sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sexo, moralismo e comportamento de turbas na era da Internet

Um dos comentários mais perspicazes sobre o caso da aluna da UNIBAN foi este que encontrei de um leitor do blog do Reinaldo Azevedo:
Douglas disse:

Não sei se você vai me entender, espero que sim. Não vi nada de estranho neste vídeo. Só a natureza humana na sua forma mais pura.

O ser humano vive em permanente guerra entre a sua natureza e a sua inteligência. A natureza humana é capaz de fazer uma pessoa se sacrificar por outra. A natureza humana é capaz de fazer isso que se viu.

Eu não estava lá, mas me identifiquei com aqueles estudantes. Eu poderia ser um deles? Acho que sim. Eu me sentiria arrependido depois? Com certeza.

Chamar esses estudantes de animais e colocar nas costas deles as nossas culpas é fácil. Acho até que o que estão fazendo com eles aqui e em outros blogs é quase o mesmo que eles fizeram com a moça.

De fato, muitos psicólogos e estudiosos da natureza humana já observaram que os seres humanos quando em multidões comportam-se de modo muito diferente do que individualmente. Observando-se o mais recente vídeo dá para ver a magnitude do protesto contra a "indecente" moça e de como as pessoas, nesses contextos, reduzem-se ao comportamento mais básico, mais primitivo: os homens, à luxúria ou à violência contra a "puta" que os provocava sexualmente sem se entregar; as mulheres, à inveja e à raiva pela "concorrência desleal".

Aqui acho que entra de novo a questão dos conservadores vs. libertários (e progressistas), e de como estes últimos idealizam a natureza humana. Afinal, para o libertário, "cada um pode se vestir como quiser e ninguém tem nada com isso". Para o progressista, "homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos de ir e vir como desejarem." Na prática, no entanto, uma moça que vai vestida com roupas sumárias à universidade pode terminar sendo brutalmente hostilizada por uma multidão. É a natureza humana em seu estado mais bruto.

Sim, seria bom que as mulheres pudessem ir a qualquer lugar que quisessem, vestidas como quisessem, sem ser importunadas. Seria bom que drogados não matassem os outros ou a si mesmos. Seria bom que todos pudessem controlar seus instintos e ninguém fosse preconceituoso, cretino ou psicopata. Infelizmente, vivemos no mundo real, onde garotas de 15 anos podem ser estupradas coletivamente em uma festa na escola pelos seus próprios colegas.

Há ainda um segundo elemento que causa reflexão, que é a questão tecnológica. Todo o evento foi filmado por câmeras de celulares e colocado imediatamente na Internet, onde repercutiu ainda mais, somando-se a dezena de casos folclóricos, como a da professora primária que dançava o "Todo Enfiado", ou o caso recente de jovens adolescentes anos praticando sexo oral no banheiro da escola. Os vídeos acabaram indo parar online, onde foram baixados por milhares de pessoas. Com a repercussão, a professora de um caso foi demitida e a aluna do outro caso terminou tendo que ser transferida de escola, pois todas as demais estudantes do colégio ficaram com fama de "boqueteiras". A Internet influencia o mundo real. (E já tem petista afirmando que o que faltou foi mais aula de "educação sexual", como se os adolescentes não soubessem já o suficiente).

De qualquer modo, é possível que, em um país esquizofrênico como o Brasil, a moça da UNIBAN, que já conquistou fama virtual, termine ganhando uma pequena fortuna ilustrando as capas de uma revista masculina, ou apresentando algum programa televisivo para crianças.



Qué pasa en Honduras?

São os americanos, quem diria, que estão forçando o retorno de Zelaya ao poder. Com direito a aplauso de Hillary. Anteontem, por mera coincidência, o sobrinho de Micheletti foi assassinado: mãos dos zelayistas, ou da própria CIA? O governo Obama está apoiando o neo-comunismo na América Latina, não restam dúvidas. Até o comuna pedófilo e estuprador que quer virar ditador na Nicarágua os canalhas estão promovendo.

É um pouco assustador. "EUA, EUA, por que nos abandonaste?", gritam os (poucos) arautos da liberdade que restam na América Latrina. Mas é inútil. Cada um deve carregar sua cruz; a das nossas terras é o caudilhismo eterno.

Mensagem de Obama à A.L.

Libertarados versus conservotários

Sou libertário ou conservador? - perguntei-me tempos atrás. Sem chegar a uma conclusão, decidi assumir que sou uma mistura indigesta dos dois. Em alguns aspectos sinto-me mais seduzido pelo argumento libertário, em outros vejo mais coerência no argumento conservador.

O fato é que mesmo a tal "direita" não é unitária e, embora não tenha todas as correntes de um partido como o PT, tem ao menos dois campos bem distintos - como se pode ver por este post do Not Tupy.

Mas as posições de ambos os lados são, por vezes, caricaturizadas.

Os libertários têm fama de utópicos ou libertinos - libertarados, chamemo-los: todo mundo tem o direito que fazer o que bem entender, desde que isso não prejudique diretamente aos outros. Casamento gay? Tudo bem. Aborto? On demand. Drogas? Basta que o Estado não se meta no negócio.

Do outro lado estão os conservadores, com fama de quadradões, puritanos, recaldados - em suma, conservotários. Nada de casamento gay, aborto e muito menos drogas, que são coisa do demo.

Ambos grupos só parecem concordar na economia e na redução do poder e tamanho do Estado, mas nos temas sociais a diferença é radical. Qual a solução?


O comunismo/marxismo, não obstante o que diga o nosso colaborador Tiago, morreu de morte morrida. Depois do desastre soviético, qualquer tentativa de acabar com a propriedade privada e coletivizar os meios de produção será sempre vista com um revirar de olhos ou o sorriso benevolente de quem se dirige a um retardado mental. Essa parada econômica (e só essa) o capitalismo venceu.

Mas no cultural perdeu, playboy, perdeu. A ideologia de nosso tempo não é o socialismo, mas sim o progressismo. Embora este mantenha alguns aspectos socializantes como o aumento progressivo do poder estatal e a distribuição de riquezas (ainda que não tanto sob a forma do confisco como da taxação progressiva), trata-se de um outro bicho. Seu principal objetivo continua sendo a igualdade, mas agora não é tanto (ou apenas) a igualdade financeira, como a igualdade total entre todos e todas. Entre branco e preto, entre homem e mulher, entre hetero e gay, entre feio e bonito, entre cidadão e imigrante ilegal, entre muçulmano e cristão, entre terrorista e democrata, entre criminoso e vítima. Todos são e devem ser iguais, mas atenção!, não perante a lei (de fato, a lei é distorcida justamente para criar a tal "igualdade"). Estamos falando de uma utópica igualdade de resultados.

Os libertários são economicamente conservadores, mas, no que se refere às questões sociais, são muitas vezes indistinguíveis dos progressistas. Também eles querem liberação de drogas, casamento gay, etc. Tudo em nome, não da igualdade de grupos, mas da liberdade individual. Afinal, não se deve impedir o indivíduo de fazer nada.

