quarta-feira, 30 de março de 2011

Ideologia: eu não quero uma pra viver

O blog tem atraído umas discussões estranhas ultimamente. Não sei se é minha culpa. Juro que na vida diária sou uma pessoa normal, sem opiniões ou comportamentos extremos. Politicamente, gostaria que existisse um meio-termo entre os excessos do liberalismo e os rigores do tradicionalismo, mas talvez seja impossível.

Tendo a preferir as sociedades que prezam a liberdade individual, mas sem transformar esta em uma obsessão, no "direito de fumar drogas ou andar peladão pela rua". Acredito na livre-expressão, no livre-mercado e na liberdade religiosa, porém tendo por pano de fundo a moralidade tradicional cristã, sem o niilismo pós-moderno ateu nem o fundamentalismo religioso teocrático ou a sha'ria. Sou a favor do Estado mínimo (quanto menor, melhor), o que tende a excluir fascismos e socialismos tanto de esquerda quanto de direita.

Dito isso, não acredito em utopias ou sociedades perfeitas. A humanidade é imperfeita por Natureza, e portanto não tenho nenhum "mapa da mina" para construir uma sociedade ideal. Ao contrário, sou pessimista e tendo a achar, como Hobbes, que "o homem é o lobo do homem". Não promovo nenhum movimento político e prefiro mesmo ficar no meu canto.

Não sou "olavista" ou "olavette". Na verdade, o "olavismo" não existe como movimento político, filosófico ou ideológico, e penso que o Olavo de Carvalho jamais teve a intenção de criar qualquer coisa parecida com isso. Minha única conexão com o Olavo de Carvalho é que leio há vários anos textos do Olavo de Carvalho. Como ocorre com todos os autores que leio, concordo com algumas coisas, menos com outras. Acredito que de qualquer modo seja um pensador excepcional, especialmente se considerarmos o quase total vazio da discussão intelectual no Brasil, onde os maiores "intelectuais" hoje são o Chico Buarque ou o Jô Soares.

Suponho que seja desnecessário esclarecer que não tenho simpatias pelo nazismo. Poderia rebater as várias informações equivocadas que apareceram na caixa de comentários por estes dias, mas seria perda de tempo. Só achei engraçado acusarem "os judeus" de "terem criado a bomba atômica" -- como se os nazistas estivessem, naquele momento, empenhados apenas em pesquisar sobre como construir melhores brinquedinhos para crianças, ou fábricas de arco-íris e unicórnios. Ora! Tenham santa paciência. Os nazistas também queriam a bomba, e só não a conseguiram porque seguiram um caminho totalmente equivocado, além de ter despachado físicos brilhantes, aliás nem todos judeus, mas tampouco simpáticos ao regime.

Detesto o comunismo e o nazismo e tudo o que estes movimentos totalitários representam. Abomino revolucionários de quase todos os tipos. Não sou um progressista, mas tampouco sou um "nacionalista branco" ou mesmo um conservador tradicional. Não acredito no positivismo, que Machado de Assis brilhantemente satirizou como o "humanitismo" de Quincas Borba. Não acho que existam sistemas perfeitos, e a sua busca e tentativa de implantação é uma quimera inútil. Acredito, apenas, no bom senso e no conhecimento acumulado ao longo de centenas de anos de tentativa e erro, que terminam funcionando como regras imperfeitas de uma civilização imperfeita, sempre em precário equilíbrio.

Ideologia: não quero uma pra viver.

domingo, 27 de março de 2011

Poema do Domingo

a smile to remember

we had goldfish and they circled around and around
in the bowl on the table near the heavy drapes
covering the picture window and
my mother, always smiling, wanting us all
to be happy, told me, "be happy Henry!"
and she was right: it's better to be happy if you
can
but my father continued to beat her and me several times a week while
raging inside his 6-foot-two frame because he couldn't
understand what was attacking him from within.

my mother, poor fish,
wanting to be happy, beaten two or three times a
week, telling me to be happy: "Henry, smile!
why don't you ever smile?"

and then she would smile, to show me how, and it was the
saddest smile I ever saw

one day the goldfish died, all five of them,
they floated on the water, on their sides, their
eyes still open,
and when my father got home he threw them to the cat
there on the kitchen floor and we watched as my mother
smiled

Charles Bukowski  (1920-1994)

sexta-feira, 25 de março de 2011

A fúria das elites

Leio no New York Times a notícia sobre um artista da moda. Sua última obra consiste em um monte de sal, ao redor do qual ele passa oito horas por dia arrastando-se de joelhos. O objetivo, segundo a descrição, tem a ver com a "paz no mundo". Não se sabe como ele vai obter a paz do mundo dessa forma, mas talvez imagine que os líderes mundiais fiquem comovidos e parem de guerrear entre si. Ou talvez seja uma forma de autopenitência pela sua própria imbecilidade: o artista pune a si mesmo por degradar a arte ocidental. A performance é ao mesmo tempo uma crítica da própria performance. Genial!

