segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Amores suicidas

Uma certa melancolia me invade às vezes, especialmente quando contemplo as relações amorosas e seus ocasionais resultados trágicos.

O blogueiro Sérgio de Biasi suicidou-se.

Nunca conheci o Sérgio, mas há tempos acompanhava O Indivíduo, desde quando ainda era uma parceria com o Pedro Sette, outro excelente escritor. Ele era pouco mais velho do que eu, fazia praticamente parte da mesma geração e, acho, tínhamos certas coisas em comum. 




Não sei os motivos de seu suicídio, posso apenas especular. Parece que ele era recentemente divorciado ou separado. Seu último post, aliás muito interessante, é uma denúncia do feminismo. Aliás, quase todos os seus últimos textos versavam sobre as relações entre homens e mulheres. Recomendo a leitura, embora sejam textos algo deprimentes a meu ver, especialmente tendo em vista o resultado final.

Em um desses recentes posts ele observa que as mulheres sempre vivem reclamando que os homens não são sensíveis, que não as compreendem, que não as escutam, blablablá, e ele concorda que os homens em geral não são sensíveis mesmo -- mas depois ele emenda com esta:
"O fato é que as mulheres não se sentem nem um pouco atraídas por homens que de fato são sensíveis."
É verdade: as mulheres podem até achar que querem homens sensíveis, mas o que as atrai em geral é outra coisa. Sei disso por experiência própria. Quando agi de forma relativamente cafajeste, jamais tive problemas com as mulheres. Só quando fui ser mais sensível é que fui rejeitado ou abandonado. 

Bem, talvez seja um exagero; minha experiência pessoal é ridícula não deve servir de exemplo a ninguém. Porém, talvez seja um comportamento atávico nas mulheres (e nos homens): o desejo biológico das mulheres pelo macho mais forte e mais agressivo de todos, enquanto o homem deseja as mais jovens e férteis, na maior quantidade possível. O casamento monogâmico talvez seja apenas um meio para por fim a essa confusão e ordenar esses desejos biológicos de forma mais civilizada e socialmente harmônica.

Li faz algum tempo sobre o caso de um predador sexual recentemente preso nos EUA. O que mais me chamou a atenção no caso foi o seguinte: uma das vítimas que testemunhou, muito embora tivesse já sido agredida e ameaçada desde o primeiro encontro, encontrou-se ainda outras três vezes com o sujeito, até ser finalmente violentada. Três vezes! Lembrou-me o caso da apresentadora televisiva que teve sua face desfigurada por ácido, sobre a qual já escrevi em "Mulheres que gostam de Bad Boys": também ela aceitou se encontrar de novo com o canalha, não obstante as diversas agressões sofridas.  

Assisti recentemente ao filme "Arroz Amargo", filme do período do neorealismo italiano. Mais do que filme sobre as classes trabalhadoras, é um bom estudo sobre a atração sexual. A personagem representada pela jovem Silvana Mangano fica gamada pelo bandidão da história, mesmo sabendo dos horrores que ele cometeu: de fato, todas essas histórias só a atraem ainda mais. Ela continua com ele até mesmo depois de levar uma surra: afinal, é a prova definitiva do caráter "alfa" do bandidão. E, de fato, ela previamente rejeita outro personagem da história, um homem "sensível" que quer casar com ela e lhe dar uma vida simples porém honesta.

Certo, o filme exemplifica o caráter suicida de algumas mulheres; não quer dizer que todas sintam o mesmo ou ajam da mesma forma. O problema é que o feminismo quis transformar as mulheres em eternas e exclusivas "vítimas" da maldade masculina, como se as mulheres não fossem capazes de ser egoístas ou más ou capazes das mais perversas formas de manipulação. Corrijam-me se estiver errado, mas tenho a impressão que os homens sofrem mais com os divórcios e separações, podendo ficar anos a fio lamentando os problemas decorrentes disso. Como o próprio Sérgio di Biasi escreve, o homem é que é o sexo frágil. As mulheres, nem tanto: La donna è mobile, qual piuma al vento...