Já os conservadores são contrários a essas teorias de vale-tudo, mas não porque sejam malvados ou "racistas". É que, para os conservadores, existe um tipo de sociedade que funciona, e muitos que não. Nem todos os grupos são iguais. O homem é um ser imperfeito, e portanto não adequado à liberdade total. Além disso, segundo o argumento conservador, as pessoas na verdade não querem liberdade. A liberdade total é uma tortura. O que as pessoas querem é seguir regras claras. Para muitos, e é o caso da maioria dos conservadores, ainda que não todos, essas regras morais que sustentam a sociedade vêm, não do Estado, mas da religião.

Em última análise, os libertários são otimistas; os conservadores são pessimistas.

Como sou agnóstico e indeciso, ainda não tomei uma decisão concreta sobre por qual time torcer. Ultimamente, em virtude do meu próprio pessimismo natural mais do que qualquer outra coisa, tendo a concordar mais com o pessimismo conservador do que com a utopia libertária. Por outro lado, gosto das idéias deste cara aqui.

O que fazer?


quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Há algo na água ou no ar

Eu sempre disse que os esquerdistas e assemelhados estão todos loucos, mas ultimamente parece que estamos chegando ao limite do absurdo, se é que tal existe. Cito apenas dois trechos de recentes reportagens. A primeira vem da Inglaterra, onde, enquanto terroristas andam livres, as autoridades podem vigiar e filmar secretamente o cidadão por crimes tão graves quanto não juntar o cocô do cachorro:
Under a law enacted in 2000 to regulate surveillance powers, it is legal for localities to follow residents secretly. (...) Local governments use them to catch people who fail to recycle, people who put their trash out too early, people who sell fireworks without licenses, people whose dogs bark too loudly and people who illegally operate taxicabs.
A outra notícia vem da Austrália, onde professores ecologistas sugerem, para evitar o aumento do carbono na atmosfera, que as pessoas comam seus próprios animais de estimação:
The eco-pawprint of a pet dog is twice that of a 4.6-litre Land Cruiser driven 10,000 kilometres a year, researchers have found. Victoria University professors Brenda and Robert Vale, architects who specialise in sustainable living, say pet owners should swap cats and dogs for creatures they can eat, such as chickens or rabbits, in their provocative new book Time to Eat the Dog: The real guide to sustainable living.
E ainda há quem queira liberar as drogas. Precisa?

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Vai um lótus aí?

As drogas e sua proibição continuam causando intenso debate. Mesmo na tchurma da direita, muitos acreditam que a legalização seja a solução.

Eu penso que a descriminalização do uso das drogas, como tantas outras coisas citadas pelo bom e velho Dr. Theodore Dalrymple, seria um experimento social de resultados imprevisíveis, desejado pela classe média, mas cujo preço será pagado principalmente pelos pobres. (De fato, já o é.)

Considerando que:

a) O vício em drogas é um mito. Não existe dependência química, apenas psicológica. O viciado não é um doente, mas apenas um idiota.

b) Viciados não causam problemas apenas a si mesmos, como a terceiros, como o recente caso do viciado que enforcou a namorada, ou a mãe que matou o próprio filho viciado.

c) Alguns acreditam que a solução para o problema das drogas seria o Estado obrigar os viciados a se tratarem (o próprio pai do viciado assassino afirma que a culpa é do Estado por não ter obrigado seu filho a se tratar e ainda pagar o custo disso, já que ele, coitado, não podia pagar a internação); a liberação das drogas provavelmente traira mais Estado na vida do indivíduo, e não menos.
Levando tudo isso em conta, a solução que este blog sugere seria a criação de parques temáticos estatais onde a liberação da droga seria geral e irrestrita para maiores de 21 anos vacinados, com o detalhe de que os usuários estariam cercados por altos muros e não poderiam sair de lá para interagir com o restante da população. Viveriam no local, na sua Drogolândia particular.

Não consumo drogas fora o álcool e o café, e portanto não tenho interesse algum na liberação da cocaína ou da maconha -- mas não tenho ilusão. Assim como a sodomia antes era crime nos EUA e em vários outros países e hoje os gays estão casando (perdão pela comparação, é apenas para mostrar o avanço do liberalismo dos costumes), o mesmo deve ocorrer com as drogas. Não há volta.

Acredito que em menos de uma década teremos maconha liberada na maioria dos países ocidentais, e posteriormente se avançará para a liberação da cocaína e drogas sintéticas.

Só que, ao contrário dos liberacionistas, não acredito que isso vá ser liberação alguma. Ao contrário: temo que vá apenas aprofundar a decadência e o marasmo ocidentais. Uma sociedade de comedores de lótus. Se antes a religião era o ópio do povo, agora o ópio será uma religião.

O que vai ocorrer é que a sociedade eventualmente se tornará tão caótica que será tomada pelo Islã ou alguma outra forma repressiva de controle social. Ao contrário do que pensam os ultralibertários, a liberdade individual só funciona dentro do contexto de uma sociedade que tenha condições de permitir-se a esse "luxo".

Não esqueçamos que os comunistas, embora hoje inundem a América Latina de drogas, sempre foram rígidos com seu consumo em seus próprios países. Na China - que tem uma historinha bastante edificante com o ópio - ainda há pena de morte para traficantes.

Por outro lado, quem é que pode saber realmente o que acontecerá?

sábado, 24 de outubro de 2009

Poema do domingo

La cuna

Hoy no pudimos más. Y envueltos
Del crepúsculo azul en la penumbra,
Nos fuimos por el pueblo lentamente
A comprar una cuna.

Y compramos de intento la más pobre,
Mimbre trenzado a la manera rústica,
Cuna de labradores y pastores...
Hijo: la vida es dura.

Baldomero Fernández Moreno (1886 - 1950)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Será que sou um self-hating Latino?



Estava em uma roda de doutorandos latinoamericanos, quando de repente, no meio da conversa, descobri algo muito triste. Não tenho grande identificação com a cultura na qual supostamente nasci e cresci. Fora músicas antigas, não gosto muito de samba, muito menos de pagode ou axé, e a música contemporânea brasileira com seus funks e lenines me causa alergia. Gilberto Gil, então, é de lascar.

Minha relação com a cultura hermana latinoamericana é ainda pior. Tango, tudo bem, mas salsa, regueton e merengue são abomináveis, e nem falemos da cultura que acha graça em ver crianças realizando danças sexuais (sim, isso acontece também no Brasil). Não danço nem jogo futebol. Raramente gosto de cinema brasileiro. Não gosto de comida mexicana ou baiana. Escritores latinoamericanos? Alguns me interessam, mas muito poucos, diria que não mais de quatro ou cinco. Gosto em termos gerais do Brasil, mas é mais devido aos amigos que tenho aí; não posso dizer que esteja orgulhoso do país. Não sinto grandes saudades da América Latina morando aqui fora. Tenho mais curiosidade em conhecer a Austrália ou o Japão do que a Guatemala ou o Peru. Devo sentir-me culpado?

