Não é um post, é só uma pergunta mesmo. No outro dia fui multado por ter atendido o telefone celular enquanto dirigia. Durou uns trinta segundos, com azar suficiente para ser observado por um policial. Certamente a multa diminuirá o meu uso do aparelho no carro. Mas será que diminuirá a probabilidade que eu me envolva em acidentes de trânsito em geral?
Um recente estudo nos informa que novas leis banindo o uso do aparelho celular no carro não reduziram em nada o número de acidentes em vários estados americanos. Será que utilizar o celular não é assim tão perigoso, ou que a polícia simplesmente não está fiscalizando o suficiente? (Detalhe: falar ao telefone com bluetooth ou fone de ouvido, embora em geral permitido, distrai igualmente, tanto quanto segurar o telefone com a mão; mas há muitas outras atividades que também podem distrair tanto quanto telefones, como mudar a estação de rádio, olhar para o GPS, discutir com o companheiro do lado, etc, e que no entanto não são reguladas por lei.)
É claro que o uso do celular é uma questão menor. O que dizer de atitudes mais graves, como ir além da velocidade permitida, ou dirigir embriagado? Com a curiosidade atiçada, fui verificar os dados sobre a recente "lei seca" no Brasil, instituída em 2008. Para minha surpresa, descobri que ela não reduziu o número de mortes em acidentes de trânsito, ou, melhor: reduziu-os um pouco durante o primeiro ano, mas depois os números em quase todas as capitais voltaram ao seu nível "normal".
O que poderia significar isso? Que a lei relaxou, ou que as pessoas relaxaram? Que a polícia passou a ser menos eficiente, ou que, após o susto tomado pelo surgimento de uma lei mais rígida, as pessoas se habituaram ao "novo normal", e passaram novamente a beber e dirigir, embora o preço a pagar fosse maior? A segunda alternativa é possível, condiz com o comportamento humano observado em outras instâncias. Mas a primeira opção não pode ser descartada enquanto não tivermos outros dados. Por exemplo, alguns observam que, nesse mesmo período de três anos, o número geral de automóveis circulando nas estradas aumentou. Outros observam como as redes sociais passaram a ser utilizadas para identificar onde estão ocorrendo as blitze, e evitá-las.
Se não existissem multas de trânsito de qualquer tipo, será que o número de acidentes aumentaria ou permaneceria igual? Na Alemanha, em muitas estradas não há limite de velocidade; o país tem menor número de acidentes mortais do que muitos outros.
Ninguém quer ter acidentes, afinal danificam a propriedade ou a vida da pessoa. Naturalmente, portanto, mesmo sem qualquer tipo de multa, a probabilidade é que os acidentes jamais passem de um certo patamar. Porém, todos sabemos que existe um número -- por ora indeterminado -- de motoristas imprudentes, agressivos, desrespeitosos, imbecis, em suma, barbeiros filhos da puta. Eles são os responsáveis por 90% dos acidentes e, como parecem imunes a qualquer tipo de punição, os acidentes continuam a acontecer.
Alguns falam em educação como meio alternativo de redução de acidentes. Pode ser. Porém, como educar toda uma população? Uma questão curiosa é a da faixa de segurança, sobre a qual sempre há campanhas educativas, as quais no entanto não parecem surtir muito efeito. Parar ou não à sua frente para permitir a passagem de pedestres parece ser algo cultural, relativo ao caráter de um povo, independente do país ser de Primeiro ou Terceiro Mundo. Na Espanha, recentemente, observei que quase todos páram. Na França e na Itália, te atropelam. Nos EUA tendem a parar. Ouvi dizer uma vez que em Brasília uma campanha educativa teria conseguido o milagre de fazer motoristas brasileiros se deterem à frente da faixa, mas talvez sejam só boatos.
Multas reduzem acidentes? E, se não reduzem, mas são apenas meios para aumentar a caixinha do Estado, então qual seria o melhor meio para reduzi-los?
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Para que servem as prisões?

Theodore Dalrymple -- sempre ele -- mata a charada: independente do possível benefício ou malefício da prisão para o criminoso, para o cidadão que cumpre a lei a cadeia serve ao menos para uma coisa: enquanto o bandido está preso, ele não está lá fora matando, roubando ou estuprando.
Na canção "San Quentin", gravada ao vivo na prisão de San Quentin, Johnny Cash canta: "San Quentin, what good do you think you do? / Do you think I'll be different when you're through?"
Realmente, os próprios bandidos sabem e assumem que, ao saírem da cadeia, provavelmente continuarão a matar, roubar, fraudar, vender drogas, ou seja lá qual era a sua "ocupação" anterior. Os que não o fazem são poucos: de acordo com estatísticas brasileiras, 80% dos bandidos voltam a cometer crimes depois de sair da prisão. Em alguns casos, não esperam nem a saída, já começam a matar no ridículo "semi-aberto".
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quinta-feira, 1 de julho de 2010
O povo quer armas!
O povo americano quer manter seu direito a usar armas de fogo:
A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu nesta segunda-feira que os estados federados não podem limitar ou proibir os cidadãos de possuir armas de fogo, como garante a Segunda Emenda da Constituição. Ao revogar uma proibição de Chicago (Illinois) sobre porte de armas de fogo, a máxima instância judicial americana declarou inconstitucional qualquer restrição nesse sentido por parte dos estados e dos governos locais. Em um duro golpe contra aqueles que buscam um maior controle das armas nos Estados Unidos, o juiz Samuel Alito disse que a Constituição é clara sobre o direito dos cidadãos de portar armas para sua defesa pessoal.Depois do aborto e da pena de morte, o controle de armas talvez seja o tema mais divisivo e polêmico na sociedade atual. E com boa razão. Armas podem servir tanto para o bem quanto para o mal.