Em outro post da mesma série, Sérgio de Biasi faz uma observação interessante:
O discurso “de igual para igual” na prática é completamente assimétrico e realizado como ganhar privilégios e opções sem a correspondente contrapartida em cumplicidade. Acaba virando ser tratada de igual para igual mas com pouquíssima ênfase ou preocupação em tratar de igual para igual. Então se alguns homens das antigas dizem “eu jamais casaria com uma mulher que ganhasse mais dinheiro do que eu” (ou que sequer ouse trabalhar), uma torrente de protestos se segue. Mas se uma mulher moderna diz “eu jamais casaria com um homem que ganhasse menos dinheiro do que eu” (ou que ouse não trabalhar), ninguém parece achar isso remotamente tão problemático. É tão difícil assim de perceber que deveriam ser dois lados da mesma moeda?
Agora, vejam, em plenos 2011, em países de primeiro mundo, um dos gêneros literários mais consumidos é… bem, seja lá que nome vamos dar ao que é publicado pela Harlequin, a maior editora do Canadá, que faz mais de meio bilhão de dólares por ano vendendo títulos como (eu não poderia ter inventado isso) :
(Sobre isso de mulheres que sonham em casar com príncipes ou milionários, li no outro dia uma reportagem sobre mulheres que haviam trabalhado em importantes cargos de chefia em grandes empresas multinacionais. Dez anos depois do seu sucesso inicial como empreendedoras, uma boa parte delas estava aposentada do cargo e casada com um dos chefões. Ou seja, aparentemente elas queriam cargos de chefia é para ter acesso aos homens mais importantes da empresa e casar com os CEOs... Não que não haja mulheres profissionais importantes e competentes, é claro; só achei divertida a história.)

Sérgio de Biasi, no entanto, não acha que devamos simplesmente aceitar tais papéis genéticos, mas sim aceitar que existem diferenças entre os sexos, seja naquilo que determina a biologia, seja naquilo que determina a sociedade. A luta é para mudar isso, não através da reengenharia social, mas através do esforço individual de cada casal: 
É preciso um considerável esforço de introspecção a autosuperação tanto do lado masculino quanto do feminino para fugir da sua programação genética mais tosca em direção a algo um pouquinho mais construtivo.

Em um outro intercâmbio, com o nosso caro leitor Chesterton, encontramos esta:

Chesterton says:
eu só fui aprender isso depois de um casamento neurótico…
Infelizmente em grande parte dos casos é preciso chegar a esse ponto para decidirmos pensar “para tudo!” e questionarmos profundamente nossa visão sobre como o mundo funciona… por vezes é preciso que o contraste entre como achamos que as coisas deveriam ser e como elas são ultrapassem todos os limites do absurdamente inaceitável para encaramos a surreal realidade de frente (e isso inclui verdades sobre nós mesmos).
Por outro lado, uma vez que o fazemos, um monte de coisas ficam (incluindo retroativamente) bem mais óbvias.
Saudações,
Sergio

Não sei se é só o meu caso; mas, embora tenha me tornado mais cínico (mais realista) com o passar dos anos, lamento a perda das primeiras ilusões. Meu reino por esse retorno da inocência perdida!

Volto a de Biasi, que conclui:
Mas eu resisto a me entregar ao cinismo e a desistir de procurar as exceções mutantes que não se conformem com a própria volatilidade. E gostaria de apontar explicitamente que embora as idiosincrasias femininas me incomodem mais diretamente – afinal de contas é com uma mulher que essas questões surgem para mim – sentimentos destrutivos aleatórios temos todos nós – homens ou mulheres. E os homens tem lá suas formas de agirem como retardados totais. Muda talvez um pouco o estilo mas a mediocridade existencial básica é fundamentalmente a mesma. A questão é o que fazer com isso – afinal esses instintos todos estão também dentro de nós mesmos. Agora, apesar da triste regularidade com que quase todos tomam as mesmas decisões, as escolhas continuam sendo pessoais e individuais. Tratemos então cada um do jeito apropriado ao seu caráter (e desenvolvamos e aperfeiçoemos a habilidade de fazer esse tipo de julgamento) e busquemos as (quase inevitavelmente consciente e deliberadamente autoconstruídas) exceções…
Saudações,
Sergio

É uma pena que, no fim, depois de tudo, ele tenha se decidido pelo único caminho sem volta, pela única amante que jamais nos rejeita e fica conosco para sempre. R.I.P. 

