Em nenhum país o
nanny-state (Estado-babá) está tão evoluído quanto na Inglaterra, onde o governo controla praticamente todo aspecto da vida do cidadão. Estado-babá é a expressão mais correta: trata-se, de fato, de infantilizar todos os cidadãos, tratá-los como incapazes para melhor controlá-los. George Orwell estava certo, sua utopia totalitária só errou de ano e de modo: não é uma ditadura, é uma democracia na qual o povo se acorrenta por sua livre e espontânea vontade.
Uma recente notícia ilustram bem o caso. Os
extintores de incêndio poderiam ser proibidos e retirados de vários prédios, pois seu uso inadequado em mãos inexperientes poderia causar mais danos do que soluções, dando uma falsa sensação de segurança. A recomendação em caso de incêndio é apenas fugir e chamar os bombeiros. Pode parecer surpreendente, mas é apenas a seqüência lógica do que já se faz com as armas de fogo. Se assaltado, não reaja, não use de meios próprios de autodefesa (os quais aliás você não tem o direito de possuir): apenas chame a polícia.
Que os políticos queiram cada vez mais controle sobre a vida (e sobre o bolso) do cidadão não espanta nem pode espantar ninguém com mais de 18 anos e alguma experiência de vida. O que espanta é a docilidade - eu diria até o alívio - com que tais esquemas são recebidos por grande parte da população. "A gente somos inútil", eles parecem querer dizer.
Em um comentário em outro
blog, um jovem americano de 22 anos tem uma tese interessante sobre as causas do crescente estatismo mundial:
"We’ve all been sheltered by parents who try to protect us from risk and icky bad things, and so we think we’re special, and naively believe that most of the world’s problems really can be solved, and by government at that."
De fato, em um sentido mais amplo, podemos observar que o Estado-babá atual é resultado da prosperidade e segurança observadas até recentemente no mundo desenvolvido, e que acabaram por criar uma aversão a riscos que se aproxima da tolerância zero. A medicina moderna pode curar a maioria das doenças, portanto estar doente ou até fora do peso ideal já é visto como algo terrível. A violência urbana é relativamente pouco freqüente, portanto as pessoas querem manter o mesmo nível de vida sem risco em todas as facetas. A aversão a riscos - sempre existentes na liberdade - leva as pessoas a preferirem a segurança.
O curioso é que no Brasil, onde não se chegou a tais níveis de prosperidade ou segurança (o sujeito pode morrer de bala perdida na próxima esquina), onde a falha do Estado em proporcionar segurança, educação, saúde e qualquer coisa aproximando-se de um serviço meramente medíocre é palpável cada momento, o curioso é que mesmo assim o Estado é visto sempre como salvação. Aqui acho que a explicação é outra. Gostamos do Estado-babá simplesmente porque não conhecemos outra coisa. Não há infantilização, somos infantis por natureza. Ao contrário dos americanos, asiáticos ou europeus, nunca crescemos, nunca deixamos de ser crianças.
Unhéééé!