Guns don't kill people. Cats with guns kill people.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Polícia para quem precisa
Um policial de Seattle teve a má idéia de repreender duas adolescentes negras por atravessarem a rua fora da faixa de segurança. Elas ficaram invocadas com o policial, e partiram para o empurra-empurra. O policial terminou dando um soco na cara de uma das jovens e prendendo a outra, em vídeo polêmico que está circulando por aqui.
Não é a primeira confusão. Em outro vídeo, policiais da mesma cidade são mostrados agredindo um suspeito mexicano. "I'll beat the Mexican piss out of you", diz um. Resultou depois que o suspeito era inocente e foi liberado.
A polícia é racista? A polícia é do mal?
Não é a primeira confusão. Em outro vídeo, policiais da mesma cidade são mostrados agredindo um suspeito mexicano. "I'll beat the Mexican piss out of you", diz um. Resultou depois que o suspeito era inocente e foi liberado.
A polícia é racista? A polícia é do mal?
quarta-feira, 12 de maio de 2010
O que fazer com os piratas?
Faz um ano, americanos capturaram um pirata somaliano, que foi levado à corte americana e ainda aguarda julgamento. Europeus continuam discutindo longamente quais "leis internacionais" deveriam reger o crime de pirataria, e como resolver essa difícil parada.
Os russos são diferentes. Poucos dias atrás, capturaram um grupo de piratas que havia tentado seqüestrar um de seus navios. Afirmaram que os piratas tinham sido libertados. Hoje admitem que, após serem libertados, "os piratas morreram." Não explicou-se as causas. Naturais, provavelmente.
No mesmo dia, o líder da "Comissão Anti-Pirataria da Comunidade Européia" afirmou que um navio que estava há mais de um mês em poder dos piratas foi finalmente liberado -- após o pagamento de resgate.
É provável que os piratas agora ataquem menos navios russos, e mais navios americanos e europeus.
Os russos são diferentes. Poucos dias atrás, capturaram um grupo de piratas que havia tentado seqüestrar um de seus navios. Afirmaram que os piratas tinham sido libertados. Hoje admitem que, após serem libertados, "os piratas morreram." Não explicou-se as causas. Naturais, provavelmente.
No mesmo dia, o líder da "Comissão Anti-Pirataria da Comunidade Européia" afirmou que um navio que estava há mais de um mês em poder dos piratas foi finalmente liberado -- após o pagamento de resgate.
É provável que os piratas agora ataquem menos navios russos, e mais navios americanos e europeus.
terça-feira, 27 de abril de 2010
Arizona
Escrevo hoje sobre uma questão complexa, a imigração ilegal aos EUA. Como todos devem saber, o estado do Arizona criou uma nova lei contra os imigrantes ilegais. Ou melhor: a única coisa que fez foi tomar para si o cumprimento de uma lei que deveria ser responsabilidade federal: considerar os ilegais como... ilegais.
É claro que, nestes dias que correm, quase todos os preferem chamar de "indocumentados" e os consideram vítimas de "preconceito", como se fosse apenas a maldade dos Republicanos que os impedisse de ter os mesmos direitos que qualqueroutro cidadão. Em recente protesto nas ruas contra a medida, um estudante de Ciências Políticas afirmou: "essa lei criará um estigma contra os indocumentados!". Lamento informar ao rapaz, mas há tempos que existe um estigma contra eles. Todos os que pagam imposto, bem como os imigrantes legais, não estão nem um pouco contentes com quem fura a fila, não paga nada e ainda assim recebe os mesmos direitos do que os outros.
Sim, é verdade que a maioria desses imigrantes são apenas pessoas que desejam melhorar de vida, que saem de um país pobre e terceiromundista em busca de maiores oportunidades, e não há como não ter simpatia em alguns casos. Por outro lado, se todos têm o direito de chegar e se estabelecer no país, quando é que a coisa pára? Afinal, há seis bilhões de pessoas no planeta...
Em recente pesquisa feita no México, 50% da população afirmou que desejava emigrar para o país do norte. Nesse caso não seria mais fácil anexar o México? Ao menos os EUA aumentariam seu território e teriam acesso a praias de água mais cálida.
Tem mais. Se alguém chega ilegalmente, que já desde a entrada burla as leis do país, que tipo de cidadão será no futuro? Acrescente ainda que muitos ilegais estão envolvidos em (outros) crimes, e tem-se uma receita para o caos social.
Obama, curiosamente, não gostou da lei. (Obama é presidente dos EUA ou do México?) Muitos outros políticos Democratas tampouco gostaram. Os muçulmanos não gostaram. Nem a The Economist gostou, para não falar do New York Times.
A lei ilustra ainda uma outra tendência: os Estados querendo cada vez mais legislar em causa própria, contra o que veêm como tirania federal. Vem mais por aí. O Estado da Flórida quer repelir nas suas fronteiras a obrigação do Plano de Saúde de Obama. E o mesmo estado do Arizona instituiu uma outra lei, esta exigindo que os candidatos à presidência apresentem seu certificado original de nascimento. O que complicaria as coisas para Obama em 2012. (Arizona parece estar na vanguarda da luta anti-Obama.)
Simpatizo mais com os mexicanos do que com os muçulmanos, e, como estrangeiro, não posso ser um nacionalista xenófobo. Além disso, acho a cultura popular americana um pouco vazia (prefiro a cultura européia). Mas, por mais que se queira distorcer as palavras, imigrantes ilegais... são ilegais. E em épocas em que não há dinheiro ou empregos, não há como convencer a população local a recebê-los de braços abertos.
