quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O que é permitido falar?

Com esse negócio de "politicamente correto", cada vez pode-se falar menos. A situação está russa. Epa! Será que, ao dizer isso, estarei cometendo uma injúria ao povo russo? (Se bem que parece que o termo correto é "ruça", que seria algo como "enevoada, grisalha, desbotada".)

Na língua inglesa, há uma expressão corrente: "chink in the armor", que poderia ser traduzida como "fissura na armadura". No outro dia, a ESPN utilizou a expressão em relação ao time de basquete do asiático-americano Jeremy Lin, de origem chinesa. Bem, o que ocorre é que "chink" também é uma expressão pejorativa para chineses! Portanto, houve grande tumulto, e a ESPN teve que se retratar. O responsável pela manchete foi demitido, e nem ser casado com asiática o salvou. Em virtude do caso, a Associação dos Jornalistas Asiático-Americanos publicou uma lista de palavras e expressões ofensivas aos asiáticos que deveriam ser evitadas. Além de "chink", não dá mais para dizer "Me love you Lin time"! Nem mencionar os "biscoitos da sorte" chineses em relação ao jogador!


sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma questão de classe

Charles Murray está de livro novo. Para quem não sabe, Murray escreveu, junto com Richard Herrnstein, o livro "A Curva do Sino", um dos mais badalados (perdão pelo trocadilho) livros de ciências sociais dos últimos vinte anos, e um dos mais criticados também. Herrnstein faleceu pouco depois da publicação, mas Murray continuou publicando e apresentando-se em congressos.

"A Curva do Sino" foi acusado na época de ser um livro "racista", mas o que ele sugeria é algo até mais grave e problemático: basicamente, que QI e classe social estão intimamente relacionados. Existiria uma relação entre a riqueza ou pobreza de uma pessoa e sua inteligência. Atenção: isso não quer dizer que os pobres sejam burros e os ricos sejam inteligentes: muitos filósofos e escritores inteligentíssimos viveram na pobreza, ou ao menos bem longe da riqueza, e existem muitos ricos imbecis que herdaram a fortuna de pais mais espertos e trabalhadores, assim como existem pobres inteligentes cujos filhos subiram na vida. Mas, estatisticamente, haveria uma correlação geral entre QI e classe social, formando uma pirâmide com QIs mais baixos na ampla base e QIs mais altos no diminuto topo. 

Talvez para evitar polêmicas, neste novo livro Murray dedica-se exclusivamente aos brancos americanos, mas continua interessado na temática da inteligência, da educação e da cultura. O livro chama-se "Coming Apart: The State of White America" (Algo como: "Em Separação: o estado da América Branca". Obs: Não li o livro ainda, portanto baseio-me apenas em críticas que li, é bem possível que esteja passando algumas idéias que não são exatamente do Murray). 

O que ele diz é que está havendo uma divisão cada vez maior entre os próprios brancos nos EUA, entre uma superclasse de ricaços inteligentes que vive em uma bolha culturalmente isolada e uma classe média/trabalhadora cada vez mais burra e mais entregue ao ostracismo. 

Tal divisão não seria apenas financeira, como querem os marxistas, mas principalmente intelectual, cultural e moral. E está se tornando um problema, pois a tendência é que os dois grupos se separem cada vez mais. 

Os neoricaços vivem em casas milionárias em bairros exclusivos. Vão à Ópera e a exposições de arte moderna e bebem vinhos seletos no jantar. Comem comida orgânica e são atléticos. Casam no papel. Seus filhos estudam em Harvard e em outras universidades da Ivy League, o que por si só já garante a entrada em um clube exclusivo. Formam, assim, uma elite hereditária, uma espécie de nova aristocracia, ainda que, em termos, meritocrática.  

Já os brancos proletários vivem em zonas cheias de imigrantes cada vez mais ameaçadas pelo crime e pelo desemprego. Assistem às corridas do NASCAR e ao Superbowl na TV. Bebem a cerveja Pabst Blue Ribbon ou, no máximo, uma Bud Light (Heineken é coisa de boiola). Comem porcarias e engordam. Casam cada vez menos e costumam ter filhos ilegítimos aqui e acolá. Tais filhos estudam (quando estudam) em Community Colleges de segunda categoria, mas jamais chegarão a Harvard. Muitos abandonam os estudos e ficam mais pobres, e assim o problema assim se propaga através das novas gerações.  

Os sites racistas adoram apontar o mau comportamento dos negros do gueto, mas é fato que há uma porção de brancos "white trash" que apresentam um comportamento igualmente abominável. (Crianças abandonadas? Filhos matando pais? Pais colocando crianças na máquina de lavar ou na de secar? Um homem matando um casal porque estes tiraram sua filha da lista de amigos no Facebook? Tem de tudo, é só escolher.) 

