogados, contadores e milhões de burocratas perderiam seus empregos, sem contar que o Estado diminuiria de tamanho e se intrometeria menos na privacidade do indivíduo, e portanto tal medida é inadmissível.


terça-feira, 1 de março de 2011

Por que ninguém gosta dos pobres?

Um artigo interessante fala sobre os moradores de um subúrbio de classe média de Detroit que ficaram incomodados quando, devido à queda de preços nas casas em bancarrota, o gueto começou a se mudar em peso para lá. 

Detalhe: não há racismo aqui. Ambos os grupos são negros. São os negros de classe média que não querem que os negros do gueto vão para lá. Mas por quê?

Simples. O cara rala toda a vida para sair do gueto e comprar uma casa em um bairro mais razoável epoder dar uma educação melhor às suas crianças, e aí alguém compra uma casa por um preço irrisório logo ao lado da sua. Só isso já seria suficiente para irritar o cristão, mas não é o principal problema. O problema é que, com os habitantes do gueto, costuma vir o comportamento do gueto. Lixo jogado nas ruas, pessoas gritando às três da manhã, bebida, drogas, gangues, e finalmente tiroteio. Logo logo, já está na hora de se mudar de novo.

A mesma coisa acontece no Brasil, com as pessoas que moram próximas a favelas. Conheci uma petista que exigia a remoção de uma favela que estava iniciando a formar-se perto da sua casa de três quartos com piscina. "Ué, mas você não é petista, não gosta de pobre?" Desconversou. 

É isso o que os esquerdistas não entendem, ou fingem não entender. Pobreza é muitas vezes conseqüência, não causa. A idéia do blogueiro Sakamoto para resolver a pobreza é dar a eles "moradia digna", em apartamentos no centro da cidade, cujo aluguel seria pago pelo contribuinte de classe média. É receita para o desastre. É a mesma idéia que foi realizada aqui nos EUA com o que se chama Section 8: pobres que têm apartamentos pagos pelo Estado em zonas nobres da cidade. Como inquilinos, são um inferno: raramente podem ser despejados, portanto eles usam e abusam. Não pagam nada, então tampouco valorizam a propriedade. Não tendo e muitas vezes nem mesmo trabalho, terminam utilizando o novo lar como ponto de venda de drogas. 

Pobreza não é mera questão de recursos materiais, mas de comportamento. Se você quer eliminar a pobreza (se é que isso é possível), precisa primeiro modificar certos tipos de comportamento. Mas isso é bem mais difícil do que dar bolsa-esmola por toda a vida.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Devemos dar esmola?

O japa-esquerdista Sakamoto tem um post divertido, no qual conta uma historinha supostamente edificante:
Em uma esquina movimentada de São Paulo, caras-pintadas abordavam os veículos:
- Oi, tudo bem? Você poderia me dar uma moedinha. Eu passei.
Vendo a cena, um morador de rua que também fazia ponto naquele local, provido de uma ironia deliciosa, achegou-se:
- O senhor também poderia me dar uma? Eu também passei. Passei fome, passei frio, passei necessidade…

A moral sakamotiana esquerdista não explicita, mas sugere que o mendigo seria quem deveria ganhar a moeda, afinal, "a cada um de acordo com sua necessidade, de cada um conforme o seu bolso", parafraseando Marx. Mas eu não sei se é bem isso.

Ao dar grana a um mendigo - ou pior, a uma criança de rua -- o que estamos fazendo é simplesmente incentivando esse "trabalho". Em outras palavras, estamos pagando a um mendigo, ou a uma criança, para que fique nas ruas. Então, em vez de estar acabando com a mendicância, a estamos é aumentando. Amanhã o mendigo vai estar de novo ali, e a criança no sinal? Já serão duas, ou três. E quanto mais moedas o sujeito dá, mais crianças e mendigos aparecem. É como dar migalhas aos pombos.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Nem dinheiro nem igualdade trazem felicidade


Um leitor recentemente reclamou que aqui quase só coloco links para textos em inglês. É verdade, mas é que é difícil encontrar bons textos sobre os temas que me interessam em português. Hoje repito a dose, dando dois links em inglês -- ainda por cima britânico -- para recentes textos de Theodore Dalrymple: um deles falando sobre a relação entre o crescimento econômico e a felicidade, e outro falando sobre os problemas causados pela utopia da igualdade social.

A conclusão do bom doutor parece ser que, nem o dinheiro ou as conquistas materiais trazem felicidade, nem a igualdade social é um bem desejável ou possível - muito antes pelo contrário, costuma arruinar muitas sociedades.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Terra da oportunidade e do débito

Falamos sobre riqueza e pobreza no outro dia, e de como elas são sempre relativas.