É claro que, nestes dias que correm, quase todos os preferem chamar de "indocumentados" e os consideram vítimas de "preconceito", como se fosse apenas a maldade dos Republicanos que os impedisse de ter os mesmos direitos que qualquer
Sim, é verdade que a maioria desses imigrantes são apenas pessoas que desejam melhorar de vida, que saem de um país pobre e terceiromundista em busca de maiores oportunidades, e não há como não ter simpatia em alguns casos. Por outro lado, se todos têm o direito de chegar e se estabelecer no país, quando é que a coisa pára? Afinal, há seis bilhões de pessoas no planeta...
Em recente pesquisa feita no México, 50% da população afirmou que desejava emigrar para o país do norte. Nesse caso não seria mais fácil anexar o México? Ao menos os EUA aumentariam seu território e teriam acesso a praias de água mais cálida.
Tem mais. Se alguém chega ilegalmente, que já desde a entrada burla as leis do país, que tipo de cidadão será no futuro? Acrescente ainda que muitos ilegais estão envolvidos em (outros) crimes, e tem-se uma receita para o caos social.
Obama, curiosamente, não gostou da lei. (Obama é presidente dos EUA ou do México?) Muitos outros políticos Democratas tampouco gostaram. Os muçulmanos não gostaram. Nem a The Economist gostou, para não falar do New York Times.
A lei ilustra ainda uma outra tendência: os Estados querendo cada vez mais legislar em causa própria, contra o que veêm como tirania federal. Vem mais por aí. O Estado da Flórida quer repelir nas suas fronteiras a obrigação do Plano de Saúde de Obama. E o mesmo estado do Arizona instituiu uma outra lei, esta exigindo que os candidatos à presidência apresentem seu certificado original de nascimento. O que complicaria as coisas para Obama em 2012. (Arizona parece estar na vanguarda da luta anti-Obama.)
Simpatizo mais com os mexicanos do que com os muçulmanos, e, como estrangeiro, não posso ser um nacionalista xenófobo. Além disso, acho a cultura popular americana um pouco vazia (prefiro a cultura européia). Mas, por mais que se queira distorcer as palavras, imigrantes ilegais... são ilegais. E em épocas em que não há dinheiro ou empregos, não há como convencer a população local a recebê-los de braços abertos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010
Pedofilia, homossexualismo e catolicismo
Faz pouco tempo, o católico Reinaldo Azevedo manifestou-se, surpreendentemente, contra o celibato dos padres católicos. Não vou entrar agora na questão, embora seja verdade que o costume foi instituído séculos após o início do cristianismo, e que na Igreja Ortodoxa, de tradição anterior à Católica, os padres podem casar. Isso sem falar em pastores protestantes, rabinos, imams e quetais, todos casamentáveis.
Porém, essa questão da pedofilia na Igreja Católica está dando o que falar.
É verdade que oitenta e tantos por cento dos abusados eram garotos do sexo masculino, pós-púberes, entre 11 e 17 anos, e trinta por cento destes tinham entre 15 e 17. (Pedofilia, strictu sensu, é com menores de ambos os sexos que ainda não atingiram a puberdade. Lolita tinha 12.). Não que isso torne o crime menor ou menos repreensível, mas causa uma discussão interessante. Se a maioria das vítimas são adolescentes ou pré-adolescentes do sexo masculino, o que está ocorrendo é, acho, uma coisa que pouco tem a ver com o celibato em si.
Ora, se você é um heterossexual celibatário continuará - imagino eu - tendo desejos por mulheres. De fato, os padres nunca foram santos. Bocaccio, no Decameron, conta dezenas de histórias de padres e freiras fornicando por aí. Alguém condenado ao celibato poderia tomar uma amante, ou prostitutas, ou até abandonar o sacerdócio e casar. Por que escolher garotos? A resposta é simples. Esses padres são gays. Sentem atração por homens, isto é, garotos. Eram gays antes de entrar na Igreja, e continuaram sendo depois.
O problema é que aí entra-se numa cilada. Os gays, que criticam a Igreja católica, poderão criticar os padres por serem gays? Quando, anos atrás, a Igreja Católica tentou verificar e impedir a entrada de seminaristas com possíveis tendências homossexuais nos seminários, houve gritos dos grupos gays.
Admitir padres gays seria uma solução, ou aumentaria o problema? E permitir o casamento, resolveria? Não esqueçamos que grande parte dos pedófilos (e homossexuais) são casados, com filhos. Isso não lhes impede de continuar procurando garotinhos/as, ou até de abusar dos próprios filhos e sobrinhos.
Outros argumentam que a culpa é sim do celibato, e que os padres não eram necessariamente pedófilos ou homossexuais, mas atacaram meninos apenas porque é o que tinham mais à mão. Mas, nesse caso, por que não contratar uma prostituta, ou até um michê, como nobremente fez o padre Sir Lancelott?
Vivemos em uma época esquizofrênica. Por um lado, as crianças e adolescentes são bombardeados com sons e imagens explicitamente sexuais, da dança da vassoura à suposta arte moderna. Por outro lado, o mesmo mundo horroriza-se quando essas mesmas crianças erotizadas passam a interagir com adultos no mundo real.
Claro que o sexo de adultos com crianças pré-adolescentes é uma aberração, e seus praticantes deveriam ser imediatamente castrados a facão (de preferência, enferrujado e sem fio). Ou então se deveria fazer como fez este pai aqui.
O problema é que a suspeita de pedofilia contaminou tudo. Mesmo os contatos mais inocentes, como por exemplo tirar fotos de crianças em um parque, hoje são vistos com extrema suspeita. Nos EUA, mesmo encostar em uma criança alheia por acidente pode dar problema. Li que há alguns anos, um menino de 9 anos foi atropelado, e nenhum adulto aproximou-se para ajudar - por medo de serem acusados de pedofilia!