O que Murray argumenta é que a classe média americana estaria perdendo as virtudes que tornaram o país uma grande nação: basicamente, esquecendo a importância do casamento, da família e da moralidade convencional; esquecendo da independência e do empreendedorismo e dependendo cada vez mais do Estado assistencialista; e perdendo a corrida pela habilidade educacional e cognitiva, em um mundo em que esta se torna cada vez mais importante.  

Não sei se Murray está correto, talvez eu compre e leia o seu livro para saber. O que parece é estar havendo mesmo uma desconexão cada vez maior entre as elites e o povão. Bem, sempre foi assim na Velha Europa, onde a maioria da população vivia na pobreza e na ignorância enquanto os aristocratas formavam uma elite hereditária vivendo no bem-bom. Mas a América era para ser um país diferente, a tal terra da liberdade, onde "qualquer um" poderia "chegar lá". Aparentemente, "chegar lá" está ficando cada vez mais difícil.  



Obs. Comentários serão moderados. Evitem insultos e generalizações sobre grupos humanos. 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Mulheres Guerreiras

Enquanto o famoso novo blog não vem (será que um dia virá?), comento duas notícias interessantes. Uma, a morte de uma correspondente de guerra americana em um bombardeio na Síria. Não conhecia a repórter. Provavelmente era de esquerda, mas escreveu um bom texto sobre a importância dos correspondentes de guerra.

Ela já havia perdido um olho em outra guerra, e desta vez entrou clandestinamente na Síria juntando-se a um grupo de militantes que protestavam contra o governo Assad, em meio a um momento de brutal repressão. Morreu junto a outros repórteres e fotógrafos estrangeiros, propositalmente atacados pelo regime. (Por muito menos, os americanos e franceses bombardearam Khadafi).

Bom, mas o conflito na Síria não me interessa aqui, apenas a psicologia da repórter. O que leva uma pessoa a arriscar a vida dessa forma? Ela explica algumas razões no discurso mencionado acima, mas não o essencial. Por que ela?

Fui procurar informações sobre sua vida pessoal. Americana, mas morando há muito na Inglaterra. Foi casada e divorciada duas vezes -- com o mesmo sujeito. Casou depois ainda uma terceira vez com um outro jornalista que por sua vez já fora casado outras quatro vezes e se suicidou, terminando a relação. Ela tinha cinqüenta anos. Não tinha filhos.

Não, não quero insinuar aqui, num momento de psicologia barata, que suas frustrações sentimentais a tivessem levado a participar desse tipo de vida -- aliás, é provavelmente o contrário. É certo que ter família e filhos tornaria mais difícil a participação em coberturas de guerra. Por outro lado, não sou como esses direitistas mais radicais que acham que mulher serve apenas para ter filhos e cuidar da cozinha. Sendo ela uma mulher independente sem filhos e sendo essa sua escolha de vida, não vejo muito problema. Acho até uma pessoa admirável. Só acho curioso.

Se mulheres correspondentes de guerra chamam a atenção, o que dizer de mulheres soldadas? Elas também existem, e em número crescente.

Não chegam a ser uma total novidade. É certo que sempre foram minoria, mas Joana do Arco liderou as tropas francesas quando ainda adolescente. Em países orientais como Índia e China várias mulheres guerreiras parecem ter tido importância histórica. Porém, na maior parte dos casos, a crença geral tem sido que as mulheres são demasiado preciosas para serem desperdiçadas como bucha de canhão.

O feminismo acredita que "homens e mulheres são iguais" e esteve por trás desse movimento que quer colocar mulheres na linha de frente das guerras -- e nem digo como repórteres, mas como soldadas mesmo. Porém, isso leva a situações bizarras, e aqui vem a segunda notícia que me interessou: leio que nos EUA, soldados americanos (homens), como parte de seu treinamento, são obrigados a utilizar barrigas e seios postiços para "empatizar" com as soldadas grávidas.

(Pausa para você recuperar o fôlego.)

Três perguntas surgem aí. A primeira é, "Hein?!". A segunda é, "O que mulheres grávidas estariam fazendo no exército?". A terceira é: "Xii, o que eles terão que fazer para empatizar com os soldados gays?"

É curioso: por um lado, dizerem que homens e mulheres são iguais, mas, por outro lado, para poderem acomodar mulheres em profissões perigosas (e tradicionalmente masculinas) como a de soldado, piloto ou bombeiro, dezenas de modificações tornam-se necessárias. Mas afinal, não eram iguais?

Alguns dizem que o verdadeiro interesse do movimento feminista não é o de equiparar as mulheres aos homens, mas sim o de feminizar os homens. Vendo o vídeo que acompanha a matéria sobre a empatia com soldadas grávidas, fico pensando que talvez eles tenham razão...


NOTA 1: post sobre temática racial serão sumariamente deletados. Há espaço para eles -- nos posts sobre raça (aliás, estou preparando um). Porém, não serão mais aceitos em posts que não falam do assunto.
NOTA 2: sei que prometi um blog novo, mas ainda não tive tempo; enquanto isso, vou postando ainda notas curtas por aqui, neste semi-moribundo blog.)