Será que, nestes tempos de crise geral, os EUA ainda seriam a "terra da oportunidade", onde qualquer um pode ascender socialmente desde que se esforce para isso?

A experiência de Adam Shepard pareceria dizer que sim. Com apenas 25 dólares no bolso, ele mudou-se para uma cidade desconhecida, com a idéia de começar do zero, sem utilizar nenhum de seus contatos nem informar ninguém que tinha curso superior. Após ficar alguns dias no homeless shelter, arranjou um emprego carregando móveis. Após dez meses tinha um carro usado e morava em um apartamento alugado em um bairro razoável da cidade, tendo também economizado 5.000 dólares. Sua experiência parece demonstrar que muito da questão de pobreza versus riqueza está na atitude.

Na mesma reportagem linkada acima, vemos como várias pessoas de classe média americana, em empregos simples como jardineiro, policial ou vendedor, levam um estilo de vida em alguns casos próximo ao nível da classe alta de países de terceiro mundo, ao menos no que se refere a conforto e lazer.

Então por que tanta reclamação? O que acontece é que, como pobreza e riqueza são relativas, o que configura "classe média" também é. As pessoas querem ter um estilo de vida cada vez superior ao dos vizinhos, e assim o custo de vida aumenta também. Muitos passam a viver no crédito, gastando além do que ganham. Quando o governo se mete no meio querendo "ajudar", ocorrem coisas como a housing bubble.

O grande problema mesmo é que a dívida dos EUA hoje é de 12 trilhões de dólares, ou 85% do PIB, e o governo continua gastando sempre muito mais do que ganha. Em 2009, por exemplo, o governo coletou 2,1 trilhões. Gastou quase 4. Naturalmente, o Obamacare e outros projetos faraobâmicos aumentarão ainda mais os gastos. Não é só a classe média que vive no crédito, é o país inteiro.

Portanto, um problema similar ao da Grécia não está fora do baralho. Com a diferença que, nos EUA, seria duzentas vezes pior e afetaria o mundo inteiro.

O documentário I.O.U.S.A. fala um pouco sobre tudo isso. Se a coisa estourar, serão muitos os que terão que se virar como Adam, recomeçando com apenas 25 dólares no bolso.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Por que os pobres são pobres?

Que existe a pobreza, e que é um fator impossível de eliminar, todos sabem. Afinal, a pobreza é relativa. Eu, que ganho míseros xxx por mês, sou mais pobre do que A que ganha xxxxx. Os pobres na Índia são mais pobres do que os pobres nos EUA. Essa variação sempre vai existir. O que não se sabe exatamente é, por que os pobres são pobres? Isto é, por que logo eles e não outros?

Teoria marxista. Os pobres são pobres porque são explorados pela indústria capitalista malvada, que os mantém propositalmente na pobreza enquanto ri com um copo de uísque na mão e um charuto na outra. De todas as teorias, esta é provavelmente a mais estúpida, e vamos desconsiderá-la já de cara. Quer dizer, o senhor Y abre uma fábrica, dá emprego a centenas de pessoas que antes viviam de esmola, mas ei, ele os está explorando, afinal os infelizes deveriam ter "direito" a pelo menos metade da fortuna de Y cada um. Bah.

Teoria biológica. Os pobres são pobres porque são burros. Bem, apesar da afirmação geral ser falsa, há um quê de verdade nisto. O caso é, aliás, longamente elaborado no livro "The Bell Curve", onde se estuda a relação entre classe social e QI. Uma grande parte dos pobres (não todos) tem provavelmente baixo QI, e o máximo que podem aspirar é a um emprego no McDonalds. É triste, mas realmente, mesmo que tentem, nem todos podem ser físicos nucleares, CEOs ou engenheiros espaciais (eu não posso, por isso vivo de picaretagens aqui e acolá). Mas a teoria é injusta com os pobres inteligentes. Muitas pessoas, apesar da inteligência, estão na pior, simplesmente tiveram azar ou não tiveram estudo e oportunidade. Algumas dessas pessoas conseguem até subir de vida, o que é admirável. De fato, é preciso ser MAIS inteligente do que a média para subir desde baixo. Nascer em berço de ouro e continuar rico não é difícil. Nascer na lama e subir de patamar, mesmo à classe média, demanda esforço e inteligência sem par.
O problema desta teoria é também que, se os pobres são burros, não haverá jamais solução para a pobreza. Bem, há uma sim, colocá-los no funcionalismo público: não sei se você percebeu, mas são quase sempre as pessoas mais burras, ignorantes e preguiçosas que trabalham ali. (Usá-los como bucha de canhão em guerras ou em revoluções e "movimentos sociais" é tambem uma estratégia bastante eficiente.)