Os judeus falam em "self-hating jews", isto é, pessoas que odeiam ou rejeitam a própria cultura e religião. Seria também o meu caso em relação à latinidade? Bem, na verdade, eu não odeio nada. Simplesmente não me identifico demasiado com essa cultura alegre e faceira, só não sei por quê. Talvez eu devesse ter nascido em algum deprimente país escandinavo. (Tampouco posso dizer que me identifique com a cultura norte-americana, no entanto. E não nego ter várias características brazuco-latinas, como a preguiça, a impuntualidade e a informalidade.)

Sei que meu caso não é único, e que são vários os que têm esse mesmo sentimento ambíguo em relação ao Brasil e à América Latina em geral. A maioria do pessoal de classe média aí no Brasil que conheço odeia carnaval e capoeira, não assiste cinema brasileiro e tem referências culturais que vêm quase todas de fora.

Pergunto-me: será que, ao menos desta vez, os esquerdistas não estão corretos? Será que os que reclamam eternamente do Brasil não são todos uns direitistas antipatrióticos que envergonham-se do país e preferem fazer turismo em Paris e New York? Elitistas que desprezam a Cultura do Povo e preferem formas artísticas burguesas ultrapassadas, ou simplesmente o imperialismo cultural yankee?

Por outro lado, qual a opção? Ser como o cara aí da foto abaixo?

Gulp.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Por que as mulheres gostam de bad boys?

Não tenho uma resposta para a pergunta, mas a questão vem à luz devido a um pavoroso evento ocorrido na Inglaterra: uma jovem loira, bonita, rica e medianamente famosa (era apresentadora de televisão) conheceu um rapaz via Internet e começou imeditamente um romance com ele. Meras duas semanas depois, a jovem foi estuprada por ele e, quando ela decidiu acabar com a relação, o rapaz - através de um capanga - atirou ácido sulfúrico no rosto dela, desfigurando-a para sempre. Vejam aqui a moça antes do ataque:


E, se tiverem coragem, cliquem aqui para ver como a moça ficou depois.

Uma tragédia, certo? Mas a coisa é mais complicada do que isso. Vejam o rosto do namorado, que não precisou nenhum ataque de ácido para ficar assim:


Talvez eu tenha sido indevidamente afetado pelas teorias de Lombroso, ou talvez a foto do mugshot lhe dá um ar mais ameaçador do que de costume, mas parece-me que qualquer pessoa de bom senso poderia ver que se trata de uma pessoa violenta, ou, como se diz em português, um bad boy.

Mas aceitemos que "as aparências enganam" e que "não se deve julgar um livro pela capa". A moça nem mesmo checou as referências do jovem. Segundo a reportagem, ela viu a foto, soube que ele praticava artes marciais (mais um sinal de possível violência), e sentiu-se imediatamente atraída. Eles saíram juntos poucos dias depois; no segundo encontro ele lhe disse que "a amava". Ela acreditou.

Bem, resulta que o rapaz já tinha estado na cadeia por ter jogado água fervente no rosto de outro sujeito. Se a moça tivesse procurado o nome dele no Google, talvez descobrisse alguma coisa. (Eu não sei vocês, mas eu sempre googleio o nome da pessoa; é impressionante a quantidade de informação que se pode obter sobre alguém). A moça não sabia de seus antecedentes, mas, mesmo depois que começou a perceber que o sujeito tinha ataques de agressividade, continuou a relação.

Poucos dias depois, os dois foram a um hotel, onde o "namorado" a estuprou, deu-lhe uma surra que resultou em um ferimento na cabeça, e manteve-a presa por oito horas. (Ele alegou depois estar sob o efeito de drogas). Porém, a moça não chamou a polícia e, no hospital que a tratou, inventou uma história qualquer em vez de contar a verdade. Bem, sabemos que muitas mulheres continuam tendo relações com homens que as maltratam; em muitos casos, isso é justificado pelo medo de serem mortas em caso de denúncias. É o que ela alega também.

O que aconteceu depois é um pouco bizarro. Segundo a reportagem, nos dias seguintes, o rapaz telefonou várias vezes e mandou dezenas de e-mails pedindo desculpas. A moça aceitou ir a um Internet café para ler os seus e-mails, já que aparentemente sua conexão em casa não funcionava. Disse-lhe, ao telefone, até mesmo como estaria vestida. (Esta parte me parece um pouco difícil de acreditar. A Internet não funcionava? A moça chique não tinha um Blackberry ou similar? E por que a moça responderia como estaria vestida, sem desconfiar da estranha pergunta? Não era mais fácil dizer que veria os e-mails depois, sem especificar quando?)

Bem, o fato é que, a caminho do cybercafé, ela foi abordada por um capanga do "ex-namorado" que jogou-lhe ácido no rosto, desfigurando-a para sempre. (Hoje estão os dois presos, com direito a academia de musculação e uso de celular).

O evento dá margem a várias discussões sobre a sociedade contemporânea. Uns dizem que a culpa é do feminismo e da liberação sexual. Afinal, antigamente uma "moça direita" não sairia com o primeiro sujeito que aparecesse, mas esperaria mais. Que a moça tenha escolhido o sujeito exclusivamente pela atração física e que tenha iniciado uma relação com ele imediatamente parece algo impulsivo e descuidado.

Outros afirmam que é o mero efeito colateral da independência financeira feminina. De fato, antigamente as mulheres precisavam casar, e havia toda uma luta para conseguir um "bom partido", como se vê nos romances de Jane Austen. Hoje, porém, mulheres como Katie Piper têm sua independência garantida, podendo mesmo não casar e dedicar-se a relações com jovens de caráter duvidoso, por mera aventura ou interesse sexual.

Outros ainda colocam a culpa no politicamente correto promovido pelos esquerdistas e pós-modernos, segundo os quais não se deve julgar ninguém. Por essa ótica, sair com um executivo ou com um jovem de baixa instrução fissurado em artes marciais seria a mesma coisa, afinal não devemos discriminar ninguém por sua classe, cultura, origem ou religião - e isso valeria mesmo para o mundo do namoro.

É evidente que a moça não tem culpa e não poderia adivinhar a tragédia que se abateria sobre sua vida; além disso, é admirável a sua coragem e capacidade de recuperação psicológica de fronte a um evento similar; mas também é verdade que uma série de fatores da sociedade atual colocam muitas mulheres ingênuas à mercê de predadores.

E afinal, voltando à pergunta do título, por que certas mulheres gostam de bad boys?

Atualização: novo post sobre o tema.

Abram alas para o governo mundial

Todo mundo hoje já conhece o Foro de São Paulo. Mas alguém ouviu falar no Partido dos Europeus Socialistas? É uma agrupação de várias organizações socialistas da comunidade européia. Eles têm contato direto com o Partido Democrata dos Estados Unidos, e planejam estabelecer políticas a nível mundial.

