sexta-feira, 25 de julho de 2008

O fim da infância

Leio no Pajamas Media um artigo sobre a paranóia com os adultos que tiram fotos de crianças, mesmo que sejam de seus próprios filhos brincando com amigos. Na cabeça de muitos, um adulto tirando fotos de crianças no parque só pode ser um pervertido.

A paranóia com as fotografias é irracional, pois, mesmo que seja um pedófilo maluco tirando fotos de crianças brincando no parque, que dano pode causar a fotografia à criança? Roubar a sua alma? Ir parar no Youtube?

Mas hoje a paranóia com a pedofilia é tão grande que até brincar no parque com seus filhos pode ser visto por outros como algo suspeito. Pegar pela mão o filho de um sobrinho então, nem pensar. No outro dia, em um ônibus londrino, os passageiros viram um adulto de rosto suspeito levando da mão uma menininha que reclamava, "estou com fome". Foi fotografado pelas câmeras de segurança, denunciado, levado à delegacia. Era o pai da criança.

O curioso é que ao mesmo tempo em que a mídia gera esse pânico com pervertidos pedófilos (menos de 3% de todas as crianças desaparecidas foram seqüestradas por estranhos, e a maioria dos casos de pedofilia ocorre silenciosamente no âmbito familiar), é também a própria mídia a que estimula a sexualidade precoce das crianças. No Brasil, então, é uma piada. Crianças de 8 anos fazem a dança da garrafa ou cantam canções de funk com letras explícitas, muitas vezes até sob o olhar orgulhoso da mãe ou do pai imbecil. Os cartazes de turismo são um convite explícito ao turismo sexual. E líderes do movimento gay fazem apologias diretas à pedofilia, sem qualquer crítica. Eles podem, é claro, pois são uma "minoria oprimida". Aliás, tanto deu certo o discurso das "minorias" que outros pretendem usar o mesmo truque: há indícios do surgimento de um movimento pedofílico nos moldes do movimento gay (eles já tem até partido político na Holanda).
A pedofilia não é algo novo, seu conceito é. Na Idade Média, as jovens casavam com 13 anos de idade. Romeu e Julieta teriam aproximadamente 13 anos. No mundo muçulmano, seguindo a tradição do fundador Maomé, ainda hoje é comum o casamento de adultos com meninas de 9 anos (em países atrasados como Afeganistão ou Paquistão corresponde mesmo a mais da metade dos casamentos realizados).

Mas tempos atrás as crianças podiam brincar na rua, sozinhas, por horas a fio. Andar de bicicleta, brincar de esconde-esconde, descer lomba no carrinho de rolimã. Hoje, deixar a criança na rua, sozinha, tá louco? Melhor deixar ela em casa, trancada no quarto, divertindo-se na Internet. O que é loucura, pois nos chats e nos messengers da vida é muito mais fácil para adultos pervertidos localizarem a criança ou pré-adolescente, sob total desconhecimento dos pais.

As crianças de hoje são ao mesmo tempo as menos inocentes e as mais frágeis.

Fiz parte talvez da última geração que jogou bola de gude e bateu figurinhas (que vinham no chiclé Ping Pong ou Ploc).


Não existe mais a inocência.

8 comentários:

Anônimo disse...

“As crianças de hoje são ao mesmo tempo as menos inocentes e as mais frágeis.”

Trabalho em um hospital que recebe com muita frequência mães adolescentes. Se é que podemos chamar meninas de 10 anos de adolescentes...
Dependendo da condição econômica, social, cultural, estas meninas são “descoladas”, "experientes", agressivas, muitas se prostituem... São mais “vividas” do que a idade lhes permite.
Mas, a fragilidade delas sempre me comove, escondida atrás da falta de inocência.

Anônimo disse...

Mr. X

Concordo com você.
Realmente penso que estamos (a mídia, a sociedade) “erotizando” nossas crianças.

Anônimo disse...

O velho truque de isolar as crianças do mundo, chamando isso de segurança...

Mas adultos fazem igual. Vivem em ilhas isoladas (condomínios fechados), freqüentam ilhas fechadas (shoppings e afins) e para se locomover de um para o outro usam uma bolha hermeticamente fechada.

A cidade, que antes era um local de convivência, onde se VIVE e se FAZ, virou local de passagem, perigoso e inóspito, que deve ser evitado.

Cria-se um círculo vicioso...

Anônimo disse...

Lembrei de um fato interessante.
A filha adolescente de uma amiga precisava fazer uma redação para a escola, do tipo "o que eu quero ser quando crescer".

Sabe qual foi o ídolo escolhido? A Bruna Surfistinha... Na imagem dela, vencedora, livre, bonita, quase uma deusa.

Ela desconhece o risco da violência, a humilhação, enfim, o lado podre. Para ela apenas foi apresentado o glamour.

Anônimo disse...

Gunnar

O isolamento é tentativa de sobrevivência...

Mr X disse...

Bem, não me surpreende. Figuras como a Bruna Surfistinha são realmente apresentadas pela mídia como modelos a imitar. E no mais, pouca diferença há entre a Bruna Surfistinha e muitas modelos ou apresentadoras de televisão... Talvez só o preço cobrado, ou a forma de pagamento.

Anônimo disse...

Pois é Pandora, mas isso leva a um abandono cada vez maior do espaço público, convívio cada vez menor entre as pessoas e surgem as paranóias de todos com medo de todos...

Isso por sua vez leva a um isolamento e individualização ainda maior, e assim por diante.

Temos uma leva inteira de crianças que nunca pegaram ônibus na vida.


O carro é simbólico, emblemático e protagonista nessa história toda.

"Vou comprar um carro cada vez maior para me proteger dos carros cada vez maiores"

"Estou preso no trânsito, vou fechar os vidros e ligar o ar-condicionado para me proteger da poluição causada pelo excesso de veículos parados e com ar-condicionado ligado"

"A cidade é perigosa e violenta porque as pessoas não se conhecem mais, não se olham mais nos olhos, então, vou encher os vidros do carro de insufilme preto"

Anônimo disse...

Gunnar

Perfeito.

Mas... Não consigo visualizar um meio de voltar ao que era antes.