Teoria da estratificação social: Certas sociedades são organizadas de modo a que certos grupos fiquem sempre por cima, e certos grupos sempre por baixo. Na Índia, isso se dá (ou dava) diretamente, pelo sistema de castas. Mas se pensarmos nas sociedades aristocráticas européias, onde a nobreza era transmitida hereditariamente, é claro que a ascensão social ficava mais difícil para os de fora do clube. (No Brasil temos um sistema parecido, em que os políticos e aqueles bem relacionados com eles ficam por cima, e o resto por baixo. Pense um pouco: enquanto nos EUA para abrir uma empresa você precisa de no máximo 6 dias, no Brasil há tanta papelada e regulação - para não falar em corrupção - que a média é de 152 dias. Não vejo demonstração mais clara do interesse dos políticos em impedir a ascensão social no Brasil).
Alexis de Tocqueville, em seu famoso livro sobre a democracia americana, afirmou que o sistema americano funcionava e funcionaria - desde que aqueles que eram ricos mudassem a cada geração. Ao contrário da estratificação social das aristocracias européias, nos EUA havia um sistema de grande mobilidade social, na qual qualquer um poderia ascender socialmente desde que tivesse esforço e inteligência. (Hoje o que está ocorrendo é que uma casta de políticos e seus amigos quer se eternizar para sempre na Elite).

Teoria calvinista. Os pobres são pobres porque foram castigados por Deus. Bem, de acordo com certas teorias populares sobre o calvinismo (a teologia é na verdade bastante mais complexa), a riqueza era um dos modos com que Deus indicava quem eram os eleitos. Afinal, os que se esforçavam e trabalhavam em geral obtiam mais sucesso do que os preguiçosos. Embora isso também seja parcialmente verdade (esforço e trabalho ajudam, e a mentalidade calvinista foi em parte responsável pelo sucesso da sociedade americana), também é verdade que nem todos os ricos são esforçados, muito menos bons ou justos.
Esta é, também, a mais deprimente das teorias. Quer dizer, os pobres levam uma vida de sofrimento, degradação, fome, cansaço. E, ao morrer, ainda vão para o inferno.

Pobres porém felizes.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Por que o Haiti é tão pobre?

Pipocam explicações sobre a pobreza do Haiti. Alguns acreditam que seja culpa do capitalismo, outros que seria herança do colonialismo. Outros acham apenas que os EUA teriam "medo" da democracia no Haiti, por isso os mantém na miséria.

A maioria das pessoas não entende porque existe a pobreza. Mas a pobreza é nosso estado natural. O estranho mesmo é porque existe a riqueza.

Assim como é difícil para os indivíduos enriquecer, e livros como "Fique rico fácil em meia hora" são sempre best-sellers, o mesmo ocorre para as nações. Construir uma sociedade funcional, quanto mais rica, pode levar séculos de aprendizado, e nem mesmo assim é algo garantido. Observem que mesmo países hoje considerados ricos, como a Itália ou a Irlanda, padeceram fome e pobreza por longos períodos.

Os infelizes haitianos não tem culpa pela tragédia do terremoto, mas têm alguma culpa pelo fracasso econômico e social do Haiti. Quem não acredita, que assista a este documentário sobre as gangues haitianas. Pessoas que, em vez de estudar ou trabalhar - ou mesmo melhorar a condição das favelas putrefatas em que vivem - dedicam-se ao crime. Os que não se dedicam ao crime, apenas esperam (inutilmente) ajuda do governo, em vez de realizar alguma coisa por si mesmos.

Observem que no Haiti eles nem ao menos tem um sistema de coleta de lixo: o lixo é simplesmente jogado no esgoto mais próximo. Descaso ou ignorância?

(É também verdade que a taxa de analfabetismo é de 80%. Quem vai aprender o quê com quem? E o Haiti é tão pobre que quase não tem mendigos - afinal, vão pedir esmola a quem?)

Além disso, outro claro problema é que, como ocorre em Gaza, o país superpovoado não tem qualquer possibilidade de atividade econômica que possa sustentar toda essa gente. A única possibilidade seria o turismo, mas, sem segurança, quem se anima a ir ao Haiti? Acho que os últimos que foram lá a passeio foram os Clinton em sua lua-de-mel.

É verdade que o Haiti quase só viveu sob ditaduras, e isso não ajudou muito. Entre os dois Duvalier e Aristide, pouco ficou para celebrar. Não acho que colocar o Lula para supervisionar a reconstrução (sugestão da Economist) ajude, tampouco.

