sexta-feira, 2 de maio de 2008

Um filme

Ontem não tinha nada para fazer e decidi finalmente ver o "Munich" do Spielberg. Parafraseando aquela piada maldosa, o Spielberg quando não caga na entrada, caga na saída. Perdão pela expressão, mas, francamente - depois de ter estragado um conceito interessante do Kubrick em A.I. com um filme chorumela, ele ataca novamente: Munich até que tem cenas boas e poderia ser um ótimo thriller de espionagem se simplesmente se limitasse a fazer o seu trabalho. Mas aí Spielberg (ou o roteirista Tony Kushner) estraga tudo com um terço final chato, longo e irritante no qual explora a "ambiguidade moral" e o "sentimento de culpa" do personagem, tenta "mostrar os dois lados da questão", inclui uma cena de sexo gratuita intercalada com o massacre realizado pelos terroristas, não conclui o drama e deixa por isso mesmo.

Para piorar, o filme termina com um plano mostrando as torres gêmeas, dando a entender que o "ciclo de violência" continua. Eis o problema dos esquerdistas: não conseguem fazer um filme que não tenha alguma lição de moral "progressista" no final. O que o atentado às Torres Gêmeas realizado pelo grupo wahabista sunita Al-Qaeda tem a ver com a caçada israelense aos assassinos de seus atletas nacionais em Munique? Bem, talvez que os constantes atentados contra Israel e os atentados contra os EUA fazem parte da mesma jihad global contra os infiéis, mas não acho que era isso que Spielberg queria dizer.

Evidentemente, quase toda a história do filme foi absolutamente inventada; ninguém sabe como realmente ocorreram os assassinatos. Os agentes do Mossad certamente não ficavam chorando pelos terroristas que matavam, ou teriam se dedicado a outro trabalho mais gratificante. O informante mágico "Papà" e Louis são claramente delírios de Kushner, um judeu esquerdista e gay novaiorquino, mais conhecido como o autor de "Angels in America" (outro trabalho com moralizações esquerdistas de dar dó).


Alguna acharam que o filme faz "equivalência moral" entre os terroristas e os agentes do Mossad. É verdade, mas isso nem me incomodou tanto. Está até certo mostrar os tais "dois pontos de vista". O problema é que no fim das contas o filme de Spielberg parece não ter ponto de vista algum, fora a crítica ao "ciclo de violência", e termina como que no meio, sem concluir nada nem decidir nada.


O poeta Robert Frost disse certa vez que um liberal (na acepção americana do termo, ou seja, aqueles que hojem se auto-denominam "progressistas") - enfim, o poeta disse certa vez que um "progressista" é um sujeito tão mas tão imparcial que não consegue nem tomar o próprio lado numa briga.

No cinema, como na vida, o povo não gosta de um herói indeciso que fica se torturando. Já pensaram se o Capitão Nascimento a cada tortura ficasse pensando, "Xi, será que o tal do saco é moralmente ético ou não?"

O povo gosta é do herói dando porrada nos vilões.

O povo gosta é do agente bonzinho mandando bala no terrorista malvado.

O povo gosta de Charles Bronson.

O povo gosta de Clint Eastwood.

O povo gosta de Bruce Willis.

Se o filme não tivesse esse chato terço final, teria feito muito mais sucesso.

(Aqui uma crítica interessante ao filme, escrita por uma atleta israelense que conhecia os atletas assassinados e por pocuo não esteve nas Olimpíadas de 72 também).

2 comentários:

Anônimo disse...

O filme não é uma maravilha. Mas é bom o suficiente para mostrar que aqueles acontecimentos foram vividos por pessoas, que erram e acertam. Alguns(terroristas) mais que outros(Mossad).

Pelo seu ponto de vista o melhor é fazermos filmes sem moral, rasos, planos, sem questionamentos. O lance é meter o pau em qualquer um que discorde do nosso ponto de vista.

Lamentável.

Deve ser por isso que não tenho "heróis". hehehe

Mr X disse...

Oi Arnoud!
Até acho bacana filme com questionamentos.

Porém, nesse caso, a fórmula era (ou começava) como thriller, e depois parece que quis virar drama, se perdeu, enrolou, ficou chato, daí a minha crítica, mais do que a motivos políticos.

Curioso que também tinha a história do bebê, talvez por isso relacionei com Tropa de Elite.

Nesse sentido, acho Tropa de Elite melhor: o personagem não se questiona, mas o espectador SIM questiona suas ações, por vezes brutais. Funciona melhor, acredito. Não concorda?

Abraço