O Orlando Tambosi publicou um interessante texto de Ida Magli sobre a religião e como esta e apenas esta seria produtora do fanatismo.
Achei interessante, mas teimo em discordar.
Este jovem finlandês, por exemplo, matou nove pessoas em uma escola em nome do ateísmo, do ódio à humanidade, e de uma suposta "revolução contra o sistema". Os assassinos de Columbine também se declararam ateus e mataram uma garota só porque esta dissera acreditar em Deus.
Casos extremos, sem dúvida. Mas já bastam para provar que não só da religião nasce o fanatismo ou a morte. Pode nascer do mero niilismo - "nada faz sentido, portanto, por que não matar?"
Querendo descobrir mais sobre a tal Ida Magli, a quem não conhecia, descobri que é uma grande crítica do Islã e das religiões monoteístas, embora, curiosamente, elogie a figura de Jesus e seja crítica da eutanásia, da imigração, da União Européia, e de várias políticas associadas com a esquerda. Ao mesmo tempo, é crítica dos EUA e do capitalismo. Escreveu, há poucos meses, também um bizarro texto no qual sustenta que há um "complô judaico" por trás da atual crise econômica e da própria criação da União Européia - e que são, na verdade, os judeus com seu amor pelo "mercado" e pelo "dinheiro" os culpados pelo caos financeiro, bem como, em última análise, pela própria destruição da Europa.
Bem, o Tambosi disse que ela era "polêmica". Abstenho-me de comentar, ou talvez o faça em outro post. O fato é que não a colocaria como exemplar da razão absoluta. Aliás, ninguém o é.
Uma coisa que sempre me espanta, aliás, é o fanatismo de certos ateus. É um pouco bizarro o ódio que estes têm aos religiosos, sejam da espécie que forem. É o ódio da criança que não acredita mais em Papai Noel e pretende destruir as ilusões das outras. Ora, por que não os deixam acreditar em Papai Noel?
Se a religião é uma fonte de conflitos humanos, e é certo que seja, convenhamos ao menos que não é a única fonte.
O próprio problema do Islã, por exemplo, não seria tão grave se o islamismo, além de religião, não fosse um sistema político e social completo, governado sob as leis da sha'ria e fundado sob a ocupação territorial. Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, disse Jesus. Maomé quis o que era de César também, e aí radica a diferença.
Muitos acreditam que a teoria da seleção natural substituiu Deus ou as religiões, mas não é exatamente verdade. A teoria da seleção natural não explica o surgimento da vida. Tampouco explica por que existem tais leis da seleção natural, quero dizer, por que são estas e não outras? Por que o Universo segue Leis? Poderiam ser outras em vez das que existem? E, já que estamos, por que existe o Universo, em vez do Nada Absoluto?
São perguntas para as quais não temos resposta. Talvez a ciência descubra um dia, mas talvez não. A ciência é limitada, como os humanos.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
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7 comentários:
Ela é esquisita mesmo, X. Coloquei o texto exatamente para abrir discussão.
Por outro lado, claro que indivíduos, ateus ou não, podem cometer barbaridades. Mas a Magli se refere a movimentos históricos, não a indivíduos.
Nesse sentido é que coloquei lá a minha questão. Dificilmente encontramos fanatismo fora das ideologias e das religiões, que matam em nome de verdades absolutas, que, no geral, só existem nas ciências formais (matemática na linha de frente).
Também não acho que ela seja portadora da razão absoluta, mesmo porque não creio em razão absoluta. Mais que racionais, somos apenas "racionáveis".
Por fim, quanto a Darwin, não toma o lugar de Deus, não. Os fundamentalistas cristãos, particulamente nos EUA, é que jogam Darwin contra a religião, coisa que o catolicismo, por exemplo, não faz. Acho injustas, em geral, as críticas a Darwin como rejeição à postura dogmática de Dawkins, só para citar outro exemplo.
abrir discussão? E o Darwin pedindo silêncio?
Orlando Tamnosi:
existe fanatismo fora das religiões e das ideologias?
Tautologia. Todo fanático tem ideologia.
Opa, opa, opa, muita calma nessa hora, caro X.
As "leis" naturais não são a versão análoga às leis humanas no mundo físico. De fato, são justamente o contrário.
Diz-se leis naturais certos padrões observados com constância e previsibilidade suficiente para serem formulados em forma de afirmações as mais simples possíveis, de modo que se possa organizar o conhecimento e encadear raciocínos. É o que possibilita a existência da ciência.
Exemplo: depois de observar um número suficientemente grande de objetos "caindo" em direção à Terra a uma aceleração de cerca de dez metros ao quadrado, sem jamais observar alguma exceção, pôde-se postular essa regularidade à forma de uma "lei da gravidade", a partir da qual é possível explicar muitos fenômenos e prever outros tantos.
Portanto, pode se quase dizer que o Universo não "segue" leis, e sim as leis é que o "seguem". Essa diferenciação é não só importante, mas fundamental - entre outras razões, justamente por abrir, na forma como você colocou, a possibilidade (falaciosa!) de afirmar que o universo está sujeito a leis (tal qual a sociedade), que possui forte viés teísta.
Não acho que você tenha feito de propósito, em todo caso, acho que o adendo é salutar.
Existem estudos que sugerem ser genético a propensão humana pela fé, e na crença em Deus.
Isso contribuiu para a socialização e a conseguinte sobrevivência dos indivíduos e desenvolvimento da raça humana.
Então, diga-se, indivíduos que creem em Deus sofreram um processo de seleção natural durante milhares de anos.
Sobre as "leis" do universo, o que eu quis dizer foi o seguinte, não sei se dá pra entender: por que existe a gravidade, por exemplo? Alguém dirá, "para que as coisas não flutuem por aí", etc, mas a pergunta é, porque as coisas seguem um padrão, e não são puro caos? Sim, a gravidade existe porque há uma curvatura no espaço-tempo etc, mas a pergunta é, o Universo poderia ser de outro modo, e não deste que é? Quem "determinou" que seria assim? E se ninguém o fez, porque se formou deste jeito?
Por que existem elétrons e prótons? Por que isto? Por que aquilo?
Sobre o fanatismo, um engenheiro pode ser fanático, mas é verdade que não em nome da engenharia, ou raramente.
Aliás, Darwin não era ateu, mas cristão. Embora haja polêmica sobre o final de sua vida.
Excelente texto. No mais, como o Chesterton apontou, é tautologia pura.
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