Também é possível que o Haiti, ao expulsar e matar os colonizadores brancos, tenha regredido ao tribalismo africano, que jamais primou pela criação de riquezas. Curiosamente, mesmo com quase 0% de brancos, nem mesmo assim livrou-se do racismo: há um conflito no país entre negros e mulatos. (E entre os praticantes do catolicismo e do vodu.)

Qual a solução? Leio num texto do Theodore Dalrymple que existem 100.000 ONGs no Haiti. Uma para cada 800 habitantes. Todas com a função de "erradicar a pobreza". E isso era antes do terremoto.

Ora, isso mostra que a maioria das tais ONGs nada mais são do que poços sem fundo, entidades ideológicas que vivem de explorar o problema da pobreza, não de solucioná-lo. Afinal, se a pobreza acabasse, também acabaria o ganha-pão dessas entidades.

(Não que todas sejam completamente inúteis; há algumas almas de bem que realmente trabalham ajudando os necessitados. Mas são sempre gotas em um oceano. E depois, há um outro paradoxo: quanto mais você ajuda e alimenta, mais filhos as pessoas têm, e mais aumenta a superpopulação, renovando a pobreza.)

É claro que os haitianos não tem culpa alguma por mais esta tragédia, e é realmente triste que isso tenha acontecido. Também é triste que tenha sido necessário um terremoto para chamar a atenção sobre essa pobre gente. Confesso que, às vezes, não há como não ficar deprimido com a coisa toda.

O pior é que não parece haver solução, ao menos não a curto prazo. A única solução rápida e simples que vejo para a pobreza do Haiti seria - perdoem o cinismo - simplesmente substituir seu povo pelo educado povo suíço, americano ou japonês.

(A propósito, a solução para o Brasil seria idêntica - mas onde encontramos duzentos milhões de suíços?)

Um bairro próspero de Port-au-Prince.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Quem gosta de filme de pobre?

Ao ler recentemente uma matéria sobre "Linha de Impasse", fiquei me perguntando uma coisa. Quem é o público-alvo destes filmes brasileiros, sempre centrados nas classes baixas? Afinal, pobre não gosta de assistir filme sobre gente pobre, e mesmo que tivesse dinheiro para ir ao cinema não assistiria. Mas rico tampouco gosta de ver filme de pobre, pois já basta ter que aturar mendigos e pivetes na entrada do Multiplex. E quando o filme, além disso, não tem história, não tem final feliz (na verdade, não tem nem final), é chato e arrastado, garante-se que o público do filme não vai ser muito grande.

Então porque tantos cineastas brasileiros adoram explorar a miséria?

Não me entendam mal. Há "filmes de pobre" bons, como "Ladrões de Bicicleta" ou "Feios, Sujos e Malvados". Mas parece que muitos diretores brasileiros acreditam que não é preciso escrever um roteiro, basta mostrar gente pobre sofrendo na tela, e está ganho o prêmio em Cannes, Berlim, ou, se não der, ao menos no Festival de Araraquara. Nem vou fazer uma resenha sobre "Linha", pois a resenha que eu ia fazer já foi feita aqui:

Para Walter Salles e Daniela Thomas ninguém presta, só eles. Nem os personagens principais escapam da sina criminosa que parece se abater sobre a humanidade. A diferença é que seus erros são justificados pela velha lenga-lenga de que a sociedade e as circunstâncias os obrigaram a errar. Se uma mulher sem condições de criar uma criança engravida da quinta, a culpa é da sociedade. E a maldita sociedade, representada pela patroa, não compreende isso. Se um jovem resolve roubar, não se trata de desvio de caráter, são as circunstâncias e as dificuldades que o levaram a cometer seus crimes. Se outro usa drogas, só pode ser porque foi influenciado pelos amiguinhos burgueses, ele é só uma vítima. A culpa é sempre dos outros.

Não acho que a miséria deva ser varrida pra debaixo do tapete. Mas esse tipo de discurso não leva a absolutamente nada. A vida de quem realmente está na condição de pobreza não sofre nenhuma melhoria por conta desses filmecos. Aliás, tende a piorar, porque sempre há emprego de dinheiro público nesses projetos. Ou seja, além de se verem explorados na tela, os pobres ainda precisam disputar com cineastas os caraminguás dos nossos impostos.
O problema do cinema brasileiro é que tem muito cineasta que acha que seu ofício é "resolver os problemas do mundo" (ou, vá lá, aliviar a consciência culpada), em vez de entreter ou emocionar o público por uma hora e meia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Morte no carrinho de supermercado e outras histórias

Li no blog de uma certa Espectadora um belo post sobre mortos colocados em carrinhos de supermercado, e ao final ela fala o seguinte:

Se nazistas queimam um judeu, é porque são uns monstros, inimigos da humanidade. Se traficantes queimam uma vítima, é porque são uns coitados, crucificados pelo sistema.

