terça-feira, 15 de julho de 2008

Podem ateus e religiosos ser igualmente bons?

Os ateus militantes sempre dizem que um ateu pode ser tão ou mais moral do que um religioso. Dizem, ainda (citando ótima frase de Bernard Shaw que não lembro agora), que se comportar bem só por acreditar no Céu (como prêmio) ou no Inferno (como castigo) até diminuiria o valor das boas ações. E, portanto, o ateu que faz o bem por convicção é mais moral que o cristão que faz o bem por medo de, digamos, queimar em uma fogueira.

Pode ser verdade. De fato, nada impede que um ateu seja tão ou mais bom do que qualquer cristão.

Porém, como argumenta Mary Eberstadt, o que a realidade mostra na prática é que a grande maioria das obras de caridade ou de ajuda ao próximo são ligadas a entidades religiosas. Pesquisas indicam que mesmo as pessoas que doam dinheiro aos pobres ou realizam voluntariado individualmente, de sua própria iniciativa, são também, em sua maior parte, pessoas que seguem alguma religião (o estudo, baseado nos EUA, refere-se principalmente ao cristianismo, embora imagino que possa ser verdadeiro para outras religiões, ainda que eu tenha as minhas dúvidas sobre o islã, a umbanda e a cientologia).

Há freiras e padres que arriscam a vida em regiões inóspitas para ajudar os outros. Deve haver ateus também, mas certamente são em menor número. Eu, agnóstico e portanto em cima do muro, sei que dificilmente seria convencido a viver por anos a fio no meio dos casebres insalubres da África apenas para ajudar alguém que nem conheço. (Sim, eu sei, fazer o bem faz você mesmo se sentir bem. Mas a África fica longe e eu tenho contas a pagar).

De qualquer modo, a tendência indica que pessoas religiosas se preocupam mais com aquelas menos afortunadas, e as pessoas não-religiosas estão mais preocupadas consigo mesmas e com sua vida. Não há nada de errado nisso, é claro. É só uma constatação. Que, de certo modo, vai contra o argumento de que ateus podem ser tão bons quanto cristãos. Podem, sim. Mas poucos o são. Ser bom não é fácil.

Mas será então - usando um argumento darwiniano, ou até dawkinsiano - que a religião não surgiu e "evoluiu" justamente para que os seres humanos pudessem tratar algo melhor os seus próximos, ou com um pouco menos de egoísmo?

É uma pergunta, não uma afirmação. Tampouco sei. Sei só que os mendigos costumam concentrar-se na frente das igrejas, e não na frente do prédio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.

11 comentários:

Unknown disse...

Boa MrX, principalmente em seu final.
Durante a minha vida profissional como bancário (cerca de 30 anos), constatei que aqueles que se diziam ateus, acho que uns 4 que conheci, não tiveram um final muito feliz em nosso trabalho. Todos se envolveram em algum tipo de falcatrua... e se deram mal!
O mais recente (em 2000) que me lembro, desviou 800 mil R$ de contas judiciais e foi demitido por justa causa. Claro, depois de devolver cada centavo.
Existem tantos outros que se dizem religiosos que também roubam, mas a minha estatística comprovou, no caso 100%, que ateus não se preocupam muito com certos conseitos morais não.

Anônimo disse...

... logo, Deus existe.

Anônimo disse...

Para ler com calma:

"ÉTICA SEM DEUSES", de Frank R. Zindler
http://str.com.br/Atheos/etica.htm

Mr X disse...

Logo Deus existe? Talvez. Ninguém está dizendo necessariamente isso, Gunnar. Não agora ao menos. Só que parece que é mais fácil ser ético acreditando em Deus (ou em "alguma coisa") do que sem acreditar. Acho eu.

Sim, ética sem deuses é possível. Mas a experiência parece indicar que é mais difícil. Céu e Inferno foram boas idéias. ;-)

Anônimo disse...

Ok, então você está admitindo que uma sociedade policiada à base do medo é melhor do que uma sociedade livre?

Mr X disse...

Eu diria que mais auto-policiamento do que policiamento... Cada um e sua consciência... Não?

