terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Educação para primatas

Já escrevi mais de um artigo a favor do homeschooling. Porém, vendo alguns vídeos assustadores sobre a violência contra professores no que passa por "escola pública" hoje no Brasil, pergunto-me se, na verdade, esses alunos estão ali justamente porque os pais, no caso em que estes existam, não os querem em casa. A escola virou uma espécie de creche para pequenos marginais. Por algumas horas por dia, a família têm sossego... 

Tendo trabalhado por anos no ramo da educação, aprendi algumas coisas:

1) A escola é supervalorizada. Precisamos realmente de quinze anos de educação? Todos precisam aprender (mal) sobre História e Biologia, esquecendo isso logo depois? Uma minoria, que irá depois para a universidade ou entrará em um mercado de trabalho mais avançado, talvez precise. O resto, precisa apenas aprender as operações básicas da aritmética, a taboada, a ler e a escrever.

2) Mesmo a Universidade é supervalorizada. O que é mais necessário em uma sociedade, encanadores ou graduados em Ciências Políticas? Mas isso é assunto para outro post.

3) Alguns alunos não têm capacidade para aprender e provavelmente não deveriam nem estar em uma escola de segundo grau, quanto menos em uma universidade, para o seu próprio bem.

4) Muitos alunos que têm capacidade, no entanto não querem aprender. E não há nada, absolutamente nada que você possa fazer para ensinar um aluno que não quer estudar.

5) O melhor que a escola pode fazer por algumas pessoas é simplesmente ensinar-lhes noções básicas de respeito, disciplina e obediência. Lamentavelmente o Paulo Frieira e outros intelectualóides ferraram com isso, com suas idéias delirantes de igualdade entre aluno e mestre.

6) Antes os alunos usavam uniforme e apanhavam do professor, o que podia ser cruel mas funcionava. Hoje, perdida toda noção de autoridade do professor, os alunos se vestem como membros de gangues e batem nos professores, quando não os matam.

7) A culpa não é só do aluno, mas também, sim, dos pais. Hoje em dia há pais que acreditam que quando o aluno vai mal em uma prova, a culpa é do professor, e saem a discutir com ele. Também os pais perderam o respeito pelos professores ao mesmo tempo em que não conseguem ter autoridade sobre os próprios filhos.

8) As tecnologias da informação como telefones celulares e outros aparelhos portáteis podem até ter suas vantagens, mas tornaram as escolas de segundo grau um inferno. Em vez de prestar atenção, os alunos estão trocando mensagens ou filmando-se a si mesmos com seus celulares, para depois colocar no Youtube.

Eu não digo que tenha a solução para os problemas da educação no Brasil, mas começaria por algumas coisas: um, trazer de volta a autoridade do professor, se não com castigos físicos, ao menos com punições severas em caso de desrespeito. Pois nem isso ocorre hoje: observe que, no caso da aluna que atirou uma cadeira contra o professor e o chamou de idiota, a escola ainda está pensando se deve puni-la...

Dois, tornar a escola secundária algo não-obrigatório, liberando os alunos preguiçosos ou imbecis mais cedo para as ruas, e os mais inteligentes para estudarem por sua conta ou com a ajuda de seus pais. O fato é que esse negócio de escolarização muitas vezes só serve para fins estatísticos, para o governo poder dizer que existem 99% de alfabetizados (mentira).

Temos milhões de analfabetos com diploma! Afinal no Brasil, o que conta mesmo é o diploma, jamais a educação. Estudar para adquirir conhecimento? Ora, isso é coisa de jumento.  

14 comentários:

Augusto Nascimento disse...

"Mesmo a Universidade é supervalorizada. O que é mais necessário em uma sociedade, encanadores ou graduados em Ciências Políticas?"
"The society which scorns excellence in plumbing as a humble activity and tolerates shoddiness in philosophy because it is an exalted activity will have neither good plumbing nor good philosophy: neither its pipes nor its theories will hold water."-John William Gardner

Mr X disse...

Às vezes eu até acho que poderia ter sido encanador. Não é uma má profissão. Não sei como vai o mercado aí no Brasil, mas devem ganhar mais do que professores secundários. Aqui nos EUA ganham bastante bem, mais do que muitos profissionais com diploma universitário.

Augusto Nascimento disse...