O Diabo existe?

A mídia, que odeia conservadores, está sacaneando o candidato Rick Santorum, por ele ter afirmado que "Satã quer destruir a América". É uma declaração velha, de 2008, mas desenterrar qualquer coisa vale se puder servir para um odiado Republicano.

Os esquerdistas do Huffington Post e outros sites progressistas acham engraçado. Não entendo o por quê. É o discurso de um candidato religioso que teve lugar em uma escola religiosa. É natural falar em Satã. Queriam que ele falasse de quem, do Pato Donald?

Acho o candidato Santorum fraco, mas não pelos motivos religiosos. Não me incomoda, como parece incomodar tanto aos ateus, ter um presidente que acredite em Deus -- e no Diabo. É melhor do que acreditar em utopias de igualdade, redistribuição de riquezas, e várias outras falácias.

De qualquer modo, a questão procede. E se houvesse um elemento sobrenatural na destruição das antigas grandes potências do Ocidente? E se o Demônio estivesse mesmo por trás de tudo?

O Diabo existe? Como metáfora ou personificação do Mal, certamente, mas e como entidade concreta? Um dos paradoxos disso é o seguinte, se Deus existe e é todo-poderoso, por que ele permitiria a existência do Diabo, certo? Mas é a mesma questão já perguntada há milênios: se Deus é bom, por que há tanto mal no mundo?

Bem, nem vou entrar em polêmicas religiosas. Só me chamou a atenção o ódio dos comentaristas a uma declaração que nada tem de especial. Tenho notado aliás, várias vezes, que os ateus e em especial os ateus gays odeiam os religiosos (ou, mais especificamente, os cristãos) com uma fúria completamente fora de proporção ao que eles dizem ou deixam de dizer. Um ódio inusitado -- um ódio... satânico?



Nota 1: post sobre temática racial serão sumariamente deletados. Há espaço para eles -- nos posts sobre raça (aliás, estou preparando um). Porém, não serão mais aceitos em posts que não falam do assunto.


Nota 2: prometi um blog novo, mas ainda não tive tempo; enquanto isso, vou postando ainda notas curtas por aqui, neste semi-moribundo blog.



quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Work in Progress

Olá. Só avisando aos ex-leitores de todas as correntes que em breve teremos blog novo com posts novos. Um pouquinho diferente do que era antes, mas melhor. Só que, como ando ocupado com outros afazeres ainda vai demorar uns dias. Aguardem. Enquanto isso, podem ir comentando por aí se quiserem. Ou não. Abs.

Agitadores profissionais

Em interrupção do longo hiato (e enquanto o blog novo ainda não está pronto), publico um breve comentário sobre dois protestos completamente diferentes mas de certa forma interligados. Um é um recente protesto na Austrália, o outro em Pinheirinhos, Brasil.

Na Austrália, esquerdistas protestaram no principal feriado nacional contra o governo australiano, devido ao suposto "racismo" contra os aborígenes. Observem que, embora o protesto fosse em favor dos tais "aborígenes" (que tem terras e recebem casa e comida do governo australiano) estes eram uma pequena minoria no protesto. Os mais numerosos e mais indignados eram todos brancos esquerdinhas.

O mais patético de tudo foi que, apesar da gritaria, a ameaça parecia bem pouca, afinal era apenas um grupo de idiotas desarmados, o que não impediu que a primeira ministra fosse arrastada às pressas de lá, perdendo até um sapato no caminho.

Já em Pinheirinhos, Brasil, a presença de agitadores inmiscuídos precedeu de muito o protesto, com a conhecida cara-de-pau dos que dizem querer "ajudar os pobres" ao mesmo tempo em que apoiam a ocupação ilegal de terrenos e o confronto com policiais. Sedentos de sangue, quiseram mártires que não ocorreram.

O que leva uma pessoa a se tornar um agitador desses? Nunca entendi. Tenho a impressão que há pessoas que gostam de fazer confusão e de brigar com a polícia, isso as faz se sentir importantes. Alguns até acham que estão "ajudando os pobres" e tem um real interesse humanitário, mas me parece que a maioria usa os pobres e minorias apenas como massa de manobra, ou então para resolver os seus próprios problemas psicológicos. Uma vez, muitos anos atrás, fui num desses Foruns Sociais Mundiais. A maioria dos participantes, pelo que vi, eram hippies de classe média e até vários turistas europeus. Os índios, favelados e demais eram mesmo só uma "minoria". Quando participam de protesto, é para ganhar algum sanduíche...

