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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Amores suicidas

Uma certa melancolia me invade às vezes, especialmente quando contemplo as relações amorosas e seus ocasionais resultados trágicos.

O blogueiro Sérgio de Biasi suicidou-se.

Nunca conheci o Sérgio, mas há tempos acompanhava O Indivíduo, desde quando ainda era uma parceria com o Pedro Sette, outro excelente escritor. Ele era pouco mais velho do que eu, fazia praticamente parte da mesma geração e, acho, tínhamos certas coisas em comum. 


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O mundo do contrário

Quando eu era criança, existia uma canção chamada "O mundo do contrário", sobre um mundo em que tudo estava virado de pernas para o ar. É mais ou menos o que está acontecendo hoje em dia, embora nem todos percebam.

Antes, gays eram perseguidos, e nem mesmo figuras importantes como Alan Turing e Oscar Wilde escapavam de duras punições. Agora, há gays no exército americano, gays recebendo dinheiro público para realizar paradas na rua, gays casando e adotando filhos, gays escrevendo os novos livros infantis. O que era impensável há poucas décadas atrás hoje virou o novo normal.

Nem estou fazendo um juízo de valor aqui (afinal não sou a favor da perseguição sistemática a gays), mas apenas observando como os padrões do comportamento moral, do que era considerado certo e errado, praticamente se inverteram.

O problema é que isso é só o começo, é claro. Se você ainda se consegue escandalizar com o homossexualismo, é porque não sabe que já existe um movimento que está legalizando e promovendo o incesto: afinal, se os dois forem maiores de idade é sexo entre duas pessoas adultas, e ninguém tem nada com isso, certo? É o que argumenta um professor universitário que teve sexo consensual com sua filha durante três anos. E não esqueçamos da pedofilia, agora transformada em aspecto cultural.

Enquanto isso, cristãos são punidos por meramente existirem, ou por promoverem o seu "ódio" contra gays, lésbicas e incestuosos. Soldados heterossexuais são proibidos de tomar banho em um chuveiro separado dos gays, afinal não se abaixar para pegar o sabonete poderia ser considerado discriminação. 

O Richard Fernandez, do Belmont Club, tem um excelente post sobre o tema: ele observa que não é que a moral tenha acabado, é simplemente que substituiu-se a antiga moral baseada na virtude cristã por uma nova moral baseada no Politicamente Correto e nas teorias esquerdistas de igualdade forçada.

O problema é que a antiga moral, ao contrário da nova, tinha uma lógica baseada na experiência e no bom senso. Mesmo se deixarmos de lado o aspecto religioso, podemos observar que existem comportamentos que são mais negativos e comportamentos que são mais positivos, seja para o indivíduo ou para a sociedade.

O homossexualismo, por exemplo, pode até ser divertido para seus praticantes (?), mas tem o inconveniente de não propagar a espécie e causar potencialmente maiores problemas de saúde. O incesto, nem preciso dizer: causa filhos com deformações genéticas e mentais, além de ter repercussões negativas na estrutura social, baseada na criação de alianças entre diferentes famílias. E assim por diante: tomar drogas tem repercussões negativas para a saúde física e mental, a dependência estatal leva à preguiça e à acomodação, et cetera.

Mas vivemos em um momento em que a grande virtude -- talvez a única virtude - é considerada a Igualdade. Todos precisam ser iguais a todos, por bem ou por mal. Os gays precisam entrar no exército e casar entre si -- por quê? Simplesmente porque o contrário seria "discriminar". Todos os cidadãos de bem devem ser igualmente revistados até as cuecas no aeroporto, mesmo que 99% dos terroristas sejam muçulmanos. Por quê? Porque o contrário seria "discriminar". Indivíduos de certas etnias e classes sociais devem ter direito privilegiado a freqüentar uma universidade, ainda que tenham notas mais baixas, por quê? Porque... Bem, acho que você já pegou a idéia.

O grande problema com isso tudo é que essa Nova Moral nada tem de compatível com o Mundo Real. Todas essas mudanças (ou deveríamos dizer experimentos sociais) têm conseqüências, que se farão sentir mais cedo ou mais tarde. Assim como as teorias progreçistas que vêem o criminoso como uma "vítima do sistema" estão certamente por trás do terrível aumento do crime em todo o mundo nas últimas décadas, e as teorias iguali-otárias de Paulo Freire estão certamente por trás do desastre na educação atual, certamente as novas propostas de reengenharia sexual terão seu resultado daqui a alguns anos, e eu não quero nem saber qual será.

