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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Life's but a walking shadow

Em tempos em que ninguém mais parece preocupar-se com o Irã, e os EUA obâmicos já admitem aceitar a realidade de um Irã atômico - é bacana ler a incrível história de Totsumo Yamaguchi, o homem que sobreviveu a DOIS ataques nucleares. Sim: ele estava em Hiroshima em uma viagem de negócios no dia 6 de agosto de 1945. Surpreendido pela bomba americana, sofreu apenas queimaduras leves, e depois de ser tratado retornou no dia seguinte para sua cidade natal - Nagasaki.

Totsumo também sobreviveu ao segundo bombardeio - embora desde então reclamasse de uma ligeira surdez - e viveu até os 94 anos. Morreu recém agora em janeiro de 2010.

Se estão corretas as previsões de que ao menos uma bomba nuclear vai explodir em algum lugar do planeta nos próximos dez anos, é bom saber de alguém que sobreviveu não apenas a um, como a dois ataques.

Destino? Sorte (ou azar) incrível? Ou desígnio de Deus?

Existe também a história de Juliane Köpcke, única sobrevivente de um avião que explodiu em pleno ar ao ser atingido por um raio. O avião, que então sobrevoava a floresta amazônica, partiu-se em vários pedaços. A moça, ainda presa ao assento, caiu de uma altura de mais de três mil metros. No entanto, de modo inexplicável, sofreu apenas ligeiras escoriações, a quebra da clavícula, e um ferimento no braço que terminou infectado por larvas. Depois disso, ainda teve que caminhar durante dez dias pela selva amazônica, sem comida, até encontrar um povoado. Perdeu a família no acidente, mas está ainda viva e trabalha em um zoológico.

Há os que achem que a História seja apenas um acúmulo de eventos sem sentido. E há os que, no caos, tentam adivinhar algum tipo de ordem secreta.

Talvez as nossas mentes estejam criadas (ou tenham evoluído) para procurar um sentido em tudo, e por isso nos custa tanto aceitar que a vida não tenha - ou tem? - sentido algum.

Há os que acham que nada serve a coisa nenhuma. E há os que acreditam que tudo tem algum papel no Universo, até mesmo a menor das pedrinhas.

Tendo as duas possibilidades, prefiro - à maneira de Pascal - acreditar nessa segunda hipótese. Mas eu realmente não sei.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A pilula da felicidade



Existe uma pílula da felicidade? O Fábio Marton passou um link para um website interessante, que parece saído de um romance de ficcção científica. É um grupo interessando em "paradise-engineering", isto é, na manipulação química do cérebro humano através de superdrogas, as quais não apenas terminariam com a angústia, o stress, a frustração como tornariam o cérebro mais potente, mais criativo e eventualmente permitiriam até obter a felicidade permanente.

Será que isso é possível? O argumento é que, sendo todo e qualquer sentimento mera química (dopamina, endorfina, etc.), não há razão para este não ser obtido através de drogas ou outros tipos de manipulação química. Sofrimento? Angústia? Pra quê? Tome Felizex.

Pessoalmente, confesso que, não sempre, mas em certas ocasiões, tenho certas tendências à depressão; ou melhor, nem chamaria de depressão, mas meramente de não-felicidade. É mais uma espécie de tédio com a vida, aquilo que os decadentistas franceses chamavam de ennui e os românticos ingleses de spleen. Existe uma pílula contra o ennui? Ou basta absinto?

Na verdade, como expliquei nos comentários lá embaixo (post sobre Huxley vs. Orwell), não creio muito que seja possível esse negócio de reengenharia mental:

As drogas não mudam o gênero humano, apenas alteram sua percepção e/ou comportamento, enfim, modificam a química do cérebro, mas não criam nada de novo. Talvez misturando-se com manipulação genética, mas mesmo assim, parece-me que a idéia de criar um ser melhor ou mais perfeito é inútil e impossível, ou só seria possível reduzindo a nossa consciência: isto é, transformando-nos em animais ou vegetais. São os cães ou as pulgas ou os rabanetes mais felizes do que nós? Acho que sim, se é que se pode chamar isso de felicidade.

Mas, mesmo aceitando que a felicidade perene nos humanos seja possível através do consumo de drogas sem qualquer efeito colateral (o que duvido, mesmo Prozac e similares causam diminuição da libido, por exemplo), é isso realmente benéfico?

Uma felicidade que independe completamente do nosso comportamento é realmente felicidade? E se a felicidade independe completamente do comportamento (basta tomar uma droga), para que mudar de comportamento?

Parece-me que a felicidade, como a pobreza, é um conceito meramente relativo. Comparamos constantemente com os outros ou conosco mesmos em outros períodos da vida.

Por outro lado, a depressão, quando ocorre, é de fato uma sensação que, ao menos em retrospecto, parece bastante inútil. Pergunto aos darwinianos presentes, em termos evolutivos, qual seria o valor da depressão? É um bug ou uma feature do ser humano? É possível erradicar a angústia existencial como outra doença qualquer?