42 comentários:

w disse...

Se matar por causa de mulher é vergonhoso...

Mr X disse...

Não acho. Porém, não sei se foi esse o motivo do Biasi, isso só ele sabe. Parece-me mais algum tipo de angústia existencial geral. Mas como os últimos posts falam sobre a relação entre homens e mulheres, comentei o assunto. Muito embora ele também tenha escrito sobre vários outros temas da contemporaneidade, quase sempre com algum desencanto.

Cahê Gündel Machado disse...

Cacete, não sabia disso. Há tempos que parei de ler o blog dele, por achá-lo maçante e depressivo. O do Pedro é bem melhor. Mas, isso....putz, ainda bem que não sou de sofrer por causa de mulher.

w disse...

Eu li um ou outro post dele por pensar que eram do Pedro. Mas foram raríssimos, porque logo percebia o engano. E vi por cima algumas polêmicas em que ele se meteu... É, olhando em retrospectiva, pode-se se dizer que o acontecido era previsível...

Mr X disse...

Sim, também prefiro o Pedro. Mas gosto de algumas coisas que ele escreveu. E esse tema das relações entre homens e mulheres também é algo que está muito na minha cabeça ultimamente; mas, não, não acho que me suicidaria por isso. Ou por qualquer outra coisa.

Rovison disse...

Só conheci o site "Indivíduo" há alguns dias. Li cinco ou seis textos do Sergio de Biasi. Chamou-me a atenção este aqui http://www.oindividuo.org/2011/03/29/homens-sensiveis/ no qual ele declara que em geral as mulheres não gostam de homens sensíveis. Parece que o Sergio estava um pouco decepcionado com o comportamento das mulheres, pelo menos, daquelas que conheceu ao longo da vida. Não sei o motivo do suicídio, mas pelo teor dos últimos posts dele pode haver relação com alguma decepção amorosa.
Outro texto dele que gostei muito, especialmente, dos debates que ele travou com alguns leitores foi este aqui http://www.oindividuo.org/2010/12/01/verdades-absolutas/

Mr X disse...

Sofrer por causa de mulher é também inútil, pois mulher detesta homem que sofre. Quer mesmo é homem que a faça sofrer. Ih ih ih. Acho que, em termos de amor, somos todos meio masoquistas mesmo.

Bem, não todos; só os normais. Conheço muitos casais felizes!!

Talvez seja só questão de sorte, vá saber.

Acho que o Sérgio era depressivo mesmo. Curioso que o Pedro, talvez por ser católico, seja bem mais otimista. Mas talvez não tenha a ver com a crença, e sim com o temperamento de cada um. O post que o Pedro escreveu sobre o Sérgio (linkado no texto) é bonito.

Agora, o que me abalou é que o Polzonoff (que escreveu o primeiro texto sobre a morte do Sérgio que linkei) agora também está anunciando que está abandonando o mundo virtual (ao menos espero que seja só o virtual). Scary.

http://www.polzonoff.com.br/

Mr X disse...

As for me:

http://www.youtube.com/watch?v=rrxlfvI17oY

Ana Beatriz Braga disse...

Eu era muito próxima do Sergio e não me conformo com o que aconteceu. Sempre tive medo que a vida dele acabasse assim, mas não, ele não era depressivo, pelo menos não no sentido patológico; ao contrário, ele era muito cheio de vida, trabalhava, escrevia, compunha música. Ele tinha vários sites, dêem uma olhada em;

www.sergiodebiasi.com


Ele estava muito decepcionado com o mundo, não sem razão. Escrevi um texto sobre o que aconteceu no meu blog:

http://conversasemonologos.wordpress.com/2011/10/19/o-direito-ao-suicidio/

Mr X disse...

Ana Beatriz,

Obrigado, muito bom o seu texto. Pode ser que o suicida seja, em última análise,um egoísta; por outro lado, é direito nosso querer que uma pessoa permaneça sofrendo apenas para que nós soframos menos? É complicado. Todo suicídio me abala um pouco, mesmo o de pessoas que não conheço.