Vejam bem, amiguinhos. Não sou nenhum paladino da moral e dos bons costumes, nenhum pregador de moral de calça curta. Acredito que salvo intervenção genética ou divina o homossexualismo sempre existirá, ainda que restrito a um máximo de 10% da população. E o mesmo com outros comportamentos como o incesto, a pedofilia, a poligamia, etc. O desejo humano tem razões que a própria razão desconhece.

Porém, observo que os comportamentos marginais mais excessivos, que antes eram mantidos no seu canto, agora estão sendo transformados na norma de conduta, e seus praticantes transformados em uma classe protegida, a qual não pode sequer ser criticada. Somado a isso, vemos uma moral que inverte vício e virtude (em seus conceitos tradicionais), e que privilegia comportamentos contrários à unidade familiar, e, portanto, contrários à harmonia social. Isso não pode dar certo.  

De minha parte, rezo apenas para que homossexualismo e incesto não se tornem obrigatórios, pois do jeito que vai a coisa, não duvido que venha a ocorrer...

terça-feira, 29 de junho de 2010

O mundo freak das celebridades

A filha de Warren Beatty decidiu que vai virar um homem e chamar-se Stephen. Segue a onda da filha de Cher, que já virou um homenzarrão, bem robusto até.

Isso importa? Não muito. Mas as celebridades são "formadoras de opinião". O que elas fazem hoje, seu filho vai poder querer fazer amanhã.

O problema é que o mundo em que as ditas "celebridades" habitam é um mundo diferente do mundo normal. É um mundo de sexo, drogas, roquenroll, botox na veia (na "véia"), mansões milionárias e divórcios bilionários.


quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quando acaba a infância?

Há uma controvérsia aqui nos EUA sobre o caso de Abby Sunderland, a garota de 16 anos que decidiu dar a volta ao mundo em um barco sozinha, e terminou quase morrendo no processo.

De um lado, estão os que criticam os pais, por ter permitido uma adolescente correr tais perigos em troca de publicidade. Pais conservadoramente corretos, dizem os críticos, teriam proibido a moça de tentar a aventura até chegar à maioridade.

Do outro lado estão os que exaltam o espírito independente e aventureiro da garota, e observam que a odisséia seria uma espécie de retorno às tradições americanas de desbravamento e independência.

Confesso que estou dividido a respeito do tema, assim como acho que também o está nossa cada vez mais bizarra sociedade.



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Um mundo sem regras?

No outro dia, a leitora Confetti chamou-me de reacionário. Magoei. Sempre me considerei de centro, razoavelmente libertário. Mas recentemente me surpreendi comigo mesmo e pensei: será que estou à direita do Reinaldo Azevedo?

Afinal, ele se declarou a favor da adoção por parte de gays enquanto eu tendo a ser contrário, embora considere argumentos a favor. Nada tenho contra os gays. Nada tenho contra as lésbicas (Vi duas se beijando no outro dia na minha frente. Moças simpáticas e alegres. Bonitas. Bem, uma das duas era.).

De acordo com a natureza, pessoas do mesmo sexo não podem ter filhos entre si. Por mais que tentem. Se os gays querem passar a vida ao lado de um ou mais companheiros do mesmo sexo, é porque escolheram não se reproduzir. Ou assim era, até agora.

Mas estamos em tempos diferentes, em que a tradicional família papã-mamã-filhinhos está em franca decadência, substituído por um modelo em que todo tipo de relação é considerado igual. E por que não? A tecnologia permite e a moral moderna também. Deus está morto e não tem nada com isso.

Em outros tempos, o sexo gay era "o amor que não podia dizer seu nome". Oscar Wilde casou e teve dois filhos, amava sua mulher e depois saía com Alfred Douglas. Hipocrisia? Talvez. Mas acredito que nem nos seus momentos de maior loucura ele pensou em criar os filhos com seu amante. Imagina! Amor era uma coisa, criar filhos uma coisa bem diferente.

No outro dia alguém disse assim: "Isso tudo é só porque fomos inculcados com os velhos modelos. As crianças do futuro acharão normal ter dois pais, ou duas mães."

Pode ser. Mas que importa? Casamento e adoção gay são mero preâmbulo para o que está por vir.