No mais, é o seguinte: o pessoal quer ou não quer que existam favelas e moradores de rua? Se não quer, deixe que expulsem os vagabundos ilegais de Pinheirinhos e da Cracolândia e que acabem com as "ocupações ilegais" -- favela começa assim. Se quer, tudo bem, mas então depois não reclame da "falta de condições dignas de moradia" e da "desigualdade social". A culpa é de vocês, seus imbecis!

Moradores de Pinheirinhos sendo expulsos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus

Ano novo, vida nova? Não é sem certa tristeza no coração que anuncio o possível fim do Blog do Mr X. Possível, pois ainda não decidi de todo, mas como todos sabem há algum tempo ando meio de saco cheio disto tudo. Isso não quer dizer que vou parar de escrever. Mesmo que acabe com este blog, criarei outro em moldes diferentes, ou contribuirei com outras publicações. Talvez nem mesmo acabe com o blog, apenas reformule um pouco o seu conceito, ou só mude de pseudônimo, aposentando o atual personagem. Na verdade, como acenei no post anterior, já tinha planos de uma reformulação total tanto visual como de conteúdo. É possível que faça isso em vez de acabar definitivamente com o blog.

O fato é que estou um momento bem delicado na minha vida pessoal e profissional, e isto naturalmente tem prioridade. Preciso decidir o que fazer com a minha vida, e o tempo gasto com o blog não ajuda. Além disso, gostaria de dedicar mais tempo a escrever sobre outros temas, não relacionados com política,  e para isso talvez tenha que tirar a cabeça de assuntos políticos, ao menos momentaneamente. Quem sabe um blog sobre literatura e cinema?

Mas outra razão para parar é que não estou me divertindo mais. Não sei se foi coincidência ou não, mas a chegada de vários leitores de índole nacional-socialista meio que deturpou o objetivo original do blog. Não os culpo, afinal fui eu quem deu abertura e margem para certas discussões que hoje são tabu na mídia e, sinceramente, acho que algumas dessas questões são, sim, importantes. Até acho que alguns novos leitores contribuíram com boas informações. Por outro lado, ficou um pouco demais. Era divertido quando havia uma leitora nazista como a Bárbara, assim como era divertido quando tínhamos o Augusto Nascimento e seu positivismo. Porém, quando 90% dos comentários versam sobre a inferioridade racial dos negros, as traquinagens malignas dos judeus e um ódio totalmente desmesurado ao Brasil e aos brasileiros, começa a ficar meio entendiante.

Nada contra, não quero que pensem que acabo com o blog por causa de alguns comentaristas, nem tampouco pensem que tenho planos de censurar ou expulsar ninguém. Como diz o sujeito quando quer acabar com uma relação que tornou-se insatisfatória: "não são vocês, sou eu". É só que não sinto mais como se fosse o meu velho blog. Transformou-se em algo que nem sei mais o que é.

Agradeço a Chesterton, Confetti, Brancaleone, Gunnar, DD, Gerson B, KCT, Mais Valia, Cecília, Marcelo Augusto, Ana Beatriz, Microempresário, Klauss, Harlock, Woland, Diogo, Iconoclasta, Bachmaníaco, Bruno, Thiago, Edu, Fred, Pax e vários outros leitores antigos que me seguiram durante todo este tempo, ou quase todo. São meus amigos, e não tolero desrespeito com meus amigos. Jamais os conheci pessoalmente, é verdade, mas fazem tantos anos que discutimos online que é como se os conhecesse. Um abraço todo especial ao Augusto Nascimento, onde quer que ele esteja. Espero sinceramente que ainda ande por aí. Agora que penso, acho que o blog começou a morrer com a sua partida.

Agradeço o interesse que estes textos tem suscitado ao longo dos anos, aos leitores velhos e também aos novos. Mesmo os debates sobre a questão racial foram, em alguns casos, interessantes. Não renego aqui o que escrevi ou mesmo as discussões polêmicas que foram geradas. Mas talvez os leitores anônimos tenham razão, se certas discussões sobre raça me incomodam então eu não deveria falar sobre o assunto. Quem está na chuva é pra se molhar. Se eu não tenho uma visão clara sobre o assunto, ficar em cima do muro só complica mesmo. Por outro lado, sempre falei sobre tudo um pouco aqui, de sexo a religião, sem maiores problemas. O tema racial foi o único que chegou a me deixar estressado, sabe-se lá por que. Talvez por ser demasiado reducionista, ou implicar em uma visão demasiado estreita e determinista do mundo. Talvez porque discutir isso é tão tabu que seja tabu até para mim. Talvez porque, tendo tido uma namorada judia que ainda é boa amiga, eu fique meio sem jeito de ter um blog frequentado por nazis. Quem sabe?

Não acho que os problemas humanos tenham solução, não acredito em utopias nem em movimentos revolucionários. Se alguns aspectos do mundo moderno me incomodam, talvez seja por mera nostalgia de um passado idealizado que nunca existiu. Nem sei mais se sou conservador, libertário ou o quê. Talvez eu não seja nada. Sei que, por mais problemas que eu tenha com a democracia atual, não gosto de sistemas totalitários, seja de que ordem forem. O pensamento unificador do blog sempre foi a temática da liberdade, como ilustra a frase de Isaiah Berlin abaixo. Sempre preferi a liberdade, ainda que, como cantava a Janis, liberdade nada mais seja do que não ter mais nada a perder.

