O blogueiro Sérgio de Biasi suicidou-se.
Nunca conheci o Sérgio, mas há tempos acompanhava O Indivíduo, desde quando ainda era uma parceria com o Pedro Sette, outro excelente escritor. Ele era pouco mais velho do que eu, fazia praticamente parte da mesma geração e, acho, tínhamos certas coisas em comum.
Não sei os motivos de seu suicídio, posso apenas especular. Parece que ele era recentemente divorciado ou separado. Seu último post, aliás muito interessante, é uma denúncia do feminismo. Aliás, quase todos os seus últimos textos versavam sobre as relações entre homens e mulheres. Recomendo a leitura, embora sejam textos algo deprimentes a meu ver, especialmente tendo em vista o resultado final.
Em um desses recentes posts ele observa que as mulheres sempre vivem reclamando que os homens não são sensíveis, que não as compreendem, que não as escutam, blablablá, e ele concorda que os homens em geral não são sensíveis mesmo -- mas depois ele emenda com esta:
"O fato é que as mulheres não se sentem nem um pouco atraídas por homens que de fato são sensíveis."É verdade: as mulheres podem até achar que querem homens sensíveis, mas o que as atrai em geral é outra coisa. Sei disso por experiência própria. Quando agi de forma relativamente cafajeste, jamais tive problemas com as mulheres. Só quando fui ser mais sensível é que fui rejeitado ou abandonado.
Bem, talvez seja um exagero; minha experiência pessoal é ridícula não deve servir de exemplo a ninguém. Porém, talvez seja um comportamento atávico nas mulheres (e nos homens): o desejo biológico das mulheres pelo macho mais forte e mais agressivo de todos, enquanto o homem deseja as mais jovens e férteis, na maior quantidade possível. O casamento monogâmico talvez seja apenas um meio para por fim a essa confusão e ordenar esses desejos biológicos de forma mais civilizada e socialmente harmônica.
Li faz algum tempo sobre o caso de um predador sexual recentemente preso nos EUA. O que mais me chamou a atenção no caso foi o seguinte: uma das vítimas que testemunhou, muito embora tivesse já sido agredida e ameaçada desde o primeiro encontro, encontrou-se ainda outras três vezes com o sujeito, até ser finalmente violentada. Três vezes! Lembrou-me o caso da apresentadora televisiva que teve sua face desfigurada por ácido, sobre a qual já escrevi em "Mulheres que gostam de Bad Boys": também ela aceitou se encontrar de novo com o canalha, não obstante as diversas agressões sofridas.
Assisti recentemente ao filme "Arroz Amargo", filme do período do neorealismo italiano. Mais do que filme sobre as classes trabalhadoras, é um bom estudo sobre a atração sexual. A personagem representada pela jovem Silvana Mangano fica gamada pelo bandidão da história, mesmo sabendo dos horrores que ele cometeu: de fato, todas essas histórias só a atraem ainda mais. Ela continua com ele até mesmo depois de levar uma surra: afinal, é a prova definitiva do caráter "alfa" do bandidão. E, de fato, ela previamente rejeita outro personagem da história, um homem "sensível" que quer casar com ela e lhe dar uma vida simples porém honesta.
Certo, o filme exemplifica o caráter suicida de algumas mulheres; não quer dizer que todas sintam o mesmo ou ajam da mesma forma. O problema é que o feminismo quis transformar as mulheres em eternas e exclusivas "vítimas" da maldade masculina, como se as mulheres não fossem capazes de ser egoístas ou más ou capazes das mais perversas formas de manipulação. Corrijam-me se estiver errado, mas tenho a impressão que os homens sofrem mais com os divórcios e separações, podendo ficar anos a fio lamentando os problemas decorrentes disso. Como o próprio Sérgio di Biasi escreve, o homem é que é o sexo frágil. As mulheres, nem tanto: La donna è mobile, qual piuma al vento...