O curioso é que, há meros séculos atrás, garotas de apenas 13 anos já casavam, ainda que tivessem que ter a permissão dos pais. No Sul dos EUA, esse costume durou até poucas décadas atrás. Edgar Allan Poe casou com uma prima de 13 anos. Jerry Lee Lewis, idem. (E Woody Allen casou com a filha adotiva, embora isso nada tenha a ver com a história.)
Hoje, ao contrário, tanto homens quanto mulheres casam muito mais tarde, portanto exigir celibato pré-nupcial é algo muito difícil, que ocorre apenas com pessoas muito religiosas. E, mesmo assim, nem sempre.
O que é diferente é que, hoje, quase todas as aberrações sexuais são vistas como normais, e até mesmo celebradas. A única exceção, o último tabu, é a pedofilia. (Até incesto, se feito por maiores vacinados, já é aceito por alguns.)
Será que essa atmosfera de liberação geral, e essa erotização precoce das crianças, não contribui para os desvios sexuais de nossa era? Por exemplo, a questão da "troca de sexo". Sempre me pareceu que isso era uma anomalia, uma aberração. Quer dizer, genéticamente, você tem seu sexo determinado antes mesmo do nascimento. "Sentir-se mulher num corpo de homem" é um problema, mas, em vez de modificar o corpo (com uma cirurgia que tudo o que dá é a aparência de um outro sexo, mas não a essência), não seria mais fácil modificar os pensamentos? (Não esquecendo que os transexuais tornam-se estéreis após a operação, e podem ter toda uma série de problemas físicos).
Porém, hoje em dia, trocar de sexo é um "direito", muitas vezes até pago pelo contribuinte. Na Austrália, um garoto de 15 anos teve o direito de transformar-se em garota, mesmo contra a ordem expressa dos pais. Na Alemanha, com 12 anos, um menino iniciou o procedimento para virar menina (hoje tem 16 e já é uma "mulher", ainda que não possa menstruar, e jamais terá filhos). Nos EUA, os pais de um garoto decidiram criar seu filho de 8 anos como uma menina, pois ele assim pediu.
É tudo uma loucura.
Mas qual a solução?
Acabar com o celibato não vai, provavelmente, resolver todos esses problemas. O furo, com perdão do trocadilho, é mais embaixo.
(*) Por outro lado, o poeta Rainer Maria Rilke foi criado como menina na sua infância, e depois parece ter tido uma vida normal, sem qualquer troca de sexo, que aliás não existia na época.
Porém, essa questão da pedofilia na Igreja Católica está dando o que falar.
É verdade que oitenta e tantos por cento dos abusados eram garotos do sexo masculino, pós-púberes, entre 11 e 17 anos, e trinta por cento destes tinham entre 15 e 17. (Pedofilia, strictu sensu, é com menores de ambos os sexos que ainda não atingiram a puberdade. Lolita tinha 12.). Não que isso torne o crime menor ou menos repreensível, mas causa uma discussão interessante. Se a maioria das vítimas são adolescentes ou pré-adolescentes do sexo masculino, o que está ocorrendo é, acho, uma coisa que pouco tem a ver com o celibato em si.
Ora, se você é um heterossexual celibatário continuará - imagino eu - tendo desejos por mulheres. De fato, os padres nunca foram santos. Bocaccio, no Decameron, conta dezenas de histórias de padres e freiras fornicando por aí. Alguém condenado ao celibato poderia tomar uma amante, ou prostitutas, ou até abandonar o sacerdócio e casar. Por que escolher garotos? A resposta é simples. Esses padres são gays. Sentem atração por homens, isto é, garotos. Eram gays antes de entrar na Igreja, e continuaram sendo depois.
O problema é que aí entra-se numa cilada. Os gays, que criticam a Igreja católica, poderão criticar os padres por serem gays? Quando, anos atrás, a Igreja Católica tentou verificar e impedir a entrada de seminaristas com possíveis tendências homossexuais nos seminários, houve gritos dos grupos gays.
Admitir padres gays seria uma solução, ou aumentaria o problema? E permitir o casamento, resolveria? Não esqueçamos que grande parte dos pedófilos (e homossexuais) são casados, com filhos. Isso não lhes impede de continuar procurando garotinhos/as, ou até de abusar dos próprios filhos e sobrinhos.
Outros argumentam que a culpa é sim do celibato, e que os padres não eram necessariamente pedófilos ou homossexuais, mas atacaram meninos apenas porque é o que tinham mais à mão. Mas, nesse caso, por que não contratar uma prostituta, ou até um michê, como nobremente fez o padre Sir Lancelott?
Vivemos em uma época esquizofrênica. Por um lado, as crianças e adolescentes são bombardeados com sons e imagens explicitamente sexuais, da dança da vassoura à suposta arte moderna. Por outro lado, o mesmo mundo horroriza-se quando essas mesmas crianças erotizadas passam a interagir com adultos no mundo real.
Claro que o sexo de adultos com crianças pré-adolescentes é uma aberração, e seus praticantes deveriam ser imediatamente castrados a facão (de preferência, enferrujado e sem fio). Ou então se deveria fazer como fez este pai aqui.
O problema é que a suspeita de pedofilia contaminou tudo. Mesmo os contatos mais inocentes, como por exemplo tirar fotos de crianças em um parque, hoje são vistos com extrema suspeita. Nos EUA, mesmo encostar em uma criança alheia por acidente pode dar problema. Li que há alguns anos, um menino de 9 anos foi atropelado, e nenhum adulto aproximou-se para ajudar - por medo de serem acusados de pedofilia!
