Certo, houve uma fraude absurda, mas a verdade é que o próprio conceito de democracia não existe por lá. Com o colonialismo europeu, a África pulou do tribalismo puro e simples para o Estado-nação, e a coisa não deu muito certo.
Theodore Darlymple escreveu um artigo muito interessante a respeito (After Empire), recomendo a todos que podem ler em inglês. Segundo ele, na África o Estado não existe para servir ao conjunto da sociedade, mas para servir exclusivamente à tribo de quem detém o poder. Isso explica o morticínio permanente.
Outro texto interessante e politicamente incorreto é o do Reinaldo Azevedo:
Cobram-me que fale sobre a tragédia que se seguiu ao resultado eleitoral no Quênia. Dizer o quê? É o produto da falta de democracia. Nada além. Qual democracia? Ora, aquela vigente na África do Sul, por exemplo: um homem, um voto. O Quérnia, como boa parte da África não-islâmica, está envolvido numa guerra tribal, pré-democrática, em que as questões étnicas, tão prezadas pelos multiculturalistas, se sobrepõem aos valores universais da democracia. Não é o que tanto prezam estes gênios? Não é o que vêem como a expressão da mais genuína vontade popular na Bolívia?
Hoje, na África, qual é a única nação que vive, a despeito de todas as dificuldades e problemas, a democracia plena? A África do Sul. E por quê? Porque se universalizaram, para toda a população, as regras que só vigiam para os brancos. Sim, o apartheid, vejam que interessante, era “democrático” para os que eram acolhidos por ele. Eliminado, o que passou a proteger o conjunto dos sul-africanos não foram as regras tribais dos negros, mas a democracia dos brancos. Como se trata de um regime político que independe de cor, está dando certo. Os zulus reivindicaram e obtiveram leis especiais. Mas não podem impor aos outros a sua vontade.
O que estou dizendo, sim, com todas as letras é que a democracia de perfil ocidental já havia chegado e se consolidado entre os brancos da África do Sul. E foi adotada como modelo de governo pelos negros, com todos os seus problemas, com todas as suas deficiências. As demais nações africanas resolveram “inventar” seus próprios meios, adaptando o regime democrático às culturas locais, sobrepondo questões étnicas aos valores universais do regime democrático. Deu no que deu: em morticínio.
Aliás, esse contraste entre a África do Sul e seus vizinhos - que, volta e meia, protagonizam carnificinas - deveria servir de exemplo aos neo-racistas brasileiros, que pretendem transformar cor de pele em categoria política. Vejam lá: na democracia sul-africana, brancos e negros aprenderam a conviver; nos demais países, negros não conseguem se entender com negros.
10 comentários:
É triste o que acontece.
Nem sei o que dizer
Fico pensando como o Brasil é abençoado e eu mais ainda por amar os que pensam totalmente diferenta de mim.
Por saber que apesar de pensar de um jeito e o companheiro pensar diferente de mim, ter noção que ambos podemos estar errados.
Mas acho também, no caso da África, que repartir pobreza é, muito, muito, dificil.
Casa que falta pão, todos brigam e ninguém tem razão.
Pior ainda é pensar que trilhões de dólares são gastos em guerras e pesquisas de como matar melhor, e seres humanos passando fome e perrengues como este do Quênia.
Triste, muito triste.
Esse Reinaldo Azevedo é uma anta. Me admira como o enorme e desengonçado Mr X de 2,11 m de altura lê uma coisa dessas.
Mr X, onde você habita? Quênia? Brasília? Whashington?
Pax, bem-vindo.
Não concordo sempre com o Reinaldo, mas é sempre interessante lê-lo.
Sou de Porto Alegre, tchê, mas estou morando temporariamente em Buenos Aires por trabalho. É uma longa história.
pax , se ele te disser onde mora, vai ter que te matar ! foi o q me respondeu quando perguntei a mesma coisa !
vejo as imagens do kenia e sinto vergonha...e pena...
ah eu adoro gauchosss !
Confetti,
Tinha esquecido! Pois é, agora vou ter que matar o Pax. Que pena. :-(
Mas venha com um bom facão Mr X bagual, o meu tá nos trinques.
Não te matarei, somente te cortarei um punho, numa peleia como nos bons velhos tempos, um pala na mão e um facão na outra.
Báh, já tô até com gosto de sangue.
"Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho". Como você é enorme e desengonçado, vai ter que ser de talho.
mas só tem gaúcho por aqui?
Estamos dominado o mundo Chesterton, velho e bom Chesterton.
Aqui em Sampa eu já dominei. No Rio você é imperador, em Buenos Aires é o desengonçado.
Penso em me transferir para Whashington, antes que os chineses o façam.
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