De fato. É curioso que os traficantes, assassinos e criminosos sejam vistos como "pobres" e "vítimas do sistema" pela esquerda, quando poderíamos fazer uma analogia e observar que, na realidade, não passam de tiranos, de grandes "capitalistas" que colocam o lucro acima de qualquer ética ou "função social". Matam por nada. Não são nem mesmo "pobres": no contexto da favela (que aliás é bem mais próspera do que muita gente pensa - muitos estão ali apenas para estar mais perto do trabalho e não pagar luz, água e IPTU) são os ricaços, a "burguesia", os "opressores", a classe alta, enfim, aqueles que mandam no sistema.

É curioso ainda que, na mentalidade progressista, tudo seja permitido ao Estado - menos matar. Para eles é horrível que o Estado, com a pena de morte, mate um criminoso (salvo que se trate de um Estado comunista, mas aí é outro papo). No entanto, à iniciativa privada (criminosos), matar é permitido. Quando um desses assassinos é preso, grita-se para respeitar seus "direitos humanos". Mesmo sua prisão é considerada em muitos casos um ato abominável. Mas a verdade é que existe pena de morte no Brasil. Ou ela é realizada por criminosos na cadeia, que têm seu próprio código de ética, ou ela é realizada pelos traficantes na favela que executam quem não respeita suas leis, ou então ocorre nas ruas - contra os inocentes.

Mas essa história de desculpar os crimes mais violentos dos "pobres" - ou mesmo de achar que o crime e a violência são mero resultado da pobreza - vai longe. No outro dia o presidente filho do Brasil disse que "policial aceita propina porque ganha pouco". Não é o primeiro nem será o último a afirmar isso, mas o raciocínio tem dois problemas. Um, assume que honestidade depende exclusivamente de quanto a pessoa ganha, além de qualquer valor moral. Somos todos ladrões, parece dizer Lula parafraseando G. B. Shaw, a questão é apenas negociar o preço. Dois, quem garante que o policial corrupto, mesmo com um salário maior, não continuará roubando? Afinal, jamais conheci ninguém que estivesse completamente satisfeito com o salário que recebe: todos sempre pensam que deveriam ganhar mais. Mesmo o mais famigerado CEO da Forbes 500, tenho certeza, não se incomodaria em ganhar alguns trocados extra.

Daí vemos que o problema não é a pobreza, mas a impunidade, e a falta no Brasil do que em inglês se chama "rule of Law". O mesmo poder que ignora o favelado que constrói em lugar inadequado também faz vista grossa para o policial corrupto, afinal se acabarmos com a polícia corrupta, quem garante que um dia não se virarão contra a corrupção dos parlamentares também, e aí onde iríamos parar?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Os pobres são importantes

Os pobres são importantes para uma nação. Mais do que isso. Os pobres são uma mina de ouro, como disse uma vez um bispo. (Não, não foi o Bispo Macedo, embora pudesse ter sido ele, mas sim um bispo europeu séculos atrás).

Os políticos demagogos precisam de pobres. Os pobres, afinal, podem ser comprados a preço baixo, dando sustento a qualquer grupo de poderosos, de Chávez a Lula, de Mugabe a Obama. Um bom ditador toma cuidado de jamais acabar com seus pobres: pensem na Cuba de Fidel ou na Venezuela de Chávez. Acabaram com a pobreza? Que nada, aumentaram-na. Mas mantém os pobres na dependência estatal, isto é, eternos súditos do Estado.

Os pobres são tão importantes que alguns países, não tendo produção própria em grande escala, decidiram importá-los. EUA e Europa ocidental, desenvolvidos graças à riqueza do capitalismo, não tiveram mais remédio que importar suas "classes oprimidas" (embora um termo melhor fosse "classes sustentadas") de outros países.

É sabido que o welfare aumenta a pobreza. Por outro lado, alimenta a burocracia estatal. Dá de comer, não tanto aos pobres, como àqueles que trabalham com a suposta missão de "resolver o problema da pobreza". Os pobres são uma indústria. Os pobres dão lucro.

Nos EUA e na Europa, os pobres atualmente são representados principalmente por essa classe de novos imigrantes que, ao contrário das gerações anteriores, não estão ali para trabalhar e subir de vida, mas para ser sustentados e ficar sempre na mesma situação. De fato, estudos indicam que em sua maioria, por uma série de fatores, religiosos, políticos e sociais, tanto muçulmanos na Europa quanto mexicanos nos EUA serão (salvo exceções individuais, que existem em qualquer grupo) sempre uma subclasse inadaptada.

