terça-feira, 6 de outubro de 2009

Por que os políticos mentem?

Finalmente encontro a resposta para essa pergunta que tem torturado tantas almas inquietas. A razão é a mesma pela qual os carros usados em venda são quase todos uma porcaria: a lei de Gresham. Quando um mercado oferece coisas ruins e boas pelo mesmo preço médio, os produtos de qualidade que não podem obter um preço melhor por esta tendem a sumir.

No caso da política, o que ocorre é que as pessoas honestas observam o horror dos acordões e mensalões e preferem não participar do processo, pois não querem se sujar entrando nesse lamaçal. Desse modo, praticamente só mentirosos e ladrões entram na política. A honestidade não compensa: um político que não mente e não rouba não tem nenhuma vantagem sobre aquele que o faz. Aliás, um político mentiroso tem mais chances de ser eleito e reeleito. Por quê?

Porque um político que diz que "vai acabar com a corrupção" só pode ser duas coisas, um ingênuo ignorante, ou um mentiroso canalha. Fazer política é, por definição, mentir; portanto alguém que se faz passar por honesto só pode ser o maior mentiroso do mundo. E, para o público, é preferível alguém que "rouba mas faz" do que alguém que vai desiludi-lo com falsas promessas de honestidade, para depois meter a mão na cumbuca. Melhor a "ladroagem honesta" do que a hipocrisia. Ética não vende na política.

Além disso, dizemos que não gostamos de políticos safados e mentirosos, mas, na verdade, o público votante gosta de mentiras. A maior prova disso é que ladrões e corruptos são constantemente reeleitos. O público prefere um político que diz o que o povo quer ouvir, não a amarga verdade. Um candidato que promete "empregos, saúde e educação para todos" é mil vezes preferível aos olhos da maioria da população a um hipotético candidato que explicasse que o número de empregos pouco tem a ver com ações governamentais (salvo que se tratem de empregos públicos para parentes) ou que dissesse que não existe almoço grátis, quanto menos saúde e educação gratuita de qualidade para todos. O povo quer doce de leite, não leite de magnésia, mesmo que tenha dor de barriga depois. Assim, os realistas são rejeitados, os mentirosos prosperam.

Isso, naturalmente, gera um círculo vicioso. Quanto mais nojenta a política, menos as pessoas honestas e sérias têm interesse em participar. Quantas moças virgens, castas e religiosas se prostituem para moralizar o negócio?

A grande dúvida é: existe uma saída para isso? Ou é um defeito da própria democracia? Já Tocqueville, há duzentos anos, havia observado que os políticos tinham uma moral curiosamente mais flexível do que a do povo. Hoje a coisa está muito pior.

Vote em mim.

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