De qualquer modo, é um período meio estressante para mim por outros motivos e, como disse acima, estou com vários assuntos pessoais e profissionais que preciso resolver. Quando isso ocorrer, tudo poderá estar novamente em paz.

Como gosto mesmo é de poesia e não de política, deixo vocês com Yeats que é um pouco um resumo do modo em que vejo as coisas neste momento:

Civilisation is hooped together, brought
Under a rue, under the semblance of peace
By manifold illusion; but man's life is thought,
And he, despite his terror, cannot cease
Ravening through century after century,
Ravening, raging, and uprooting that he may come
Into the desolation of reality:
Egypt and Greece, good-bye, and good-bye, Rome!
Hermits upon Mount Meru or Everest,
Caverned in night under the drifted snow,
Or where that snow and winter's dreadful blast
Beat down upon their naked bodies, know
That day brings round the night, that before dawn
His glory and his monuments are gone.




Liberdade é também poder dizer adeus.


P.S. 14/01: Caros leitores, fechei o espaço pra comentários deste post pois não tenho tempo para entrar nas discussões, que de qualquer jeito estavam virando um pouco repetitivas. A internet brasileira está tão carente de espaços assim? 
A boa notícia é que vou voltar a escrever, mas acho que em outro blog. Aguardem novidades. Abs. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Potpourri do Ano Novo

Ainda de ressaca. Sem paciência ou capacidade para textos mais coerentes, mas ao mesmo tempo pensando em várias notícias ocorridas recentemente, vai aqui uma série de breves comentários sobre a nossa vida atual.
* * *
O beijo. Um casal lésbico virou a nova imagem símbolo da Marinha americana. Reparem como elas imitam a famosa cena do marinheiro beijando a moça no V-Day. Reparem ainda como escolheram duas jovens bonitas, não as gordas masculinizadas mais típicas entre as lésbicas da vida real. Como peça de propaganda, é ótima. Mas é estranho observar como até o exército americano, considerado até faz pouco reduto conservador, é na verdade tão progressista quanto o resto da sociedade americana.
* * *
É claro, a promoção do gayzismo vem de cima. Agora vários formulários oficiais do governo americano já não tem mais "Mother" e "Father" para você completar, mas apenas "Parent 1" e "Parent 2." É o futuro. Em breve, no Brasil também. Aguardem.
* * *
É possível falar de raça sem ser nazista? Quero dizer, é possível discutir sobre o tema sem necessariamente obcecar sobre os judeus ou sobre os negros e propor um estado fascista totalitário com eugenia e segregação racial? Estou meio de saco cheio de falar sobre esse tema, pois só gera discórdia e não tenho qualquer interesse em fomentar ódio racial ou propor alternativas políticas pra o que existe agora; se me interesso pelo tema é mais pelo caráter científico e social da coisa mesmo. Mas, pelo que percebi até agora, não me encaixo muito no perfil psicológico de "realista racial". Aliás, até que gosto da diversidade racial e cultural reinante no Brasil, muito embora não queira que o mundo inteiro se torne um Brasil. Deixem a Europa ser a Europa. (Por outro lado, acho que a África se beneficiaria com uma maior presença de brancos e asiáticos. Será que os chineses vão recolonizar?)
* * *
Fui, acreditem, numa festa de samba quando estive no Brasil. Diversidade racial reinante entre o público. Negros, brancos, asiáticos, mulatos, algumas turistas italianas e uma polaquinha galega que dançava melhor do que ninguém (branco não sabe sambar, pois não?). Diverti-me, confesso, talvez porque estava bem acompanhado. Se tem algo que o negros tem de bom é sua alegria e vitalidade. Clichê, eu sei, mas provavelmente verdadeiro. Os países nórdicos tem alto nível de suicídio, bem como o Japão. Entre os países africanos, deve ser muito baixo. Uma vez alguns estudiosos acharam que o baixo rendimento escolar dos negros americanos era devido à sua "baixa auto-estima", causada por anos de sofrimento e escravidão. Foram fazer um estudo, descobriram que era o povo com maior auto-estima do mundo! (provavelmente atrás apenas dos argentinos).
* * *
Genética ou cultura? Os negros brasileiros são em geral simpáticos. Entre porteiros, vigias, ascensoristas, atendentes e demais trabalhadores honestos (naturalmente, não falo aqui de criminosos) raramente vi algum mal-humorado ou ressentido contra os brancos. Nos EUA, ao contrário, há muitos. É o que chamam de "chip on the shoulder." Lamentavelmente, também no Brasil começa a ser fomentado esse tipo de atitude. Agradeça aos esquerdistas.
* * *
Os estereótipos existem por alguma razão. São exageros, certo, porém baseados em experiências relevantes, ou sequer existiriam. No entanto, o indivíduo é soberano. Em uma aula que ministrei uma vez, a melhor aluna era uma negra (mulata, de origem caribenha), enquanto o aluno asiático era  preguiçoso e vagabundo (crescera no Brasil, talvez isso explique). Não devemos deixar de ver as árvores por causa da floresta.
* * *
Depois do show de samba, fui num restaurante vegetariano "new age". Stuff White People Like à quarta potência. Não havia um único negro, sequer um mulato claro, entre os comensais. Cultura ou genética? De fato parece haver poucos negros vegetarianos ou veganos; por outro lado, os rastafaris jamaicanos são vegetarianos. Parece que o vegetarianismo/veganismo tem mais função de status atualmente, e portanto é mais comum entre os brancos de classe média-alta que querem posar de alternativos.
* * *
Obama será reeleito? É a grande pergunta do ano nos EUA. Minha impressão é que sim, será. Os Republicanos não se decidiram ainda por nenhum candidato, e todos tem sérios defeitos. O mais cotado é o Mitt Romney, que tem o problema (para a ala cristã) de ser mórmon. Meu candidato preferido é o Ron Paul, que não tem muita chance, embora esteja indo bem nas pesquisas. Porém, ainda acho que Obama será reeleito.
* * *
Vi muitas pessoas tatuadas no Brasil. Não lembro que fosse assim antes. Nos EUA, naturalmente, ou o menos em Los Angeles, 90% das pessoas tem alguma tatuagem, por pequena que seja (ok, exagero um pouco, mas são muitos mesmo). Quando é que as tatuagens ficaram populares e deixaram de ser uma marca de criminosos ou gente vulgar? Para mim, ainda refletem uma certa vulgaridade. Jamais namorei com uma moça tatuada. Porém, é cada vez mais difícil encontrar uma que não o seja, mesmo que apenas no calcanhar.
* * *
Há mais e mais estrangeiros interessados no Brasil, seja para investir, seja para visitar. Acho isso bom. Leio matérias mostrando que há europeus (em especial, portugueses) vindo morar no Brasil, já que na Europa há crise e desemprego crescentes, e o euro periga. Eu digo, que venham. Conheci na Europa mais de uma pessoa  de trinta e tantos anos que morava com os pais e jamais tinha trabalhado na vida. Uma tristeza. Na Espanha o nível de desemprego chegou a 25%, um quarto da população. Milhares de jovens europeus se formam e não tem o que fazer da vida. Dica ao governo Dilma: ofereça facilidades para que venham ao Brasil. Jovens inteligentes e qualificados nunca serão em demasia, e faz mais sentido do que mandar brasileiros inteligentes para estudar fora (pois muitos não voltam). Mas os muçulmanos, esses que fiquem lá pela Europa mesmo, ou melhor ainda, que voltem para as Arábias.
* * *
Feliz 2012 a todos. Ainda é cedo para falar sobre isto, mas: o blog vai mudar. Nada mais será como antes.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