"Aqui nos EUA ganham bastante bem, mais do que muitos profissionais com diploma universitário."
Tenho ouvido isso há anos. Se bem que eu não entendo: boa parte da população americana deve ter as qualidades físicas, intelectuais e morais que fazem um bom encanador (ser um bom encanador me parece depender mais de trabalho duro para aprender do que de um talento específico, como habilidade motora, ótima memória ou tino comercial). Que a classe alta despreze esse tipo de atividade é explicável (nosso Lima Barreto já falava nos doutores como uma nova "nobreza"), mas o que será que impede que todos os pobretões e vítimas da recessão se convertam em encanadores, aumentem a oferta e diminuam os preços? Será que eu estou subestimando a dificuldade em se tornar um encanador(diferente do trabalho duro que se possa ter que fazer uma vez no emprego, que é outra história)? Ou será que existe uma barreira-certificação, por exemplo- que torna os preços artificialmente altos? Que os encanadores americanos ganhem mais que os brasileiros parece lógico: von Mises, por exemplo, apontava esse tipo de fenômeno. Além disso, prestadores de serviço como encanadores estão insulados de juggernauts como a China, que não exportam encanadores, e a Índia para a qual se pode "outsourçar" o trabalho de contadores, advogados, médicos e atendentes de telemarketing, mas não o dos encanadores. Por outro lado, se encanadores possuem renda superior a certos profissionais diplomados, isso significa que há uma falha de mercado, com muitos profissionais do "tipo errado" produzidos (há reclamações quanto a uma subprodução de engenheiros e afins na América e no Brasil). Ou, longe de ser uma falha de mercado, seria isso o produto da intervenção do Estado (Obama, aliás, em seu State of The Union Address, comprometeu-se a aumentar a quantidade de diplomados). Será que podemos enquadrar isso nas ideias de Schumpeter quanto à queda do Capitalismo, vítima de sua classe intelectual em vez de seus proletários? Mais importante, podemos considerar isso uma amostra da ideia de grande estagnação, defendida por autores como Tyler Cowen e Scott Sumner(não confundir com Lawrence Summers, que é um chato e trabalhou para Obama)? Nenhuma dessas perguntas é fácil, e a hora é grave.

Chesterton disse...

Tá vivo, AN....que saudades.

Mr, a obrigatoriedade de ir a escola é uma faca de 2 legumes. Desvaloriza-a. Eu deixei de dar aulas para alunos de medicina da federal porque eles almoçavam na minha frente, dormiam com os pés em cima da mesa e eu fui repreendido pelo diretor porque simplesmente perguntava quem queria ir embora e dava presença para todo mundo.
até hoje tenho náuseas lembrando da aluna "almoçando um sanduiche de maionese que escorria pelo canto da boca". Arghhh!!!

Mr X disse...

Bem, há uma certa reserva de mercado criada pela obrigação de ter uma licença, e pelos sindicatos. Mas há ilegais e não-licenciados que realizam também atividades de encanamento a preços mais baixos.

"The great stagnation" tem algumas idéias interessantes, segundo o autor os ganhos com a educação e com a revolução tecnológica já atingiram um platô:

http://www.economist.com/blogs/freeexchange/2011/01/growth_2

Augusto Nascimento disse...

"Eu deixei de dar aulas para alunos de medicina da federal porque eles almoçavam na minha frente..."
Se bem que esse é menos um caso de "obrigatoriedade de ir à escola" do que simples desrespeito a uma obrigação livremente assumida, não muito diferente do do empregado que faz e acontece e leva o supervisor à loucura. Ninguém diria que isso é produto da "obrigação de trabalhar".
"'The great stagnation' tem algumas idéias interessantes, segundo o autor os ganhos com a educação e com a revolução tecnológica já atingiram um platô"
Aliás, Krugman, em sua encarnação menos louquinha lá nos anos 90 (Bush fez tanto mal para o cérebro dele quanto Lula fez para Olavo de Carvalho-orem por eles, por favor), já tinha popularizado um ponto semelhante com relação ao desempenho do Japão e dos tigres asiáticos. Em poucas gerações, os antigos camponeses ganharam diplomas do Ensino Médio? Ótimo, a economia cresce a 10% por ano. Qual o próximo passo, mandar todo mundo para a pós? Drucker, por sua vez, alegava que a "época heroica" das invenções viu uma transformação tecnológica mais radical (aviões, lâmpadas, rádio, telégrafo, linha de montagem aplicada à indústria automobilística etc.) do que qualquer coisa que tenhamos visto ultimamente e que os setores que sustentam a economia atual surgiram lá e ainda não foram substituídos por novos campeões. Como diz Cowen, a América (e o mundo desenvolvido) comeu os frutos mais fáceis de pegar, que demandavam menos esforço.

