segunda-feira, 16 de março de 2009

O silêncio dos inocentes

Um dos grandes problemas na questão do aborto é que o principal interessado no assunto - ou seja, o feto - não pode dar a sua opinião. Desse modo, mães, médicos, padres e políticos discutem a seu belprazer e decidem o destino (ou não-destino) da nascedoura criatura.

Devemos crer, no entanto, que a "opinião" do feto seja a de querer viver, por mero instinto natural: tudo o que é vivo deseja permanecer vivo, mesmo que não tenha consciência. As plantas têm consciência? Alguns dizem que sim, mas provavelmente não. Porém, estas buscam o sol e, se morrem, jamais é por suicídio. (Aliás, é apenas a consciência que nos permite o suicídio).

Para um dos lados do debate, então, tudo está em reduzir o feto a um ser "sem consciência" ou "incompleto" (afinal, está literalmente em gestação), e que, sendo mera "possibilidade", não deveria causar sofrimento a outros seres humanos já perfeitamente formados - os quais têm, segundo esta opinião, maior valor na escala vital. Falam assim então de um "feto de poucos milímetros" que é "precariamente formado, sem sensações ou sistema nervoso", em contraposição à mãe ou aos pais da criança, que, sendo adultos plenamente conscientes, deveriam ter o direito de "escolher".

Já o outro lado enfatiza justamente o caráter de inocência, fragilidade e sacralidade - o feto, afinal, é um ser desprotegido que precisa de amparo. Um ser que, não tendo nascido, ainda não pecou, e portanto é "superior" aos pecadores adultos (*). Justamente por não poder viver por si só, justamente por estar ainda em formação, é que precisaria dos maiores cuidados possíveis. O direito de "escolha" dos pais é inferior ao direito da criança à vida. Até porque, segundo esta concepção, sua vida não tem origem (apenas) biológica, mas divina. Não está ao homem, portanto, decidir sobre ela.

Não há como conciliar as duas opiniões. Em casos delicados como o da menina de 9 anos estuprada pelo padrastro e grávida de gêmeos, a polêmica se acende ainda mais. Até porque, neste caso, não só não levaram em conta a opinião do feto, como tampouco a da mãe, que aos 9 anos não foi considerada como tendo ainda o direito de escolher.

Mas o mais curioso da história toda é que o estupro acabou sendo relegado como uma questão menor. O grande crime seria a gravidez infantil (para uns) ou o aborto (para outros).


(*) Isto não leva em considerações aspectos teológicos como o "pecado original", conceito que aliás em teoria não existiria mais em razão do sacrifício de Cristo (? - há algum teólogo na sala?). Só enfatizo o aspecto de inocência do feto ou bebê, conceito existente mesmo para os não-religiosos.

(**) Uma coisa curiosa é que a esquerda, campeã em inventar nomes bacanas para práticas horríveis, não tenha conseguido ainda encontrar uma palavra para substituir "aborto". Até tentaram com "escolha reprodutiva", mas não pegou, e acabaram utilizando "aborto" mesmo. Aliás, vocês sabiam que nos EUA dia 10 de março passado foi o "Dia Nacional da Apreciação aos Provedores de Aborto"?

(***) Este blog é contrário ao aborto (salvo em casos muito específicos), por considerar os fetos como seres humanos vivos - coisa que, inegavelmente, são. (Se não acreditam, assistam a este fantástico ultrassom de um feto chorando).

11 comentários:

Anônimo disse...

Assassinato sempre vai ser mais grave que estupro, uma lesão corporal ( e psíquica, sem dúvida). mas acima de tudo isso, a eliminação de seres humanos indesejaveis tem nome: eugenismo.

Mr X disse...

Uma coisa que sempre me espanta é o fervor (religioso?) dos abortistas. Quer dizer, o não verem o aborto como um mal necessário, o que seria até aceitável, mas sim como um direito, uma coisa positiva em si mesma.

Nos EUA, por exemplo, há uma lei que existe em alguns estados que obriga os médicos a realizarem um ultrassom antes do procedimento.

Os abortistas são contrários a tal lei, pois acreditam que tal opção (ver o bebê vivo no seu útero) poderia influenciar a mulher a não mais realizar o aborto.

Ora, mas não era liberdade de ESCOLHA? E, para ESCOLHER, não é melhor ter a maior informação possível à mão? Então ter acesso ao ultrassom não ajuda?

Mas para os ditos "pro-choice", a "escolha" é só uma: o aborto. E qualquer coisa que possa fazer a mulher mudar de idéia deve ser rejeitada.

