Costuma-se falar que os americanos conhecem pouco do resto do mundo, mas a verdade talvez seja a oposta: o resto do mundo conhece menos ainda os EUA. Por exemplo: nos últimos anos, bem mais americanos visitaram a Europa do que europeus visitaram os EUA, e portanto têm uma visão mais direta do que os europeus sabem somente de ver na televisão.
Desse modo, a visão que a maioria dos europeus tem dos EUA é lamentavelmente caricatural: parecem ter sido informados exclusivamente por Michael Moore. A mídia européia, nesse aspecto, é péssima, pois apenas reforça os estereótipos mais conhecidos.
Além disso, há um outro aspecto - não sei se chamar inveja ou schadenfreude: a mídia européia parece procurar incessantemente notícias negativas sobre os EUA, tentando demostrar o "outro lado do sonho americano", a pobreza de seus "esquecidos", etc. Ontem mesmo um artigo no jornal italiano La Repubblica falava sobre não sei qual miserável trailer park de New York, como se na Itália não houvessem similares acampamentos, só que povoados de zingari (ciganos).
Na época do furacão Katrina, a mídia européia tinha absoluto prazer em mostrar as imagens do desastre. Eram a comprovação de que os EUA eram uma sociedade falida e que não se importava com suas minorias. Curiosamente, poucos anos antes, vários milhares de velhinhos haviam morrido na Europa devido a uma onda de calor, sem qualquer clamor midiático sobre "o lado negro da Europa".
Gosto da Europa, não me entendam mal. O que acho triste é justamente o seguinte: essa rivalidade EUA vs. Europa é um erro terrível. Americanos e europeus têm bem mais em comum do que pensam. Têm os mesmos inimigos e sofrem com os mesmos problemas. Precisam se unir, não se dividir.
Nesse sentido, será interessante observar a presidência Obama. Alguns europeus tiveram uma espécie de curto-circuito mental ao saber de sua eleição. Por um lado, estavam felizes com sua retórica globalista. Por outro lado, perguntavam-se como um país tão "racista" poderia ter eleito um "crioulo nascido no Quênia" para o seu cargo máximo...
Não é garantido que Obama seja melhor do que Bush nas relações com a Europa. Vai apenas ser mais difícil para os europeus acharem um bode expiatório para seus problemas.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
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9 comentários:
"Na época do furacão Katrina, a mídia européia tinha absoluto prazer em mostrar as imagens do desastre."
Mr X, notícia é assim desde que inventaram que homem urina pra frente. Cada coisa que eu leio aqui.
O que acho relevante é o fato que o reporter das sapatadas virou o homem do ano, o herói mundial. Mais relevante ainda pra denotar o problema que tenho com você e o Chesterton é que vocês ainda acham o Bush um excelente presidente americano, que acabou com o terrorismo, implantou uma maravilhosa democracia no Iraque e por aí a fora.
Minha tarefa não é fácil não.
Não acho que o Bush tenha sido um bom presidente, demasiado de esquerda para o meu gosto. ;-)
Quanto à sapatada: melhor atentado com sapatos do que com tiro ou bomba. Acho que o Iraque progrediu...
Tou devendo aquele post sobre o legado dos Anos Bush, né? Um dia ainda faço.
Acho que o legado do Bush seria mais ou menos o seguinte: foi o melhor presidente que o Iraque já teve. Mas para os EUA não foi muito bom, não. Especialmente no segundo mandato.
Uma contribuição para esse teu futuro post
http://www.nytimes.com/2008/12/18/opinion/18thu1.html?_r=1&hp
Pergunta: quem você gostaria que fosse o candidato da direita para 2010 no Brasil?
Entra lá no NY Times agora, a primeira manchete...
Os iraquianos estão remontando o Saddam Hussein’s Baath Party.
Mr X e Chesterton estão que não cabem em si. O Pedro Doria fez um post exclusivo pra vocês.
Parabéns!
Pax, agora estou acompanhando a novela favorita. Aquele personagem bicho-grilo que mora num sitio foi inspirado em vê.
Pô, Chesterton, agora nem sei se você me ofendeu ou não. Não vejo novela nem maneado.
Vou perguntar aqui em casa do que se trata.
dê uma olhada, é gozado.
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