Mr X disse...

Alunos almoçando na aula já é pouco. Se fosse só isso, nem seria tão grave...

comeu os frutos mais fáceis de pegar, que demandavam menos esforço.

Quanto a isso, discordo. Educar milhões de pessoas demanda esforço. Inovações tecnológicas demandam criatividade. E por que os países subdesenvolvidos não fazem a mesma coisa, já que é tão "fácil"? Olha toda a "low-hanging fruit" que tem no Brasil.

Augusto Nascimento disse...

"Educar milhões de pessoas demanda esforço."
Concordo, o Universo levou bilhões de anos para chegar aonde chegou (como dizia o Barão de Itararé, o Estado Novo é o estado a que chegamos). Mas ainda assim, é mais fácil (ou mais produtivo) dar um diploma de Ensino Médio para quase todo cidadão e seu cachorro, como no Japão, do que dar um diploma universitário ou uma pós-graduação. E mesmo que se dê um diploma universitário a todo mundo, isso não vai ter-proporcionalmente- o mesmo efeito econômico que teve alfabetizar todo mundo ensinar cada operário a contar até três, ensinar todo mundo a ler as instruções do metrô, etc. A partir de um certo ponto, os retornos são decrescentes, e um aumento de esforço em uma área produz um aumento de produtividade menor. E repare que eu não disse que é fácil, eu disse que é mais fácil do que o que eles vão ter que fazer agora para conseguir os mesmos incrementos de produção-tanto é que, enquanto só tinham que brincar de alfabetizar a população e repetir a Revolução Industrial na base do chicote, URSS, Japão, os outros asiáticos-a China ainda está nessa fase- devoraram o asfalto.
Quanto ao Brasil,imagino que o nosso país prefira tubérculos a frutos. Ao perdedor, as batatas.

Gunnar disse...

Escola é uma piada. Universidade é uma piada. Aprendi muito mais do que nesses lugares. Ao mesmo tempo, recordo de colegas, em ambos, e de outras pessoas, doutores e mestres, que sõ verdadeiras antas com diploma.

Gunnar disse...

*aprendi muito mais SOZINHO do que nesses lugares.

**em ambas

***são

Mr X disse...

Um dos colegas mais idiotas que tive no segundo grau terminou se formando, acredite, de engenheiro. Não sei como concluiu o curso, dizem que era de uma família com conexões. Tenho medo das pontes que estará construindo.

Na área de Humanas, então, é um festival de imbecis que só porque conseguem soletrar "hermenêutica epistemológica" acham que são gênios.

Anônimo disse...

Olá, aqui somos nós, do Dextra.

Acho que o link que vc colocou para o nosso post sobre a inutilidade da escola, com os vídeos dos marginais batendo uns nos outros e nos professores, está quebrado, não?

Verifique:

http://veradextra.blogspot.com/2011/02/videos-por-que-e-uma-perda-de-tempo.html

Até mais!

Mr X disse...

Obrigado! Corrigido.

Augusto Nascimento disse...

As discussões passam a girar em torno de Olavo de Carvalho porque alguém vem logo citar o Guia Genial dos Povos como a autoridade máxima em assuntos tão díspares quanto religião, guerras napoleônicas e economia. E isso que "a obra de Olavo de Carvalho" está atravancada pelos vampiros brasileiros. Espere só até ele fazer o milésimo gol.
"O debate tem que ser entre o Olavo e o AN, a luta do século, para botar o combate Ali vs Foreman, no Zaire, no chinelo."
O professor Duguin é pago pela KGB (FSB, agora) para ter que aguentar gente como Olavo de Carvalho. Eu não sou. Mas sabe que eu sempre achei que há algo de teatral, histriônico no filósofo, algo que lembra Ali? Aqui vemos a batalha final do gênio Olavo de Carvalho contra um dos Indivíduos: http://www.youtube.com/watch?v=80SSXCgdCuU