Pouco mais de um ano após ter votado contra o Tratado de Lisboa, que confere poderes superiores à União Européia, a Irlanda recentemente votou de novo. Por quê? Porque com tudo o que se refere à UE é assim, vota-se até o Povo "acertar". Desta vez os irlandeses foram bons meninos e votaram a favor do pacote. O Tratado de Lisboa é o começo do fim das nações européias, substituídas por um Superestado Europeu. O começo do governo mundial?

Bem... Não é de hoje que a idéia de um governo global flutua por aí. Ela vem sendo promovida incessantemente desde o pós-guerra, com a idéia de que, não havendo nações, não poderia haver guerra entre nações, e portanto haveria paz para sempre.

A ingenuidade da idéia é rebatida já neste artigo de 1953, onde o autor observa que o fim das nações não acabaria jamais com os conflitos humanos, e que simplesmente passaríamos a chamar o conflito entre povos de guerras civis ou de insurreições. De fato, mesmo na Europa é possível que, com ou sem União Européia, o conflito entre locais e muçulmanos termine em uma guerra civil como a dos Balcãs.

E tem outra: para ter poder efetivo de impor a paz, ao invés de ser uma mera ONU da vida, um governo global precisaria ter um poderoso exército global. Pense nas dificuldades disso.

O pacífico governo global é uma ilusão.

domingo, 18 de outubro de 2009

O problema do Rio de Janeiro é o tráfego

Por que Theodore Dalrymple voltou a assinar como Anthony Daniels? Não importa. O que importa é que ele escreveu, tempos atrás, um artigo contrário à liberação das drogas, que parece-me sempre oportuno indicar quando se debate o espinhoso tema.

no Tibiriçá encontro uma interessante discussão sobre a liberação das drogas. Ele parece ser cautelosamente a favor.

Bem, o assunto já foi tema diversas vezes aqui no blog. A única novidade é que agora os traficantes do Rio de Janeiro derrubaram até helicóptero da polícia.

Alguns acham que a legalização das drogas acabaria com o tráfico e seus males, porém eu não sei se a coisa funcionaria exatamente assim. Parece-me ser mais um desses "brilhantes planos de marketing" que são maravilhosos no papel mas fracassam rotundamente na prática. (Para quem não sabe, existe uma coisa chamada "lei das conseqüencias não-previstas").

Evidentemente, eu tampouco tenho uma solução para o problema das drogas, mas não acho que despenalizar o consumo resolva qualquer coisa, ainda mais quando não se despenaliza ao mesmo tempo a venda - ou proíbe-se os dois, ou libera-se os dois, o resto é aumentar a demanda e portanto a oferta.

É claro que muitos gostariam de poder continuar a fumar o seu baseado ou cheirar sua carreirinha sem sentir-se culpados pela morte de milhares de pessoas na guerra pelo mercado da droga. Lamentavelmente, a coisa não funciona bem assim. Como dizia John Donne, nenhum homem é uma ilha, e mesmo ações individuais ou "crimes sem vítimas", quando multiplicados por mil, dez mil ou cem mil, têm conseqüências bastante nefastas. Como mínimo, a liberação das drogas traria uma explosão do seu consumo, e os costumeiros problemas sociais e de saúde que conhecemos muito bem.

Na verdade, acho que a solução de Cingapura é melhor. Penas draconianas para os usuários, e ações rigorosas contra os traficantes.

A Colômbia, também golpeando fortemente traficantes e terroristas, teve algum êxito em reduzir a violência relacionada ao tráfico: em 2001 a taxa de homicídios por 100.000 era de 65, em 2008 caiu a 35.

Eu iria mais longe e observaria que as mortes dos ataques do Hamas e demais terroristas palestinos em Israel ficam muito aqüém das mortes causadas pelos traficantes cariocas. Porém, Israel revida e aqui... Por que hesita-se tanto em usar o exército contra os terroristas locais?

Estranho. Pareceria até que alguns são a favor do crime organizado.

P. S. Quis escrever "tráfego" mesmo. O título do post é citação de uma cena de Johnny Stecchino. Assistam.

Poema do domingo

Scatological observations

Young romantic readers
Skip this part of the book
If you want a glimpse of life
You're free to take a look

Shit machine shit machine
I'm an incredible shit machine
Piss machine Piss machine
Inexhaustible piss machine

Piss & shit machine
That's the Golden Mean
Whether young or old
Move your bowels of Gold

Piss & shit machine
It always comes out clean
Whether you're old or young
Never hold your tongue

Chorus
Shit machine piss machine
I'm an incredible piss machine
Piss machine piss machine
Inexhaustible shit machine.

Brown or black or green
everything will be seen
hard or soft or loose
shit's a glimpse of truth

Babe or boy or youth
Fart's without a tooth
baby girl or maid
Many a fart in laid

Shit piss shit piss
fuck & shit & piss
Fuck fart shit Piss
It all comes down to this

Beautiful male Madonnas
Wrathful Maids of Honor
To be frank & Honest
Stink the watercloset

Shit machine piss machine
Much comes down to this
Piss machine shit machine
Nature's not obscene

Shit piss shit piss
How'll I end my song?
shit piss shit piss
Nature never wrong

Allen Ginsberg (1926-1997)

sábado, 17 de outubro de 2009

Roleta russa

Leio sobre um curioso acordo dos EUA obamístico com a Rússia:
As part of the next arms reduction treaty between superpowers, the United States has tentatively agreed to unprecedented Russian access to American nuclear missile sites. According to published accounts, Russian weapons inspectors will be given an open door to American nuclear sites in order to monitor the number of missiles and warheads. Russian Foreign Minister Sergei Lavrov is quite satisfied with the deal. Perhaps it is an error of omission, but there is no news of a similar concession from the Russian side.

Entenderam? Agentes russos poderão monitorar a destruição dos arsenais nucleares americanos. Americanos não poderão fazer a mesma coisa com os russos.

Somem essa notícia com esta outra, segundo a qual Obama pretende renunciar à possibilidade de realizar ataques preventivos de modo a afirmar definitivamente que ele "não é o Bush."

E colocai no caldo indigesto de vossos atuais pensamentos esta outra notícia, segundo a qual os russos afirmam que eles sim poderão realizar um ataque preventivo, até mesmo com armas nucleares, caso se sintam ameaçados.

E lembrem ainda que: a) o Irã, aliado da Rússia, afirmou pela milésima vez que não vai parar seu programa nuclear; b) a coisa está fervendo no Paquistão (outro país nuclear, não esqueçam, e aliado da China); c) agora até a Turquia praticamente declarou-se abertamente inimiga de Israel e EUA.

Eu achava que era mera paranóia, mas começo a achar que os blogueiros ensandecidos que publicaram a teoria têm razão: Obama quer que os EUA sejam atacados.

Boa noite de insônia.

Obama's got a gun.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dolce far niente

Os amigos desculpem a falta de posts. É que acabei de descobrir que o melhor modo de viver é não fazendo nada, e, se isso não for possível, realizar apenas o mínimo necessário para a subsistência.

