Por que Theodore Dalrymple voltou a assinar como Anthony Daniels? Não importa. O que importa é que ele escreveu, tempos atrás, um artigo contrário à liberação das drogas, que parece-me sempre oportuno indicar quando se debate o espinhoso tema.
Já no Tibiriçá encontro uma interessante discussão sobre a liberação das drogas. Ele parece ser cautelosamente a favor.
Bem, o assunto já foi tema diversas vezes aqui no blog. A única novidade é que agora os traficantes do Rio de Janeiro derrubaram até helicóptero da polícia.
Alguns acham que a legalização das drogas acabaria com o tráfico e seus males, porém eu não sei se a coisa funcionaria exatamente assim. Parece-me ser mais um desses "brilhantes planos de marketing" que são maravilhosos no papel mas fracassam rotundamente na prática. (Para quem não sabe, existe uma coisa chamada "lei das conseqüencias não-previstas").
Evidentemente, eu tampouco tenho uma solução para o problema das drogas, mas não acho que despenalizar o consumo resolva qualquer coisa, ainda mais quando não se despenaliza ao mesmo tempo a venda - ou proíbe-se os dois, ou libera-se os dois, o resto é aumentar a demanda e portanto a oferta.
É claro que muitos gostariam de poder continuar a fumar o seu baseado ou cheirar sua carreirinha sem sentir-se culpados pela morte de milhares de pessoas na guerra pelo mercado da droga. Lamentavelmente, a coisa não funciona bem assim. Como dizia John Donne, nenhum homem é uma ilha, e mesmo ações individuais ou "crimes sem vítimas", quando multiplicados por mil, dez mil ou cem mil, têm conseqüências bastante nefastas. Como mínimo, a liberação das drogas traria uma explosão do seu consumo, e os costumeiros problemas sociais e de saúde que conhecemos muito bem.
Na verdade, acho que a solução de Cingapura é melhor. Penas draconianas para os usuários, e ações rigorosas contra os traficantes.
A Colômbia, também golpeando fortemente traficantes e terroristas, teve algum êxito em reduzir a violência relacionada ao tráfico: em 2001 a taxa de homicídios por 100.000 era de 65, em 2008 caiu a 35.
Eu iria mais longe e observaria que as mortes dos ataques do Hamas e demais terroristas palestinos em Israel ficam muito aqüém das mortes causadas pelos traficantes cariocas. Porém, Israel revida e aqui... Por que hesita-se tanto em usar o exército contra os terroristas locais?
Estranho. Pareceria até que alguns são a favor do crime organizado.
P. S. Quis escrever "tráfego" mesmo. O título do post é citação de uma cena de Johnny Stecchino. Assistam.
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10 comentários:
O criminoso não é criminoso por traficar drogas, ele trafica drogas por que é criminoso. Se o tráfico se tornar lícito provavelmente o bandido irá para outros crimes.
Como seria a legalização? O que aconteceria com os atuais "comerciantes"? Seriam anistiados? A Justiça ainda os perseguiria?
Quem ficaria responsável pelo comercialização? Certamente o governo iria querer combrar altíssimos impostos, que por sua vez iria gerar um mercado clandestino, com preços mais baratos que o do mercado lícito, como é hoje com o cigarro.
Então no final, os criminosos que hoje se matam para disputar o mercado de drogas ilícitas iriam se matar disputando o mercado ilícito de drogras.
Um detalhe meio off-topic sobre a criminalidade do Rio: certa vez eu estava na Rodoviária do bairro de Campo Grande no Rio de Janeiro e precisei comprar um cartão telefônico. Não encontrei em nenhum bar nem padaria. Sempre quando eu perguntava as pessoas respondiam de maneira estranha. Até que alguém me disse havia um "cara" que vendia os cartões na rodoviária. Só ele tinha a permissão de vender. Naquele pedaço do Rio até venda de cartão telefôncio tinha sido controlado pela criminalidade. Hoje as Lan Houses são contraladas pelas milícias. Praticamente todo negócio que envolve pequenas somas de dinheiro em espécie é controlado por alguma máfia.
Interessante essa observação sobre os cartões de telefone e as LAN houses, não sabia disso. Mas, de fato, a criminalidade avnça sobre todas as áreas.
Para mim, o problema das drogas é também um problema cultural, hoje há muitas pessoas interessadas em fazer qualquer coisa por um "barato".
Penas draconianas para os usuários, e ações rigorosas contra os traficantes.