HOW can I, that girl standing there,
My attention fix
On Roman or on Russian
Or on Spanish politics?
Yet here's a travelled man that knows
What he talks about,
And there's a politician
That has read and thought,
And maybe what they say is true
Of war and war's alarms,
But O that I were young again
And held her in my arms!


W. B. Yeats

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pausa para reflexão

Caros amigos, vou dar uma pausa no blog. Não sei bem por quanto tempo, talvez só por algumas semanas. Já tinha planos de não postar até janeiro mesmo, pois este é um período naturalmente complicado, mas agora também surgiu uma certa confusão sobre o destino do blog.

O fato é que não sei mais o que quero dizer, e tenho que pensar um pouco e decidir em qual caminho seguir.

É o seguinte: recentemente, o tema racial tem sido objeto de polêmica aqui no blog. Eu mesmo, confesso, nunca soube bem como abordar o tema. Não tivesse ido morar nos EUA, e provavelmente jamais teria falado sobre o assunto. Porém, nos EUA, essa discussão racial é bem mais direta, e de certo modo é bom que seja assim. Impossível ignorar totalmente o assunto, por mais politicamente correto que se seja. Além disso, de fato estão acontecendo mudanças que definirão o destino do mundo nas próximas décadas, talvez séculos. Um desses temas certamente é a imigração. Podemos ignorar as diferenças raciais e culturais, e tentar fingir ou esperar que tudo vai dar certo e que tudo vai de algum modo se ajeitar. Mas e se não fosse bem assim? E se realmente existissem diferenças que não podem ser resolvidas de modo tão simples, só com mais "conscientização" e dinheiro público?