Anônimo disse...

até que fim vc falou sua religião, quanto a sua resalva em relação ao islã, só pra vc saber o zakat(esmola, ajudar os outros, caridade) é um dos pilares da religião, portanto po de ter certeza que os muçulmanos ajudam os outros, sem contar que um dos motivos de se fazer o jejum no ramadã, ´epara c saber como é sentir fome e assim ter compaixão com o próximo.

Anônimo disse...

Mr X
Algumas considerações.

Falando em regiões inóspitas, para ajudar os outros... Você conhece os "médicos sem fronteira", a "cruz vermelha"? pois é. Eles não precisam ser crentes.

Por falar em crentes, essas doações dos católicos (não digo que isto diminui o efeito para quem recebe), muitas vezes são feitas como culpa, do tipo, eu fiz algo que não deveria, então vou doar alguma coisa como penitência ou é uma espécie de negociação com o santo, do tipo, se eu conseguir tal coisa, vou dar tanto... Ou seja, a velha natureza humana.

Estudei em escola de freiras e conheci algumas pessoas religiosas, respeitadas, e tal, que poderiam ser enquadradas no que há de pior da humanidade. (Parece o exemplo do ateu do Kct, também não serve como estatística, mas para mim, diz tudo sobre a igreja.)

Acredito que "humanidade" e "piedade" são desvinculados de crenças religiosas.

Anônimo disse...

Hallo, Pessoal!

"Sei só que os mendigos costumam concentrar-se na frente das igrejas, e não na frente do prédio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência."

É uma consideração, no mínimo, infeliz.

A SBPC não é uma entidade voltada para obras de caridade, daí que é extremamente tola a argumentação feita. Ela é, isso, sim, uma entidade voltada ao meio científico e acadêmico, cumprindo um papel muito importante na sociedade: O de ser um dos atores principais na geraração do conhecimento e da inovação. Se isto é bom ou ruim é complicado dizer, mas nenhum país sério do mundo atingiu o status de poder proporcionar aos seus cidadãos oportunidades de crescimento profissional, pessoal e intelectual sem a presença de instituições ao estilo da SBPC.

"Há freiras e padres que arriscam a vida em regiões inóspitas para ajudar os outros. Deve haver ateus também, mas certamente são em menor número."

Conheço cientistas ateus dentro da universidade que sacrificaram suas vidas por causa de suas pesquisas e acreditam que agindo assim poderiam trazer algo de bom para suas comunidades, sem se preocupar se há realmente um céu ou um inferno. Vale lembrar aqui: A ciência tem nos trazido muitas coisas boas e muitos confortos.

É muito salutar e louvável as obras de caridade das igrejas, no entanto eu ainda sustento a idéia de que precisamos, mesmo, é de mais escolas, mais bibliotecas públicas, escolas de músicas acessíveis, centros culturais, centros esportivos e etc. Precisamos de locais práticos que ofereçam ao indivíduo oportunidades de auto-melhoria e não de locais que, apesar das obras voltadas aos menos favorecidos, enaltece o espírito de rebanho, atraindo seguidores não pelo fato de oferecer chances de auto-melhorias, mas, sim, por satisfazer, de certa maneira, a satisfação pela auto-renúncia da fé em si mesmos. Vale lembrar também: A fé em uma causa divina é, em um grau considerável, um substituto pela perda da fé em nós mesmos.

Quanto menos justificativas há para que uma pessoa reinvindique excelência para si mesma e para as suas convicções, mais tendência ela terá para reinvindicar toda a excelência para a sua religião, a sua estirpe e a sua causa sagrada.

A questão da bondade e da maldade tende sempre a ficar naquele clichê maniqueísta e que leva a conclusões pouco frutíferas.

Eu sustentarei até o último momento que prefiro acreditar em valores como a vida, a liberdade e a busca pela felicidade.

[]'s

Marcelo

Anônimo disse...

voce esta um pouco equivocado, George Soros, Bill Gates e Warren Buffet são os tres empresarios que mais doaram dinheiro pra associações de caridade em todos os tempos

e quer saber de algo mais?
os tres são ateus

Anônimo disse...

e para o Kct, se é pra ser preconceituoso eu vou ser tb, mas vou me basear em verdades

vai numa penitenciaria pergunta se os presos acreditam em deus, aposto que pelo menos 95% vão falar que sim
a população de ateus e agnosticos nas prisões americanas e canadenses é de 0,33%, a de cristão é de 75%