Juro que não entendo. Em alguns casos, chega a me parecer sacrifício infantil.

Anônimo disse...

Eu, particularmente, sou a favor da legalização do aborto. Com critérios e não como controle de natalidade. Com prazo (máximo até a 10ª semana), favorável a que se faça ultrassom prévio, avaliação médica, questionário, etc...

E também sou a favor de planejamento familiar, vasectomia e laqueadura na rede pública. E também sou a favor de adoção por casal homossexual, mas também com critérios (financeiros, psicológicos e sociais).

Mr X disse...

Eis aqui um argumento radical: como não há diferença em termos de consciência entre fetos e bebês recém-nascidos, Peter Singer advoga a continuação natural do aborto, isto é, o infanticídio, a morte de bebês "defeituosos":

http://www.lifenews.com/bio1766.html

Acho que vou fazer um outro post a respeito.

Anônimo disse...

Mas é o eugenismo. Começa matando inocentes e indefesos e progressivamente descamba para o genocídio. É inevitável. Mr X, coloco este texto à tua apreciação:

http://espectivas.wordpress.com/2009/02/08/%E2%80%9Cde-darwin-a-hitler%E2%80%9D-por-richard-weikart/

Stefano di Pastena disse...

Excelente post e comentários, Mr. X. Aborto e eutanásia são as ferramentas extremas dos extremamente egoístas e ignorantes: é tudo uma mera questão de praticidade (assim como toda a agenda esquerdista - pensar dá muito trabalho e dor de consciência.)

Mr X disse...

Ótimo link, Chest. Valeu.

Mr X disse...

Curiosidade - enquanto isso, no Peru:

http://noticias.uol.com.br/ultnot/afp/2006/12/02/ult34u169397.jhtm

Anônimo disse...

putz....chose, as vezes seu amazing me da vomito...:-((

Mr X disse...

Ué! Pq confa? :-(

Não gostou da foto do feto? Tão bonitinho...

Edu disse...

Cheguei atrasado (bastante, no tópico), então lá vai texto longo, desculpem.

Para mim, discutir se o aborto é ou não válido não é tão simples assim.

A pergunta que eu me faço é a seguinte: somos (a humanidade é), evoluída e responsável o suficiente para lidar com ambos os lados de uma gravidez indesejada? Sendo que os lados são justamente o aborto e o nascimento.
Convenhamos, uma gravidez indesejada, ainda que aceita por parte da mãe, não necessariamente a torna desejada! A ficha de uma recém grávida pode demorar para cair, e isso requer acompanhamento psicológico sério e extenso, seja pró aborto (por ser contra a moral de hoje), seja contra o aborto (porque é indesejada e é sim entendida como um fardo). Em sendo vivos, os fetos recebem todo o tipo de influência externa e são muito afetados pelas mudanças de pressão, hormonais e de humor da mãe que, convenhamos, nunca estará bem diante de uma gravidez indesejada.

Sendo assim repito: nossa sociedade consegue fornecer TODO o apoio necessário para que a gravidez seja abortada ou aceita?

Outro ponto: na natureza os animais lutam pela sobrevivência verdadeiro, e se todos pudessem optar entre viver ou morrer, optariam pela vida. Assim inclusive são bactérias nocivas e cânceres. (ooohhhh, mas vc está exagerando. Sim, estou, mas se é para generalizar, vamos generalizar direito). Só que ao mesmo tempo os animais matam uns aos outros por questões por exemplo meramente territoriais (leões matam seus filhos e filhos de outros leões). Nós humanos abominamos isso. Não podemos nos esquecer que em alguns casos, na natureza, se nascem gêmeos e a mãe não aguenta cuidar de um deles, ela simplesmente o abandona... e aí,o que vale: a regra geral da natureza, ou a moral humana?

Não posso deixar de considerar que um feto, embora esteja isento de pecados e seja um ser vivo, ele não está incluído na sociedade. A mãe do feto está. Devemos matar o feto e manter a mãe minimamente integrada à sociedade? Ou obrigá-la a ter o bebê e, dadas as condições atuais, praticamente excluir ambos?

Sinceramente, independente da moral, da religião, das leis, se a mãe é responsável pela vida do filho após o nascimento, ela deveria ser inteiramente responsável pela decisão sobre a vida do filho antes do nascimento. Até que nossa sociedade consiga garantir que a vida, ainda que indesejada possa ser uma vida inteiramente normal.

Abraço a todos,

Edu