terça-feira, 1 de março de 2011

Por que ninguém gosta dos ricos?

"Os ricos são diferentes", dizia Francis Scott Fitzgerald. Será mesmo?

Olavo de Carvalho, quem diria, recentemente atacou o neoliberalismo. E não é a primeira vez. Segundo ele, o liberalismo econômico, quando afastado de regras morais da tradição religiosa e das normas civilizadas de conduta, não significa nada e pode até mesmo piorar a situação.

Vou ter que concordar, com ressalvas. Embora eu seja totalmente favorável ao livre-mercado e ao Estado mínimo, tenho para mim que o liberalismo econômico é apenas um dos ingredientes que fazem o bolo civilizatório. Há muito mais nessa receita, por mais que gritem e gemam algumas polianas liberais.

E há um tema que tem causado bastante polêmica ultimamente, seja aqui no blog, seja nas discussões políticas em geral, que tem a ver com a influência cada vez maior das elites de mega-bilionários na política, seja através de lobbies, seja através de financiamento aos partidos, seja através da boa e velha corrupção.

Existe uma elite globalista, formada por milionários que usam trabalhadores chineses e telemarketers indianos para vender produtos a latinos. Eles estão pouco se lixando para a classe média local que está perdendo seu emprego ou sua casa. Os mega-ricos, seja de que país forem, têm mais em comum entre si do que com o resto da população de seus respectivos países.

No paraíso dos ultra-ricos globais, não há preconceitos políticos. Os bilionários brasileiros são petistas, os bilionários americanos são Democratas. Há entremuitos a ilusão de que os ricaços não gostem do estatismo. Besteira: se isto os beneficia, gostam sim. Economia de livre-mercado é coisa de pobre, lucra-se mesmo é nas ditaduras e nas repúblicas sindicalistas. Basta dar propina para os bolsos corretos.

No paraíso dos ultra-ricos globais, tampouco há espaço para a "islamofobia" ou o racismo. Milionários árabes andam de mãos dadas com bilionários americanos. E o que dizer da figura deste negão playboy, Teodorin Nguema Obiang, um ministro da miserável Guiné Equatorial, que tem dezenas de carros e uma mansão de fazer inveja a Xanadu? Não obstante a população de seu país viva quase toda na miséria e ele em teoria receba apenas 5 mil dólares por mês, a descoberta do petróleo permitiu o surgimento de alguns novos ricos bem conectados.

Os ricos costumam ser odiados. Em muitos casos por inveja, é certo, mas também em parte porque muitos os vêem desconectados do resto da população. Não vivem o que eles vivem; não sofrem o que eles sofrem.

Espremida entre os pobres que despreza e os ricos que inveja, quem sofre mesmo sempre é a classe média, que ainda por cima é quem termina pagando a conta, já que os pobres precisam ser sustentados e os ricos guardam bem seu dinheirinho em paraísos fiscais.

O seguinte diálogo (na verdade, segundo descobri, saído de uma peça teatral, o que não tira sua força) entre Jules Mazarin, cardeal e primeiro-ministro da França, e o seu ministro de estado Jean Baptiste Colbert, explica bem a situação:

Colbert: Para arrecadar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço…
Mazarin: Se é um simples mortal, lógico, quando ele está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado… o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: Ah, sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de obter se já criamos todos os impostos imagináveis?
Mazarin: Criam-se outros.
Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarin: Sim, é impossível.
Colbert: E então os ricos?
 Mazarin: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
 Colbert: Então como havemos de fazer?
 Mazarin: Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!

21 comentários:

Chesterton disse...

Ora, a elite de esquerda enriqueceu através do estado, tanto pelo monopoliom quanto pela gana pelos impostos.

Beto disse...

Mr. X, nesse você se superou.
Olha que sua média é boa, mas este foi bem acima! :-)
Um abraço a todos.

Ana Beatriz disse...

"Os ricos costumam ser odiados. Em muitos casos por inveja, é certo, mas também em parte porque muitos os vêem desconectados do resto da população. Não vivem o que eles vivem; não sofrem o que eles sofrem."

Inveja é um sentimento feio que temos que tentar erradicar em nós. O problema para mim (que sou de classe média), o que às vezes me incomoda em relação aos muito ricos, são certos comentários insensíveis dos quais eles poderiam se abster. Numa roda de conhecidos em que um deles era milionário a conversa girava em torno de trabalho infantil (crianças de 7 anos em plantações de cana, crianças ainda mais novas em fábricas na China, etc) e o milionário se saiu com essa: "Quando eu era criança meu pai me levava com ele para passar o dia na empresa durante as férias e aos 14 anos eu já negociava meus cavalos puro-sangue. Nunca me senti um coitado por isso. É besteira essa conversa sobre trabalho infantil." O cara parecia a Maria Antonieta com a história dos brioches.

Mr X disse...

aos 14 anos eu já negociava meus cavalos puro-sangue. Nunca me senti um coitado por isso.

Ah ah ah! Até o sofrimento dos ricos é em outro nível. ;-)

Olha que sua média é boa, mas este foi bem acima! :-)

Não sei se alguém notou, mas são dois post gêmeos, com tema e ilustrações diametralmente opostas. Talvez tivesse que ter mais um post sobre a classe média, para terminar a trilogia. ;-)

Mr X disse...

a elite de esquerda enriqueceu através do estado, tanto pelo monopolio quanto pela gana pelos impostos

Não esqueçamos o roubo e o nepotismo. Lulinha?

