sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Sexo, moralismo e comportamento de turbas na era da Internet

Um dos comentários mais perspicazes sobre o caso da aluna da UNIBAN foi este que encontrei de um leitor do blog do Reinaldo Azevedo:
Douglas disse:

Não sei se você vai me entender, espero que sim. Não vi nada de estranho neste vídeo. Só a natureza humana na sua forma mais pura.

O ser humano vive em permanente guerra entre a sua natureza e a sua inteligência. A natureza humana é capaz de fazer uma pessoa se sacrificar por outra. A natureza humana é capaz de fazer isso que se viu.

Eu não estava lá, mas me identifiquei com aqueles estudantes. Eu poderia ser um deles? Acho que sim. Eu me sentiria arrependido depois? Com certeza.

Chamar esses estudantes de animais e colocar nas costas deles as nossas culpas é fácil. Acho até que o que estão fazendo com eles aqui e em outros blogs é quase o mesmo que eles fizeram com a moça.

De fato, muitos psicólogos e estudiosos da natureza humana já observaram que os seres humanos quando em multidões comportam-se de modo muito diferente do que individualmente. Observando-se o mais recente vídeo dá para ver a magnitude do protesto contra a "indecente" moça e de como as pessoas, nesses contextos, reduzem-se ao comportamento mais básico, mais primitivo: os homens, à luxúria ou à violência contra a "puta" que os provocava sexualmente sem se entregar; as mulheres, à inveja e à raiva pela "concorrência desleal".

Aqui acho que entra de novo a questão dos conservadores vs. libertários (e progressistas), e de como estes últimos idealizam a natureza humana. Afinal, para o libertário, "cada um pode se vestir como quiser e ninguém tem nada com isso". Para o progressista, "homens e mulheres são iguais e têm os mesmos direitos de ir e vir como desejarem." Na prática, no entanto, uma moça que vai vestida com roupas sumárias à universidade pode terminar sendo brutalmente hostilizada por uma multidão. É a natureza humana em seu estado mais bruto.

Sim, seria bom que as mulheres pudessem ir a qualquer lugar que quisessem, vestidas como quisessem, sem ser importunadas. Seria bom que drogados não matassem os outros ou a si mesmos. Seria bom que todos pudessem controlar seus instintos e ninguém fosse preconceituoso, cretino ou psicopata. Infelizmente, vivemos no mundo real, onde garotas de 15 anos podem ser estupradas coletivamente em uma festa na escola pelos seus próprios colegas.

Há ainda um segundo elemento que causa reflexão, que é a questão tecnológica. Todo o evento foi filmado por câmeras de celulares e colocado imediatamente na Internet, onde repercutiu ainda mais, somando-se a dezena de casos folclóricos, como a da professora primária que dançava o "Todo Enfiado", ou o caso recente de jovens adolescentes anos praticando sexo oral no banheiro da escola. Os vídeos acabaram indo parar online, onde foram baixados por milhares de pessoas. Com a repercussão, a professora de um caso foi demitida e a aluna do outro caso terminou tendo que ser transferida de escola, pois todas as demais estudantes do colégio ficaram com fama de "boqueteiras". A Internet influencia o mundo real. (E já tem petista afirmando que o que faltou foi mais aula de "educação sexual", como se os adolescentes não soubessem já o suficiente).

De qualquer modo, é possível que, em um país esquizofrênico como o Brasil, a moça da UNIBAN, que já conquistou fama virtual, termine ganhando uma pequena fortuna ilustrando as capas de uma revista masculina, ou apresentando algum programa televisivo para crianças.



20 comentários:

Chesterton disse...

confundir seus próprios desejos com a realidade parece ser uma caracterítica comum a progressistas e libertários (mas não tenho certeza, pois nunca me preocupei com esse assunto).

Sandro P disse...

O que mais me chateia, me deixa puto, é este comportamento de manada.
Adoro futebol, jogo quatro vezes por semana, assisto a todos os jogos da tv, mas não vou mais a estádio. Não dá pra assistir jogo num estádio sem se irritar com este comportamento. É de foder!!!

Chesterton disse...

Por causa de conincidências que não são explicadas pela filosofia desse mundo, ganhei de presente de laboratório imbuido na tarefa de proporcionar cultura à classe médica, em vez de canetinhas e chaveirinhos, livro que havia passado pelas minhas mãos 30 anos atrás:

- O Alienista, de Machado de Assis.

Alé de ser absolutamente hilário, explica maism ou menos os incidentes na UNIBAN e muitos posts desse glorioso blog de notiícias nem tão novas assim.

Recomendo ao autor e demais colaboradores.

DD disse...

Controlar a Internet?

NUNCA!

Agora, o que se deve fazer, mesmo, é punir pesadamente aqueles que usarem a rede para destruir a imagem de alguém. Têm que ser tratados como gente que põe a democracia em perigo.

E, na boa, criança pendurada na rede é uma ideia péssima. Os pais têm que fiscalizar isso de perto. Por que é que não aparecem ONGs (sem dinheiro do contribuinte) para ajudá-los nisso?

Anônimo disse...