Vejam o exemplo do MST. De acordo com recente pesquisa, 38% dos assentados não plantam coisa nenhuma; 11% não conseguem plantar nem mesmo para a própria subsistência, e 25% plantam para a própria subsistência e olhe lá. Restam apenas 27% de esforçados que conseguem produzir algum pequeno excedente para vender.

Que alguém ainda tenha coragem de defender esse grupo de terroristas e vagabundos, de exploradores da miséria alheia, chega a ser assustador.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Uma nova divisão social

Primeiro tínhamos uma divisão entre homens livres e escravos, e depois Marx inventou que a humanidade estava dividida entre os trabalhadores (proletários) e a burguesia.

Hoje, no entanto, há uma nova divisão social, fonte dos problemas de nossa era: é entre trabalhadores e não-trabalhadores, ou, mais precisamente, produtivos e dependentes. A idéia não é minha, encontrei-a em um comentário no Belmont Club, mas acho que faz sentido. Vejam bem: de um lado temos os ultraricos que, de tanto dinheiro que têm, não precisam trabalhar. São herdeiros bilionários como Paris Hilton, atores de cinema como Tom Cruise, políticos milionários como Al Gore. Formam uma aristocracia, a nova nobilidade. Em alguns casos, como Soros ou Gates, controlam fundações e think tanks progressistas, e colocam dinheiro no Partido Democrata, quando não em causas mais radicais a nível global.

Aliada a essa elite, ou melhor, dependendo dela, está a massa de não-trabalhadores que vivem de benefícios estatais. Não são pobres, ao menos não em relação aos pobres do terceiro mundo, mas vivem em um estado de lamentável dependência. Seu trabalho resume-se a buscar cheques e vales-comida todo mês - e votar nos candidatos Democratas nas eleições (ou, na Europa, nos partidos socialistas). Essa massa de não-produtivos sustentados pelos impostos dos outros já representa 40% da população americana, e tende a crescer.

Temos, então, pobres e ultraricos não-produtivos em aliança contra os trabalhadores produtivos, ou seja a classe média e os pequenos e médios empresários, o pessoal que paga por toda essa festança com o dinheiro dito "público".

O triste é que muitos dos eleitores de Obama nem ao menos sabem de onde vem o dinheiro que os alimenta, como pode-se ver no trecho a seguir, em entrevista com cidadãos que, acreditando que o governo estava distribuindo cheques para a população, fizeram uma fila de milhares de pessoas em Detroit (áudio aqui):

ROGULSKI: Why are you here?
WOMAN #1: To get some money.
ROGULSKI: What kind of money?
WOMAN #1: Obama money.
ROGULSKI: Where’s it coming from?
WOMAN #1: Obama.
ROGULSKI: And where did Obama get it?
WOMAN #1: I don’t know, his stash. I don’t know. (laughter) I don’t know where he got it from, but he givin’ it to us, to help us.
WOMAN #2: And we love him.
WOMAN #1: We love him. That’s why we voted for him!
WOMEN: (chanting) Obama! Obama! Obama! (laughing)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Obama, o banana

Apesar do prêmio Nobel e todo o oba-oba, o que mais chama a atenção em Obama é o bananeiro que seu governo é. Hoje, por exemplo, a Casa Branca atacou a Fox News, acusando-a de ser "uma ala do Partido Republicano". Quer coisa mais latinoamericana do que essa?

Nós por aqui estamos enjoados de presidentes que atacam a mídia ao primeiro sinal de descontentamento. Alguns, como o mafioso casal K, vão mais longe e pretendem mesmo silenciá-la. Nos EUA, porém, sempre foi um pouco diferente. Fosse o presidente Democrata ou Republicano, jamais algum deles ousou diretamente intrometer-se com a liberdade de expressão. Assumia-se que as críticas eram parte do jogo. Bush, o presidente mais criticado da história da humanidade, nunca levantou a voz contra a mídia. Clinton, no alto do escândalo Lewinski, também não.

Já Obama, que tem todos os canais a seu favor com exceção da Fox News, não suporta essa única voz contrária (e nem tanto, já que mesmo a Fox tem vários apresentadores obamistas, como Geraldo Rivera).

Obama é um banana.

domingo, 11 de outubro de 2009

Poema do domingo

Sonnet 66

Tired with all these, for restful death I cry,
As, to behold desert a beggar born,
And needy nothing trimm'd in jollity,
And purest faith unhappily forsworn,
And guilded honour shamefully misplaced,
And maiden virtue rudely strumpeted,
And right perfection wrongfully disgraced,
And strength by limping sway disabled,
And art made tongue-tied by authority,
And folly doctor-like controlling skill,
And simple truth miscall'd simplicity,
And captive good attending captain ill:
Tired with all these, from these would I be gone,
Save that, to die, I leave my love alone.

William Shakespeare (1564 - 1616)

sábado, 10 de outubro de 2009

Blogueiro interrompido

No filme "Garota interrompida", Winona Ryder interpretava um garota que era internada em um hospício. Ela estava uma gracinha no filme, mas depois, na vida real, revelou-se também uma maluquete. Apesar dos milhões que ganhava, era cleptomaníaca e roubava roupas de marca em lojas de Beverly Hills. Também utilizava drogas tarja preta sem receita e dizia-se "aquafóbica". Foi internada em uma clínica. A vida imita a arte, e vice-versa.

Depois do Nobel para Obama e outras ignobilidades recentes, o blogueiro aqui também anda em dúvida se foi ele ou o mundo que enlouqueceu.

Por outro lado, será que essa loucura do mundo é novidade mesmo? A contemporaneidade nos faz pensar que esta época seja mais bizarra do que as anteriores, mas talvez isso seja só um efeito ilusório. Temos muito mais informação sobre o presente, enquanto do passado filtramos só alguns fatos que permaneceram e foram registrados pelos historiadores.

Mas a verdade é que não é de hoje que o comitê de noruegueses apronta. Em 1929, um outro político americano, Frank B. Kellogg, ganhou o prêmio Nobel da Paz. Não por ter inventado os sucrilhos (esse foi outro Kellogg), mas por ter criado o Pacto Kellogg-Briand, documento que "abolia a guerra como instrumento de política nacional". Infelizmente, esqueceram de avisar a Hitler, Hirohito, Mussolini e Stalin, bem como o próprio Roosevelt, e as boas intenções perderam-se na noite dos tempos.

Tudo bem. Mas uma das definições da loucura é "repetir os mesmos erros esperando um resultado diferente". Temo que, a julgar pelo ocorrido em situações similares no passado, nos encaminhemos para uma nova guerra mundial ou coisa pior.

Esta época pode até não não ser a mais maluca da História, mas tem o agravante de ser a época na qual estamos vivendo. Como disse uma vez Jorge Luis Borges, "le tocó, como a todos los hombres, malos tiempos en que vivir."

Mr X vai se internar por alguns dias e volta depois. Ou não.