Em outro post da mesma série, Sérgio de Biasi faz uma observação interessante:
O discurso “de igual para igual” na prática é completamente assimétrico e realizado como ganhar privilégios e opções sem a correspondente contrapartida em cumplicidade. Acaba virando ser tratada de igual para igual mas com pouquíssima ênfase ou preocupação em tratar de igual para igual. Então se alguns homens das antigas dizem “eu jamais casaria com uma mulher que ganhasse mais dinheiro do que eu” (ou que sequer ouse trabalhar), uma torrente de protestos se segue. Mas se uma mulher moderna diz “eu jamais casaria com um homem que ganhasse menos dinheiro do que eu” (ou que ouse não trabalhar), ninguém parece achar isso remotamente tão problemático. É tão difícil assim de perceber que deveriam ser dois lados da mesma moeda?(Sobre isso de mulheres que sonham em casar com príncipes ou milionários, li no outro dia uma reportagem sobre mulheres que haviam trabalhado em importantes cargos de chefia em grandes empresas multinacionais. Dez anos depois do seu sucesso inicial como empreendedoras, uma boa parte delas estava aposentada do cargo e casada com um dos chefões. Ou seja, aparentemente elas queriam cargos de chefia é para ter acesso aos homens mais importantes da empresa e casar com os CEOs... Não que não haja mulheres profissionais importantes e competentes, é claro; só achei divertida a história.)
Agora, vejam, em plenos 2011, em países de primeiro mundo, um dos gêneros literários mais consumidos é… bem, seja lá que nome vamos dar ao que é publicado pela Harlequin, a maior editora do Canadá, que faz mais de meio bilhão de dólares por ano vendendo títulos como (eu não poderia ter inventado isso) :
- Becoming the Tycoon’s Bride
- In the Australian Billionaire’s Arms
- Millionaire’s Baby Bombshell
- Rescued by a Millionaire
- The Boss’s Surprise Son
- Beauty and the Brooding Boss
- What’s A Housekeeper To Do?
- The Nanny and the CEO
- Daycare Mom to Wife
- Abby and the Bachelor Cop
- Her Desert Prince
- Expecting Royal Twins!
Sérgio de Biasi, no entanto, não acha que devamos simplesmente aceitar tais papéis genéticos, mas sim aceitar que existem diferenças entre os sexos, seja naquilo que determina a biologia, seja naquilo que determina a sociedade. A luta é para mudar isso, não através da reengenharia social, mas através do esforço individual de cada casal:
É preciso um considerável esforço de introspecção a autosuperação tanto do lado masculino quanto do feminino para fugir da sua programação genética mais tosca em direção a algo um pouquinho mais construtivo.Em um outro intercâmbio, com o nosso caro leitor Chesterton, encontramos esta:
Chesterton says:
eu só fui aprender isso depois de um casamento neurótico…
Infelizmente em grande parte dos casos é preciso chegar a esse ponto para decidirmos pensar “para tudo!” e questionarmos profundamente nossa visão sobre como o mundo funciona… por vezes é preciso que o contraste entre como achamos que as coisas deveriam ser e como elas são ultrapassem todos os limites do absurdamente inaceitável para encaramos a surreal realidade de frente (e isso inclui verdades sobre nós mesmos).
Por outro lado, uma vez que o fazemos, um monte de coisas ficam (incluindo retroativamente) bem mais óbvias.
Saudações,
Sergio
Não sei se é só o meu caso; mas, embora tenha me tornado mais cínico (mais realista) com o passar dos anos, lamento a perda das primeiras ilusões. Meu reino por esse retorno da inocência perdida!
Volto a de Biasi, que conclui:
Mas eu resisto a me entregar ao cinismo e a desistir de procurar as exceções mutantes que não se conformem com a própria volatilidade. E gostaria de apontar explicitamente que embora as idiosincrasias femininas me incomodem mais diretamente – afinal de contas é com uma mulher que essas questões surgem para mim – sentimentos destrutivos aleatórios temos todos nós – homens ou mulheres. E os homens tem lá suas formas de agirem como retardados totais. Muda talvez um pouco o estilo mas a mediocridade existencial básica é fundamentalmente a mesma. A questão é o que fazer com isso – afinal esses instintos todos estão também dentro de nós mesmos. Agora, apesar da triste regularidade com que quase todos tomam as mesmas decisões, as escolhas continuam sendo pessoais e individuais. Tratemos então cada um do jeito apropriado ao seu caráter (e desenvolvamos e aperfeiçoemos a habilidade de fazer esse tipo de julgamento) e busquemos as (quase inevitavelmente consciente e deliberadamente autoconstruídas) exceções…É uma pena que, no fim, depois de tudo, ele tenha se decidido pelo único caminho sem volta, pela única amante que jamais nos rejeita e fica conosco para sempre. R.I.P.
Saudações,
Sergio