Para que serve isso aos políticos? Simples. De um lado, mantém a classe média na linha, com medo de assaltos e violência. Do outro lado, ganham votos e dependência permanente de uma classe baixa da população. E assim o poder dessa intelligentsia no poder aumenta mais e mais, não obstante um que outro escândalo de corrupção.

Os pobres são uma mina de ouro.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Como ajudar os pobres? (2)

Vale tudo para deixar de ser pobre? Em certos filmes brasileiros recentes nota-se o uso justificado de atos imorais ou não-convencionais por parte de personagens de baixa extração social. Em "Quanto vale ou é por quilo" (2005), sugere-se que o seqüestro é uma boa forma de distribuição de renda. Em "O céu de Suely" (2006), a protagonista rifa o próprio corpo para comprar uma passagem de ônibus para Porto Alegre. Em "Estômago" (2007), um nordestino pobre obtém o sucesso cozinhando carne humana.

Já no filme "O homem que copiava" (2003), de Jorge Furtado, o herói do filme falsifica dinheiro, assalta um banco, mata seu amigo de infância e o pai da sua namorada e finalmente sobe na vida. Mas ele não aparece em momento algum como um personagem "malvado". Todos os seus crimes são justificados pelo roteiro: o protagonista rouba e falsifica por necessidade; o amigo de infância é um traficante de drogas que se vira contra ele; o pai da namorada é um tarado que abusa da menina e portanto merece morrer, etc.

Aí ao ler uma divertida crítica do filme, uma das poucas que encontrei que comenta essa perturbadora amoralidade do protagonista, encontro o seguinte comentário ao final:

Eu vi esse filme. Gostei pra carai!!! O cara tah certo, manu. Se eu tivece a chance de fazer dinhero falso, eu fazia na ora, porra!!! A burgesia me esfola o dia intero, pq é q eu num vo mi vingah? Eu só tenho medo de ir preso, esses coxinha fdp num daum arrego naum, bro. Mais porra, a gente naum tem escola decente, naum tem oportunidade de cresceh na vida, sacoh??? O unico jeito de subir na vida eh assim, na malandragem. Ou entaum virar pagodero ou jogador de futebol. Aih a mulherada cai em cima, neh!!!! Mais quando nois eh pobre assim, nem pensar! E voce aih, querendo da uma de bonzinho. Se liga, ô cuzaum! Vai nas perifa veh como eh a vida de verdade, valeu??

Não sei se é uma paródia, mas acho que representa bem uma certa parcela do Brasil, que cresce adaptando o velho "jeitinho brasileiro" ao discurso pseudo-(?) marxista em voga.

Como ajudar os pobres?

O leitor Rolando visitou o Nordeste e verificou uma coisa curiosa:

Estou escrevendo do sertão pernambucano, lugar que conheço por primeira vez, e hoje fui até Patos na Paraíba (aqui pertinho, dá uns 60 km). Passei por vários vilarejos, além de três cidades, de repente perguntei para o motorista da caminhote em que estava:
-- O senhor já viu gente passando fome? Ele pensou e disse que talvez no tempo dos avós dele, sem muita convicção. Foi o que eu já desconfiava há muito, aquele papo de 16 milhões de famintos no Brasil foi mais uma jogada da intelectualidade da esquerda para chamar a atenção de um problema inexistente. Hoje a questão da fome está menos em voga, a falácia do momento - bem sucedida por sinal - é a questão indígena.
Aliás, estou hospedado em casa de um casal de médicos que atende na região. Perguntei se há políticas de natalidade. Disseram-me que no posto tem camisinha, pílula, panfletos, etc... Mas a taxa de natalidade está altíssima por conta do Bolsa Família, já que não estipula um limite de filhos por mulher; a cada bebê que nasce, o mesmo valor é repassado, fazendo com que essas mulheres "acumulem" bolsas.
O bolsa-família ajuda os pobres? De modo direto, sim. É mais dinheiro no fim do mês. Por outro lado, se cada família faz cada vez mais filhos para continuar ganhando o sustento governamental, cria-se uma espécie de círculo vicioso que gera cada vez mais "pobres" na fila para receber o subsídio. Então, em vez de diminuir progressivamente o número de dependentes, parece tender a aumentá-lo. Há pequenas cidades do nordeste com mais de 70% da população recebendo o benefício.