Se você achou essa "obra de arte" ridícula, é apenas por que não conhece as obras anteriores desse Sakamoto das artes plásticas. Segundo a reportagem, o artista:

"[e]specializa-se em instalações brancas envolvendo chocolate branco, açúcar e seu próprio sêmen. Suas esculturas já incluíram seus próprios excrementos folheados a ouro".

Quem gosta de freqüentar galerias de arte moderna é a elite e a classe média aspirante a sofisticada, não o povão nem a classe média trabalhadora. O fato de que esse artista que expõe o próprio cocô seja promovido e consumido pelas atuais elites ocidentais demonstra que há algo de malcheiroso no reino da Dinamarca, e dos EUA também. 

Não sei se vocês seguem o meu raciocínio. A cultura popular, quem nega, degradou-se. Os ritmos da moda são o funk e o rap, que promovem a sexualidade irrestrita e a violência. Quem acha que isso não se traduz em violência real, que assista à recente premiação do DMV Awards, onde a negadinha do rap botou pra quebrar - literalmente. Ou comparem as letras do funk com as letras do Cartola.

De forma simétrica, também a alta cultura, que antes produzia Michelangelos e Velásquez, hoje tornou-se uma mera busca inútil do choque e do niilismo mais gritante. Mas a classe alta o consome como se fosse caviar.

Ora, a função da elite ao longo da história era dar o bom exemplo para o povaréu. Hoje, é o contrário. O mau exemplo começa de cima.

A elite quer sexo, drogas e roquenroll. A elite é socialista. A elite promove cirurgia plástica, anorexia, tatuagem, amputações sexuais e modificações corporais. A elite é a favor de complicados e caros programas de engenharia social.

Sobre este último ponto, alguns comentários. Sim, a elite política, financeira e cultural é quem investe pesadamente em experimentos sociais, mas quem paga o preço final disso é a classe média e os pobres -- as cobaias do experimento. Isolada das conseqüências de seus atos, a elite não se dá conta ou não se importa com os problemas que cria e cujo custo é pago pela população. Pago no sentido figurado, mas também no literal, já que é a classe média que com os impostos financia a sua própria destruição.

A arte moderna, afinal, é apenas um detalhe. Mais preocupantes são as políticas de substituição populacional através da imigração massiva, a procura da extinção das diferenças entre os sexos através da promoção do "transgênero" e do casamento gay, o coitadismo com os criminosos que só gera mais crime e violência, a incessante busca de uma "igualdade geral de resultados" ou de uma "sociedade justa" que é impossível e que só gera desgaste. 

Na Austrália, por exemplo, existe uma "Secretaria de Divisão Equitativa do Trabalho", que se dedica a fiscalizar quantas mulheres e minorias trabalham em cada empresa e multar aquelas que ficam abaixo da cota. Recentemente, ganhou mais 12 milhões anuais para esa tarefa inútil. Hoje eles contam quantas mulheres são empregadas, amanhã contarão quantos travestis. Aqui nos EUA, toda instituição governamental, educacional ou mesmo privada tem uma "Divisão de Diversidade", bem como uma "Secretaria de Prevenção do Assédio Sexual", outra absurda mania americana.

Você já parou para pensar quanto dinheiro é gasto nessas loucuras politicamente corretas?

Em época de crise, tanto dinheiro é gasto em algo perfeitamente inútil e mesmo contra-producente, que só gera mais conflitos. É cocô folheado a ouro, como o do nosso artista.

Muitos conhecem os vários romances e textos de Alexander Solyenitzin criticando o comunismo soviético, do qual foi uma das mais famosas vítimas. Menos conhecido é o seu discurso em Harvard apontando as falhas do Ocidente, já em 1978 apontando alguns problemas que hoje só aumentaram. 

Talvez pareça que com este texto estou dando uma de petralha e colocando toda a culpa "na zelite". Não é bem isso. Acredito apenas que as elites ocidentais dos dias de hoje não estão cumprindo o seu dever de desenvolver o país, liderar, ensinar e formar. Não sei se é insanidade temporária, não sei se é tentativa de suicídio devido à "culpa branca", não sei se é devido à perda dos valores morais tradicionais, não sei se é culpa da falta de uma formação cultural elevada (os novos ricos são muitas vezes profundamente ignorantes), não sei se é desejo megalomaníaco de mudar o mundo por alguns bilionário, não sei se é apenas tudo por dinheiro ou se é alguma macabra conspiração global que inclui o "Clube Bilderberg" e o "projeto eurasiano". Não sei de nada. Só sei que ultimamente, por via das dúvidas, prefiro ficar longe das galerias de arte moderna.

"Está ouvindo este som, Gafanhoto? É o som da civilização implodindo, incapaz de suportar seu próprio peso!"


Se a mídia diz que é bom, deve ser bom.

quinta-feira, 24 de março de 2011

¡Bienvenido a Améxica!

Uma carta escrita por um professor de escola pública do Arizona causou alvoroço ao ser lida por um deputado do Congresso americano. Nela, o professor descreve a atitude de sua turma, constituída por 98% de hispânicos (filhos de imigrantes mexicanos, muitos deles ilegais). Alguns trechos, traduzidos: 
"Os alunos recusaram-se a recitar a Pledge of Allegiance, afirmando que eram mexicanos e que os brancos racistas dos EUA teriam roubado suas terras."