Achei curioso que alguém, nos comentários do seu post, publicou o mesmo poema que eu (sem saber) publiquei ontem aqui no blog, também influenciado então pelo suicídio do Sérgio (fiquei sabendo apenas há poucos dias, lendo posts antigos do Pedro Sette Câmara).

Chesterton disse...

Have children, and then you will have no time for these useless behaviors. And girls love single male parents.;

Ana Beatriz disse...

Pois é, essa coincidência do poema também chamou a minha atenção.

Bem, não digo que, em termos absolutos, o suicida seja um egoísta. Este certamente não era o caso do Sergio. Aliás, ele era uma das raras pessoas verdadeiramente generosas. Mas acho que o ato do suicídio é egoísta sim. Nós somos responsáveis uns pelos outros. É claro que é difícil quantificar o sofrimento de cada um, mas a maioria das pessoas que se mata não tem um problema incontornável, como por exemplo, ser tetraplégico. Então, me parece que dá para aguentar um pouquinho mais por aqui para não magoar tanto os amigos.

Mr X disse...

Pois é, essa coincidência do poema também chamou a minha atenção.

Sincronicidade.

Alguns acham que seja mera coincidência; outros, prova da existência de um plano de realidade Superior. Sinais divinos, por assim dizer.

Mr X disse...

And girls love single male parents.;

O problema é que em geral é a mãe quem fica com a criança, não?

Mas sim, acho que filhos devem ser bons fatores de prevenção ao suicídio. Salvo nos casos do sujeito maluco que se mata porque não pode sustentar a família, ou briga com a mulher, e ainda leva os filhos junto (isso sim é maldade).

http://www.hojeemdia.com.br/minas/homem-mata-filhos-e-esposa-degolados-e-se-enforca-1.309259

DD disse...

É preciso ver se a moça em questão não é uma daquelas mulheres que fazem questão de transformar a vida do casal em um inferno.

Ser pisoteado por quem se ama não é coisa fácil de suportar.

Chesterton disse...

Olha, suicidio não é egoismo, é covardia.
Não tenho nenhumn respeito por suicidas.

Mr X disse...

Acho que há suicidas e suicidas. Mas não me sinto em condições de julgar ninguém.

E por falar em suicídio, e esta aqui, hein?

http://www.meionorte.com/noticias/policia/homem-tetraplegico-pede-para-irmao-simular-assalto-e-mata-lo-148201.html

Ana Beatriz disse...

Chesterton,

Você não conhecia o Sérgio. Ele não era covarde, sua grande coragem foi não deixar o mundo mudá-lo. Mas ninguém consegue ser forte em todos os momentos. Tenho saudades do grande amigo que ele era. Muita gente se mata de outra forma, se transformando numa pessoa menos sensível, menos idealista, menos, menos, cada vez menos... Acho que é um suicídio pior. Não respeito a escolha final do Sérgio, mas continuo respeitando ele.

Ana Beatriz disse...

Mr X, essa história do cara tetraplégico é sinistra. Espero que aliviem a pena do irmão dele, afinal ele quis ajudar o irmão e já vai ter que lidar com uma culpa pesadíssima. Esse caso específico, e muito raro, é um dos casos em que aceito o suicídio.

Cahê Gündel Machado disse...

O Polzonoff também se divorciu, Mr.X? Eu lia seu blog tempos atrás, mas ele tinha parado de postar. Depois voltou. Depois parou. Depois voltou de novo. E agora parou novamente. Que saco isso. As pessoas deveriam ler mais Kierkegaard e menos Nietzsche.

Julian Felsenburgh disse...

"Olha, suicidio não é egoismo, é covardia. Não tenho nenhumn respeito por suicidas."