O curioso é que, há meros séculos atrás, garotas de apenas 13 anos já casavam, ainda que tivessem que ter a permissão dos pais. No Sul dos EUA, esse costume durou até poucas décadas atrás. Edgar Allan Poe casou com uma prima de 13 anos. Jerry Lee Lewis, idem. (E Woody Allen casou com a filha adotiva, embora isso nada tenha a ver com a história.)
Hoje, ao contrário, tanto homens quanto mulheres casam muito mais tarde, portanto exigir celibato pré-nupcial é algo muito difícil, que ocorre apenas com pessoas muito religiosas. E, mesmo assim, nem sempre.
O que é diferente é que, hoje, quase todas as aberrações sexuais são vistas como normais, e até mesmo celebradas. A única exceção, o último tabu, é a pedofilia. (Até incesto, se feito por maiores vacinados, já é aceito por alguns.)
Será que essa atmosfera de liberação geral, e essa erotização precoce das crianças, não contribui para os desvios sexuais de nossa era? Por exemplo, a questão da "troca de sexo". Sempre me pareceu que isso era uma anomalia, uma aberração. Quer dizer, genéticamente, você tem seu sexo determinado antes mesmo do nascimento. "Sentir-se mulher num corpo de homem" é um problema, mas, em vez de modificar o corpo (com uma cirurgia que tudo o que dá é a aparência de um outro sexo, mas não a essência), não seria mais fácil modificar os pensamentos? (Não esquecendo que os transexuais tornam-se estéreis após a operação, e podem ter toda uma série de problemas físicos).
Porém, hoje em dia, trocar de sexo é um "direito", muitas vezes até pago pelo contribuinte. Na Austrália, um garoto de 15 anos teve o direito de transformar-se em garota, mesmo contra a ordem expressa dos pais. Na Alemanha, com 12 anos, um menino iniciou o procedimento para virar menina (hoje tem 16 e já é uma "mulher", ainda que não possa menstruar, e jamais terá filhos). Nos EUA, os pais de um garoto decidiram criar seu filho de 8 anos como uma menina, pois ele assim pediu.
É tudo uma loucura.
Mas qual a solução?
Acabar com o celibato não vai, provavelmente, resolver todos esses problemas. O furo, com perdão do trocadilho, é mais embaixo.
(*) Por outro lado, o poeta Rainer Maria Rilke foi criado como menina na sua infância, e depois parece ter tido uma vida normal, sem qualquer troca de sexo, que aliás não existia na época.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Dia das mulheres
Já que é o dia das mulheres, denunciemos um pouco as injustiças cometidas contra elas. Começamos com notícias do Irã, onde as mulheres têm direitos menores do que os homens e dependem destes para ter permissão para trabalhar, estudar, ter passaporte, etc. E isso que no Irã nem é tão ruim quanto na Arábia Saudita ou Iêmen, onde as mulheres não podem trabalhar de forma alguma e muitas vezes são obrigadas a casar e ter relações sexuais aos 9 anos de idade.
E isso nem é o pior - na Nigéria, muçulmanos atacam mulheres cristãs e seus bebês e os decepam a golpes de facão.
Enquanto no mundo muçulmano a mulher tem uma posição claramente secundária, quando não terciária (os camelos provavelmente são mais valorizados), no Ocidente a mulher está em situação bastante mais confortável e ocupa cada vez mais espaço. Alguns dizem até que de forma exagerada. Será? Vejamos.
Todas as religiões - ao menos as mais conhecidas - sempre deram um papel de submissão à mulher. Isso ocorre no judaísmo, no islamismo, no hinduísmo e até no cristianismo (embora este tenha acabado com certos costumes como o apedrejamento de adúlteras, por exemplo). Mas mesmo as sociedades primitivas observam uma clara divisão de tarefas entre homens e mulheres. (Embora alguns afirmem que as religiões e sociedades originais eram matriarcais - e talvez houvesse um reflexo disso mesmo nas divindades femininas da Grécia Antiga).
O secularismo ocidental acabou com a maioria desses limites e hoje há mulheres em quase todas as áreas e profissões. Por outro lado, a idéia de que as mulheres sejam exatamente iguais aos homens e possam realizar todas as mesmas tarefas que estes tampouco é de todo verdadeira. Afinal, também existe uma coisa chamada biologia.
Ora, por mais que queiram as feministas radicais - ou feminazis -, homens e mulheres não são exatamente iguais. Um exemplo simples: os homens tendem a ter maior força física. Embora a tecnologia tenha equiparado um pouco os sexos, permitindo às mulheres a participação até mesmo em atividades militares ou de alto risco, ainda não é possível dizer que haja uma igualdade total. Pensem no caso de Brian Nichols, acusado de estupro, que conseguiu liberar-se ao ser conduzido para a corte, tirou a arma do policial que o levava ao tribunal, matou o juiz e fugiu. Ora, o policial encarregado de vigiá-lo era uma mulher - não só isso, uma mulher de 51 anos de idade e 1.60 m de altura, responsável por cuidar de um criminoso violento de 34 anos e quase 1.90 de altura... (Posteriormente o sujeito foi preso, e novamente conduzido à prisão por uma mulher franzina).
Outro exemplo: o sexo. Como todos sabem, homens e mulheres pensam de forma diversa a respeito do assunto. Além disso, as mulheres correm constantemente o risco de ser estupradas; homens não costumam ter esse problema (nas raras vezes em que isso ocorre, estão na prisão e seu estuprador é um negrão de dois metros de altura). Então isso limita um pouco a liberdade das mulheres de andarem sozinhas pelas ruas -- a não ser que utilizem este sofisticado aparelho anti-estupro (vídeo gráfico).