"Quase ninguém havia trazido o material, portanto dei-lhes papel e lápis para que escrevessem, mas amassaram os papéis e atiraram papéis e lápis uns contra os outros."

"Apenas 10 alunos de todas as turmas em que ensino conseguiram completar o ensaio sobre Mark Twain."
"Quase todos os ensaios se pareciam entre si."
"Pedi que parassem de falar espanhol entre si pois era falta de educação, mas responderam que os americanos é que deviam aprender o espanhol pois eles estavam tomando a terra de volta para o México."

"Ninguém quer estudar, estão mais interessados em tornar-se membros de gangues."
Bem, não quero ser preconceituoso com nossos primos mexicanos, mas parece mesmo uma escola brasileira como as que descrevi há pouco.

É certo que a decadência da educação americana não pode toda ser atribuída à imigração latina. De fato, a própria carta do professor tem vários erros de inglês (i.e. "conquer nation", em vez de "conquered"; "invaders language" em vez de "invader's language"). Será que ele é um redneck caricato (como os criticados pelo leitor AN)? Afinal, se erros seriam problemáticos, mas compreensíveis, em um estudante latino (ainda que nascido nos EUA), em um professor de inglês são inaceitáveis.

Mas a verdade é que desde alguns anos vem ocorrendo uma notável decadência no inglês escrito e falado pelos americanos, e a educação pública piorou, muito embora o gasto nesta tenha aumentado continuamente (o argumento do autor Robert Weissberg é que o que piorou não foi a qualidade das escolas, mas a qualidade dos alunos). Outros culpados apontados são a mídia, a falta de disciplina, a falta de interesse dos jovens, a incompetência estatal, a concorrência dos mais bem-preparados asiáticos (que hoje dominam em muitas universidades americanas), etc. Provavelmente, vários fatores somados explicam o descalabro.

De qualquer forma, como observou alguém que comentava na matéria, os mexicanos acham que vão dominar os EUA, "mas como é que esses estudantes se tornarão os novos reis do Vale do Silício, de Wall Street ou de Hollywood, se não conseguem nem terminar um ensaio sobre Mark Twain"?

Mais provável mesmo é que, salvo as exceções de praxe, se tornem uma eterna subclasse de faxineiros e jardineiros, o que aliás estaria perfeito para a elite globalista local, que poderia contratá-los a preço de banana para limpar as suas mansões. Talvez seja exatamente o que tanto uns como outros queiram.

segunda-feira, 21 de março de 2011

"Mamãe, papai é gay?"

Apenas a título de curiosidade, deixo o link para um livro pró-gay para crianças. Sou só eu achei o livro levemente perturbador? Não, não chega a ser arrepiante, não tem cenas gráficas, mas tudo parece um pouco antinatural, desde a mãe que aceita calmamente o divórcio (e que seu marido agora esteja namorando com um homem), ao menino que senta no colo do "colega" do papai.

Não se sabe muito a respeito, mas alguns estudos sugerem que filhos que crescem com pais homossexuais têm maior propensão a tornarem-se, eles próprios, homossexuais. Mesmo quando não se tornam gays, podem adquirir características diferenciadas de outras crianças. Segundo um recente estudo:

"Os filhos das lésbicas se comportam em modos tradicionalmente menos masculinos. Eles são mais afetuosos do que seus pares em famílias heterossexuais."

Bem, ter duas mães superprotetoras talvez cause isso... Essa desmasculinização dos meninos, naturalmente, é celebrada pela estudiosa, que vê isso como "vantagem dos pais homossexuais", juntamente com o fato das meninas tornarem-se aparentemente mais masculinas. Claro, a estudiosa é lésbica e quer mesmo é que os gêneros se confundam.

Tudo bem. Talvez não seja grave. Acho que o preocupante é mesmo o seguinte: onde isso tudo irá parar? O problema dos progressistas é que eles são insaciáveis. Antes queriam apenas que os gays fossem aceitos pelo restante da sociedade, sem discriminação. Conseguiram essa vitória, de forma inegável. Salvo religiosos radicais, a maioria das pessoas aceita os gays sem medo. Há discriminação, mas não de forma diferente do que ocorre com outros grupos. Culturalmente, estão na crista da onda. Não há programa de televisão ou comédia romântica na qual não haja ao menos um personagem gay.

Que ótimo. Mas a lógica do progressista é que o "progresso" nunca pode parar. Eles querem mais. Agora lutam pelo casamento gay e pela adoção de crianças por casais gays. Alguns se antecipam e já querem o direito de seduzir jovens de 14 anos. Essa constante exigência de mais e mais "direitos" é que está causando críticas ao movimento gay.