Parece que o tempo não o fez mudar de opinião, Sr. Chesterton:

"I put these things not in their mature logical sequence, but as they came: and this view was cleared and sharpened by an accident of the time. Under the lengthening shadow of Ibsen, an argument arose whether it was not a very nice thing to murder one's self. Grave moderns told us that we must not even say "poor fellow," of a man who had blown his brains out, since he was an enviable person, and had only blown them out because of their exceptional excellence. Mr. William Archer even suggested that in the golden age there would be penny-in-the-slot machines, by which a man could kill himself for a penny. In all this I found myself utterly hostile to many who called themselves liberal and humane. Not only is suicide a sin, it is the sin. It is the ultimate and absolute evil, the refusal to take an interest in existence; the refusal to take the oath of loyalty to life. The man who kills a man, kills a man. The man who kills himself, kills all men; as far as he is concerned he wipes out the world. His act is worse (symbolically considered) than any rape or dynamite outrage. For it destroys all buildings: it insults all women. The thief is satisfied with diamonds; but the suicide is not: that is his crime. He cannot be bribed, even by the blazing stones of the Celestial City. The thief compliments the things he steals, if not the owner of them. But the suicide insults everything on earth by not stealing it. He defiles every flower by refusing to live for its sake. There is not a tiny creature in the cosmos at whom his death is not a sneer. When a man hangs himself on a tree, the leaves might fall off in anger and the birds fly away in fury: for each has received a personal affront. Of course there may be pathetic emotional excuses for the act. There often are for rape, and there almost always are for dynamite. But if it comes to clear ideas and the intelligent meaning of things, then there is much more rational and philosophic truth in the burial at the cross-roads and the stake driven through the body, than in Mr. Archer's suicidal automatic machines. There is a meaning in burying the suicide apart. The man's crime is different from other crimes -- for it makes even crimes impossible." CHESTERTON, Orthodoxy, Chap. V.

Mr X disse...

Não tenho a menor idéia; não conheço o Polzonoff e só li alguns poucos textos dele. Ele não parecia escrever muito seguido mesmo assim... Mas achei estranha e meio sinistra sua última postagem:

http://www.polzonoff.com.br/nao-voltei/

Em outros posts ele fala em ex-mulher, portanto deve ter se divorciado ao menos uma vez. Com quem não aconteceu hoje em dia ao menos uma vez? Eh eh.

Sim, mais Kierkegaard, concordo.

Mr X disse...

Chesterton mata a cobra e mostra o pau. Em linguagem figurada, é claro.

Julian Felsenburgh disse...

"Você não conhecia o Sérgio. Ele não era covarde, sua grande coragem foi não deixar o mundo mudá-lo. Mas ninguém consegue ser forte em todos os momentos. Tenho saudades do grande amigo que ele era. Muita gente se mata de outra forma, se transformando numa pessoa menos sensível, menos idealista, menos, menos, cada vez menos... Acho que é um suicídio pior. Não respeito a escolha final do Sérgio, mas continuo respeitando ele."

Continua respeitando, heim? Parece que você não entendeu o espírito da coisa, Ana Beatriz. Ao cometer suicídio, o Sr. Di Biasi não quis apenas se matar. Ele quis - como bem disse o G. K. mencionado acima - matar o mundo inteiro: "The man who kills a man, kills a man. The man who kills himself, kills all men; as far as he is concerned he wipes out the world." Cada criança e cada velho, cada mulher e cada homem, tanto o Mr. X quanto eu. É um corolário inescapável: o homem não quis apenas se matar, ele quis matar você também.

Chesterton disse...

Mas não me sinto em condições de julgar ninguém.

chest- claro, ele está morto, ninguem pode julgar alguem morto.

Não respeito a escolha final do Sérgio, mas continuo respeitando ele.

chest- pois ele não respeitou quem foi. Gostava de ler seus escritos, mas hoje, são irrelevantes depois desse ato.

It is the ultimate and absolute evil, the refusal to take an interest in existence.

chest- não merece uma lágrima, uma linha, de minha parte não precisava ter nascido.

Mr X disse...

Credo Chest, que maldade. Quem nunca pensou ao menos uma vez em se matar?

Chesterton disse...

eu, pelo menos.

http://www.youtube.com/watch?v=TWFlD-rs7jc

You say there ain't no use in livin'; it's all a waste of time
And you wanna throw your life away, well people that's just fine (Go on do it)
Go ahead on 'n get it over with then, find you a bridge and take a jump
Just make sure you do it right the first time, 'cause nothin's worse than a Suicide Chump
You say there ain't no light a-shinin' through the bushes up ahead
And we're all gonna be so sorry when we find out you are dead (Make sure you're dead now)
Go head on and get it over with then, find you a bridge 'n take a jump
Just make sure you do it right the first time, 'cause nothin's worse than a Suicide Chump
Now maybe you're scared of jumpin' and poison makes you sick
And you want a little attention and you need it pretty quick
Don't wanna mess your face up or we won't know if it's you
Aw, there's just so much to worry about
Now what you gonna do?
Go head on 'n get it over with then, find you a bridge 'n take a jump
Just make sure you do it right the first time, 'cause nothin's worse than a Suicide Chump

