domingo, 1 de março de 2009

O lixo e o luxo

Bem no começo de um documentário sobre catadores de lixo que pode ser visto no Youtube, uma das próprias catadoras fala que a maioria dos que estão nessa vida é porque são "relaxados" e não querem trabalhar em empregos reais, e ali conseguem comida de graça. "Tem batata, tem tomate, tem tudo, é muito bom aqui". "Não troco este trabalho por nada", diz outra.

Pode parecer chocante para nós, mas acho que algo de razão a moça tem. Viver do lixo pode ser mais fácil do que trabalhar em um emprego formal. Menos saudável talvez, mas mais livre e até mais rentável. A indústria do lixo movimenta 8 bilhões de reais e, de acordo com este artigo, ser catador de lixo e vender o papel ou as latas para reciclagem dá mais dinheiro do que muito emprego por aí. O ramo tem inclusive seus micro-empresários, que comandam funcionários pagos com até três salários mínimos.

(Ou seja, essa história do "Ilha das Flores", de pobres seres humanos mais explorados do que porcos, era pura abobrinha pelo jeito.)

É certo que alguns ainda vêem aí a mão da exploração capitalista, e prefeririam que essas pobres pessoas estivessem recebendo ajuda estatal para não trabalhar em condições tão degradantes. Será que é mais digno viver catando lixo ou viver do bolsa-família?

Talvez viver do bolsa-esmola seja melhor, o problema é que os programas de "transferência de renda" dos ricos para os pobres são um fracasso. Em vez de gerar emprego, que é o que gera riqueza, geram um ciclo de dependência no qual produz-se cada vez menos. O pobre passa a viver do dinheiro do rico. O rico, garfado cada vez mais, produz cada vez menos. O único que termina feliz com esse esquema piramidal é o atravessador, também conhecido como Estado. Portanto, a "transferência de renda" não é dos ricos aos pobres, é dos ricos aos novos-ricos burocratas estatais e amigos do poder. Está aí a nova elite bolivariana que não me deixa mentir.

E, no entanto, um assistente de Obama afirmou, com a maior cara de pau, que o projeto obamista tem o objetivo de realizar "a maior redistribuição de renda dos ricos aos pobres já feita em 40 anos neztepaís." Desastre na certa.

Pare pra pensar. Por que motivo deveria haver uma "re-distribuição" de renda que ninguém distribuiu, e por que esta "redistribuição" deveria ser realizada, não pelos interessados, mas por terceiros que nada tem a ver com o assunto?

Nunca vou entender a fé que certas pessoas depositam no Estado, como se este não fosse formado por pessoas tão ou mais incompetentes do que eu e você. Os estatistas querem que cada vez mais dinheiro seja entregue a essa corja, e depois ainda se espantam com a corrupção e crise econômica que se seguem.

Faz pouco, o Partido Comunista Francês mudou de nome. Agora se chama Partido Anticapitalista. Dou-me conta que estive enganado o tempo todo: comunismo e socialismo não existem. Não enquanto sistemas políticos ou econômicos, ao menos. São, na verdade, meras narrativas criadas para as massas, para ocultar um desejo mais velho do que o homem - a acumulação de poder absoluto nas mãos de uns poucos. Dizer que é "para ajudar os pobres" ou para "criar uma sociedade mais justa" é apenas a desculpa que funciona melhor. Mas não se enganem: também podem falar em "pureza da raça" ou alguma outra frase que venha a calhar conforme o momento.

Do jeito que a coisa vai, com até os EUA entrando na canoa furada do estatismo, terminaremos todos vivendo do lixo. O problema é que, como na piada, talvez não haja lixo para todo mundo.

9 comentários:

Fabio Marton disse...

Posso corrigir?

É certo que alguns ainda vêem aí a mão da exploração capitalista, e prefeririam que essas pobres pessoas estivessem recebendo ajuda estatal para não trabalhar em condições tão degradantes.

Vira:

É certo que alguns ainda vêem aí a mão da exploração capitalista, e prefeririam que essas pobres pessoas estivessem recebendo ajuda estatal para não trabalhar.

Anônimo disse...

Ilha das Flores é uma farsa. Ele pagou os "figurantes" para ficar nas filas. Ele copiou a fórmula narrativa do Kurt Vonnegut. Aquilo nem foi gravado na Ilha das Flores. Aquilo não é um documentário, mas uma obra de ficção.

Mr X disse...

O Fábio Marton tem razão, esse pessoal é contra qualquer tipo de trabalho.

Ilha das Flores nunca foi um documentário, é ficção / propaganda, revi estes dias, chega a ser gritante o discurso marxista (ou melhor, anticapitalista...). É o escândalo do burguês Furtado, não acho que os catadores gostem de ser representados dessa forma. Mais honesto é o documentário do Coutinho "Boca de lixo", que linkei aqui e que ao menos não julga ninguém.

Anônimo disse...

Os EUA tem um presidente de esquerda, a Europa abaixou as calças para o Islã e a América Latina está entregue as proto-ditaduras caudilhistas...

Temo que essa será a ultima geração divertida desse lado do globo...

MariEdy disse...

"Ou seja, essa história do "Ilha das Flores", de pobres seres humanos mais explorados do que porcos, era pura abobrinha pelo jeito."
Meus amigos, estou virando revisionista. Não falo que o Shoah não existiu. Digo que muito do que esse pessoal da esquerda fala é a mais deslavada mentira. PROVAS! QUERO PROVAS!!

Pax disse...

Miséria no orkut dos outros é refresco.

Clap, clap, clap.

Capitalistas unidos jamais serão vencidos. Porrada nos pobres que é assim que se fala.

Virge santíssima trindade do meu ateísmo. Mr X, você ao invés de melhorar piora a cada dia.

Mr X disse...

Mas quem é que está pedindo porrada nos pobres? É só você, Pax. Eu aqui sou a favor de riqueza para todos. Mas coloque na sua cabeça, o Estado não ajuda, o Estado só atrapalha, o Estado só rouba, os pobres queriam enriquecer mas havia um Estado no meio do caminho, no meio do caminho havia um Estado.

Unknown disse...

Mr X: "O Estado só atrapalha".

Caro, sugiro que vc diga isso à nata dos economistas neoliberais reunidos em Davos.

Talvez eles possam aprender um pouquinho com a vossa sapiência, e parar de tentar socorrer o sistema financeiro mundial.

ACT

Mr X disse...

ACT,

Todo mundo quer dinheiro dos outros (que e' o que sao os impostos). Ate' os empresarios aceitam, e' claro.

Mas repito, a longo prazo, o Estado so atrapalha.

Acho que o Estado e' o Deus dos ateus. Ao menos dos ateus esquerdistas. Nao acreditando em um Deus sobrenatural, precisam ainda assim de um Ser Todopoderoso, e o resolvem dando o maximo possivel de poder ao Estado.

Eu? Prefiro a liberdade.