Alguns observam que programas de assistencialismo criam dependência do Estado e desestimulariam a pessoa a trabalhar. Afinal, uma das coisas mais difíceis é ter que abandonar um benefício recebido. Tanto que muitos escondem suas fontes de renda paralelas ou então fazem filhos para continuar recebendo a bolsa depois que o filho cresce. Essa dependência não se dá apenas entre os mais pobres: nos EUA, um maluco escondeu o cadáver da mãe morta no freezer apenas para poder continuar recebendo o dinheiro da aposentadoria dela.

O bolsa-família ajuda os pobres? Sim, e também ajuda o governo Lula:
Da eleição para a reeleição, o presidente aumentou os votos em todas as cidades com mais população atendida pelo Bolsa-Família, registrando, em alguns casos, votações fenomenais: os 3.408 votos de Araioses (MA), em 2002, por exemplo, viraram 12.958 votos na campanha da reeleição; os 2.996 votos de Girau do Ponciano (AL) subiram para 12.550 votos.

Os governantes mais amados pela população são aqueles que dão alguma coisa de graça aos pobres. Perón ainda é lembrado hoje pelas classes populares argentinas pelos seus programas assistenciais. Evita ia pessoalmente distribuir presentes de Natal aos "descamisados". Outras políticas peronistas deixaram o país na absoluta decadência em que se encontra hoje, mas os pobres ainda amam Perón e Evita. Também assim Chávez e Evo Morales: são bufões autoritários, não resta dúvida; mas as classes populares recebem seu quinhão e votam neles. Do mesmo modo, quem recebe bolsa-família vota em Lula. O que há aqui de diferente do velho coronelismo, da compra de votos por farinha? Não muita, na verdade. Mas por acaso há alguma outra solução? Não é de qualquer modo bom ajudar os mais necessitados?

Claro, devemos observar que a pobreza é sempre relativa, portanto sempre haverá pobres, isto é: sempre haverá aqueles que recebem mais e aqueles que recebem menos. Segundo dados do Censo Americano, nos EUA 80% dos considerados "pobres" tem carro, ar condicionado e DVD player. Mesmo no Brasil, grande parte dos "pobres" tem televisão, e sua capacidade aquisitiva aumentou muito desde o Plano Real, é fato. Mas, se a crise econômica afetar também o Brasil - como parece que está afetando - os beneficiados pelo bolsa-família não terão que ser ainda em maior número?

Como ajudar os pobres? Respostas na caixa de comentários.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O problema da miséria

Que atitude devemos ter frente à miséria? Não é agradável, de fato, saber que ela existe e està à nossa porta pedindo esmola. Mas o que fazer a respeito?

É certamente um dos grandes dilemas da humanidade. Haverá sempre pobres? Jesus Cristo dizia que sim. Marx dizia que não. Em quem confiar?

Um dos grandes problemas que nos legou o pensamento marxista e pós-marxista (mesmo para quem jamais leu uma linha sequer de Marx) é essa idéia de que as classes sociais são estanques e de que é preciso "distribuir a riqueza" para criar maior "justiça social". Há até os que acham que os pobres estão certos em assaltar e seqüestrar os ricos, pois assim se "distribui a riqueza".

Ora, na verdade, a pobreza é o estado natural da humanidade, e não a riqueza. A riqueza se cria através do trabalho (ou, vá lá, do crime). O homem das cavernas, para todos os efeitos atuais, era um miserável. (Pobreza e riqueza são sempre relativas, o pobre de hoje é rico em relação ao pobre da Idade Média).

Mas a idéia de "distribuir a riqueza" é uma grande ingenuidade, por dois motivos: um, a riqueza é dinâmica, está sempre se criando e passando de um a outro; e dois, as pessoas nascem e morrem, e portanto nascem novos pobres a cada minuto.

Existe um plano, o tal do Global Poverty Act, que pretende que os EUA doem cerca de 845 bilhões de dólares aos países pobres para "reduzir à metade a pobreza no mundo até 2015". A idéia pode até ser bem-intencionada, mas é risível. Mesmo que o dinheiro não fosse parar na mão de atravessadores ou ditadores corruptos, e se acabasse com a pobreza da humanidade hoje, amanhã mesmo nasceriam novas pessoas que iriam querer o seu quinhão.

Sergio de Biasi coloca a coisa assim:
Distribuir toda a riqueza das elites pelo resto da humanidade produz um benefício quase ridículo em termos objetivos. Para dar um exemplo caricatural, a riqueza do Bill Gates distribuída por todos os seres humanos da Terra te dará mais uns cinco ou seis dólares. Concentrada nas mãos dele produz o Windows. O que tem mais valor para você?
A riqueza está sempre sendo gerada; a pobreza também.