Leiam sobre este curioso caso (nota: alguns dizem que é hoax): uma avó de 72 anos que está transando com o neto biológico de 26, e os dois terão um filho através de uma barriga de aluguel (bem, ele será pai; o óvulo é de uma doadora anônima já que a velhota não é mais fértil).

Eles afirmam: "Somos felizes assim e ninguém tem nada com isso."


Quer saber? De acordo com a ideologia contemporânea, eles têm razão. Não há um único progressista que possa dizer por que este ou casos similares são moralmente errados. Avó com neto, filha com pai, irmão com irmã, transsexual grávido com mulher. Por que tais casos deveriam causar repulsa? Se são maiores e vacinados, que mal há?

Quem entende o coração humano? Todos temos desejos autodestrutivos, vícios, problemas. São poucos os casamentos que duram, e não é por culpa de ninguém, é por que é difícil mesmo. Então por que impedir gays de casarem, ou avós e netos de fazerem sexo entre si e criarem um filho juntos, ou pessoas trocarem de sexo?

Bem, eu acho que o seguinte. As pessoas precisam de regras. A única regra da sociedade contemporânea é: "Não devemos julgar ninguém. Todos são iguais. Vale tudo. Faça você também o que quiser, você é livre."

Ora, isso não é suficiente. Há claramente modelos, já testados, que funcionam melhor do que outros. Há vários estudos indicando os problemas de crianças nascidas sem família ou em famílias disfuncionais. E não acho que fazer experimentação social com crianças seja uma coisa boa.

Será que não está faltando autoridade? Será que não estão faltando regras mais precisas e disciplina? Será que esta "liberdade" toda é boa para as crianças das próximas gerações?

Vejam este outro caso, na Inglaterra. Os alunos adolescentes barbarizavam na sala de aula, provocando um professor que sofria de problemas emocionais. Um dia, um aluno zombou dele e gritou-lhe um sonoro "fuck you", e o professor irritou-se. Acertou com um halteres na cabeça do garoto. "Die, die, die!", disse o professor, enquanto batucava com o halteres na cabeça do jovem.

Ei, já dei aulas. Eu o entendo. Também eu, se pudesse, teria dado uns bom golpes na cabeça de certos alunos. (O garoto não morreu. O professor foi absolvido.)

O caso é que os alunos eram extremamente mal-educados e rebeldes, mas o professor pouco ou nada podia fazer. Tocar em alunos? Nem pensar. Pode-se ser acusado de abuso infantil ou coisa pior. (Eis por que uma professora chamou os policiais para algemarem uma criança de seis anos.) Expulsão? Suspensão? Que nada. Na escola moderna, o aluno é rei. Como ensinou Paulo Freire, aluno e professor, professor e aluno, é tudo a mesma coisa, fazem parte de um mesmo coletivo social. Mas não são só os professores: nem mesmo os pais podem punir as crianças, ou terminarão presos. Diversos psicólogos advertem sobre os terríveis traumas que as palmadas causariam às crianças (Uma chega a comparar as palmadas com o estupro).

Nelson Rodrigues falou certa vez sobre a tirania do jovem. É o que vivemos hoje, com a diferença que agora todos somos "jovens". Todos somos perpétuos adolescentes, do começo ao fim da vida. Todos. Eu inclusive. Queremos tudo, emprego, saúde, roupa lavada, casamento gay, direitos humanos. Responsabilidade? Autoridade? Limites? Castigo? Limitação do desejo por questões morais, financeiras ou de ordem social? Ora, vá se catar.

Só que, pouco a pouco, a sociedade vai se desintegrando, e ninguém consegue entende por quê.

Talvez precisemos de um pouco menos de "liberdade", e um pouco mais de disciplina.

Disciplina é importante.

domingo, 11 de outubro de 2009

Poema do domingo

Sonnet 66

Tired with all these, for restful death I cry,
As, to behold desert a beggar born,
And needy nothing trimm'd in jollity,
And purest faith unhappily forsworn,
And guilded honour shamefully misplaced,
And maiden virtue rudely strumpeted,
And right perfection wrongfully disgraced,
And strength by limping sway disabled,
And art made tongue-tied by authority,
And folly doctor-like controlling skill,
And simple truth miscall'd simplicity,
And captive good attending captain ill:
Tired with all these, from these would I be gone,
Save that, to die, I leave my love alone.