O notável é que isso se aplica também às outras áreas do "progresso social". A imigração, por exemplo: se fossem apenas alguns poucos, ninguém se incomodaria. É a pressão pela admissão de milhões e milhões de refugiados e ilegais o que incomoda, como se uns poucos países tivessem o dever de sustentar o globo. O mesmo com o multiculturalismo: antes a luta era para incluir mais personagens minoritários nas universidades e na televisão. OK. Mas, agora, a coisa vai mais além, e virou obrigatório incluir minorias em tudo. Na Inglaterra, por exemplo, um produtor de televisão foi despedido por realizar um programa inglês com personagens ingleses em um pequeno vilarejo inglês, isto é, sem usar minorias étnicas.

O problema dos progressistas é que não sabem quando parar. Não, não é que não saibam, é que não podem: a lógica da sua ideologia impele a experimentos sociais cada vez maiores. E isso será a sua ruína, quando o tempo chegar. E vai chegar.

domingo, 20 de março de 2011

Os Senhores da Guerra

Prometi a mim mesmo não blogar até segunda, mas o bombardeio da Líbia por forças americanas, francesas e britânicas me intriga e me perturba.

Obama, que tanto prometia ser o "presidente da paz", conseguiu deixar os EUA envolvidos em três conflitos ao mesmo tempo, um recorde: além das tropas que ainda estão no Iraque e no Afeganistão, agora interfere na Líbia.

Minha pergunta é: se era para bombardear algum país, então por que não o Irã? São eles que mais massacraram seu próprio povo (após a fraude eleitoral do ano passado); são eles que estão desenvolvendo armas nucleares; são eles os que recentemente mataram soldados americanos e seqüestraram soldados britânicos, são eles os que mais apoiam o terrorismo internacional. Ou por que não a Arábia Saudita? (Bem, nesse caso já sabemos por que não).

A Líbia? Sim, Kadafi não é flor que se cheire, mas tampouco representa uma grande ameaça internacional. Promoveu atentados nos anos 80 e 90, mas nas últimas décadas estava até quietinho. Pode até estar matando rebeldes em seu próprio país, mas e daí? No mundo pós-Guerra Fria, devem os países mais poderosos intervir em todos os conflitos ao redor do globo? No Sudão, houve matanças muito piores, mas nenhum país ocidental interveio (e olha que há petróleo também por lá). Na escaramuça entre Rússia e Georgia, ninguém foi maluco de se meter.

Sempre desconfio quando dizem que "a razão de tudo é o petróleo", mas neste caso talvez seja mesmo. Em tempos de crise, acreditar que há países que se mexem exclusivamente por "razões humanitárias" é algo que não é muito engolido pelo cínico que estou me tornando ultimamente. A zona ocupada pelos rebeldes, curiosamente, é a parte do país onde tem mais poços de petróleo.

E, no entanto, essa explicação tampouco me convence. De que forma o acesso ao petróleo ficaria mais fácil com os rebeldes no comando? Isso sem falar que, com a guerra, o preço tende a aumentar, o que beneficia ditadores e fundamentalistas árabes e não aos países ocidentais importadores.

O objetivo da ação militar parece ser apenas a de promover uma "zona de exclusão aérea" na parte ocupada pelos rebeldes. Isto é, evitar que eles sejam bombardeados por Kadafi. Ao mesmo tempo, segundo os últimos comunicados, as forças da coalizão não pretendem atacar diretamente Kadafi. Ou seja: estão organizando um "empate". Nem Kadafi vence, nem os rebeldes. A situação pode se alastrar por anos a fio. Quem sabe vire um novo conflito Israel-palestinos, que só existe mesmo porque idiotas de fora insistem em manter um inexistente "processo de paz".

Por falar nisso, quem são os "rebeldes" líbios? Procuro informações a respeito, e não acho. Provavelmente são tão ruins ou piores do que o Kadafi. Não entendo por que EUA, França e Inglaterra apoiam um grupo de pessoas que, claramente, seria ingenuidade acreditar que sejam democratas à maneira ocidental.

E os franceses? Por que os franceses, ou ao menos o Sarkozy, estão tão ansiosos em bombardear o Kadafi? Será que é por isto? Ou tem algo a ver com isto?

Como é que Obama conseguiu ordenar o uso de força militar sem pedir autorização ao Congresso americano? (Lembrem que esta foi necessária para invadir o Iraque, e demorou vários meses). Será que a autorização só é necessária quando soldados entram de fato no país?

Demasiadas perguntas, poucas respostas. Se me perguntarem se sou a favor dessa nova ação militar, digo que não. (Ainda que isso pareça me colocar do lado da esquerda chavista.) É que parece-me um desperdício de dinheiro, de tempo e de vidas, no momento mais equivocado possível. Mas deve haver muita coisa por trás de tudo isso que ainda não sabemos, ou ao menos que eu não sei.

Se alguém souber, me avise.


Esperemos que as famosas guarda-costas de Kadaffi não sejam atingidas.

sábado, 19 de março de 2011

Pausa

Há vários posts em preparação (sobre a Líbia, sobre o massacre da família de colonos judeus, sobre neonazistas, sobre papais gays e sobre a questão nuclear).

Lamentavelmente, não cheguei a completar nenhum deles satisfatoriamente, e além disso tenho muitas outras coisas para fazer. Bom fim de semana. Volto depois.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Colonos judeus e nacionalistas brancos

O assassinato por um palestino de uma família de colonos israelenses a facadas, incluindo uma criancinha de três anos e um bebê de três meses, causou escândalo na comunidade internacional.