Além de psicólogos e outros bichos, um certo Platão escreveu sobre multidões:

"S.: Quando, sentados em filas apertadas nas assembléias políticas, nos tribunais, nos teatros, nos acampamentos e em toda parte onde haja reunião de pessoas, criticam ou aprovam determinadas ações ou palavras, em ambos os casos com grande alarido e de forma exagerada, gritando e aplaudindo ao mesmo tempo. No meio de semelhantes cenas, não sentirá o jovem faltar-lhe ânimo? Que educação especial poderá resistir? Não será submersa por tantas críticas e elogios e arrastada ao sabor da corrente? Não se pronunciará o jovem como a multidão a respeito do belo e do feio? Não se associará às mesmas coisas que ela? Não se tornará semelhante a ela?
A.: Obrigatoriamente, Sócrates.

S.: E ainda não falamos da maior prova por que terá de passar.

A.: Qual?

S.: A que esses educadores e sofistas infligem, de fato, quando não podem convencer pelo discurso. Não sabes que castigam aquele que não se deixa convencer, cobrindo-o de vergonha, condenando-o a uma multa ou à pena de morte?

A.: Sei-o muito bem.

S.: Então, que outro sofista, que ensino especial e contrário a esse poderiam prevalecer?

A.: Acredito que nenhum.

S.: Nenhum, sem dúvida. E tentar tal seria uma grande loucura. Não existe, jamais existiu, nunca existirá caráter formado na virtude contra as lições administradas pela multidão: refiro-me ao caráter humano, meu querido amigo, dado que, como diz o provérbio, o divino é uma exceção. "

Anônimo disse...

O pior dessa história é que a vagaba ainda é feia de doer...

Mr X disse...

Pôu, tadinha. Ela é meio gordinha e falsa loira, mas também não está tão mal assim. :-)

DD disse...

Tiago:

Olha uma boquinha para você:

http://coturnonoturno.blogspot.com/2009/10/dilma-importa-marqueteiro-are-you-ready.html

Chesterton disse...

Agora, Mr X, se você quiser dar realmente boas risadas, Dascismo de Esquerda, só a introdução vale o preço do livro.

Chesterton disse...

Digo, Fascismo de esquerda (essa reforma ortográfica...me mata)

Fabio Marton disse...

Não entendi muito o argumento. Já que andar de minissaia pode significar sofrer assédio, devia ser proibido andar de minissaia? Já que a turba vence, devemos fazer as leis mais a favor da turba? Devíamos dar um atenuante para o estuprador quando a mulher estiver vestida de forma provocante?

Mr X disse...

Hã? Não, não devíamos atenuar nada de acordo com a turba, só observando que na prática as coisas funcionam de modo diferente que na teoria, e que existe uma coisa chamada Natureza Humana que não é 100% maleável.

Mas danem-se as turbas malditas, e vivam as mulheres provocantes.

Abs,

Anônimo disse...

"Mas danem-se as turbas malditas, e vivam as mulheres provocantes."
Danem-se as mulheres provocantes, e vivam os trabalhadores.
Tiago

Gunnar disse...

Perfeito retrato do Brasil. Uma grande manada, ignorante, preconceituosa, moralista e violenta.

Chesterton disse...

Talvez (tenho certeza que sim) ela tenha o direito de andar assim, mas não é adequado, não é de bom-tom, não é sábio.
Principalmente porque vai encontrar babacas cheios de testosterona reprimida pelo caminho.
Se fosse minha filha, diria em particular: bem feito.
Em seguida processaria a universidade em questão.

Gunnar disse...

Chester, acho que ninguém discorda que a roupa da moça era inadequada (e de mau-gosto, bleargh). Mas NADA justifica o comportamento da turba.

Marcus disse...

Como disse o Diretor Skinner "There is no justice like angry mob justice"!
Ou na versão traduzida "Não há nada como a justiça promovida pela turba enfurecida!".
Falando sério, esse tipo de comportamento é mais comum em lugares onde as pessoas preferem ser tratadas como algo (negro, gay, oprimido, latino, etc) ao invés de serem tratadas como indivíduos. A massa não tem rosto nem consciência. Por isso (julgam eles) não tem responsabilidade nem "accountability".

Cláudio disse...

Tô achando esse caso muito mal contado... Nos meus tempo de UERJ eu via meninas com roupas mais provocantes que essa, que nem é tão curta assim.

Klauss disse...

Como disse o Gunnar, nada justifica o comportamento da manada...

Pra mim a grande questão não sei se é a psicologia, se é a testosterona ou sei lá o que... O grande lance é a falta de proporções...

Se os "linchadores", a turba, fosse condenada com o mesmo senso de proporção deles mesmos, seriam todos executados sumariamente num paredão... É essa esquizofrênica falta de proporções que me assustou na notícia...

Porra, 50 mil assassinatos por ano não conseguem tirar o brasileiro da apatia, mas uma porra de uma minissaia causa um furdum desses? Uns dizem que nem Freud explica... Nesse caso nem Pavlov explica!!!

Mr X disse...

A minha impressão é que esse pessoal da UNIBAN deve ser bem caipira e jamais tinha visto mulher vestida assim. Sei lá. Ou então aconteceu alguma outra coisa que a gente não sabe.