A loucura das elites

Um divertido vídeo de 4 minutos (abaixo) mostra a hipocrisia das elites "ecologistas" que pretendem nos educar, e que viajam de avião por todo o mundo para explicar porque é errado viajar de avião. Façam o que e digo mas não façam o que eu faço: eis o lema do progressismo mundial.

É a mesma coisa que se vê toda hora aqui e alhures: os maiores progressistas, os que mais gritam a favor do socialismo, do ecologismo, da saúde pública ou dos direitos umânus dos criminosos, são os que usam o celular último modelo, os carros mais possantes e as roupas mais na moda. Sua suposta preocupação com os fracos e oprimidos é mera questão de status, para mostrar a seus colegas como são melhores do que eles. "Salvem as baleias palestinas e as focas africanas", dizem, enquanto viajam a Paris para uma conferência sobre aquecimento global. Diminuir o próprio consumo ou fazer caridade com o próprio dinheiro, nem pensar.

Curiosamente, o povo continua conservador, fato constantemente lamentado pelos esquerdistas; foram as elites que enlouqueceram.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A política do wishful thinking

A Academia surpreendeu o mundo dando o Prêmio Nobel da Paz para Obama. Não que ele não fosse o candidato ideal para esse grupo de velhotes que já premiou criaturas obscenas como o terrorista Yasser Arafat e a picareta Rigoberta Menchu. Mas é que Obama, fora belos discursos, não fez ainda NADA digno de nota na sua administração. Zero, zilch, nulla, nada. O próprio Saturday Night Live, dominado por escritores esquerdistas, fez um esquete observando a curiosa falta de acomplishments do presidente-celebridade.

Qual famoso acordo de paz Obama celebrou em seus oito meses de governo? Qual ação de sua administração poderia ter sido usada como desculpa para o prêmio? E notem ainda que, de acordo com as próprias regras da Academia, as ações que contam para o prêmio teriam de ocorrer antes de 1 de fevereiro de 2009. Ou seja, para o comitê sueco norueguês (ao contrário dos outros Nobel, o prêmio da paz é escolhido por um comitê norueguês), a grande ação de paz de Obama foi mesmo se eleger presidente.

Como mesmo seus discursos - um no Egito bajulando o povo muçulmano, outro na Europa pedindo um mundo sem armas nucleares - tiveram resultados negativos, isto é, resultaram apenas em posturas mais agressivas de inimigos "países incompreendidos" como Coréia do Norte e Irã, só podemos concluir uma coisa: para o Comitê Nobel, resultados não contam. Nem mesmo acordos de paz contam. Contam só belos discursos, só o wishful thinking. Se eu amanhã subir em um caixote e disser em praça pública que desejo um mundo de paz em que todos vivam de mãos dadas, corro o sério risco de receber um Nobel na cabeça.

Isso é perigoso. É perigoso para Obama, pois gera expectativas que não serão cumpridas: temo que, daqui por diante, vai ser só ladeira abaixo para o rapaz.

É perigoso para o mundo, pois a idéia de que as palavras e as (supostas) boas intenções sejam mais importantes do que as ações, embora seja um firme dogma da esquerda, não funciona no mundo real. Em breve teremos um Irã com armas nucleares e uma possível proliferação por todo o Oriente Médio, e não há discurso de paz que possa resolver esse pepino.

Mas talvez o comitê tenha escolhido Obama agora justamente por essa razão: em um ano, quando a situação mundial pegar fogo, mísseis voarem e a popularidade do presidente estiver rastejando, será tarde.

Isso nos leva também a uma certa teoria da conspiração. Quer dizer, Obama é um mistério. Praticamente tudo o que ele conquistou foi menos por mérito do que por sorte ou indicação. Vejam bem: depois de ter feito um college medíocre e viver em meio a drogas e dissolução, de repente começou uma ascenção vertiginosa. Foi aceito em Harvard. (Não se sabe quais notas teve, pois ninguém divulga.) Ganhou um contrato para escrever duas autobiografias, sem ter escrito previamente um panfleto sequer (há quem diga que Bill Ayres seja o ghost-writer desses livros). Virou Senador antes de ter tido qualquer emprego. Foi eleito Presidente na base da esperança. E, agora, ganha o Nobel antes de ter feito qualquer coisa para merecê-lo.

Só há duas explicações: ou ele é apenas uma marionete de um poderoso grupo globalista internacional, ou ele é mesmo o Anticristo.

O villain, villain, smiling, damned villain!
My tables,—meet it is I set it down,
That one may smile, and smile, and be a villain;
(Hamlet, Act I, Scene V)



quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O artista enquanto estuprador

Sobre o caso Polanski, todos já estão carecas de saber. Porém eu não sabia que também William Golding, autor de "O Senhor das Moscas", foi acusado de tentar estuprar uma garota de 15 anos, embora pareça não ter passado de uma tentativa inocente quando ele próprio tinha apenas 18. (Depois, de fato, ambos viraram namorados e dedicaram-se a transar em parques enquanto o pai de Golding (!) observava a cena com binóculos.)

Arthur Koestler, autor de "Darkness at Noon", também parece ter estuprado sua cota de mulheres. E, segundo este artigo, também eram estupradores Jack London e Geoffrey Chaucer. Poe não estuprou ninguém, mas era alcoólatra e casou com uma menininha de 13, o que hoje, fora das terras de Maomé, seria chamado de pedofilia.

O clichê do artista pervertido é um velho mito, mas será que é mesmo realidade?

Afinal, proporcionalmente, há provavelmente muitos mais artistas que não dedicaram-se ao crime ou à sacanagem explícita do que aqueles que o fizeram. No entanto, o mito persiste.

Talvez a figura do artista maldito, da associação da arte com o crime, a imoralidade ou a loucura seja algo relativamente recente, fruto do período romântico e, posteriormente, das destrutivas vanguardas do início do século.

E o que ocorre hoje em dia é que - definitivamente enterrado o conceito de "beleza" - já não é mais possível distinguir, em muitos casos, a arte da psicose. Artistas que utilizam o próprio sangue para fazer esculturas; artistas que mergulham um crucifixo em urina e chamam de arte; artistas que exibem a própria cama suja em uma galeria e chamam de arte; artistas que enforcam manequins de crianças e chamam de arte; e mesmo um artista que deixa um cachorro morrer de fome em uma galeria e o chama de - o que mais? - arte.

Sob essa perspectiva delirante, o próprio estupro poderia ser considerado uma forma de arte performática. Se para o músico pós-modernista Karlheinz Stockhausen os atentados de 11 de setembro foram "a maior obra de arte jamais criada", então o ato radical de Polanski poderia ser considerado sua obra maior, uma exploração das profundezas tenebrosas da maldade humana mais potente do que "O bebê de Rosemary" e "Chinatown" juntos.

Felizmente, o culto da arte niilista parece estar com seus dias contados. Hollywood está em crise, é não apenas devido à concorrência com Netflix e The Pirate Bay: o pessoal realmente está pouco interessado. As artes plásticas? Bem, faz alguns anos toda uma coleção de arte britânica dos anos 90 pegou fogo, e a resposta do público foi de júbilo. E nem falemos da arquitetura moderna e seus estupros visuais, desprezada por quase todas as pessoas de bem.