Os pobres sempre estarão entre nós. Mas, como a pobreza é sempre relativa e a tecnologia e o crescimento econômico beneficiam a todos (claro que sempre a uns mais do que a outros), os pobres de hoje vivem em média melhor do que os pobres de ontem, e é razoável esperar que no futuro o sofrimento dos pobres será menor. Mas será que é o máximo que podemos esperar?

Continua sendo um problema conviver com a miséria à nossa porta. Quiséramos que o mundo fosse diferente, e talvez isso explique a eterna ilusão da busca pela tal "justiça social".


segunda-feira, 30 de junho de 2008

Mama África

Agora todos criticam o Mugabe, mas poucos anos atrás o mesmo sujeito estava recebendo diplomas honorários em diversas universidades ocidentais. Era considerado um campeão da libertação negra. Expulsou e confiscou as terras dos "opressivos fazendeiros brancos". Hoje, como resultado, sem mais produção alimentar, o país naufraga na fome, na hiperinflação e na violência.

O que poucos sabem é que a África do Sul (cujo presidente atual, Thabo Mbeki, é aliado de Mugabe) está indo pelo mesmo caminho. Economia estagnada e leis de cotas raciais (ha-ha) fazem com que os brancos estejam indo embora para outros países. O desemprego, a violência e a corrupção aumentam. Helen Suzman, deputada branca sul-africana que lutou pelo fim do apartheid, hoje afirma que o governo da ANC segue políticas de discriminação aos brancos, e que também tornou a vida pior para os negros mais pobres.

E a África do Sul é prossivelmente um dos melhores lugar de toda a África. Por onde se veja, só há ditadores, guerra civil, miséria, AIDS, ebola, corrupção, pobreza, desgraça.

Dar dinheiro não resolve. Termina tudo no bolso de ditadores. Depor ditadores tampouco serve. Logo vem outro e toma o seu lugar.

Qual o problema da África, afinal?

Será que era melhor nos tempos da colonização?

Em um artigo que já citei aqui, Theodore Dalrymple fala sobre o tempo que morou no Zimbabwe, quando ainda se chamava Rodésia, e observa que as coisas eram melhores naquele período. Mas disso não resulta que ele acredite nas benesses da colonização. O problema, segundo ele, é que a África herdou um modelo para o qual não estava de modo algum preparada. O tribalismo juntou-se ao conceito de Estado-nação, gerando os horrores que viriam:

In fact, it was the imposition of the European model of the nation-state upon Africa, for which it was peculiarly unsuited, that caused so many disasters. With no loyalty to the nation, but only to the tribe or family, those who control the state can see it only as an object and instrument of exploitation. Gaining political power is the only way ambitious people see to achieving the immeasurably higher standard of living that the colonialists dangled in front of their faces for so long. Given the natural wickedness of human beings, the lengths to which they are prepared to go to achieve power—along with their followers, who expect to share in the spoils—are limitless. The winner-take-all aspect of Africa’s political life is what makes it more than usually vicious.

Entretanto, há países que também sofreram colonização mas não terminaram na mesma situação degradante após a independência. Vejam a Índia, por exemplo: como a Rodésia/Zimbabwe, também era colônia britânica, também inclui dezenas de grupos étnicos diversos (que falam idiomas diversos), e no entanto virou uma democracia, produz até alta tecnologia e hoje está crescendo a níveis quase chineses. Qual a diferença?

Talvez o fato de que, ao contrário da África onde só havia tribos iletradas, na Índia havia uma civilização mais avançada e com milhares de anos de existência. Talvez.

De qualquer modo, a África é um mistério.


Mugabe recebendo um diploma honorário da Universidade do Massachussets em 1986. Só este ano a honraria foi retirada, por pressão dos estudantes.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Sobre políticas públicas e privadas


Uma historinha edificante.

No Seattle, EUA, decidiram instalar cinco banheiros de alta tecnologia nos parques e praças da cidade, para evitar que os homeless e mendigos fizessem suas necessidades nas árvores e esquinas, causando nojo e fedor ao cidadão comum.

Os banheiros custaram 6,5 milhões de dólares.

Cinco anos depois, o resultado: em vez de menos, tem mais cocô na rua. O lixo jogado por vândalos entupiu o "sofisticado mecanismo" de descarga automática. Os banheiros hi-tech viraram escritório particular de traficantes, travestis, prostitutas e viciados. Um dos próprios homeless disse que não os usa porque "são um fumódromo de crack".

Moral da história?
a) antes de gastar dinheiro, pense se sua idéia realmente funciona.
b) tente fazer coisas que incentivem as pessoas a saírem das ruas, e não a ficar nelas.