Uma coisa que está ocorrendo mais recentemente é à igualdade forçada. Por exemplo, uma recente lei na França obrigava as empresas a contratarem 50% de executivos-mulheres, e houve outra lei em algum país do norte - Holanda? Suécia? - que dizia que as mulheres deveriam ocupar obrigatoriamente 50% do parlamento. Nesses casos, sou contrário. Se há mulheres interessadas em administração e política, nada contra. Porém, convenhamos, não é preciso forçar. A verdade é que, em geral, as mulheres se interessam menos por política do que os homens. Afinal, quantas mulheres há que comentam aqui? Ou nos blogs de política em geral?
(Se bem que, de acordo com recentes estatísticas, as mulheres formam a maioria dos usuários de grande parte dos principais sites da Internet - Facebook, Youtube, Myspace, etc. Os homens ainda ganham nos sites relacionados com tecnologia - e pornografia, é claro).
Bem, no mais, eu não sou a favor da igualdade entre os sexos, simplesmente porque acredito que as mulheres são superiores em quase tudo aos homens.
E isso nem é o pior - na Nigéria, muçulmanos atacam mulheres cristãs e seus bebês e os decepam a golpes de facão.
Enquanto no mundo muçulmano a mulher tem uma posição claramente secundária, quando não terciária (os camelos provavelmente são mais valorizados), no Ocidente a mulher está em situação bastante mais confortável e ocupa cada vez mais espaço. Alguns dizem até que de forma exagerada. Será? Vejamos.
Todas as religiões - ao menos as mais conhecidas - sempre deram um papel de submissão à mulher. Isso ocorre no judaísmo, no islamismo, no hinduísmo e até no cristianismo (embora este tenha acabado com certos costumes como o apedrejamento de adúlteras, por exemplo). Mas mesmo as sociedades primitivas observam uma clara divisão de tarefas entre homens e mulheres. (Embora alguns afirmem que as religiões e sociedades originais eram matriarcais - e talvez houvesse um reflexo disso mesmo nas divindades femininas da Grécia Antiga).
O secularismo ocidental acabou com a maioria desses limites e hoje há mulheres em quase todas as áreas e profissões. Por outro lado, a idéia de que as mulheres sejam exatamente iguais aos homens e possam realizar todas as mesmas tarefas que estes tampouco é de todo verdadeira. Afinal, também existe uma coisa chamada biologia.
Ora, por mais que queiram as feministas radicais - ou feminazis -, homens e mulheres não são exatamente iguais. Um exemplo simples: os homens tendem a ter maior força física. Embora a tecnologia tenha equiparado um pouco os sexos, permitindo às mulheres a participação até mesmo em atividades militares ou de alto risco, ainda não é possível dizer que haja uma igualdade total. Pensem no caso de Brian Nichols, acusado de estupro, que conseguiu liberar-se ao ser conduzido para a corte, tirou a arma do policial que o levava ao tribunal, matou o juiz e fugiu. Ora, o policial encarregado de vigiá-lo era uma mulher - não só isso, uma mulher de 51 anos de idade e 1.60 m de altura, responsável por cuidar de um criminoso violento de 34 anos e quase 1.90 de altura... (Posteriormente o sujeito foi preso, e novamente conduzido à prisão por uma mulher franzina).
Outro exemplo: o sexo. Como todos sabem, homens e mulheres pensam de forma diversa a respeito do assunto. Além disso, as mulheres correm constantemente o risco de ser estupradas; homens não costumam ter esse problema (nas raras vezes em que isso ocorre, estão na prisão e seu estuprador é um negrão de dois metros de altura). Então isso limita um pouco a liberdade das mulheres de andarem sozinhas pelas ruas -- a não ser que utilizem este sofisticado aparelho anti-estupro (vídeo gráfico).
Uma coisa que está ocorrendo mais recentemente é à igualdade forçada. Por exemplo, uma recente lei na França obrigava as empresas a contratarem 50% de executivos-mulheres, e houve outra lei em algum país do norte - Holanda? Suécia? - que dizia que as mulheres deveriam ocupar obrigatoriamente 50% do parlamento. Nesses casos, sou contrário. Se há mulheres interessadas em administração e política, nada contra. Porém, convenhamos, não é preciso forçar. A verdade é que, em geral, as mulheres se interessam menos por política do que os homens. Afinal, quantas mulheres há que comentam aqui? Ou nos blogs de política em geral?
(Se bem que, de acordo com recentes estatísticas, as mulheres formam a maioria dos usuários de grande parte dos principais sites da Internet - Facebook, Youtube, Myspace, etc. Os homens ainda ganham nos sites relacionados com tecnologia - e pornografia, é claro).
Bem, no mais, eu não sou a favor da igualdade entre os sexos, simplesmente porque acredito que as mulheres são superiores em quase tudo aos homens.
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
O caso Polanski
Polanski é com certeza um dos poucos grandes artistas do cinema mundial. Nem digo por "O Pianista", que embora tenha cenas marcantes não é seu melhor filme, mas por seu trabalho nos anos 60 e 70, desde os curtametragens surrealistas que fez na Polônia, "Repulsion" com a jovem Catherine Deneuve (será que ele a traçou também?), à obra-prima "O Bebê de Rosemary", "Chinatown", e finalmente o trabalho talvez mais enigmático, o filme "O inquilino", com Isabelle Adjani (idem à pergunta anterior) e o próprio Polanski como ator.