Não, que digo? Salvo um que outro editorial, causou bocejos nos EUA e Europa e comemorações em Gaza, com palestinos distribuindo doces. Os colonos israelenses, afinal, "ocupam território ilegalmente", são comumente comparados aos "nazistas", e portanto merecem morrer (aqui uma matéria sobre o massacre: aviso, há fotos gráficas das vítimas).

terça-feira, 15 de março de 2011

Japão versus Haiti

"Por que não houve saqueios, estupros e violência no Japão após o desastre?", pergunta um jornalista inglês.

Ele não responde, mas grande parte dos comentaristas o faz por ele: "não há negros nem latinos no Japão", dizem, protegidos pelo anonimato virtual.

Vamos aos fatos. No Japão, de fato não houve violência nem pânico, enquanto todos lembram da epidemia de roubos e estupros que foi o Haiti pós-terremoto.

Eis o Japão:


Eis o Haiti:


Pior ainda. Um ano depois, o Haiti mal começou a reconstrução, e ainda há pessoas vivendo em campos temporários de refugiados, que estão simplesmente virando novas favelas. No Japão, já estavam trabalhando na solução dos problemas logo depois do desastre.

Claro, as diferenças econômicas explicam e muito: o Japão é a segunda economia mundial, o Haiti deve ser uma das últimas.

Mas o fato é que há diferenças no comportamento das populações. Teria algo a ver com a raça ou a cultura, como insinuam alguns comentaristas? A população negra americana, por exemplo, muitas vezes parece ter dificuldade em conter a sua violência. Vejam este vídeo, ou este. Agora imaginem isso ocorrendo em uma festa da comunidade japonesa. Difícil, certo? De fato, os Asiático-Americanos são o grupo menor representado nas estatísticas de crime no país.

Não quer dizer que os japoneses (e outros asiáticos) não sejam capazes de violência, ao contrário. Foram sádicos e violentos durante as guerras. Em Nanking, mataram e estupraram milhares de civis. Torturaram prisioneiros de guerra americanos de forma inimaginável. E, mesmo ficando no campo dos terremotos, lembremos que após o terremoto de Kanto, em 1923, os japoneses acusaram os coreanos que moravam no Japão de roubar alimentos e envenenar os poços de água. Entre dois mil e seis mil coreanos foram massacrados em represália aos rumores (japoneses odeiam coreanos, embora para nós "eles pareçam todos iguais"). 

Acho que a diferença é a seguinte: os japoneses podem ser violentos sim, mas contra os estrangeiros, sendo unidos entre si. O Japão é um país extremamente nacionalista e coeso socialmente, com baixos níveis de crime. Como contrapartida, o estrangeiro ("gaijin") jamais é aceito, mesmo sendo de segunda ou terceira geração. Há quem veja a recusa em aceitar plenamente os brasileiros de origem japonesa como ingratidão, já que no Brasil ninguém vê os japa-brazucas como cidadãos de segunda classe. 

Todas as culturas têm seus pontos positivos e negativos. Se no Haiti são mais desorganizados, provavelmente também são mais alegres e recebem melhor os estrangeiros do que os japoneses.

Pessoalmente, como já informei em outro post, admiro a cultura japonesa, e diretores de cinema como Kurosawa e Miyazaki, mesmo sabendo (ou talvez por isso mesmo) que em muitos aspectos os japoneses são bem diferentes dos ocidentais, e, em uma guerra, nos massacrariam impiedosamente.

Casa de Augusto Nascimento.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Tsunami

O desastre natural que atingiu o Japão nestes dias deixou Hiroshima e Nagasaki no chinelo, mostrando que a Natureza ainda é mais poderosa do que qualquer operação humana.

Certamente todos viram os apavorantes vídeos ou esta incrível série de imagens antes-depois, portanto nem vou comentar. Dizer o quê? Não há nem o que falar: a magnitude da catástrofe quase parece nos comandar a um respeitoso silêncio.

Fica o registro da eficiência e serenidade do povo japonês: nenhuma notícia de quebra-quebra ou roubos, operações de resgate bem planejadas, eficiência até na evacuação da população para longe da usina nuclear danificada.

Gosto muito da cultura japonesa, ou do pouco que conheço dela que chega até nós ocidentais (Kurosawa, Miyazaki, Sharaku, samurais, mangás, etc.). Peço orações pelo povo japonês, com o qual os brasileiros temos uma estreita relação.

Um mundo de luto e dor;
Cerejeiras florescem,
Mesmo ali.
ku no shaba ya
sakura ga sakeba
saita tote

(Kobayashi Issa, 1763-1828)

domingo, 13 de março de 2011

Poema do Domingo

Acrobata da dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
como um palhaço, que desengonçado,
nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
de uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
agita os guizos, e convulsionado
salta, gavroche, salta clown, varado
pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-se bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
nessas macabras piruetas d'aço...