William Shakespeare (1564 - 1616)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Sodoma & Gomorra

Gênesis 18:23
E chegando-se Abraão, disse: Destruirás também o justo com o ímpio?
Gênesis 18:24
Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás e não pouparás o lugar por causa dos cinqüenta justos que ali estão?


Depois do movimento gay, vem aí o movimento poly. Poly, de polyamorous. Eles já têm blog, têm movimento organizado, e têm até suas celebridades, como a admirável atriz Tilda Swinton, que vive abertamente com dois homens, um, o pai de seus filhos, e outro um jovem amante.

Já é quase certo que o "casamento gay" será legalizado em quase todos os EUA e na Europa. Mas, longe de realmente significar uma revalorização do casamento, o que isso significará é o inevitável fim do casamento tradicional. Se os gays podem casar, não há motivo para os polys não quererem. E, se os polys puderem "casar", então, não há limite. O casamento, que era um contrato social entre (um) homem e (uma) mulher para permitir a criação de crianças, as alianças entre famílias ou clãs rivais, e a estabilidade social, vai ter agora como quase única finalidade a convivência sexual. Casar, então, para quê? De acordo com o blogger do link acima, o casamento tradicional vai virar exclusividade dos ricos e dos religiosos (mas os muçulmanos poderão ser poligâmicos).

A monogamia não é natural no homem. Acreditem, sei do que estou falando. Talvez o homem seja mais parecido ao chimpanzé. (A mulher, um pouco menos).

Mas, quem disse que tudo o que é natural é bom?

A civilização tampouco é natural. O que é natural é a barbárie. E o grande problema do mundo ocidental, hoje, é esse: a crença irracional de que a civilização é algo que simplesmente acontece, que é o estágio natural da humanidade. Errado. Civilização exige esforço hercúleo constante, o mesmo esforço que um casamento monogâmico exige. O próprio Freud, que disse tanta besteira, disse ao menos uma coisa certa: civilização exige sempre um certo grau de repressão dos instintos.

Será que esse ultraliberalismo que traz casamento gay e movimento poly terminará bem? Embora eu seja na prática a favor de um certo liberalismo, temo às vezes que este fará surgir, a longo prazo, caos social e frustração massiva dos sexual losers. Já há vários sinais disso. Uma sociedade poligâmica tem muito maior número de frustrados, vejam o caso das sociedades muçulmanas em que os que sobram viram homens-bomba em busca de virgens.

Recentemente, aqui mesmo em Los Angeles, um sujeito chamado George Sodini entrou em uma academia de ginástica e matou quatro mulheres gostosas. Depois, se suicidou. O motivo? Era um autodeclarado loser que não comia ninguém há vinte anos, e tinha raiva das mulheres. Está tudo detalhado em seu diário online. O sujeito era tão, mas tão loser, que ninguém leu as páginas da web nas quais havia mais de um ano ele descrevia em detalhes suas frustrações e seu plano diabólico. Nem mesmo seus familiares, duramente criticados, leram o material.

O curioso é o seguinte: ao contrário de outros atiradores recentes, George Sodini não era psicótico. Seu diário mostra um homem razoavelmente normal, com um bom emprego, dinheiro, boa-forma e sucesso. Frustrado, sim, mas não louco, ao menos não clinicamente.

Será que esse tipo de frustração - e consequentes crimes - não será cada vez mais normal? Será que o fim do casamento tradicional não será também o prenúncio da anarquia social cada vez maior, a qual, segundo Theodore Dalrymple, já ocorre entre as classes baixas inglesas, onde quase ninguém mais casa e violência doméstica, infidelidade, estupro, assassinato, tortura de bebês e 80% de filhos ilegítimos são a norma do dia?

Dizem que, por muito menos, Deus destruiu Sodoma e Gomorra. Mas sabe-se lá o que rolava em Gomorra.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Darwin existe?

O Orlando Tambosi publicou um interessante texto de Ida Magli sobre a religião e como esta e apenas esta seria produtora do fanatismo.

Achei interessante, mas teimo em discordar.

Este jovem finlandês, por exemplo, matou nove pessoas em uma escola em nome do ateísmo, do ódio à humanidade, e de uma suposta "revolução contra o sistema". Os assassinos de Columbine também se declararam ateus e mataram uma garota só porque esta dissera acreditar em Deus.