Todos esses filmes foram realizados antes de sua relação com a jovem Samantha Geimer, cujos detalhes sórdidos podem ser lidos aqui, nas palavras da própria vítima, em uma entrevista trinta anos depois. Os atos de sua declaração à polícia na época do evento, aos 13 anos, também estão disponíveis em algum lugar, basta usar o Google. Mas, resumindo: Polanski a convidou para uma "sessão de fotos", deu-lhe champanhe e ofereceu drogas (Quaalude), e finalmente, levou-a para o quarto e cráu. De todas as formas possíveis. Samantha não resistiu nem sofreu violência física, mas sempre disse não. Tratou-se, claramente, de sexo não-consensual com uma menor de 14 anos. Ou, estupro.
Não, a moça não era virgem, já havia experimentado álcool e drogas, foi sozinha à sessão de fotos com pleno conhecimento da mãe, e perdoou Polanski após um acordo civil em 1997, mas nada disso muda o caráter do crime.
Digamos que Polanski teve uma vida atribulada: passou a infância no Gueto de Varsóvia, e sua mãe morreu em um campo de concentração. Em 1969, no auge da fame e fortuna, sua mulher Sharon Tate, grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada em Los Angeles por uma gangue de psicopatas enquanto ele filmava na Europa.
Há um documentário que coincidentemente recém estreou - assisti hoje - sobre o caso Polanski, chama-se "Roman Polanski: Wanted and Desired". O filme, que foi lançado antes da recente prisão na Suiça, tenta ser imparcial, embora tendendo a ser pró-Polanski, já que centra-se muito pouco no crime em si e muito mais no modo em que o juiz, aparentemente de modo irregular, teria melado de última hora um acordo entre a defesa e a promotoria.
(Hoje, nova reviravolta: um District Attorney que aparece no filme afirmou ter mentido no seu depoimento à diretora, dizendo não ser verdade uma conversa que teria influenciado o juiz. Mais lenha na fogueira.)
O mais irônico de tudo é que, se Polanski não tivesse fugido, e tivesse ficado nos EUA até o fim de seu julgamento, provavelmente teria uma sentença bem menor do que a que terá agora (caso seja extraditado). O fato é, graças ao acordo feito, a única acusação que contou no período foi a de ter relações sexuais com uma menor. As outras acusações - estupro com suministração de drogas e bebida a uma menor, perversão e sodomia - não foram nem consideradas. Hoje, provavelmente (fora sodomia, que acho que não é mais crime), ele poderia ser acusado de estupro e morrer na cadeia. E provavelmente é o que acontecerá, se a extradição ocorrer.
Bem, Polanski arriscou. Em vez de passar um par de anos de sua juventude em cana, preferiu fugir, mas agora corre o risco de passar uma melancólica velhice na prisão.
Em virtude de sua obra, tenho certa simpatia por Polanski, certamente mais do que por Michael Jackson e O. J. Simpson, dois notórios criminosos-celebridade injustamente absolvidos. Mas acredito que ele seja culpado, sim, e que é um fugitivo da Justiça, e que cometeu um crime que não pode ser menosprezado. Talvez na França ou no Brasil transar com garotinhas de treze anos não seja crime, mas nos Estados Unidos ainda é, e são bastante rígidos a respeito.
E não, não acredito que os artistas ou as celebridades devam ser isentas da obediência à lei, por mais que Hollywood diga o contrário.
Por outro lado, em um mundo em que um terrorista que matou 287 pessoas é liberado em nome de supostas "causas humanitárias", parece-me um pouco exagerada tanta sanha em perseguir Polanski 31 anos depois por um crime pelo qual a própria vítima já o perdoou. Porém, dura lex, sed lex.

Atualização: um texto bem duro contra Polanski, na geralmente-de-esquerda Salon. E uma defesa, pela autora de Gulag: A History, Anne Applebaum. E o leitor, o que pensa?
Todos esses filmes foram realizados antes de sua relação com a jovem Samantha Geimer, cujos detalhes sórdidos podem ser lidos aqui, nas palavras da própria vítima, em uma entrevista trinta anos depois. Os atos de sua declaração à polícia na época do evento, aos 13 anos, também estão disponíveis em algum lugar, basta usar o Google. Mas, resumindo: Polanski a convidou para uma "sessão de fotos", deu-lhe champanhe e ofereceu drogas (Quaalude), e finalmente, levou-a para o quarto e cráu. De todas as formas possíveis. Samantha não resistiu nem sofreu violência física, mas sempre disse não. Tratou-se, claramente, de sexo não-consensual com uma menor de 14 anos. Ou, estupro.
Não, a moça não era virgem, já havia experimentado álcool e drogas, foi sozinha à sessão de fotos com pleno conhecimento da mãe, e perdoou Polanski após um acordo civil em 1997, mas nada disso muda o caráter do crime.
Digamos que Polanski teve uma vida atribulada: passou a infância no Gueto de Varsóvia, e sua mãe morreu em um campo de concentração. Em 1969, no auge da fame e fortuna, sua mulher Sharon Tate, grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada em Los Angeles por uma gangue de psicopatas enquanto ele filmava na Europa.
Há um documentário que coincidentemente recém estreou - assisti hoje - sobre o caso Polanski, chama-se "Roman Polanski: Wanted and Desired". O filme, que foi lançado antes da recente prisão na Suiça, tenta ser imparcial, embora tendendo a ser pró-Polanski, já que centra-se muito pouco no crime em si e muito mais no modo em que o juiz, aparentemente de modo irregular, teria melado de última hora um acordo entre a defesa e a promotoria.
(Hoje, nova reviravolta: um District Attorney que aparece no filme afirmou ter mentido no seu depoimento à diretora, dizendo não ser verdade uma conversa que teria influenciado o juiz. Mais lenha na fogueira.)
