terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O primeiro dia do resto de nossas vidas

Já estão todos os suspeitos usuais acusando o Bush de ter sido o "pior presidente americano da História". Duvido que muitos saibam o nome de qualquer presidente americano anterior a Clinton, quanto mais as besteiras que fizeram no cargo. Não importa: George W. Bush é o "pior".

Não vou entrar no mérito ou não, até porque eu assumo que pouco sei sobre a história dos presidentes americanos e não teria como fazer uma comparação justa. Já disse aqui que Bush foi o melhor presidente que o Iraque já teve, mas para os EUA foi apenas medíocre e, de certa forma, bastante nocivo para os republicanos: não era um real conservador. Foi, com certeza, o presidente mais criticado ha História americana, mas é uma coisa diferente do que ser o pior. Em oito anos não houve um único atentado terrorista nos EUA: quem poderia imaginar isso nos meses seguintes a setembro de 2001? Foi mera sorte, ou mérito ao menos parcial de Bush? Achei interessante o artigo do João Pereira Coutinho, que o considera uma figura trágica, e conclui:

Na próxima terça-feira, o mundo despede-se de Bush. Com um suspiro de alívio. Mas o mundo que não se iluda. Os problemas não começaram com Bush e não terminarão com Bush. É por isso que, na hora do adeus, eu acredito que o maior suspiro será o dele.

Os mais "sofisticados" acreditam que com Obama tudo mudará como da água para o vinho, mas é mera ilusão. Os terroristas islâmicos continuam aí. O Irã continua produzindo sua bomba. A crise econômica mundial também vai continuar. E, assim como o 9/11, outras surpresas inesperadas acontecerão no meio do caminho. (Descobriu-se, por exemplo, que terroristas islâmicos na Argélia estavam testando armas biológicas).

Mas na política tudo é principalmente questão de percepção: o que realmente mudou de ontem para hoje na vida do americano médio? Se Obama repetisse tintim por tintim as políticas de Bush, será que os mesmos que hoje as criticam, não as celebrariam se viessem de Obama? E o que dizer então dos outros povos, nós latinoamericanos por exemplo? O que fez de tão terrível assim para nós Bush? O fato de deixar a América Latina ser tomada por bufões como Chávez e Morales sem bombardeá-la? Realmente, não consigo lembrar de um outro presidente americano que tenha se importado tão pouco com a América Latina. E no entanto mesmo no Brasil celebram o fim da era Bush como se fosse a queda do pior dos ditadores.

Obama não é burro, é claro. Certamente não vai começar fazedo loucuras. Sua equipe por ora, longe de ser formada por radicais ou imbecis, tem mais clintonistas do que a própria presidência Clinton - e até um bushista. Dizem que ele fez um bom discurso, patriótico e tudo mais. Tem até fã do Reinaldo Azevedo elogiando.

Sei lá, talvez seja apenas eu que sou pessimista por não poder participar de toda essa orgia de "esperança". Não é nada pessoal com o Obama: simplesmente já passei da idade de me emocionar com políticos. É como uma festa na qual todo mundo está tendo barato com a nova droga do momento, e só você está de fora, sem sentir barato nenhum. Parafraseando Cole Porter, I get no kick from Obama.

Esperemos que ele seja um bom presidente. De qualquer modo, por pura precaução, eu aguardaria alguns meses antes de decretar a presidência de Bush a "pior da História". Sabe como é: não há nada tão ruim que não possa piorar.

"Bem-vindo": Manifestantes no Irã queimam foto de Obama (dica: C. Avolio)

11 comentários:

Anônimo disse...

Eis aí: Barack Obama e a Realpolitik!

Anônimo disse...

esse governo Obama vai ser muit engraçado. Tudo que acontecer de bom vou dizer que é fruto das políticas do Bush, tudo de ruim, cagada do Obama.

Stefano di Pastena disse...

A fraude não completará seu mandato, podem apostar.

Anônimo disse...

dica da Nariz Gelado

http://altovolta.apostos.com/archives/2009/01/la_vem_o_obamao.html

Anônimo disse...

Obama, o homem bom de discurso, ainda é uma incógnita para mim.
Muitas de suas declarações durante a campanha soavam como se fossem de um esquerdista radical ou tolo. Outras soavam como música aos meus ouvidos direitistas.
Vamos ver qual Obama vai se mostrar no exercício do cargo.
Torço para que ele deixe a direita perplexa e a esquerda indignada.

Nei

Fabio Marton disse...

Estou otimista. Existe uma chance de ele tentar encarnar FDR, mas acho que vai ser Clinton mesmo. Só de ver o jeito que ele ficou nervoso ao recitar o juramento me parece que o cara não está se achando tão deus quanto seus súditos.

Da crise, posso sair dela pensando diferente, mas a princípio acho que o capitalismo se recupera sozinho se o governo não arrancar tecido da parte saudável para dar um remendo ao que está destinado a cair.

Fabio Marton disse...

Hmm... eu vi de novo o vídeo agora. Não ficou nervoso. FDEU!!!

Mr X disse...

O C. Avolio fala uma coisa interessante:

Ou seja, para apostar em Obama, um político inexperiente e de passado obscuro, seria necessário que a população acreditasse que os EUA estivessem caindo aos pedaços, num estado deplorável.

De fato, toda essa construção de Bush como "o pior presidente da História", bem como o alarme da crise econômica (que Obama propositalmente exagerou e ainda exagera, chamando de desastre total) foram cuidadosamente planejadas para fazer acreditar que a situação é tão terrível que só um "salvador" como Obama poderia resolver. Mas o fato é que a situação não é (ainda) tão terrível assim.

Anônimo disse...

"Não é nada pessoal com o Obama: simplesmente já passei da idade de me emocionar com políticos."

Deixe de mentira, Mr. X, que eu lembro bem do teu encantamento com a Palin!
:-P

Abs

Mr X disse...

Ah, mas a Pailn era mulher. ;-)

Anônimo disse...

Bom texto.

Mas não sonhe: nenhum presidente americano se "preocupou" com a América Latina.

A preocuação era com a Mãe Soviética e sua proeminente saia.