Now maybe you're scared of jumpin', and poison makes you sick
And you want a little attention and you need it pretty quick
Don't wanna mess your face up or we won't know if it's you
Aw, there's just so much to worry about
Now what you gonna do?
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
Go head on 'n get it over with then
You're on the bridge, scared to leap but a girl walks over to take a peep
She says, "Don't do it"
But wouldn't you know, the girl got a head like a buffalo
With a little red hair all over the top and her breath would make the traffic stop
She says "I love you but first, let's eat"
And all you can say as you run down the street is

Chesterton disse...

http://www.youtube.com/watch?v=ai2VabuRF64&feature=related

chest- outra versão

Anônimo disse...

Mr X, respeito a dor de quem conhecia o Sérgio di Biasi. Publique esse post se quiser, pois minha colocação é delicada: o quanto a postura materialista-cientificista-ateísta do blogueiro pode ter contribuído com essa decisão, a mais extrema que uma pessoa pode tomar na vida? Acreditar que a vida humana é mero o produto aleatório do choque entre moléculas de proteínas não facilita em muito o trabalho de quem pensa em se aliviar do sofrimento causado por uma frustração, seja ela de qual tipo for?
Fernando José - SP

Mr X disse...

Acho que o Pedro Sette Câmara comenta justamente sobre isso quando explica por que não acredita no suicídio. Sim, pode ser que o ateísmo/materialismo influa, mas, como não conheço o Sérgio, não posso saber o que ele pensava. Eu mesmo, não sendo realmente religioso, tenho períodos em que também considero tudo às vezes meio sem sentido.

Aliás, de acordo com a tradição clássica, os suicidas vão para o inferno? De acordo com a Bíblia, Sansão cometeu suicídio, certo? Então nem sempre seria moralmente errado, se serve para salvar outros.

Houve por exemplo o caso de uma garota indiana que se matou para doar seus órgãos a familiares que tinham problemas de saúde. Vejam que triste este caso:

http://www.msnbc.msn.com/id/43685557/ns/world_news-south_and_central_asia/t/girl-kills-herself-donate-organs-family/#.TrHWdVaIDww

Chesterton disse...

O altruismo é sempre suicida ou não é altruismo.
As pessoas próximas ao cara são as verdadeiras vítimas.

Henrique Santos disse...

Caramba...

Eu nunca gostei muito dos textos do Sergio de Biasi, tinha deixado de lê-lo a um bom tempo, mas me senti mal ao saber do suicídio dele...

O conselho do chesterton... excelente... tenha filhos (pena que a maioria, nao todas!, das mulheres não queira ter...)e no mínimo três (para quê trocar de carro a cada 3 anos? para quê ter uma moto de 5000 cilindradas?)...

Mr X, sobre Sansão, creio que não foi suicídio e sim um martírio ou auto-sacrifício.

Mr X disse...

E se alguém se mata justamente por não ter ou não ter podido ter filhos? Talvez seja esse o caso do Sérgio. Ele escreveu um post bem triste sobre a perpetuação da espécie no mundo animal, comparando-nos com pinguins.

Talvez a diferença seja que, para o religioso, a vida é um presente de Deus, e portanto não pode ser negada ou rejeitada. Jó não se suicidou, certo? Mas, para o não-crente, sua atitude frente a vida é neutra. Pode ser em alguns casos uma coisa boa, mas também pode ser algo ruim. Se é só sofrimento, por que não acabar com ele, se somos apenas átomos?

Eu não conhecia o Sérgio, e nem lia tanto assim os seus textos. Mas fiquei triste com a sua morte:

"No man is an island, entire of itself; every man is a piece of the continent, a part of the main. If a clod be washed away by the sea, Europe is the less, as well as if a promontory were, as well as if a manor of thy friend's or of thine own were: any man's death diminishes me, because I am involved in mankind, and therefore never send to know for whom the bells tolls; it tolls for thee."