E embora caias sobre o chão, fremente,
afogado em teu sangue estuoso e quente,
ri! Coração, tristíssimo palhaço.

Cruz e Sousa (1861-1898)

quarta-feira, 9 de março de 2011

Retratos da solidão contemporânea

Num artigo anterior falei brevemente sobre a solidão contemporânea e o livro "Boliche solitário", de Robert Putnam, mas acho que o tema é interessante em si mesmo e merece um artigo à parte. 

A transformação de que Putnam fala ocorreu, é certo, na América e, na verdade, por todo o mundo ocidental. As famílias não só são menos numerosas, como poucos são os que ainda as mantém unidas: a maioria as têm espalhadas pelo mundo, ou ao menos por cidades diferentes. Pais divorciados, um aqui outro ali, um irmão lá, o outro acolá.

A nova família, em muitos casos, tornou-se de apenas dois: mãe solteira e filho. É curioso que os gays agora queiram tomar para si um modelo falido, salvo, claro está, que não queiram realmente. Depois do casamento gay, a grande luta do século será pelo divórcio gay, e depois virá a briga pela guarda dos pequenos gayzinhos.

Os lamacentos hippies dos anos 60 queriam acabar com a família tradicional e, de certa forma, conseguiram. Mas seu sonho coletivo tampouco se realizou. Os experimentos de comunidades alternativas onde todos dividem tudo e mais a mulher fracassaram rotundamente. Woodstock é só uma lembrança cada vez mais fugaz. Perguntam-se os velhos hippies, hoje em luta contra o Alzheimer: "Foi real mesmo, ou era só efeito do LSD?"

E as amizades? Nos EUA, é muito raro se manter no mesmo local de nascimento por toda a vida. Nasce-se em uma cidade, vai-se estudar em outra, em alguns casos faz-se a pós-graduação em ainda outra cidade diferente, e finalmente trabalha-se onde se conseguir, que pode ser em outro estado ou até em outro país. Difícil manter amizades de infância assim.

Clubes? Associações comunitárias? Isso perdeu-se. Salvo exceções, não há mais a sensação de pertencer a um grande grupo unido. A sociedade está fragmentada, não sei se devido ao multiculturalismo ou a outros fatores, e a sensação é de que é cada um por si.

Resta a Internet como último refúgio da amizade. Hoje todos temos 500 "amigos" no Facebook e conversamos com eles por Skype. Não, não é ironia. É uma ajuda e tanto, especialmente para quem mora fora do país. Antes manter esses contatos era bem mais complicado. Amigos longínquos tornaram-se mais próximos. O mundo ficou menor. Mas será que esses encontros virtuais substituem a vida real?

De certa forma, sim. Este blog, e outros, são como botecos. Lá vem o Chesterton tomar seu uisquinho do dia. A Confetti bebe rapidinho seu martini e já vai. Logo mais entra o Augusto Nascimento, positivamente entornando mais uma garrafa de cachaça, aquela nacional. O Mais Valia, que já está lá, pede mais uma. Rolam brigas e discussões acaloradas. Seu Comunista! Antisemita! Papista! Ateu! E saudosismo: que fim levaram a Didi Iashin, o Marcelo, o Pax, o DD? Talvez mudaram de bar, ou abandonaram a boemia. Mas eis que chega um novo cliente, o Microempresário. O que vai ser, patrão? Uma cervejinha? Pois não.

Sim, a vida virtual substitui o boteco real, sem o perigo de você tropeçar ou ser assaltado no caminho de volta para casa. E no entanto, às vezes dá saudades de um tempo em que tudo era mais concreto, mais palpável, e as amizades duravam trinta anos sem precisar de Facebook, e jogava-se boliche em clubes, e as famílias tinham numerosos tios e primos, e casamento gay era coisa de ficção científica, e nascia-se e morria-se no mesmo lugar.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Escala de valores

Um kosovar muçulmano, em agradecimento aos soldados americanos que estupidamente deram a independência ao Kosovo (região da Sérvia), matou dois deles a tiros. Ninguém na mídia progressista deu bola. São só soldados.

Os coptas, enquanto isso, só se ferram no "novo" Egito. Apedrejados, fuzilados, incendiados, vilipendiados pela mesma turba que aparentemente queria "democracia" e "liberdade". Ninguém dá bola. São só cristãos.

Em Cuba, paraíso no qual estranhamente ninguém quer morar, um americano foi preso por instalar uma rede de Internet sem autorização do governo dos irmãos Castro. Considerado subversivo, pode pegar até vinte anos de prisão. Ninguém dá bola. É só um americano.

Qual vida vale, para os esquerdistas? A vida dos artistas famosos de esquerda. A vida dos políticos de esquerda. A vida das minorias "oprimidas". A vida dos criminosos. A vida dos animais. O resto? Que se f.............................

Se a vítima faz parte de uma das categorias eleitas, como a dos prisioneiros travestis (bônus por pertencer a duas categorias de "oprimidos" distintas), ele recebe todas as regalias possíveis, em nome dos "direitos humanos". Já se ele não faz parte, os esquerdistas podem ser impiedosos.