Casos extremos, sem dúvida. Mas já bastam para provar que não só da religião nasce o fanatismo ou a morte. Pode nascer do mero niilismo - "nada faz sentido, portanto, por que não matar?"

Querendo descobrir mais sobre a tal Ida Magli, a quem não conhecia, descobri que é uma grande crítica do Islã e das religiões monoteístas, embora, curiosamente, elogie a figura de Jesus e seja crítica da eutanásia, da imigração, da União Européia, e de várias políticas associadas com a esquerda. Ao mesmo tempo, é crítica dos EUA e do capitalismo. Escreveu, há poucos meses, também um bizarro texto no qual sustenta que há um "complô judaico" por trás da atual crise econômica e da própria criação da União Européia - e que são, na verdade, os judeus com seu amor pelo "mercado" e pelo "dinheiro" os culpados pelo caos financeiro, bem como, em última análise, pela própria destruição da Europa.

Bem, o Tambosi disse que ela era "polêmica". Abstenho-me de comentar, ou talvez o faça em outro post. O fato é que não a colocaria como exemplar da razão absoluta. Aliás, ninguém o é.

Uma coisa que sempre me espanta, aliás, é o fanatismo de certos ateus. É um pouco bizarro o ódio que estes têm aos religiosos, sejam da espécie que forem. É o ódio da criança que não acredita mais em Papai Noel e pretende destruir as ilusões das outras. Ora, por que não os deixam acreditar em Papai Noel?

Se a religião é uma fonte de conflitos humanos, e é certo que seja, convenhamos ao menos que não é a única fonte.

O próprio problema do Islã, por exemplo, não seria tão grave se o islamismo, além de religião, não fosse um sistema político e social completo, governado sob as leis da sha'ria e fundado sob a ocupação territorial. Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, disse Jesus. Maomé quis o que era de César também, e aí radica a diferença.

Muitos acreditam que a teoria da seleção natural substituiu Deus ou as religiões, mas não é exatamente verdade. A teoria da seleção natural não explica o surgimento da vida. Tampouco explica por que existem tais leis da seleção natural, quero dizer, por que são estas e não outras? Por que o Universo segue Leis? Poderiam ser outras em vez das que existem? E, já que estamos, por que existe o Universo, em vez do Nada Absoluto?

São perguntas para as quais não temos resposta. Talvez a ciência descubra um dia, mas talvez não. A ciência é limitada, como os humanos.

Um senhor de barbas brancas... Darwin ou Deus?

terça-feira, 31 de março de 2009

Morte e ressurreição do cristianismo

Um assassinato tristemente simbólico na Inglaterra: após uma discussão tola, um garoto matou outro violentamente em uma padaria com uma fôrma de assar.

Ambos os garotos eram de classe humilde, ambos vizinhos na modesta região do Sul de Londres.

A vítima: Jimmy Mizen, 16 anos, coroinha católico, britânico da gema, careta, calmo, educado e jovial, apesar da pouca idade já estudando e trabalhando.

O assassino: Jake Fahri, 19 anos, filho de imigrantes turcos, fumante de maconha, amante do rap, vagabundo violento acusado de estupro com sonhos de ser um gangsta e ingressar no mundo do crime.

Um caso isolado, talvez. Ou, talvez, de certa forma, o caso represente metaforicamente as mudanças sociais, políticas, demográficas, culturais e de comportamento que estão acontecendo na Inglaterra (e na Europa, e no mundo) de modo geral. A lenta morte do tal ocidente tradicionalista branco judaico-cristão ®, em suma, e sua substituição por alguma coisa que ainda não sabemos bem o que é.

Por outro lado, de acordo com a simbologia cristã, toda morte tem sua ressurreição. Na Geórgia, o patriarca da Igreja Ortodoxa local aumentou sozinho o número de nascimentos do país em 20%, ao prometer que batizaria pessoalmente os novos filhos de famílias que já tivessem duas crianças ou mais. Causou um baby boom.

A História continua. O futuro não está escrito em lugar algum.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Bioética racional

O filósofo Peter Singer dá aulas de "bioética" na prestigiosa universidade de Princeton. Sua "bioética" funda-se em princípios que parecem bizarros para a maioria de nós que, por mais agnósticos que sejamos, ainda estamos acostumados à moral tradicional judaico-cristã, a qual, queiramos ou não, permeia quase todo o sistema legal e ético atual. Apesar disso, as idéias radicais de Singer estão ficando na moda em certos círculos. Algumas delas aqui:

- A vida de um chimpanzé adulto pode valer mais do que a de um bebê humano, que não tem ainda a consciência formada: seria mais ético salvar de um incêndio um macaco do que um bebê humano retardado, que talvez seja até menos inteligente do que o chimpanzé.