No outro dia, um marroquino matou cinco pessoas na Bélgica com granadas e um fuzil. No mesmo dia, um grupo de congoleses protestava contra as eleições do Congo -- não no Congo, mas em pleno centro londrino. Causaram confusão e atacaram pessoas que nada tinham a ver com a história. E, também na mesma semana, na Itália, dois imigrantes senegaleses foram mortos por um aparente militante neonazista, que depois se suicidou. Independentemente do que você pense sobre essas notícias e sobre a questão das diferenças raciais, religiosas e culturais, uma coisa é certa -- se não houvesse imigração, nenhum desses problemas estaria acontecendo.

Então é realmente um assunto urgente. O futuro do ocidente depende disso. Mas a verdade é que me sinto desconfortável ao tratar de certas questões. Até tenho curiosidade de ler sobre o assunto, mas não tenho vocação para porta-voz da "causa branca". Alguns leitores me acusam de não ir mais fundo na discussão de temas raciais, e querem pautar o blog. Acreditam que eu fique em cima do muro para não causar polêmica, ou para não descontentar os leitores que não acreditam em diferenças raciais, ou por não ter as ideias bem formadas ainda. Talvez eles tenham razão. Talvez eu não tenha estômago (certamente me incomoda quando algumas pessoas se expressam de forma extremamente desagradável, ou quando negam a dignidade básica humana de outros apenas por pertencerem a certo grupo racial.) Talvez outra pessoa deveria escrever sobre isso no meu lugar.

Nos EUA, há blogs moderados que tratam do assunto. No Brasil, é mais complicado, até porque é um tema que, me parece, tem menos relevância. Quero dizer que o Brasil, ao contrário de EUA e Europa, é e sempre foi uma nação mestiça, de maioria não-branca. Se houvesse uma pureza racial original perdida, seria aquela dos indígenas. Até acho um pouco de mau gosto falar sobre essa questão quando, sei lá, 70% da população é de raça mista. (EUA e Europa são diferentes pois até há poucas décadas tinham 90% de população branca européia).

Por um tempo achei que o Dextra fosse ser essa voz moderada no Brasil, mas me enganei. Talvez um dia surja outra pessoa mais preparada. Talvez essa pessoa seja algum leitor atual.

(Porém, dica: se você quer falar sobre temas raciais e ter mais do que três leitores, não chame os negros de macacos, não chame os cristãos de babacas, e não cante loas a Adolf Hitler. Pega mal! Ou, quer saber? Faça como achar melhor, afinal vai ser seu blog e não o meu!)

Este blog já tem quase quatro anos, e mudou bastante desde o seu começo. Alguns leitores fiéis ainda estão aí: Chesterton, Gunnar, Brancaleone e, muito de vez em quando, a Confetti. Outros chegaram, foram, e deixaram só saudades: RW, Augusto Nascimento, Pax, Tiago. Agradeço a todos pela constante leitura. A temática, originalmente libertária, depois virou meio neocon e mais adiante flertou com os paleocons. Mas no fundo jamais teve uma linha política muito definida, talvez porque nem eu mesmo saiba o que pensar sobre certas coisas. O blog, era, mais do que tudo, um contraponto ao onipresente discurso progressista que está aí. Um local contrário ao politicamente correto que impera em quase todo o mundo atualmente. Porém, para se escrever sobre algo com convicção é preciso ter as idéias mais claras. Não basta apenas ser do contra.

Por isso, acho que realmente eu preciso definir qual caminho seguir. Certamente vou continuar escrevendo, afinal é uma espécie de vício. Sempre com liberdade, tanto para mim quanto para os leitores. (Na realidade, quase nunca censurei ninguém, por mais nazista ou stalinista que fosse, e a única coisa que me irrita é quando tentam pautar o blog, ou quando a discussão civilizada dá lugar a xingamentos). Se quiser falar sobre raça, também vou falar. Mas estou sentindo que falta mesmo um embasamento maior, e para isto talvez seja preciso ler mais e escrever menos.

(Enquanto isso, comprem o livro, à venda na Amazon e CreateSpace).

Mais uma vez, desejo um Feliz Natal a todos. Nos vemos em 2012.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Sem religião não há solução?

Às vezes tenho a impressão que o único "way out" para o Ocidente seria com alguma forma de ressurgimento religioso. Afinal, para contrapor-se ao Islã, é preciso alguma outra religião. Para lutar contra uma força, precisa-se de outra contrária, não é mesmo? Lei de Newton aplicada às relações humanas.

Porém, assim como a esquerda odeia o cristianismo mais do que os vampiros, também há uma parte da extrema-direita que o odeia. Acredita ser uma "conspiração judaica" que "enfraqueceu o Ocidente" e "acabou com seu espírito guerreiro". Ah, e que "Jeus era bicha"...