Por exemplo, em uma notícia sobre os turistas americanos recentemente mortos por piratas, um dos primeiros comentários, naturalmente de um progreçista, informava que os piratas são apenas vítimas da Grande Indústria Pesqueira, que tirou-lhes o emprego de pescadores tradicionais, de forma que eles se viram "forçados" a cometer o crime de pirataria. Já as vítimas, ora, eram missionários que carregavam Bíblias em seu barco. Quem os mandou fazer proselitismo cristão?

Muitos se perguntam por que o nosso leitor AN odeia tanto o Olavo de Carvalho, ou por que os jornalistas de esquerda odeiam tanto a Sarah Palin, quando estes pouco fizeram de concreto para merecer tanto ódio (além de existir).

Mas a resposta é mais simples do que parece. Entenda: o Progressista, embora em geral pertença à uma das categorias "opressoras" (branco, rico ou de classe média, profissional liberal), opõe-se a esta criando a figura diabólica do "Conservador", ou, como dizem alguns blogueiros, "A Direita Raivosa." O conservador é o vilão, é a causa segundo o Progressista para tudo o que está errado no mundo. Se é verdade o que diz René Girard, que o bode expiatório é o princípio fundador das sociedades humanas, então o Conservador é o bode expiatório do Progressista.

De pouco adianta informar aos esquerdinhas que Che Guevara mandou executar centenas de pessoas, afinal tais vítimas eram apenas "contra-revolucionários" malvados e mereciam morrer. Porém, nestes dias em que a vida de bichos muitas vezes é considerada mais valiosa do que a de cristãos, pode ser mais útil lembrar-lhes que, além das centenas de execuções, El Che também cometeu um crime contra uma forma de vida que se encontra no topo da escala de valores progreçista: mandou estrangular um cachorrinho que seguia os guerrilheiros, na inocente busca de carinho e afeição. 


sexta-feira, 4 de março de 2011

Mas é Carnaval...

Nunca conheci ninguém que gostasse de Carnaval.

Tá bom, exagero um pouco. Havia exceções. Mas, em geral, o sentimento em relação ao Carnaval no meio em que cresci era mais bem de rejeição. Quando éramos crianças, nossos pais procuravam de todo jeito nos afastar da TV e seu festival de bundas, mas a verdade é que naquele período elas não nos interessavam. Mais tarde, na adolescência e juventude, quando chegava a época das festas carnavalescas, o negócio era ir para uma praia distante ou então no bar com os amigos. Carnaval era tempo de se esconder. 

Percebo que, em geral, a sensação entre a classe média, ao menos no sul do país (não tenho dados para avaliar se ocorre também em outras capitais), é de não reconhecer-se a si mesma na "maior festa do mundo". Quais seriam os motivos?

Se o processo for limitado à região sul e sudeste do país, estaria explicado por uma mera diferença cultural entre o sul europeizado e o nordeste africaníndio. Se for de toda a classe média brasileira, a explicação tem mais a ver mesmo é com a diferença de classe social. Carnaval, em outras palavras, seria coisa de pobre. As referências da juventude de classe média são o rock e outros ritmos de origem estrangeira. 

Isso era muito mais marcado antigamente. Apesar de algumas exceções como o Noel Rosa, morro e asfalto viviam separados. Foi provavelmente a partir da "bossa nova" nos anos 50 e 60 que a união aconteceu, e o interesse da classe média pelo samba e pelo Carnaval oficial aumentou. Hoje é até chique participar da orgia, ao menos em camarote VIP.

Curiosamente, à medida em que o Carnaval se tornou cada vez maior e mais popular -- "a maior festa do mundo" -- ele decaiu em qualidade. As alegres e inocentes marchinhas dos anos 40 e 50 deram lugar a sambas-enredo sem pé nem cabeça, e a nudez foi se tornando cada vez mais explícita, bem como o envolvimento dos bicheiros e traficantes. 

Se bem que essa decadência na cultura brasileira e sua correspondente sexualização é geral, não limitada a um evento ou classe social.

Por exemplo, comparem as belas letras de Cartola, negro e pobre, com as letras de qualquer funk ou rap de hoje em dia. É de doer.

Aqui no exterior, é o contrário. Há grande interesse pelo Carnaval brasileiro -- não sei se é só pelas mulheres peladas, ou por motivos antropológicos, como o estudo de uma cultura alienígena, busca do exotismo etcétera e tal. Eu, quem diria, tenho até saudade de ligar a televisão e ver bundas 24 horas por dia.

E você, gosta de Carnaval?

Seja como for, boa festa a todos.

terça-feira, 1 de março de 2011

Por que ninguém gosta dos ricos?

"Os ricos são diferentes", dizia Francis Scott Fitzgerald. Será mesmo?

Olavo de Carvalho, quem diria, recentemente atacou o neoliberalismo. E não é a primeira vez. Segundo ele, o liberalismo econômico, quando afastado de regras morais da tradição religiosa e das normas civilizadas de conduta, não significa nada e pode até mesmo piorar a situação.

