quarta-feira, 5 de novembro de 2008

This is the end, beautiful friend

Pois é amigos. Aconteceu o esperado, Barack Hussein Obama é o novo presidente dos EUA. Se estou feliz? Se estou triste? Na verdade, nem um nem outro.

Assisti ao anúncio da vitória durante um evento cheio de brasileiros (lançamento de um filme brasileiro em um festival local). Todos, naturalmente, vibravam com a vitória de Obama. Achei quase cômica tanta emoção: o que mudava para eles, que retornariam para o Brasil em poucos dias? Aí li este post do Pedro Sette Câmara, n'O Indivíduo:

Por que alguém que mora e vive no Brasil pode depositar tanta, digamos, energia emocional num candidato, e ainda mais num candidato à presidência americana? Fico pensando em como isso pode afetar sua vida particular, e o número dessas pessoas parece bastante diminuto. Para nós que no máximo visitamos os EUA a única coisa que mudou foram as medidas de segurança nos aeroportos, e parece razoável dizer que após o 11 de setembro qualquer presidente as teria instituído.

Aliás, mesmo descendo ao mais imediato dos níveis, a diferença que a maior parte das pessoas sente em suas vidas privadas com a eleição de um prefeito é mínima. Pensando na prefeitura do Rio, onde morei quase sempre, só consegui lembrar de duas coisas: Cesar Maia encheu a cidade de placas, o que foi muito bom, e fez o tal do Rio Cidade, justamente enquanto eu não morava aqui, zerando seu placar positivo com o abominável obelisco de Ipanema. Nem as placas nem o obelisco foram promessas de campanha. Fora isso, as coisas continuaram idênticas. Consigo me lembrar de outras coisas feitas por políticos, mas elas não vieram do, com o perdão do jargão, âmbito municipal.

Isso é que me faz crer que, desde o ponto de vista do cidadão privado, a escolha de um candidato é semelhante à escolha de um time. Que diferença faz o Flamengo ganhar ou perder? Só uma diferença emocional. Você resolveu agregar algo à sua identidade e por isso quer que esse algo seja sempre vencedor sob algum aspecto – se não ganhar no placar, vai jogar melhor, ter mais títulos, sei lá. O impacto emocional que uma vitória ou derrota tem é infinitamente maior do que o impacto externo, e a mesma coisa vale para a vitória nas eleições. Cá no Rio, sei que a minha repulsa por Paes conseguia superar até a minha repulsa pelo ex-seqüestrador, mas, francamente, não consigo imaginar uma única diferença que um ou outro fosse fazer em minha vida concreta.

No meio das comemorações, e assistindo depois às cenas na TV, e imaginando também a emoção juvenil do colega Pedro Doria, não pude deixar de me divertir com o curioso espetáculo. Todo esse entusiasmo? Por um político que promete mudanças? Don't these people know any better?

Não posso saber o que eles acreditam que mudará nas suas vidas com a eleição; de fato, não acredito que nem mesmo eles o saibam. De minha parte, acordei cedo, assisti ao sol nascer, tomei café, dirigi-me à Universidade, e tudo parecia exatamente igual ao dia anterior. Como se fosse o dia depois da conquista do Pentacampeonato pela Seleção Brasileira.

Não me entendam mal: é claro que não tenho grande entusiasmo pela candidatura Obama por não concordar com suas idéias, mas mesmo que McCain tivesse ganho, não acreditem que eu sairia tomando champanhe por aí. (Mesmo o futebol, confesso, me emociona muito pouco). Os progressistas - o nome já diz - acreditam num progresso social cada vez maior: primeiro os negros têm mais direitos, depois os gays, depois os transsexuais, depois não haverá pobreza, depois todos os povos inimigos se unirão em paz sob a égide da ONU, etc, etc, etc. Eu não; sou pessimista. Não acredito em progresso natural; acredito que os poucos direitos que temos são conquistados com muita luta e que precisam ser mantidos dia a dia, sob o ataque constante de inimigos e da própria complacência.

O que muda com a presidência Obama?

Ora, Obama não é a causa, Obama é o sintoma. Sintoma de uma outra coisa, um mal-estar geral civilizacional ocidental, de que já falei em outros momentos. Sua eleição não trará o paraíso sonhado de seus eleitores; mas, com um pouco de sorte, tampouco o inferno. E eu me dedicarei menos à política e mais aos poemas e bichos.

Vejo, no entanto, duas coisas positivas na sua eleição:

1) Os Democratas, se fizerem merda, serão os responsáveis. Certo que, sendo Democratas, tentarão responsabilizar o "legado de Bush" ou "a oposição", mas colará um pouco menos.

2) Obama é negro e venceu a eleição, e ninguém mais vai poder falar em "América racista". Aliás o próximo que vier me falar em "América racista" vai levar uma bolacha na cara.

4 comentários:

Anônimo disse...

é, existem males necessários. o lula foi a mesma coisa: o brasil melhorou um pouco, o que já estava encaminhado para melhorar, salvo se ocorresse alguma grande merda, e não virou um inferno porque ele tampouco foi bobo de deixar política monetária e indústria e comércio exterior nas mãos de petistas. de resto, roubalheira até mais descarada, mentiras mais desavergonhadas, a velha politicagem com a banda podre do pmdb e dos partidos parasitas. enfim, o brasil continuou sendo o brasil, apenas com uma população um pouco mais acostumada com a democracia e a sua realidade (ou seja, um povo menos fantasioso).

pelo menos agora as pessoas que não são de esquerda aqui no brasil já não têm tanto receio de se assumirem de direita ou liberal (no sentido local da palavra).

lá, pelo menos os negros agora vão perder o argumento de que são eternas vítimas do sistema branco. agora vão ter dar a cara a tapa.

Só para concluir, nesse sentido é bom romper antigos paradigmas que com o tempo tendem a se tornar verdades goebbelianas.

Anônimo disse...

só mais um acréscimo: nestes últimos dias eu também só tenho dados rápidas passadas no weblog do pedro doria. não leio todos os posts e muito menos adentro nos comentários. "emoção juvenil" foi o melhor termo para definir o clima e o teor dos últimos textos daquele blog.

Mr X disse...

Olá rolando,
Acho que concordo com a comparação com o Lula; de fato eles tem algumas coisas em comum. Acho que, como Lula, talvez Obama não seja tanto um radical de esquerda quanto um oportunista; falo mais disso no post acima.

Anônimo disse...

Assim que o Lula venceu a primeira eleição, apareceu em meu consultório um paciente com barbicha, chapéu bolchevique (aquele original com estrelinha vermelha e tudo) e pose de revolucionário que acaba de vencer a "luta"...
Pagou a consulta depois de 30 minutos, e.....? Nunca mais vi o sujeito. Sinceramente fiquei curioso em saber o que ele estava pensando e o que pensa hoje, quando certamente sua ilusão está´desfeita.