Homo chemicus

terça-feira, 14 de julho de 2009

Morra, miserável!! É para o seu bem!!

Antes do pânico com o aquecimento global, existia o pânico com o resfriamento global, e antes disso o pânico com a explosão populacional. Para conter as futuras calamidades que a superpopulação do planeta iria certamente causar, um cientista nos anos 70 recomendava o seguinte:

1) Esterilização massiva das mulheres, por meio de produtos esterilizantes jogados na rede pública de água com desconhecimento da população;

2) Aborto compulsório para jovens solteiras grávidas e esterilização obrigatória de cidadãos considerados "indesejáveis" pelo governo;

3) Um Regime Planetário militarizado com autoridade sobre a vida de cada cidadão da Terra, que determinaria oficialmente quantos habitantes poderiam existir por região, e quantos filhos cada família poderia ter.
(Há muito mais. Sugiro que leiam aqui o catálogo completo de barbaridades escritas por esse cientista maluco.)

Epa. Eu disse cientista maluco? Pois bem, adivinhem o que ele faz agora? Quem disse que é o Diretor das Políticas de Ciência e Tecnologia do Governo Obama, acertou. E ele hoje está preocupado com o aquecimento global e com o "aumento do nível dos oceanos"...

O mais surpreendente nisso tudo é que mudam as "catástrofes", mas os "remédios" continuam sempre os mesmos. Naturalmente, a radical redução populacional e/ou um governo global são o antídoto ideal contra as tais "mudanças climáticas", assim como contra as guerras mundiais, a corrida armamentista, a gripe suína, a maconha e a sexualização precoce das crianças...

Suspeito que toda "catástrofe mundial" não passa de pretexto para o que realmente interessa: o exercício do poder absoluto sobre a vida e a morte de cada cidadão. John Holdren, citado acima, é um genocida em potencial. Mas há muitos outros. Outro amigo de Obama, Bill Ayres, nos anos 60 discutia calmamente com seus colegas do Weather Underground sobre como melhor eliminar 25 milhões de americanos (no hipotético caso de que eles tomassem o poder): deveriam executá-los sumariamente ou colocá-los em campos de concentração?

Há algo de escalofriante no modo com que esses Burocratas do Inferno escrevem. Parece-me estar lendo o diário de psicopatas, e é possível que o sejam. Afinal, eles jamais se colocam na posição das vítimas; não são jamais eles os que devem fazer sacrifícios, não são jamais as suas famílias as que são esterilizadas, consideradas "indesejáveis" ou presas por exceder a quota permitida de filhos ou CO2. Considerar o sofrimento alheio, ou o sacrifício próprio, jamais entra em suas mentes doentias.

O pavoroso é que são essas as pessoas que estão hoje no poder, e querem organizar um governo global. Ah, mas é para o nosso bem...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Bioética racional

O filósofo Peter Singer dá aulas de "bioética" na prestigiosa universidade de Princeton. Sua "bioética" funda-se em princípios que parecem bizarros para a maioria de nós que, por mais agnósticos que sejamos, ainda estamos acostumados à moral tradicional judaico-cristã, a qual, queiramos ou não, permeia quase todo o sistema legal e ético atual. Apesar disso, as idéias radicais de Singer estão ficando na moda em certos círculos. Algumas delas aqui:

- A vida de um chimpanzé adulto pode valer mais do que a de um bebê humano, que não tem ainda a consciência formada: seria mais ético salvar de um incêndio um macaco do que um bebê humano retardado, que talvez seja até menos inteligente do que o chimpanzé.

- Não há diferença entre matar um feto e um bebê, pois nenhum deles tem a consciência totalmente formada e portanto, se os pais quisessem deveriam poder matar seus bebês tanto antes quanto após o parto.

- Pode ser mais ético matar bebês recém-nascidos que tenham defeitos físicos ou mentais que possam causar infelicidade a seus pais do que obrigá-los a viver uma vida de sofrimento para eles próprios e para seus pais (para Singer, um bebê não tem consciência de si mesmo nem grande noção do futuro e do passado, e portanto sua morte é ruim na medida em que causa sofrimento àqueles que o amam, como seus pais; porém, se a vida do bebê "defeituoso" for causar mais sofrimento do que sua morte, é permissível matá-lo).

- Embora ele não o recomende, não vê nada de moralmente errado se um casal decidisse gerar uma criança com o único intuito de matá-la após o nascimento e retirar seus órgãos para dá-los a um irmão doente, se assim desejarem (idem ao argumento acima, de que seres com consciência tem precedência sobre seres sem consciência ou com consciência limitada).

- É perfeitamente permissível matar velhinhos com Alzheimer que não reconheçam mais ninguém, se todos os parentes concordarem (o velhinho não tem poder de decisão).

- Não há nada de moralmente errado com a necrofilia ou o bestialismo ou o sadomasoquismo ou até mesmo a pedofilia desde que sejam comprovadamente consensuais: tudo o que dá prazer e é consensual é, por natureza, ético (a pedofilia poderia, no entanto, ser condenada já que em certos casos seria difícil provar que a atividade é consensual).