Vou ter que concordar, com ressalvas. Embora eu seja totalmente favorável ao livre-mercado e ao Estado mínimo, tenho para mim que o liberalismo econômico é apenas um dos ingredientes que fazem o bolo civilizatório. Há muito mais nessa receita, por mais que gritem e gemam algumas polianas liberais.

E há um tema que tem causado bastante polêmica ultimamente, seja aqui no blog, seja nas discussões políticas em geral, que tem a ver com a influência cada vez maior das elites de mega-bilionários na política, seja através de lobbies, seja através de financiamento aos partidos, seja através da boa e velha corrupção.

Existe uma elite globalista, formada por milionários que usam trabalhadores chineses e telemarketers indianos para vender produtos a latinos. Eles estão pouco se lixando para a classe média local que está perdendo seu emprego ou sua casa. Os mega-ricos, seja de que país forem, têm mais em comum entre si do que com o resto da população de seus respectivos países.

No paraíso dos ultra-ricos globais, não há preconceitos políticos. Os bilionários brasileiros são petistas, os bilionários americanos são Democratas. Há entremuitos a ilusão de que os ricaços não gostem do estatismo. Besteira: se isto os beneficia, gostam sim. Economia de livre-mercado é coisa de pobre, lucra-se mesmo é nas ditaduras e nas repúblicas sindicalistas. Basta dar propina para os bolsos corretos.

No paraíso dos ultra-ricos globais, tampouco há espaço para a "islamofobia" ou o racismo. Milionários árabes andam de mãos dadas com bilionários americanos. E o que dizer da figura deste negão playboy, Teodorin Nguema Obiang, um ministro da miserável Guiné Equatorial, que tem dezenas de carros e uma mansão de fazer inveja a Xanadu? Não obstante a população de seu país viva quase toda na miséria e ele em teoria receba apenas 5 mil dólares por mês, a descoberta do petróleo permitiu o surgimento de alguns novos ricos bem conectados.

Os ricos costumam ser odiados. Em muitos casos por inveja, é certo, mas também em parte porque muitos os vêem desconectados do resto da população. Não vivem o que eles vivem; não sofrem o que eles sofrem.

Espremida entre os pobres que despreza e os ricos que inveja, quem sofre mesmo sempre é a classe média, que ainda por cima é quem termina pagando a conta, já que os pobres precisam ser sustentados e os ricos guardam bem seu dinheirinho em paraísos fiscais.

O seguinte diálogo (na verdade, segundo descobri, saído de uma peça teatral, o que não tira sua força) entre Jules Mazarin, cardeal e primeiro-ministro da França, e o seu ministro de estado Jean Baptiste Colbert, explica bem a situação:

Colbert: Para arrecadar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço…
Mazarin: Se é um simples mortal, lógico, quando ele está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah, sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de obter se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarin: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarin: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
 Mazarin: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
 Colbert: Então como havemos de fazer?
 Mazarin: Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!

Por que ninguém gosta dos pobres?

Um artigo interessante fala sobre os moradores de um subúrbio de classe média de Detroit que ficaram incomodados quando, devido à queda de preços nas casas em bancarrota, o gueto começou a se mudar em peso para lá. 

Detalhe: não há racismo aqui. Ambos os grupos são negros. São os negros de classe média que não querem que os negros do gueto vão para lá. Mas por quê?

Simples. O cara rala toda a vida para sair do gueto e comprar uma casa em um bairro mais razoável epoder dar uma educação melhor às suas crianças, e aí alguém compra uma casa por um preço irrisório logo ao lado da sua. Só isso já seria suficiente para irritar o cristão, mas não é o principal problema. O problema é que, com os habitantes do gueto, costuma vir o comportamento do gueto. Lixo jogado nas ruas, pessoas gritando às três da manhã, bebida, drogas, gangues, e finalmente tiroteio. Logo logo, já está na hora de se mudar de novo.

A mesma coisa acontece no Brasil, com as pessoas que moram próximas a favelas. Conheci uma petista que exigia a remoção de uma favela que estava iniciando a formar-se perto da sua casa de três quartos com piscina. "Ué, mas você não é petista, não gosta de pobre?" Desconversou. 

É isso o que os esquerdistas não entendem, ou fingem não entender. Pobreza é muitas vezes conseqüência, não causa. A idéia do blogueiro Sakamoto para resolver a pobreza é dar a eles "moradia digna", em apartamentos no centro da cidade, cujo aluguel seria pago pelo contribuinte de classe média. É receita para o desastre. É a mesma idéia que foi realizada aqui nos EUA com o que se chama Section 8: pobres que têm apartamentos pagos pelo Estado em zonas nobres da cidade. Como inquilinos, são um inferno: raramente podem ser despejados, portanto eles usam e abusam. Não pagam nada, então tampouco valorizam a propriedade. Não tendo e muitas vezes nem mesmo trabalho, terminam utilizando o novo lar como ponto de venda de drogas. 

Pobreza não é mera questão de recursos materiais, mas de comportamento. Se você quer eliminar a pobreza (se é que isso é possível), precisa primeiro modificar certos tipos de comportamento. Mas isso é bem mais difícil do que dar bolsa-esmola por toda a vida.