Tenho para mim que um dia retornaremos à Beleza como paradigma, e que a Grande Arte de novo renascerá. Mas para isso talvez seja necessária uma profunda reorganização social e política, e o abandono do culto ao niilismo, que é talvez o mal das últimas décadas, e do qual a questão artística é apenas uma de várias manifestações.


Atualização: A obra que ilustra o post é uma gravura de Otto Dix, considerada "arte degenerada" pelos nazistas. Ou seja, estou ciente da ambiguidade em imaginar ou desejar alguma arte supostamente "melhor" ou "mais pura". (Na verdade, gosto de Otto Dix). Também os comunistas quiseram impedir certos tipos de arte e instituir outros, mas o "realismo socialista" é responsável por algumas das imagens mais horrendas deste século, inclusive o edifício do "estupro visual" acima, erigido na Coréia do Norte. A questão não é desejar que a arte seja apenas beleza clássica ou que os artistas sejam todos santinhos; mas, se a arte é sempre um espelho do mundo (nos dizeres de Hamlet), então a arte de hoje em dia diz muito sobre a nossa sociedade. Bem como a tolerância com certos artistas transgressores. A arte niilista reflete uma sociedade niilista, que não sabe mais quais são seus valores.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Por que os políticos mentem?

Finalmente encontro a resposta para essa pergunta que tem torturado tantas almas inquietas. A razão é a mesma pela qual os carros usados em venda são quase todos uma porcaria: a lei de Gresham. Quando um mercado oferece coisas ruins e boas pelo mesmo preço médio, os produtos de qualidade que não podem obter um preço melhor por esta tendem a sumir.

No caso da política, o que ocorre é que as pessoas honestas observam o horror dos acordões e mensalões e preferem não participar do processo, pois não querem se sujar entrando nesse lamaçal. Desse modo, praticamente só mentirosos e ladrões entram na política. A honestidade não compensa: um político que não mente e não rouba não tem nenhuma vantagem sobre aquele que o faz. Aliás, um político mentiroso tem mais chances de ser eleito e reeleito. Por quê?

Porque um político que diz que "vai acabar com a corrupção" só pode ser duas coisas, um ingênuo ignorante, ou um mentiroso canalha. Fazer política é, por definição, mentir; portanto alguém que se faz passar por honesto só pode ser o maior mentiroso do mundo. E, para o público, é preferível alguém que "rouba mas faz" do que alguém que vai desiludi-lo com falsas promessas de honestidade, para depois meter a mão na cumbuca. Melhor a "ladroagem honesta" do que a hipocrisia. Ética não vende na política.

Além disso, dizemos que não gostamos de políticos safados e mentirosos, mas, na verdade, o público votante gosta de mentiras. A maior prova disso é que ladrões e corruptos são constantemente reeleitos. O público prefere um político que diz o que o povo quer ouvir, não a amarga verdade. Um candidato que promete "empregos, saúde e educação para todos" é mil vezes preferível aos olhos da maioria da população a um hipotético candidato que explicasse que o número de empregos pouco tem a ver com ações governamentais (salvo que se tratem de empregos públicos para parentes) ou que dissesse que não existe almoço grátis, quanto menos saúde e educação gratuita de qualidade para todos. O povo quer doce de leite, não leite de magnésia, mesmo que tenha dor de barriga depois. Assim, os realistas são rejeitados, os mentirosos prosperam.

Isso, naturalmente, gera um círculo vicioso. Quanto mais nojenta a política, menos as pessoas honestas e sérias têm interesse em participar. Quantas moças virgens, castas e religiosas se prostituem para moralizar o negócio?

A grande dúvida é: existe uma saída para isso? Ou é um defeito da própria democracia? Já Tocqueville, há duzentos anos, havia observado que os políticos tinham uma moral curiosamente mais flexível do que a do povo. Hoje a coisa está muito pior.

Vote em mim.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

História de um vira-casaca

É curiosa a história de Charles Johnson e seu blog Little Green Footballs. Após os ataques de 11 de Setembro de 2001, tornou-se o mais celebrado blogueiro anti-jihad dos EUA e, talvez, do mundo.

Oito anos depois, tendo comprado briga com metade da blogosfera, virou obamista e critica quase todos os blogueiros conservadores que antes eram seus aliados, acusando-os de racistas ou teocráticos. Nem Robert Spencer, do Jihad Watch, ou o Pajamas Media, site neocon que ele próprio ajudou a criar, escaparam de sua crítica purista. Hoje, seus maiores inimigos não são mais os jihadistas, mas sim os malvados cristãos criacionistas.

Para quem quer entender a polêmica, este artigo do Gates of Vienna explica melhor o que aconteceu. Mais aqui no Atlas Shrugs. (O respeitável Victor Davis Hanson, ao contrário, saiu em defesa de Charles.)

Polêmica à parte, Charles Johnson, na verdade, nunca foi exatamente um conservador, mas sim um liberal assaltado pela realidade (dos ataques de 9/11). Após oito anos sem atentados, reverteu ao seu estado natural. O mesmo aconteceu com muita gente boa. Outro exemplo é Andrew Sullivan. Passado o susto, passou o conservadorismo.

(Na verdade, o liberalismo e o Islã parecem opostos, mas talvez sejam aliados sem sabê-lo. Assim como o lado B do pacífico flower-power hippie é Charles Manson, o outro lado do multiculturalismo é o conflito tribal e o fundamentalismo islâmico. É a tolerância que permite a chegada dos intolerantes.)

Será que um novo atentado islâmico acordará mais uma vez os liberais? Ou os muçulmanos ficaram espertos e preferem a "jihad lenta" da imigração e da mudança de leis?

domingo, 4 de outubro de 2009

Poema do domingo

Epigrama de Stalin

Nós vivemos, mas não sentimos a terra sob os pés
Dez passos andando e não podemos ouvir,

E quando há pessoas suficientes para metade de um diálogo
Elas se lembram do alpinista do Kremlin.

Seus dedos gordos são escorregadios como lesmas,
E suas palavras são absolutos, como medidas de merceiros.

Suas antenas de barata estão rindo,
E sua bota nova brilha.

E ao redor dele a turba de chefes de pescoço curto -
Ele brinca com os serviços de meios-homens.

Quem gorjeia, mia ou geme,
Ele sozinho empurra e golpeia.

Ele esmaga-os como ferraduras, com decreto após decreto
Na virilha, na testa, no rosto, ou no olho.

Quando há uma execução, há tratamento especial,
E o peito ossétio se infla.