Mr X disse...

Citei o Olavo e o AN não apareceu. Deve ser uma dessas raras instâncias em que ele concorda com o OC.

Ana Beatriz disse...

Sim, só está faltando um post sobre a classe média. Estamos esperando...

Ana Beatriz disse...

Ei Mr X, qual é o nome da peça de teatro? Fiquei curiosa.

Chesterton disse...

A humanidade sempre tratou as crianças como pequenos adultos, a "infantilização" da crianças é coisa muitor ecente, coisa de 100 anos. isso é visível nas artes, pinturas e esculturas.
O que é hoje chamado de trabalho infantil há 60 anos era comum, os camponeses levavam as crianças para o trabalho no campo porque não tinha mais nada para fazer. Acho que a TV foi um fator decisivo para prender a criança em casa, mas =e chute.
As profissões não eram aprendidas em escolas e universidades, eram aprendidas trabalhando com quem sabia. Tive um tio que se formou médico com 20 anos de idade (raro) e "militava" na área desde os 15.
Mesmo no inicio da rev. industrial crianças preferiam mil vezes o convivio extenuante nas fábricas que a vida do campo, que só é boa para quem sabe pastar.
Impedir as crianças de arrumar uma profissão precocemente não é algo natural e espontaneo, mas sim planejado.

Mr X disse...

A peça se chama "O Diabo vermelho" (Le Diable rouge), de autoria de um francês, um certo Antoine Rault.

Mr X disse...

Que confusão na Líbia hein? Agora, acho melhor não intervir. Eles que são líbios que se entendam.

Augusto Nascimento disse...

Realmente, devemos entregar a Medicina de novo aos barbeiros. Por que não? Pensando bem, não faz sentido defender o Geocentrismo dos "astronomos" jesuitas (os genios que provaram que a Terra eh o centro do Universo) sem defender as sangrias como panaceia medica.

maisvalia disse...

Eles não gostam de ricos, ora, porque não são ricos.

Brancaleone disse...

Tem duas frases imbeceis -
1) Dinheiro não traz felicidade.
2) Tamanho não é documento.

Os que as repetem por ai como se fossem verdades são os pobres que têm pinto pequeno e propalando esta canahice frasística tentam se confortar...

to mais com Joâzinho Trinta que dizia que quem gosta de pobreza é intelectual...

Já a esquerda adora a pobreza (sim!! ainda existe esquerda por mais incrível que possa paracer!!). É graças à pobreza que a esquerda viceja e enrica e muito os que fazem dela discurso de camapnha.

Ricos precisam existir. Seria antinatural que existissem apenas pobres e remediados. Na natureza a igualde quase absoluta só existe mesmo entre formigas, abelhas e cupins e mesmo entre eles existem classe que podem ser classificadas como sueriores ou inferiores ou seja, a igualdade de classes só é possível mesmo entre insetos com cérebros infinitesimais.
Eu cá na minha classe B ou C (nunca sei a que grupo pertenço) faço meus trabalhinhos pros sujeitos da classe A e não reclamo não. Faturo até que manemeno e não tô nem aí se a turma da A se acha superior ou não já que o que me interessa neles é a grana.
Já a turma da esquerda não gosta mesmo de rico pois afinal eles estão longe de serem cabresteados por Bolsas Família, Vale Gás e promessas de muita coisa boa às custas de pouco trabalho. Os ricos ainda tem um defeito enorme para a esquerda - Rico não se vende por pouco. alás, rico compra candidato e até político de esquerda por preço baixo...


BRANCALEONE

Brancaleone disse...

a esquerda adora os ricos, a esquerda os ama, os inveja e sempre e toda a vez que a esquerda pode, aje exatamente como os ricos!!!!
Vejam o Genoino, o Zé Dirceu e tantos outro ex-pé-rapados que hoje aboletam-se em confortãveis cargos muito bem remunerados.
Lembram da Ministra da Igualdade Racil e as nababescas despesas com cartões corporativos? pois é, o sonho da esquerda brasileira materializou-se nos últimos 10 anos de petismo no poder!!! Graças a democracia e maravilhosos salarios na administração pública eles deixaram as classes e,d,c e b e mergulharam na locupletação ilícita!!!

Anônimo disse...

Que diferença entre as fotos...

Edu disse...

A Líbia está nos lábios do mundo.

Gunnar disse...

O problema não são os ricos. O problema é justamente o que o Olavão repete há anos e o X reforçou: capitalismo e grana, sozinhos, não são nada.

Mesmo porque, nesse meio tempo, os esquerdistas cansaram de fingir que não gostam de grana e, como tanto como ferramenta estratégica para seus fins "revolucionários" quanto para o mais mesquinho benefício pessoal, já incorporaram o capitalismo...

Chesterton disse...

pois é....

João disse...

Boa parte faz sentido. Mas chamar a elite econômica brasileira de liberal, neo ou não, faz tanto quanto chamar o Olavão de comunista. Sem contar a carolice...

Cristina disse...

Oi Marco. Me siga no blog Afeto virtual. Mil beijos.
http://afetovirtual.blogspot.com/