sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sobre o tribalismo na África



Muitos dizem que o problema que se vê hoje no Quênia, assim como em várias outras nações africanas, é o mero resultado do modo em que foram divididos os países africanos pelos europeus, "com uma régua" e sem levar em conta as realidades sociais e tribais. O grande Theodore Dalrymple argumenta que não é assim tão simples:

Essa explicação me parece demasiado fácil. Esquecem-se dois fatores: que os países africanos que realmente correspondem a realidades sociais, históricas e étnicas - como Burundi, Ruanda e Somália - não se deram muito melhor do que aqueles mais "artificiais". Além disso, na África, as realidades sociais são tão complexas que nenhum sistema de fronteiras poderia corresponder a elas. Por exemplo, existem 300 grupos tribais diversos apenas na Nigéria, muitas vezes intercalados em diferentes locais geográficos: somente um processo de balcanização seguido de limpeza étnica poderia criar o tipo de fronteiras desejado por aqueles que criticam os "criadores de mapas" europeus.

Na verdade, foi a imposição do modelo do Estado-nação europeu na África, para o qual o continente estava tão mal preparado, que causou tantos desastres. Sem ter lealdade à nação, mas apenas à família ou à tribo, aqueles que controlam o Estado só conseguem vê-lo como um instrumento de exploração.

Tal visão ficou patente mesmo recentemente, quando perguntaram a uns camponeses do Quênia se achavam que, caso o filho de quenianos Barack Obama fosse eleito presidente nos EUA, isso mudaria em algo sua situação. "Talvez seja bom só para a sua família e sua gente". Além do compreensível cinismo, há aí também um componente tribal: "sua gente" se refere à tribo de Obama (o pai de Obama era da tribo Luo).

De qualquer modo, cabe a pergunta inversa: por que é que o Obama efetivamente não ajuda a sua família, quem sabe trazendo a avó para os EUA? A imagem de vovó Obama naquela cabana no Quênia, temo, não ajuda muito a sua campanha. Por outro lado, talvez seja um bom método para mantê-la o mais longe possível das câmeras. Que segredos oscuros será que ela não poderia revelar sobre o pequeno candidato? ;-)

2 comentários:

Anônimo disse...

Mr x,
Mesma realidade étnica em RUANDA???

Vc esqueceu do tustis e hutus???

Esqueceu que foram os belgas que criaram toda essa cituação??

Mr X disse...

Theo,
Já existia uma espécie de Reino da Ruanda por lá e já era dividido por tutsis e hutus. Não nego que os europeus quando colonizaram de certa forma não tenham ferrado muito a situação, só o que o Theodore (e não eu) diz foi que o país não foi uma criação completamente arbitrária com fronteiras malucas como em outros locais da África. Mesmo assim não deu certo. Mistério.