segunda-feira, 17 de março de 2008

O crepúsculo do individualismo

Na Holanda, comentei aqui outro dia, liberaram o sexo gay nos parques - ao mesmo tempo em que proibiram que os cachorros passeiem sem coleira nos mesmos parques.

Os mesmos grupos que pretendem descriminalizar a maconha em nome da liberdade criam regras cada vez mais limitadoras sobre onde e quando se pode fumar cigarro ou até mesmo comer produtos ditos "não-saudáveis" como hambúrgueres e batatas fritas.

No Canadá, muçulmanos radicais pregam o terrorismo sem censura, mas o dono de uma livraria foi condenado a pagar uma multa altíssima por ter impedido um cliente de fumar um baseado no recinto - o que teria de algum modo interferido com seus "direitos humanos".

Na Inglaterra, enquanto câmeras vigiam todos os cidadãos mas o crime aumenta, agressores violentos recebem pena de seis meses ou são liberados com o mero compromisso de se apresentar na delegacia, enquanto o arçobispo da Igreja Anglicana cogita a adoção da sharia islâmica - o governo paga a ajuda psicológica às vítimas dos criminosos violentos que não puniu, e tem um projeto de instalar postes acolchoados para que os passantes distraídos não trombem neles.

Parecem apenas leis idiotas, das quais eu poderia citar outros milhares de exemplos. Mas talvez haja algo mais. Está claro, afinal, que estamos assistindo no Ocidente uma crise absoluta de valores, que gera naturalmente diversas contradições. Às vezes parece até mesmo não haver mais qualquer noção de "certo" ou "errado", de "funciona" e "não funciona", e as noções antigas são desconsideradas talvez por não serem modernas o suficiente (sem que ninguém pense que, na verdade, elas talvez tenham sido justamente o resultado de centenas de anos de erro e acerto).

Tudo, no fim das contas, ao menos a julgar pelos exemplos acima, parece ser determinado meramente pelo achismo do burocrata de turno. O responsável pelas escolhas não é mais o indivíduo - é o Estado.

De fato, notamos duas coisas ultimamente: por um lado, o cidadão quer cada vez mais "direitos". Acredita ter direito natural à casa, à alimentação, a saúde, ao emprego perpétuo, ao seguro-desemprego, a fazer um filme pornográfico com dinheiro público, e mesmo a coisas absurdas como a operação de mudança de sexo ou de lipoescultura paga pelo Estado. Em troca, o Estado vigia e controla cada vez mais a vida do cidadão: o que consome, o que come, se fuma, se bebe, onde viaja, o que leva na mala, o perfil genético de crianças de cinco anos que demonstrem atitudes anti-sociais... Mais aqui, no brilhante texto de Theodore Dalrymple, e aqui.

Tóim!

6 comentários:

Anônimo disse...

clap clap clap !!
crise ocidental de valores, nao é de hj, ta longe de acabar !

chose, vc ontem quase me mata de vergonha concordando com aquele otario de morde ! putz...

Anônimo disse...

esse post foi inspirado por mim e barba negra, ontem no vicio, nao foi ? ))
anyway, otimo debate proposto !

ou entao o individualismo esta mesmo presentissimo no ar...

ja leu g lipovetsky ?

Mr X disse...

Leia Theodore Dalrymple, Confetti, ele é muito bom. Lipotevsky? Não conheço, vou pesquisar.

Anônimo disse...

Mr. X, parece que a história do parque de Amsterdão não é bem como andaram contando por aí, da uma olhada nisso:

http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI2685642-EI6580,00.html

"O mal-entendido começou com uma sugestão do vereador do Partido Verde Paul van Grieken, da região Administrativa de Amsterdã conhecida como "Sul Velho". Ali está localizado o Vondelpark, maior área verde da capital holandesa (visitação anual estimada em 10 milhões de pessoas) e tradicional ponto de encontro noturno gay. Bastou os verdes anunciarem a idéia e a velha fama da Amsterdã das mil e uma loucuras fez o resto: a partir de então fazer sexo ao ar livre passava a ser mais um tabu quebrado pelos holandeses, para deleite de alguns e escândalo de outros."

Anônimo disse...

Mr. X, se ao indivíduo passa a ser permitido fazer X(hehe), Y e Z que antes lhe eram proibidos e não lhe são retiradas muitas das liberdades que já possuía, na prática a liberdade não aumentou? Ou pelo menos ficou igual? Ninguém está sendo obrigado a fumar maconha(tô fora disso!).

Mas o lance da privacidade é mesmo uma coisa séria... :-(

Mr X disse...

Digamos que você já não tem liberdade para fazer as coisas sem ser vigiado.

Além disso, do meu ponto de vista, parece mais é que que dão a liberdade de fazer X, mas retiram aquela de fazer Y e Z.

Mas a questão é mais que o Estado hoje se preocupa de um monte de coisas com as quais NÃO devia se preocupar (vida pessoal dos cidadãos), e não se preocupa com as coisas que sim devia (segurança).