O mais irônico de tudo é que, se Polanski não tivesse fugido, e tivesse ficado nos EUA até o fim de seu julgamento, provavelmente teria uma sentença bem menor do que a que terá agora (caso seja extraditado). O fato é, graças ao acordo feito, a única acusação que contou no período foi a de ter relações sexuais com uma menor. As outras acusações - estupro com suministração de drogas e bebida a uma menor, perversão e sodomia - não foram nem consideradas. Hoje, provavelmente (fora sodomia, que acho que não é mais crime), ele poderia ser acusado de estupro e morrer na cadeia. E provavelmente é o que acontecerá, se a extradição ocorrer.
Bem, Polanski arriscou. Em vez de passar um par de anos de sua juventude em cana, preferiu fugir, mas agora corre o risco de passar uma melancólica velhice na prisão.
Em virtude de sua obra, tenho certa simpatia por Polanski, certamente mais do que por Michael Jackson e O. J. Simpson, dois notórios criminosos-celebridade injustamente absolvidos. Mas acredito que ele seja culpado, sim, e que é um fugitivo da Justiça, e que cometeu um crime que não pode ser menosprezado. Talvez na França ou no Brasil transar com garotinhas de treze anos não seja crime, mas nos Estados Unidos ainda é, e são bastante rígidos a respeito.
E não, não acredito que os artistas ou as celebridades devam ser isentas da obediência à lei, por mais que Hollywood diga o contrário.
Por outro lado, em um mundo em que um terrorista que matou 287 pessoas é liberado em nome de supostas "causas humanitárias", parece-me um pouco exagerada tanta sanha em perseguir Polanski 31 anos depois por um crime pelo qual a própria vítima já o perdoou. Porém, dura lex, sed lex.

Atualização: um texto bem duro contra Polanski, na geralmente-de-esquerda Salon. E uma defesa, pela autora de Gulag: A History, Anne Applebaum. E o leitor, o que pensa?
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Quanto menos regras melhor?
Encontrado na Dicta. Um interessante experimento mostrou que, quanto menos regras e sinais de trânsito, melhor e mais seguro era o trânsito em uma cidade. Aparentemente, as regras e sinais em demasia criam uma falsa sensação de segurança. Já quando não têm sinais para indicar o que devem fazer, os motoristas tendem a redobrar a atenção e os cuidados.
(É verdade que o experimento teve lugar na Holanda, e há dúvidas se funcionaria da mesma forma no Brasil, mas deixemos isso de lado. Também deixemos de lado o fato de que a maior função dos sinais e regras de trânsito não é a segurança, mas a possibilidade de impor multas e, portanto, aumentar as verbas do Estado.)
O experimento ilustrou o conceito de "ordem espontânea", segundo a qual as pessoas por si mesmas estabelecem, através de sua própria interação, uma ordem que funciona melhor do que qualquer comando central.
Será que isso ocorre com todo fenômeno social?
Em alguns casos, pareceria que sim. A economia é o caso clássico. O livre-mercado certamente funciona muito melhor do que qualquer tentativa de impor um controle central, até porque a economia é um fenômeno tão complexo que jamais poderia ser controlado totalmente, por mais que os socialistas tentem.
Vivemos em um mundo que têm tantas leis que, na verdade, não há pessoa que não tenha - ainda que sem saber - quebrado alguma lei em algum momento de sua vida. Só no Quebec, por exemplo, a cada ano são criadas 11.000 páginas de novas leis. Nos Estados Unidos, há tantas leis que nem mesmo os jurados as entendem.
Não surpreende portanto que, em países ainda mais bananeiros como o Brasil, já haja leis controlando que a banana seja vendida por quilo, ou que na ultraburocrática União Européia agora queiram regular até o volume máximo dos aparelhos mp3.
Tais fatos são lamentáveis, pois a partir daí alguns cínicos poderiam concluir que a maioria das leis atende a outros interesses que não os da sociedade como um todo, e que os políticos e os advogados não estão tão interessados no bem-estar do povo como no de seus próprios bolsos.
(É verdade que o experimento teve lugar na Holanda, e há dúvidas se funcionaria da mesma forma no Brasil, mas deixemos isso de lado. Também deixemos de lado o fato de que a maior função dos sinais e regras de trânsito não é a segurança, mas a possibilidade de impor multas e, portanto, aumentar as verbas do Estado.)
O experimento ilustrou o conceito de "ordem espontânea", segundo a qual as pessoas por si mesmas estabelecem, através de sua própria interação, uma ordem que funciona melhor do que qualquer comando central.
Será que isso ocorre com todo fenômeno social?
Em alguns casos, pareceria que sim. A economia é o caso clássico. O livre-mercado certamente funciona muito melhor do que qualquer tentativa de impor um controle central, até porque a economia é um fenômeno tão complexo que jamais poderia ser controlado totalmente, por mais que os socialistas tentem.
Vivemos em um mundo que têm tantas leis que, na verdade, não há pessoa que não tenha - ainda que sem saber - quebrado alguma lei em algum momento de sua vida. Só no Quebec, por exemplo, a cada ano são criadas 11.000 páginas de novas leis. Nos Estados Unidos, há tantas leis que nem mesmo os jurados as entendem.
Não surpreende portanto que, em países ainda mais bananeiros como o Brasil, já haja leis controlando que a banana seja vendida por quilo, ou que na ultraburocrática União Européia agora queiram regular até o volume máximo dos aparelhos mp3.
Tais fatos são lamentáveis, pois a partir daí alguns cínicos poderiam concluir que a maioria das leis atende a outros interesses que não os da sociedade como um todo, e que os políticos e os advogados não estão tão interessados no bem-estar do povo como no de seus próprios bolsos.

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