segunda-feira, 23 de junho de 2008

Um post sobre Deus

Não sei se existe Deus. Ninguém sabe. Ninguém pode provar. Nem Dawkins nem Hitchens nem Bento XVI. Mas a idéia de Deus existe. Em praticamente todas as culturas. Deus existe, com certeza, como símbolo.

Por que é importante a idéia de Deus? Acredito que principalmente por nos daruma dimensão além da humana. Alguém acima de nós que decida o que é Bem e Mal. Pois se não temos Deus, quem é que decide? Dawkins?

O problema dos ateus e materialistas é que, não aceitando a idéia de nada que exista acima ou além da humanidade, decidem que é a própria humanidade que se deve julgar a si mesma. Mas como? Se nada existe acima ou além, quem é que decide o que é certo ou errado? Ora, certamente não qualquer um da humanidade, mas um grupo de pessoas esclarecidas, sábias, iluminadas. Isto é, eles mesmos.

Ou então caem no relativismo moral absoluto, no qual nada é superior a coisa nenhuma. É o caminho do também ateu Peter Singer, que iguala animais a bebês em uma simples questão numérica. Pela sua lógica utilitarista (o que conta é apenas o bem-estar do maior número) e radicalmente igualitária (animais não são diferentes dos humanos), se seis ratos de esgoto se aiimentam de um bebê humano vivo, está tudo bem, afinal é o bem-estar de SEIS ratos contra o de apenas UM bebê humano. Se o bebê tiver alguma doença genética, melhor ainda, afinal o sofrimento que teria durante a vida faria com que esta não valesse a pena ser vivida. Segundo quem? Ora, segundo Singer, o grande especialista em “bioética” e senhor da vida e da morte, of course.

Dawkins e Hitchens costumam comparar Deus a Papai Noel. Nada mais infantil do que acreditar em Papai Noel, certo?

Mas na verdade, como esclarece aqui o Pedro Sette Câmera em ótimo post, existe uma coisa mais infantil do que acreditar em Papai Noel. É ser aquela criança que acha que é a única que descobriu que Papai Noel realmente não existe, e se alegra em estragar o prazer das que ainda acreditam.

Mesmo eu, que sou agnóstico, vez por outra me peguei fazendo um pedido em alguma Igreja aqui ou lá, para que uma pessoa distante esteja bem. Não é racional, certamente. Não se trata de acreditar que um senhor de barbas brancas rodeado de anjos vá descer dos céus e velar por nós. Simplesmente trata-se de pensar (desejar?) que exista algo além de nós, que esta pobre e imperfeita humanidade não seja a única medida de todas as coisas.

Talvez crer em Deus seja mesmo tão idiota quanto crer em Papai Noel. Mas que há de errado em acreditar em Papai Noel? Frente à enormidade do universo, somos todos crianças.

Ou, como escreveu o poeta catarinense Rodrigo de Haro, filho do pintor Martinho de Haro (morei nessa rua uma vez), “Somos todos crianças que o tempo separa”.


Imagem do Hubble mostra galáxias e estrelas, algumas das quais existiram há 13 bilhões de anos atrás (estimada origem do Universo) e cuja luz só agora chega até nós.

6 comentários:

Ricardo C. disse...

X, li p post do Pedro Sette Câmera, e o sujeito escreve bem, concordo. Só não li o Dawkins para fazer a minha própria apreciação das críticas do Pedro Sette Câmera, assim como tampouco sei de onde vc tirou essa conversa sobre o Peter Singer — mas desconfio que sua crítica a ele diga mais respeito às relações dele com o atual governo do que sobre as idéias que ele professa...
Por último, tb ando fazendo algumas considerações sobre religiosidade lá no blog, mais do ponto de vista da nossa humanidade e menos sobre a existência de Deus. Serão 3 posts, até agora já lancei 2. Seria interessante ler as tuas considerações, já que parece que ao menos o agnosticismo nós temos em comum, hehehe!
Os posts:
Crença, fé e experiência religiosa (1): a psicodinâmica da crença

Crença, fé e experiência religiosa (2): a fé

Abraços

Mr X disse...

Quais relações de Singer com o atual governo? O governo Lula? Não tou sabendo de nada. Tem mais de um, o Peter Singer do qual falo é este aqui:
http://en.wikipedia.org/wiki/Peter_Singer

Acho as idéias dele (do pouco que li) profundamente malévolas. Ele realmente prega a igualdade entre homens e animais, e a morte de bebês "defeituosos".

Vou dar umaolhada nos outros posts depois.

Abraço!

Ricardo C. disse...

X, falei uma grande besteira, confundi Peter com Paul Singer...
Tb vou olhar o que o Peter Singer diz.
Abraços

Anônimo disse...

Mr x, sei que é meio fora do tópico mas eu gostaria de argumentar sobre o seu post que diz respeito a escravidão não ocidental.

Realmente sempre existiu escravidão no mundo todo, e os ocidentais não são os únicos bandidos do planeta, mas acredito que a escravidão no ocidente se tornou pior pq ela é baseada em superioridade de raça, raça branca superior, escraviza raça negra/indio inferior, diferente do resto do mundo em que os escravos eram capturados no campo de batalha, branco, preto, árabe o que for, perdeu a guerra e sobreviveu vira escravo.

Além do fato de quem a consciência crítica ocidental é maior, por isso o ocidente se cobra mais, não é pq nós ocidentais fizemos errado e o mundo todo fez tmb que está tudo certo, nós sabemos que é errado e achamos isso um absurdo, se o resto do mundo não alcançou essa auto crítica o que podemos fazer, nos rebaixar???

Edu disse...

Cara, não sei se vc tirou de lá, mas é justamente isso que eu acredito.

Falávamos no blog do PD sobre algum assunto relacionado do qual eu não me recordo, e lembro de ter escrito coisa parecida! Fico feliz de compartilhar a mesma idéia sobre Deus com alguém! hehe

Anônimo disse...

FALÁCIA DETECTED!!!


Erro 1: Não necessariamente os "ateus e materialistas" desejam ser os reis do certo e errado. Aliás, a maioria das pessoas que conheço são ateus e materialistas e não possuem essa ambição. Eles apenas não reconhecem a existência de Deus. Logo, quem deve decidir certo e errado deve qualquer outra autoridade (exceto deus) apta a tal - o poder legislativo, por exemplo;


Erro 2: Se deus não existe (conforme o ponto de vista de um ateu), como ele poderia sequer cogitar a hipótese de tirar as noções de certo e errado de... deus??? Só sobram os seres humanos, ué!

Erro 3: Se deus não existe, o conceito de "algo acima" não faz o menor sentido, logo, as leis que ora atribuímos à inspiração humana, são, em última instância, advindas... dos homens. E, pelo caráter extremamente humano do deus bíblico, por exemplo (egoísta, vingativo, ciumento, possessivo, autoritário) tudo indica que, de fato, deus é que foi feito à imagem e semelhança do homem - assim como suas leis. Daí se tira duas conclusões:

3.a) As novas leis de "origem humana" são, em mérito, tão justas e úteis quanto qualquer outra lei de "origem divina", nova ou velha;

3.b) As leis "divinas" são plenamente questionáveis - e, de fato, nós as questionamos mesmo que a maioria não saiba. Por exemplo, não quebramos mais as bacias utilizadas por mulheres menstruadas, conforme manda a bíblia.