- Não há diferença entre matar um feto e um bebê, pois nenhum deles tem a consciência totalmente formada e portanto, se os pais quisessem deveriam poder matar seus bebês tanto antes quanto após o parto.

- Pode ser mais ético matar bebês recém-nascidos que tenham defeitos físicos ou mentais que possam causar infelicidade a seus pais do que obrigá-los a viver uma vida de sofrimento para eles próprios e para seus pais (para Singer, um bebê não tem consciência de si mesmo nem grande noção do futuro e do passado, e portanto sua morte é ruim na medida em que causa sofrimento àqueles que o amam, como seus pais; porém, se a vida do bebê "defeituoso" for causar mais sofrimento do que sua morte, é permissível matá-lo).

- Embora ele não o recomende, não vê nada de moralmente errado se um casal decidisse gerar uma criança com o único intuito de matá-la após o nascimento e retirar seus órgãos para dá-los a um irmão doente, se assim desejarem (idem ao argumento acima, de que seres com consciência tem precedência sobre seres sem consciência ou com consciência limitada).

- É perfeitamente permissível matar velhinhos com Alzheimer que não reconheçam mais ninguém, se todos os parentes concordarem (o velhinho não tem poder de decisão).

- Não há nada de moralmente errado com a necrofilia ou o bestialismo ou o sadomasoquismo ou até mesmo a pedofilia desde que sejam comprovadamente consensuais: tudo o que dá prazer e é consensual é, por natureza, ético (a pedofilia poderia, no entanto, ser condenada já que em certos casos seria difícil provar que a atividade é consensual).

- Matar não é errado em si mesmo, mas apenas na medida em que causa ou diminui o sofrimento de terceiros. Por exemplo, matar Hitler teria sido um bem já que teria evitado a morte de milhões. Mas matar assassinos condenados à morte na prisão é errado pois não podem mais fazer mal a ninguém.

- Realizar experimentos científicos ou médicos com seres humanos em estado de coma seria mais ético do que realizar os mesmos experimentos com macacos plenamente conscientes.

- Em seu novo livro, que promete "uma solução para o problema da pobreza", argumenta que a vida de nossos próprios filhos não é, em si, mais importante do que a vida de criancinhas famintas na África (todas as vidas têm o mesmo valor), portanto os ricos deveriam dar dinheiro aos pobres em vez de gastá-lo em coisas fúteis como uma Ferrari ou educação universitária para seus próprios filhos (mais urgente é evitar a morte de fome);

O pavoroso em Singer não é que suas idéias sejam malucas. É que, ao contrário, são extremamente racionais. São o racionalismo levado ao extremo. Singer é um utilitarista, isto é, acredita que um ato é moral ou não apenas de acordo com o sofrimento mensurável que causa. Se um ato causa sofrimento é imoral, se causa felicidade (ou evita sofrimento) é moral. Singer vai além dos utilitaristas clássicos em apenas dois aspectos:

a) utilitaristas clássicos afirmavam que o Bem pode ser definido como "aquilo que traz felicidade". Singer, que considera a felicidade um conceito problemático, utiliza o conceito de "preferência". As decisões morais são baseadas apenas na intensidade da preferência de um indivíduo ou grupo.

b) seu radicalismo consiste em não limitar tal ética utilitarista aos seres humanos, mas, ao contrário, colocá-los no mesmo plano de todos os outros seres vivos conscientes. Matar uma vaca ou um homem, para Singer, tem o mesmo valor moral. (Para ele, a única razão pela qual matar um ser humano poderia ser mais grave do que matar uma vaca seria pelo fato de que a morte do ser humano causaria mais dor a outros seres (parentes, amigos, etc.) do que a da vaca a seus companheiros bovinos, e devido à maior autoconsciência humana - mas não devido a qualquer diferença de importância entre homem e vaca).

