Ainda há muita coisa boa na Europa. As catedrais e museus continuam lá. Apesar da globalização, ainda come-se e bebe-se muito melhor do que nos EUA. Fora algumas experiências com pessoas antipáticas na Alemanha e uma na Espanha, quase só encontrei gentileza e simpatia.
A Europa ainda é mais segura do que os Estados Unidos e do que qualquer lugar da América Latina. Mesmo passeando de noite em lugares como o bairro turco da Alemanha, jamais senti insegurança. Não dá para dizer o mesmo de certas zonas de L.A. O único lugar que pareceu algo mais ameaçador foi um bairro árabe francês, mas tudo o que aconteceu foram olhares mal-encarados. Quanto aos africanos que vi e os poucos com os quais conversei, devo dizer que pareciam excelentes pessoas, muito educados e gentis. Não tive qualquer experiência negativa com as tais minorias nesta visita.
Dito isso, é verdade que a Europa está mudando, e não é para melhor. Fora a questão econômica, que mal mencionei mas que é realmente preocupante (o nível de desemprego na Espanha de Zapatero é de 25% -- um quarto da população!), a imigração ilimitada está mudando o caráter do continente.
Alguns me acusaram de hipocrisia por criticar a imigração sendo um imigrante. Eles têm razão. Nem adianta dar como desculpa o fato de que eu more nos EUA, terra de imigrantes, em vez da Europa, terra de emigrantes: se eu tivesse um passaporte italiano ou francês e possibilidades de emprego, provavelmente me mudaria para lá, já que prefiro o modo de vida europeu, muito embora ache os americanos mais eficientes em muitos aspectos.
Confesso que tenho uma visão ambígua sobre o tema da imigração. Até há relativamente pouco, era favorável à visão libertária: que qualquer um emigrasse para onde quisesse, desde que não recebesse nenhuma forma de ajuda financeira estatal. Afinal, se alguém tem talento e capacidade mas teve o azar de nascer em algum rincão do Quarto Mundo, e um outro país mais desenvolvido pode oferecer melhores condições de vida e de progresso, por que não ir para lá? Tanto o imigrante quanto o país que o acolhe só teriam a ganhar. Como disse o leitor Gunnar, há uma boa e uma má imigração. Há imigrantes que fazem o país crescer e imigrantes que só estão lá para drenar recursos e aumentar as estatísticas do crime. O país que acolhe pode escolher quem receber.
Só que há outro problema aí. A Europa não são os EUA. Não tem nem o espaço geográfico nem o histórico de "melting pot" para acolher tantos. E a social-democracia e o Estado do bem-estar social, que os europeus querem manter a todo custo, são basicamente incompatíveis com a imigração.
Acho que foi Milton Friedman que disse que você pode ter um Estado que garante a assistência social OU imigração generosa, mas não pode ter os dois. Ele está absolutamente correto, por uma mera questão matemática: um número cada vez maior de imigrantes vai exigir um número cada vez maior de recursos.
E tem outro problema que é a questão étnica. Neste bom artigo da Economist, o sagaz autor observa o seguinte:
"[habitantes de] países mais étnicamente ou racialmente homogêneos sentem-se mais confortáveis com o Estado tentando diminuir a desigualdade pela transferência de recursos dos mais ricos aos mais pobres através do sistema fiscal. Isso talvez explique porque os suecos reclamam menos dos altos impostos do que os habitantes de um país de imigrantes como os EUA."Por que ocorre isso? Muito simples: uma questão de identificação tribal. Em última análise, somos seres tribais e nos identificamos com aqueles que estão mais próximos de nós, seja culturalmente, seja historicamente, seja geneticamente. Se o dinheiro dos impostos vai para nossos co-nacionais ou irmãos de cor, nação, ou religião, é bom. Se vai para imigrantes estrangeiros ou minorias religiosas ou raciais, é mau. É por isso que o welfare é mais criticado na Europa agora, quando é dirigido a imigrantes, do que quando era dirigido apenas a suecos ou franceses que tiveram menor sorte na loteria do nascimento. É por isso que os americanos brancos vivem criticando a assistência social dirigida principalmente para pretos e chicanos, mas não querem que se toque no Medicare que beneficia seus vovós. Sim, é "racista", mas e daí?
O que é uma "raça" ou uma "etnia" se não uma família extendida? Todos os grupos étnicos - menos talvez os brancos - entendem isso, em maior ou menor grau. Os judeus sempre se ajudam entre si. Os negros se chamam de "irmãos". Os asiáticos e árabes também prosperam graças ao apoio étnico. Li que 20% dos pequenos mercados na Espanha pertencem a chineses ou a paquistaneses; pelo que vi, o número pareceria chegar mais perto de 90%, já que não encontrei um único estabelecimento controlado por latinos ou espanhóis. Como eles conseguem isso? Provavelmente, imigrantes de uma mesma origem étnica formam redes de cooperação, legais ou não.
Em Los Angeles, os asiáticos (coreanos e vietnamitas) dominam o mercado de manicures, que aqui são chamados de "nail spa". Não há uma manicure que não seja asiática na cidade. Dizem, não sei se é verdade, que é uma máfia: se surge algum estabelecimento não-asiático na cidade, logo sofre um "incêndio acidental".
Quando a coisa pega, é cada um por si. Quanto mais inter-étnica se torna a Europa, e sem o enorme espaço geográfico americano que permite a auto-segregação e o "white flight", maior é a possibilidade de conflitos. Junte-se a isso o fanatismo islâmico, e temos uma receita bem explosiva. Lembrem que o Líbano já foi um país de maioria cristã...
Porém, não acredito que o maior problema da Europa atualmente seja a imigração. Acho que o problema maior mesmo é uma crise espiritual, que se manifesta na falta de uma crença no próprio destino. Todos os problemas atuais da Europa decorrem daí. Como solucionar isso? Com um retorno da fé cristã? Uma volta ao tradicionalismo? A destruição da malfadada União Européia e o retorno aos nacionalismos locais? Quem sabe até o retorno da monarquia? (A Europa sempre foi aristocrática; a democracia não lhe senta tão bem). Ou simplesmente a expulsão dos imigrantes e seus descendentes, e o fim do Estado de bem-estar?
Francamente, não sei. Porém, espero sinceramente que o Velho Continente sobreviva (e não na forma de um califado islâmico). Devemos-lhe muito; aliás, quase tudo.