Osip Mandelstam (1891-1938) *

* Executado a mando de Stalin por causa deste poema

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O caso Polanski

Polanski é com certeza um dos poucos grandes artistas do cinema mundial. Nem digo por "O Pianista", que embora tenha cenas marcantes não é seu melhor filme, mas por seu trabalho nos anos 60 e 70, desde os curtametragens surrealistas que fez na Polônia, "Repulsion" com a jovem Catherine Deneuve (será que ele a traçou também?), à obra-prima "O Bebê de Rosemary", "Chinatown", e finalmente o trabalho talvez mais enigmático, o filme "O inquilino", com Isabelle Adjani (idem à pergunta anterior) e o próprio Polanski como ator.

Todos esses filmes foram realizados antes de sua relação com a jovem Samantha Geimer, cujos detalhes sórdidos podem ser lidos aqui, nas palavras da própria vítima, em uma entrevista trinta anos depois. Os atos de sua declaração à polícia na época do evento, aos 13 anos, também estão disponíveis em algum lugar, basta usar o Google. Mas, resumindo: Polanski a convidou para uma "sessão de fotos", deu-lhe champanhe e ofereceu drogas (Quaalude), e finalmente, levou-a para o quarto e cráu. De todas as formas possíveis. Samantha não resistiu nem sofreu violência física, mas sempre disse não. Tratou-se, claramente, de sexo não-consensual com uma menor de 14 anos. Ou, estupro.

Não, a moça não era virgem, já havia experimentado álcool e drogas, foi sozinha à sessão de fotos com pleno conhecimento da mãe, e perdoou Polanski após um acordo civil em 1997, mas nada disso muda o caráter do crime.

Digamos que Polanski teve uma vida atribulada: passou a infância no Gueto de Varsóvia, e sua mãe morreu em um campo de concentração. Em 1969, no auge da fame e fortuna, sua mulher Sharon Tate, grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada em Los Angeles por uma gangue de psicopatas enquanto ele filmava na Europa.

Há um documentário que coincidentemente recém estreou - assisti hoje - sobre o caso Polanski, chama-se "Roman Polanski: Wanted and Desired". O filme, que foi lançado antes da recente prisão na Suiça, tenta ser imparcial, embora tendendo a ser pró-Polanski, já que centra-se muito pouco no crime em si e muito mais no modo em que o juiz, aparentemente de modo irregular, teria melado de última hora um acordo entre a defesa e a promotoria.

(Hoje, nova reviravolta: um District Attorney que aparece no filme afirmou ter mentido no seu depoimento à diretora, dizendo não ser verdade uma conversa que teria influenciado o juiz. Mais lenha na fogueira.)

O mais irônico de tudo é que, se Polanski não tivesse fugido, e tivesse ficado nos EUA até o fim de seu julgamento, provavelmente teria uma sentença bem menor do que a que terá agora (caso seja extraditado). O fato é, graças ao acordo feito, a única acusação que contou no período foi a de ter relações sexuais com uma menor. As outras acusações - estupro com suministração de drogas e bebida a uma menor, perversão e sodomia - não foram nem consideradas. Hoje, provavelmente (fora sodomia, que acho que não é mais crime), ele poderia ser acusado de estupro e morrer na cadeia. E provavelmente é o que acontecerá, se a extradição ocorrer.

Bem, Polanski arriscou. Em vez de passar um par de anos de sua juventude em cana, preferiu fugir, mas agora corre o risco de passar uma melancólica velhice na prisão.

Em virtude de sua obra, tenho certa simpatia por Polanski, certamente mais do que por Michael Jackson e O. J. Simpson, dois notórios criminosos-celebridade injustamente absolvidos. Mas acredito que ele seja culpado, sim, e que é um fugitivo da Justiça, e que cometeu um crime que não pode ser menosprezado. Talvez na França ou no Brasil transar com garotinhas de treze anos não seja crime, mas nos Estados Unidos ainda é, e são bastante rígidos a respeito.

E não, não acredito que os artistas ou as celebridades devam ser isentas da obediência à lei, por mais que Hollywood diga o contrário.

Por outro lado, em um mundo em que um terrorista que matou 287 pessoas é liberado em nome de supostas "causas humanitárias", parece-me um pouco exagerada tanta sanha em perseguir Polanski 31 anos depois por um crime pelo qual a própria vítima já o perdoou. Porém, dura lex, sed lex.


Atualização: um texto bem duro contra Polanski, na geralmente-de-esquerda Salon. E uma defesa, pela autora de Gulag: A History, Anne Applebaum. E o leitor, o que pensa?

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

A vitória da esquerda é a derrota da esquerda

Segundo algumas teorias, o pior que aconteceu a Napoleão foi ter conseguido invadir Moscou. Pois foi justamente após a sua vitória que as coisas degringolaram. Na retirada, surpreso pelo inverno russo, o francês perdeu milhares de soldados. A campanha russa foi o início de sua derrocada.

Assim, segundo alguns, seria com a esquerda: tendo conseguido finalmente o seu objetivo maior - a presidência dos Estados Unidos! - não sabe mais o que fazer, e começa a perder terreno. A Europa vota em candidatos de direita, e nos EUA as políticas pró-socialistas de Obama são rejeitadas. A esquerda ainda avança, é claro, mas um pouco como uma barata tonta, desde a palhaçada em Honduras à incompetência de Obama em aprovar um plano de saúde pública, mesmo tendo maioria no Congresso.

Por outro lado, a ameaça de uma crise econômica total gerada pelos crescentes débitos americanos ainda existe.
Wretchard anda meio apocalíptico, acreditando que nos avizinhamos a uma crise mundial, que poderá ser bélica, econômica, ou as duas coisas ao mesmo tempo. E tudo isso graças à vitória das políticas de esquerda a nível global. Observa Richard "Wretchard" Fernandez:

They used to say about the USSR that it got better every year until it finally collapsed. The moral authority of “Communist Party” collapsed, and its associated nomenklatura. Ultimately Pravda became a joke. In the end very little worked. But the USSR had one invaluable thing going for it — the rest of the world was working: a source of free energy to give them CPR when the Leninist heart stopped beating. There was a life ring to hang on to when they finally decided they were drowning. “I give up, now give me money”. East Germany had the West; North Korea has South Korea. In general socialism had the West to feed them and then they could pretend it was because they “learned the lessons of socialism” and became more “humane”. At first the self-deception seemed merely amusing. Now we see it’s not just self-deception. It’s madness which is having an actual effect. But if the US goes down, who’s going to bail it out? What happens if the lender of last resort goes bust? If Cuba goes under, there’ll be relief from the West. If the West goes under, will Africa save it? No. The West has to save itself. That or nothing. This is why a left wing victory in the West is ultimately far more catastrophic than the USSR was for the world. It’s rot at the core of the system.

Se a esquerda vencer, a esquerda perde - e todos perdemos. Pois a política da esquerda resume-se a uma espécie de parasitismo: como Robin Hood, tira dos ricos para dar aos pobres. Mas, e quando não houver mais ricos? Os países comunistas, depois do desastre, tiveram quem os ajudasse. A Europa, depois da guerra, teve quem a ajudasse. Mas se EUA implodir, quem poderá ajudá-lo? O Chapolim Colorado?