Aos que o acusam de ter idéias "nazistas", Singer - que embora seja um ateu radical é filho e neto de judeus - argumenta que seu avô morreu em um campo de concentração, e que toda sua filosofia, influenciada por essa história familiar, busca justamente minimizar o sofrimento. Tudo para ele, assim, se divide em seres autoconscientes passíveis de sofrer (animais superiores, pessoas) e seres que não sofrem ou não tem autoconsciência (velhinhos em coma, bebês, plantas).

É a ética de um mundo materialista e racional ao extremo. E é justamente por isso que, ao menos para mim, é tão pavorosa. Mesmo (ou especialmente) quando efetivamente resulta no "bem maior" (a filosofia de Singer lembra um pouco a filosofia de Quincas Borba). Pois o terrível em Singer é justamente seu frio racionalismo. Se Deus não existe, se Bem e Mal não existem, se não há absolutos morais, se a vida não apenas não é sagrada como não tem qualquer sentido, se a diferença entre o homem e os demais animais é apenas quantitativa e não qualitativa (maior inteligência, maior consciência, etc.), se o que caracteriza um ser humano como "pessoa" é meramente a sua autoconsciência, então a ética de Singer é a ética mais lógica a seguir.

Pessoas como Singer me dão vontade de converter-me à primeira religião que encontrar. Acho que até um mundo dominado pelo islamismo radical seria mais humano do que um regulado pela ética singeriana.

Atualização: Roger Scruton contesta as idéias de Singer. Aqui.

O silêncio dos inocentes

Um dos grandes problemas na questão do aborto é que o principal interessado no assunto - ou seja, o feto - não pode dar a sua opinião. Desse modo, mães, médicos, padres e políticos discutem a seu belprazer e decidem o destino (ou não-destino) da nascedoura criatura.

Devemos crer, no entanto, que a "opinião" do feto seja a de querer viver, por mero instinto natural: tudo o que é vivo deseja permanecer vivo, mesmo que não tenha consciência. As plantas têm consciência? Alguns dizem que sim, mas provavelmente não. Porém, estas buscam o sol e, se morrem, jamais é por suicídio. (Aliás, é apenas a consciência que nos permite o suicídio).

Para um dos lados do debate, então, tudo está em reduzir o feto a um ser "sem consciência" ou "incompleto" (afinal, está literalmente em gestação), e que, sendo mera "possibilidade", não deveria causar sofrimento a outros seres humanos já perfeitamente formados - os quais têm, segundo esta opinião, maior valor na escala vital. Falam assim então de um "feto de poucos milímetros" que é "precariamente formado, sem sensações ou sistema nervoso", em contraposição à mãe ou aos pais da criança, que, sendo adultos plenamente conscientes, deveriam ter o direito de "escolher".

Já o outro lado enfatiza justamente o caráter de inocência, fragilidade e sacralidade - o feto, afinal, é um ser desprotegido que precisa de amparo. Um ser que, não tendo nascido, ainda não pecou, e portanto é "superior" aos pecadores adultos (*). Justamente por não poder viver por si só, justamente por estar ainda em formação, é que precisaria dos maiores cuidados possíveis. O direito de "escolha" dos pais é inferior ao direito da criança à vida. Até porque, segundo esta concepção, sua vida não tem origem (apenas) biológica, mas divina. Não está ao homem, portanto, decidir sobre ela.

Não há como conciliar as duas opiniões. Em casos delicados como o da menina de 9 anos estuprada pelo padrastro e grávida de gêmeos, a polêmica se acende ainda mais. Até porque, neste caso, não só não levaram em conta a opinião do feto, como tampouco a da mãe, que aos 9 anos não foi considerada como tendo ainda o direito de escolher.

Mas o mais curioso da história toda é que o estupro acabou sendo relegado como uma questão menor. O grande crime seria a gravidez infantil (para uns) ou o aborto (para outros).


(*) Isto não leva em considerações aspectos teológicos como o "pecado original", conceito que aliás em teoria não existiria mais em razão do sacrifício de Cristo (? - há algum teólogo na sala?). Só enfatizo o aspecto de inocência do feto ou bebê, conceito existente mesmo para os não-religiosos.

(**) Uma coisa curiosa é que a esquerda, campeã em inventar nomes bacanas para práticas horríveis, não tenha conseguido ainda encontrar uma palavra para substituir "aborto". Até tentaram com "escolha reprodutiva", mas não pegou, e acabaram utilizando "aborto" mesmo. Aliás, vocês sabiam que nos EUA dia 10 de março passado foi o "Dia Nacional da Apreciação aos Provedores de Aborto"?

