quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Morte no carrinho de supermercado e outras histórias

Li no blog de uma certa Espectadora um belo post sobre mortos colocados em carrinhos de supermercado, e ao final ela fala o seguinte:

Se nazistas queimam um judeu, é porque são uns monstros, inimigos da humanidade. Se traficantes queimam uma vítima, é porque são uns coitados, crucificados pelo sistema.

De fato. É curioso que os traficantes, assassinos e criminosos sejam vistos como "pobres" e "vítimas do sistema" pela esquerda, quando poderíamos fazer uma analogia e observar que, na realidade, não passam de tiranos, de grandes "capitalistas" que colocam o lucro acima de qualquer ética ou "função social". Matam por nada. Não são nem mesmo "pobres": no contexto da favela (que aliás é bem mais próspera do que muita gente pensa - muitos estão ali apenas para estar mais perto do trabalho e não pagar luz, água e IPTU) são os ricaços, a "burguesia", os "opressores", a classe alta, enfim, aqueles que mandam no sistema.

É curioso ainda que, na mentalidade progressista, tudo seja permitido ao Estado - menos matar. Para eles é horrível que o Estado, com a pena de morte, mate um criminoso (salvo que se trate de um Estado comunista, mas aí é outro papo). No entanto, à iniciativa privada (criminosos), matar é permitido. Quando um desses assassinos é preso, grita-se para respeitar seus "direitos humanos". Mesmo sua prisão é considerada em muitos casos um ato abominável. Mas a verdade é que existe pena de morte no Brasil. Ou ela é realizada por criminosos na cadeia, que têm seu próprio código de ética, ou ela é realizada pelos traficantes na favela que executam quem não respeita suas leis, ou então ocorre nas ruas - contra os inocentes.

Mas essa história de desculpar os crimes mais violentos dos "pobres" - ou mesmo de achar que o crime e a violência são mero resultado da pobreza - vai longe. No outro dia o presidente filho do Brasil disse que "policial aceita propina porque ganha pouco". Não é o primeiro nem será o último a afirmar isso, mas o raciocínio tem dois problemas. Um, assume que honestidade depende exclusivamente de quanto a pessoa ganha, além de qualquer valor moral. Somos todos ladrões, parece dizer Lula parafraseando G. B. Shaw, a questão é apenas negociar o preço. Dois, quem garante que o policial corrupto, mesmo com um salário maior, não continuará roubando? Afinal, jamais conheci ninguém que estivesse completamente satisfeito com o salário que recebe: todos sempre pensam que deveriam ganhar mais. Mesmo o mais famigerado CEO da Forbes 500, tenho certeza, não se incomodaria em ganhar alguns trocados extra.

Daí vemos que o problema não é a pobreza, mas a impunidade, e a falta no Brasil do que em inglês se chama "rule of Law". O mesmo poder que ignora o favelado que constrói em lugar inadequado também faz vista grossa para o policial corrupto, afinal se acabarmos com a polícia corrupta, quem garante que um dia não se virarão contra a corrupção dos parlamentares também, e aí onde iríamos parar?

3 comentários:

Mr X disse...

Já tá num dos links no texto, mas vale a pena colocar de novo aqui, uma interessante discussão no Belmont club sobre corrupção e pobreza no Terceiro Mundo, ou o ovo e a galinha:

http://pajamasmedia.com/richardfernandez/2009/11/17/forlorn-hope/

Marcus Carvalho disse...

Mister,

O que falta no Brasil é a tal "Accountability". Ninguém se sente responsável por nada.

Anônimo disse...

Oras, mas não tá certo que seja chamado de monstro um nazista que queima um judeu?