Mr X disse...

Na verdade, toda a Meditação é bonita, e deve ser lida por todos que entendam o inglês (elizabetano). A morte não é o fim, apenas uma tradução:

"The church is Catholic, universal, so are all her actions; all that she does belongs to all. When she baptizes a child, that action concerns me; for that child is thereby connected to that body which is my head too, and ingrafted into that body whereof I am a member. And when she buries a man, that action concerns me: all mankind is of one author, and is one volume; when one man dies, one chapter is not torn out of the book, but translated into a better language; and every chapter must be so translated; God employs several translators; some pieces are translated by age, some by sickness, some by war, some by justice; but God's hand is in every translation, and his hand shall bind up all our scattered leaves again for that library where every book shall lie open to one another."

http://www.online-literature.com/donne/409/

Anônimo disse...

Que falta de compreensão tá rolando aqui nesses comentários. Respeitem a memória do Sérgio e por favor quem não o conhecia não julgue, simplesmente cale a boca.

Cahê Gündel Machado disse...

A maioria das mulheres não quer ter filho? Acho que não, hein. Pelo menos a maioria que eu conheço quer.

Mr X disse...

Tem razão o anônimo. Talvez eu não devesse ter feito um post sobre uma questão assim tão pessoal. Era pra ser uma homenagem ao Sérgio, gostei dos seus textos.

As mulheres querem ter filho, mas aos trinta, trinta e tantos. Algumas esperam demais, e se ferram.

Alguns homens também... Cadê a Bárbara, para fazermos o nosso lindo filhinho?

Chesterton disse...

Olha, se ele se suicidou, é porque estava cagando para a sua própria memória. Não estava nem aí para a opinião dos outros, logo, falo o que bem entender porque para ele foi (e é) indiferente).

Julian Felsenburgh disse...

"Que falta de compreensão tá rolando aqui nesses comentários. Respeitem a memória do Sérgio e por favor quem não o conhecia não julgue, simplesmente cale a boca."

Risos mil.

"As mulheres querem ter filho, mas aos trinta, trinta e tantos. Algumas esperam demais, e se ferram."

Algumas recomendações a respeito deste assunto, caro Mr. X:

1. Who's Getting Married? Education and Marriage Today and in the Past.

2. Todos os artigos do Relatório do Social Trends Institute: The Sustainable Demographic Dividend.

3. O interessantíssimo blogue Dalrock.

Aliás, o melhor artigo publicado pelo Social Trends Institute, "The Empty Cradle," menciona as novelas brasileiras, e a influência delas na sociedade.

Gerson B disse...

Eu lia sempre os textos dele. Nem ia comentar aqui. Já escrevi num post anterior e fiquei chocado com a morte dele. Mas ao ver o comentário do Anônimo resolvi escrever algo. Não gosto quando alguem manda todo mundo calar a boca.


Sobre o ponto em questão, infelizmente concordo com o Chesterton sobre a covardia. O primeiro sentimento que me vem à cabeça é o de raiva. Não só para o suicídio, mas para mortes que eu consideraria evitáveis. No caso de um suicida, a impressão que me fica é de um profundo egoismo. De um desrespeito com aqueles que ficam (não em todos os casos, como no caso do paraplégico e do irmão). De futilidade. Será que não daria pra pedir ajuda?

Ou ele já estava pedindo? Depois de reler este post
http://www.oindividuo.org/2011/01/26/homem-sexo-fragil/

Me pergunto se esse post e os outros falando sobre as mulheres não eram expressão do que ele sentia e pretendia. Em retrospecto parece. Mas na hora que li não associei a algo assim.

Passada a raiva, as impressões que ficam são de pena. E tristeza.

Mas vou reler alguns textos e comentários. Vale a pena pelo conteudo, embora eu receie que me cause mais tristeza.

Anônimo disse...

Julian, não seja uma puta.

Edmundo Ricardo disse...

Não sabia que o Sérgio se suicidou,nem que já não fazia parte dos vivos.Até hoje foi no o seu blogue que encontrei textos que mais me fizeram pensar.Obrigado Sérgio!(Que descanse em Paz!)