(***) Este blog é contrário ao aborto (salvo em casos muito específicos), por considerar os fetos como seres humanos vivos - coisa que, inegavelmente, são. (Se não acreditam, assistam a este fantástico ultrassom de um feto chorando).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

The Soviet Story

Por que será que o comunismo não é considerado uma ideologia tão doentia e assassina quanto o nazismo, mesmo tendo matado muito mais, e inclusive colaborado com o nazismo e inspirado este?
Por que será que a expressão "justiça social" não é considerada tão perversa quanto a expressão "raça ariana", mesmo sendo ambas justificativas para o genocídio de milhões?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O liberalismo é um beco sem saída

Na Suécia foram eliminadas do diagnóstico médico as palavras fetichismo, travestismo e sadomasoquismo. Hoje seus praticantes são considerados pessoas normais, e é possível que sejam mesmo. As palavras pedofilia, voyeurismo e exibicionismo ainda fazem parte da lista de diagnóstico médico, mas talvez daqui a uma década não façam mais.

Tudo bem. Nada tenho contra fetichistas e voyeuristas. O problema é o seguinte. Se tudo é aceito, se tudo é normal, como impor limites? Quem somos nós para julgar? Porque travestismo sim e pedofilia não, ora bolas? Em base a quê?

O problema do liberalismo é que é tão incapaz de julgar os outros que já não consegue impor qualquer norma de comportamento. Vale tudo. Se Deus não existe, tudo é permitido.

Há alguns meses, uma mãe solteira inglesa, que vivia do auxílio-desemprego, resolveu tirar umas férias de seis meses em Goa, na Índia. Levou o namorado e a filha de 15 anos, a quem tirou do colégio por seis meses, e lá foi para a Índia participar de uma série de festas regadas a sexo, drogas e roquenroll. Ao viajar para outra cidade para participar de novas festas com o namorado, preferiu deixar a filha, Scarlett Keeling, sozinha em Goa sob os cuidados de um "ficante" de 27 anos que a menina conhecera há poucas semanas. A filha - que, naturalmente, sob o exemplo materno também consumia maconha e cocaína e transava com estranhos - foi a uma festa onde teve uma overdose de ecstasy, maconha e LSD, foi estuprada e finalmente terminou afogada na praia em circunstâncias misteriosas - provavelmente assassinada.

A mãe declarou-se chocada. O público inglês criticou fortemente o comportamento da mulher e acusou-a de ser a culpada pela morte da filha, mas os intelectuais esquerdistas, pedagogos e assistentes sociais a defenderam; disseram que não fora culpa sua, que a menina apenas estava "no lugar errado na hora errada com as pessoas erradas". Como se isso não fosse o resultado de decisões concretas, mas de mera coincidência. Poderia ter acontecido com qualquer um...

Esses mesmos intelectualóides ainda acusaram os críticos do comportamento negligente da mãe de "misóginos", e insistiram que não se devia criticar "o estilo da vida da mãe e da garota", pois "isso não justifica um assassinato". Outros ainda disseram que "os adolescentes são assim mesmo".

Ou seja, para esses malucos, deixar a filha de 15 anos em uma festa com estranhos em um país estranho, fazendo sexo com um desconhecido com o dobro da idade, fumando e cheirando cocaína é a mesma coisa que ficar com ela em casa comendo biscoitos e assistindo um filme da Disney na televisão.

Será que se essa menina tivesse um pai a história não teria sido bem diferente?

O ressurgimento do islamismo na Europa entra nesse vácuo moral. As pessoas e especialmente as sociedades precisam de regras de comportamento. Uma mulher branca européia convertida ao islamismo falou isso mesmo ao explicar os motivos de sua conversão: "preciso de regras de comportamento".

O diário da menina assassinada mostrava que, apesar de todo o hedonismo, drogas e festas sem limites, a mocinha era bastante confusa e infeliz. Drogas e sexo sem limite não trazem felicidade.

O liberalismo absoluto não leva a lugar nenhum, e seu reinado não durará.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Pergunta

Provavelmente não poderei postar nos próximos dias. Em preparação a um futuro post sobre ética, moral, pós-modernismo, ciência e religião, deixo vocês com uma pergunta - famosamente formulada por Dostoyevsky em Os Irmãos Karamázov:

"Se Deus não existe, tudo é permitido?"

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