- Matar não é errado em si mesmo, mas apenas na medida em que causa ou diminui o sofrimento de terceiros. Por exemplo, matar Hitler teria sido um bem já que teria evitado a morte de milhões. Mas matar assassinos condenados à morte na prisão é errado pois não podem mais fazer mal a ninguém.

- Realizar experimentos científicos ou médicos com seres humanos em estado de coma seria mais ético do que realizar os mesmos experimentos com macacos plenamente conscientes.

- Em seu novo livro, que promete "uma solução para o problema da pobreza", argumenta que a vida de nossos próprios filhos não é, em si, mais importante do que a vida de criancinhas famintas na África (todas as vidas têm o mesmo valor), portanto os ricos deveriam dar dinheiro aos pobres em vez de gastá-lo em coisas fúteis como uma Ferrari ou educação universitária para seus próprios filhos (mais urgente é evitar a morte de fome);

O pavoroso em Singer não é que suas idéias sejam malucas. É que, ao contrário, são extremamente racionais. São o racionalismo levado ao extremo. Singer é um utilitarista, isto é, acredita que um ato é moral ou não apenas de acordo com o sofrimento mensurável que causa. Se um ato causa sofrimento é imoral, se causa felicidade (ou evita sofrimento) é moral. Singer vai além dos utilitaristas clássicos em apenas dois aspectos:

a) utilitaristas clássicos afirmavam que o Bem pode ser definido como "aquilo que traz felicidade". Singer, que considera a felicidade um conceito problemático, utiliza o conceito de "preferência". As decisões morais são baseadas apenas na intensidade da preferência de um indivíduo ou grupo.

b) seu radicalismo consiste em não limitar tal ética utilitarista aos seres humanos, mas, ao contrário, colocá-los no mesmo plano de todos os outros seres vivos conscientes. Matar uma vaca ou um homem, para Singer, tem o mesmo valor moral. (Para ele, a única razão pela qual matar um ser humano poderia ser mais grave do que matar uma vaca seria pelo fato de que a morte do ser humano causaria mais dor a outros seres (parentes, amigos, etc.) do que a da vaca a seus companheiros bovinos, e devido à maior autoconsciência humana - mas não devido a qualquer diferença de importância entre homem e vaca).

Aos que o acusam de ter idéias "nazistas", Singer - que embora seja um ateu radical é filho e neto de judeus - argumenta que seu avô morreu em um campo de concentração, e que toda sua filosofia, influenciada por essa história familiar, busca justamente minimizar o sofrimento. Tudo para ele, assim, se divide em seres autoconscientes passíveis de sofrer (animais superiores, pessoas) e seres que não sofrem ou não tem autoconsciência (velhinhos em coma, bebês, plantas).

É a ética de um mundo materialista e racional ao extremo. E é justamente por isso que, ao menos para mim, é tão pavorosa. Mesmo (ou especialmente) quando efetivamente resulta no "bem maior" (a filosofia de Singer lembra um pouco a filosofia de Quincas Borba). Pois o terrível em Singer é justamente seu frio racionalismo. Se Deus não existe, se Bem e Mal não existem, se não há absolutos morais, se a vida não apenas não é sagrada como não tem qualquer sentido, se a diferença entre o homem e os demais animais é apenas quantitativa e não qualitativa (maior inteligência, maior consciência, etc.), se o que caracteriza um ser humano como "pessoa" é meramente a sua autoconsciência, então a ética de Singer é a ética mais lógica a seguir.

Pessoas como Singer me dão vontade de converter-me à primeira religião que encontrar. Acho que até um mundo dominado pelo islamismo radical seria mais humano do que um regulado pela ética singeriana.

Atualização: Roger Scruton contesta as idéias de Singer. Aqui.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Vã filosofia

Parece que nosso amigo Bernardes escreveu um post comentando o último artigo deste blog. Pediria que algum leitor leia e resuma pra mim, pois é muito longo e chato pra caray. (Alguém deveria ensiná-lo a usar parágrafos.)

Comento só o final do texto, pois percebi ele tenta ridicularizar a minha dedução de que ele seria "estudante de Filosofia ou História" e não de Letras ou Biologia:
Ao final do seu comentário o rapaz ainda apela mais uma vez para a arma olaviana, sentencia que não sou estudante de Letras e de Biologia porque acentuei erradamente a palavra "pupila/púpila". (...) Constatação brilhante, a altura da interpretação que ele promove ao longo do texto. [Atenção Léo, à altura é com crase, mas não vou usar isso contra você].
Além de distorcer, o que ele não informa é que eu estava absolutamente correto na minha intuição Sherlock-Holmesiana. De acordo com seu próprio perfil no Blogger, o rapaz tem 27 anos e é formado em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia... (Ah, e como suspeitei é fã do Nassif e do nosso já conhecido Idelber... Essas figurinhas são tão fáceis de catalogar...)

Ainda bem que não tive o azar de estudar Filosofia, ou jamais poderia afirmar uma conclusão dessas sem citar Lakatos e Wittgenstein pelo menos três vezes.