O que as "drogas" têm de especial? Se o governo aprovar uma lei dizendo que tomar café é crime, haverá tráfico de café, guerra de traficantes, lavagem de dinheiro por conta disso, etc. Precisaríamos pedir penas draconianas para bebedores de café também?
Percebe como não há nada de intrinsecamente criminoso em qualquer substância que seja? Foi a criminalização que criou todo o problema. Por outro lado, é claro que a legalização não acabaria com o crime, mas não é esse o ponto. A legalização é uma valorização da liberdade de escolha das pessoas.
Otavio Macedo, na guerra do ópio, não foi a repressão chinesa ao consumo que criou algum problema, ams sim a corrupção das elites pelos traficantes.
"A legalização é uma valorização da liberdade de escolha das pessoas."
Efetivamente, não há nada de intrinsecamente criminoso em qualquer substância. As pessoas devem ter liberdade para consumir o que quiserem?
De acordo com o argumento libertário, sim. Sempre considerei-me libertário, mas, agora, acho que eu discordo, pois há outros fatores em jogo. Na verdade, não somos livres para fazermos TUDO o que quisermos. Toda sociedade tem suas regras de convivência.
Além disso, o café não tem o mesmo risco do que as substâncias psicoativas.
Muita gente gosta de se drogar, é fato. Quer dizer, é verdade que droga não é só "veneno", pois há uma série de venenos legais mais baratos. As drogas causam prazer. Logo, as pessoas procuram as drogas.
Sou a favor do indivíduo, do individualismo. Porém, o "indivíduo" existe dentro do contexto de uma sociedade. Tudo bem, eu posso me drogar todo dia e isso interfere muito pouco com o meu vizinho. Mas, se 500.000 pessoas iniciam a se drogar todos os dias, isso vai ter também um grande impacto social.
A droga causa degradação física e mental. Uma sociedade que aceita a droga como uma coisa normal, banal, parece-me que corre o risco de ter sérios problemas.
Mas talvez o Tibiriçá tenha razão, e não seja o Estado mas sim a Igreja (ou a fé e/ou moral de cada um) que deva determinar qual substância se pode consumir, e qual não.
Não sei, confesso. A Califórnia é um exemplo de um estado onde há marijuana legal ("medical marijuana"), mas isso não acabou com o problema do tráfico, nem diminuiu o número de usuários (ao contrário).
Uma dúvida: Grande parte dos criminosos, ao menos 40% segundo certas estatísticas, usa drogas regularmente. São criminosos porque são drogados ou são drogados porque são criminosos?
Parece que tem um exemplo de decriminalização de drogas em Portugal. Alguém sabe mais a respeito?
http://www.cato.org/pub_display.php?pub_id=10080
X, tem o artigo de capa da ultima Fortune sobre a maconha "legal" aqui nos EUA. Realmente nao diminuiu o consumo, mas aumentou a arrecadacao de impostos. O problema e' que no Brasil essa grana extra vai parar em mensaloes e quetais.
Pois é. Na verdade, aqui na Califórnia que tá "quebrada", a receita da medical marijuana vem a calhar, e até querem ampliar. O Estado como fornecedor de barato?
No Brasil vai para mensalões e quetais, é certo. Mas também nos EUA há corrupção, é claro que de forma mais discreta que no Brasiu-iu-iu.
"A droga causa degradação física e mental. Uma sociedade que aceita a droga como uma coisa normal, banal, parece-me que corre o risco de ter sérios problemas. "
Concordo. O melhor exemplo disso é o alcool, a maior causa de mortes evitáveis no mundo.
Todos aqueles argumentos sobre "aumento descontrolado do consumo", "custos com saúde pública", "prejuízos econômicos causados por queda no desempenho devido ao uso de drogas", etc e etc, tudo isso é verdade, e temos a prova: o alcool.
Em termos de malefícios físicos e mentais e potencial de vício, o alcool é pior que a maconha. Estamos diante de uma arbitrariedade. Como corrigir, eu não sei. Parece que é um pouco tarde para legalizar a maconha. Talvez seja hora de endurecer e restringir o alcool.
No caso da maconha eu seria a favor da legalização. Acho que a relação entre custo e benefício valeria a pena. Mais consumo, mas alguma redução do $poder$ dos bandidos.
As outras drogas não sei, há argumentos interessantes para defender a liberação de todas (com algumas sendo controladas) mas não tenho opinião. Mas acredito que só se deveria fazer uma mudança de cada vez, com observação dos efeitos sociais e planejamento de cada (possível) próximo passo. Liberar tudo de uma vez seria o caos.
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