segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Falsografias

Fotos de crianças mortas ou feridas e mães chorando são, quem pode negar, tristes e chocantes. Nesse aspecto, a vantagem midiática sempre vai estar com os palestinos. Mas o uso de imagens chocantes - e sua produção - é também uma arma: talvez a arma mais poderosa do Hamas.

No blog Powerline, um interessante artigo fala sobre como o Hamas, disparando mísseis desde escolas e hospitais, ou colocando armadilhas explosivas em edifícios residenciais, ou utilizando crianças como escudos humanos (vejam este incrível vídeo aqui, em que um militante usa a criança literalmente como escudo), pretende provocar mortes de civis. Depois, as imagens de sofrimento e morte são veiculadas a torto e a direito, com a cumplicidade da mídia ocidental, que naturalmente gosta de desastres.

Em alguns casos, tais fotografias são encenadas. Vejam por exemplo a foto abaixo. Ao lado do homem ferido, três crianças deitadas em uma única maca. Feridas? Não sei. Uma delas parece até estar sorrindo para a câmera.


Outras fotos extremamente comuns são as de mulheres de chador gritando, de braços erguidos para o ar. No Iraque, no Afeganistão e também em Gaza:


A foto acima, segundo a legenda, ilustra a dor de uma família palestina logo após um ataque israelense. A composição da foto (percebam a enquadratura perfeita) é demasiado bonitinha para uma fotografia tirada no momento do desastre, mas tudo bem. O que eu queria dizer é que essa teatralidade na dor e na morte talvez seja algo da cultura local. Entre os ocidentais, a dor em geral é algo privado. Repórteres não são bem vistos em funerais ou em locais de luto. Crianças mortas são enterradas, não exibidas para as câmeras em procissões. Em hospitais, durante cirurgias, fotógrafos em geral não são permitidos. Já em Gaza, o que mais há são fotos em hospitais.

Toda fotografia tem um certo aspecto de encenação. Isso não ocorre apenas entre os palestinos. Basta ligar uma câmera de foto ou de vídeo e verá que a expressão da pessoa muda. A mídia é um campo de batalha. É, de fato, o campo de batalha principal nestes tempos pós-modernos. Sem a mídia, o terrorismo não existiria. Para que serviria um ataque como o de Mumbai se suas imagens não fossem veiculadas para todo o mundo na televisão? Da mesma forma, o Hamas joga habilmente com a cumplicidade da mídia, e não é à toa que seus líderes estejam escondidos em hospitais, ou que atirem mísseis desde residências, ou mesmo que coloquem explosivos em escolas e zoológicos: a morte de civis palestinos joga a seu favor, para que evitá-las?

Mas o curioso é que as organizações terroristas jogam dos dois lados. Por um lado, divulgam pavorosos vídeos de reféns degolados, como acontecia freqüentemente no Iraque. A mensagem é, "veja como nós somos maus, vão embora ou iremos pegar você também." O próprio Hamas divulga vídeos de seus ataques com Qassam, com hino de guerra e tudo. Por outro lado, quando sofrem ataques, divulgam amplamente as fotos de seus mortos e feridos. A mensagem é: "vejam como somos meras vítimas desses malvados sionistas".

Essa esquizofrenia revela-se também no seu discurso. Por um lado, dizem que o Holocausto não existiu. Por outro lado, dizem que os judeus são os novos nazistas. E, finalmente, pedem que os judeus sejam "levados de novo ao forno". Afinal, qual é que é?

Outro problema é que a relativa liberdade midiática em Israel e EUA joga contra eles. Pensem na Chechênia: os russos mataram mais de cem mil chechenos muçulmanos por lá. Onde estavam as imagens da mídia? Uma das poucas jornalistas que denunciava as violências abusivas de Putin contra os chechenos era Anna Politovskaya. Levou dois tiros no elevador do seu apartamento. Nunca se soube quem matou. Nunca mais se falou sobre a Chechênia.

Neste site fala-se um pouco sobre o fenômeno de Pallywood.

2 comentários:

Orlando Tambosi disse...

Bom post, X - e bom título.

Abs.

Anônimo disse...

Ahamm!! Pelo jeito desconsiderastes minha sujestão do post anteior,né? Ou quem sabe... temendo um graande sucesso do famigerado mendigo cancelastes as ferias ás pressas...

Quanto a este post, Mr.X, a midia e as pessoas em geral, só enxergam aquilo que lhes interessa; a pergunta é: A quem mesmo no famigerado mundo árabe interessa um Estado Palestino independente e que se auto governe?

Abraço.