Eu não sei. Embora não seja realmente religioso, boa parte de minha família é cristã praticante. Acredito que sejam pessoas melhores e mais felizes por isso. São com certeza melhores e mais felizes do que eu. A religião, na maior parte dos casos, é motivo de felicidade, ou ao menos de consolo. O cristianismo é uma boa religião. Tende a ser positiva. Existem estudos de caso bem claros: pense nas pessoas da favela, quem se comporta melhor, os "crentes" evangélicos ou os outros?

(Além disso, para os preocupados exclusivamente com questões demográficas, as famílias brancas cristãs tendem a ter mais filhos do que as seculares.)

Mas aí aparece alguém e diz que a religião é apenas um mecanismo de controle social. É o "ópio do povo". Bem. O ópio do povo é o ópio mesmo, ou ao menos o crack. O controle social se dá de modo mais eficaz pela mídia. A religião é uma necessidade humana. Precisamos crer. Em algo.

Disse Chesterton que "quem não acredita em Deus, acaba acreditando em qualquer coisa." É verdade. Na cultura ocidental atual, isso se dá de várias formas. Uma dessas formas é a idolatria dos animais. Ei, adoro animais e sou contrário à sua morte gratuita. Porém, tenho a impressão que hoje certas pessoas se preocupam mais com uma galinha morta para virar sanduíche no McDonalds do que com uma jovem estuprada, torturada e morta por facínoras. No Facebook, chovem fotos e frases sobre animaizinhos em perigo. Acabo de descobrir, por exemplo, que jogar chiclete no chão pode ser perigosíssimo: certos passarinhos podem comer o chiclete e morrer sufocados. E eu que achava que não se devia jogar no chão só para não sujar as ruas... Mas jamais vi alguém postando no Facebook com indignação sobre algum crime cometido por minorias.

(Falando em idolatria de animais, a última moda em Los Angeles parece ser a de levar cães e até gatos para passear, não na coleira, mas em carrinhos de bebê. Essa moda já chegou aí? Não se preocupem, vai chegar.)

O progressismo só evoluiu tanto graças à decadência da religião na esfera pública, aliás, o progressismo hoje é uma forma de religião. Observem aqui Antônio Cândido, ainda sonhando com o triunfo do comunismo. Se Churchill dizia que "quem não é socialista antes dos 30 não tem coração, quem é socialista depois dos 30 não tem cabeça", o que pensar de um comuna de 93 anos? E não é o único, o Oscar Niemeyer já tem mais de 100, Eric Hobsbawn tá com 95, Fidel Castro ainda não bateu as botas, etc. Comunista vive muito! Qual será o segredo?

Para outros, a alternativa à religião é o consumismo desenfreado. A sociedade americana é de fato muito materialista. Compensa-se o vazio existencial e moral com a compra de um carro ou uma televisão de 80 polegadas. Curiosamente, as classes baixas são às vezes as mais ávidas. Traficante e negão do gueto adora roupa de marca. Favelado pode não ter um banheiro decente, mas tem uma boa televisão. Nas recentes compras de fim de ano, mexicanos-americanos literalmente lutaram entre si aos chutes e pontapés pelos produtos nas prateleiras. Uma senhora até usou spray de pimenta contra os outros compradores. Mas sejamos sinceros, pobres, classe média e ricos, todos são extremamente materialistas e consumistas, só muda a qualidade daquilo que podem adquirir. Até entendo a busca de conforto e qualidade de vida, mas muitos, ou provavelmente a maioria, querem apenas símbolos de status, além de qualquer utilidade. É uma forma de tentar se diferenciar. Vanitas vanitatum, omnia vanitas.

Qual a solução?

Talvez não haja solução nenhuma. No fundo, o que eu gosto no cristianismo é que diz que "meu Reino não é deste mundo", e que aceita que a humanidade é falha e imperfeita. Não está a nós querer mudar o mundo e transformá-lo numa utopia impossível. Devemos apenas tentar ser boas pessoas. É só.

Enfim. Apenas pensamentos desconexos em uma tarde um pouco inútil. Feliz Natal a todos, e bom 2012.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Multiculturalismo do bem e do mal

O multiculturalismo é bom ou é ruim? Depende da situação, e a quem você perguntar. No ambiente universitário, é supimpa. Pessoas inteligentes das mais variadas culturas. Conversações estimulantes em diversos idiomas. Variedade de restaurantes. Acima de certo nível intelectual, o multiculturalismo não é ou não parece tão ruim. Eu pelo menos me divirto.

Há ainda o multiculturalismo dos ricos, que inclui ter trabalhadores braçais baratos para cortar a grama do seu jardim, limpar sua piscina e juntar o cocô de seu cachorro de dia, e encontrar com diplomatas e príncipes de noite.

E há o multiculturalismo dos pobres. Recentemente, uma moça inglesa soltou o verbo no metrô contra os imigrantes. Foi um pouco vulgar, e provavelmente estava colocando em risco o seu filho, além de ensinar-lhe péssimos modos. Por outro lado, quem pode culpá-la totalmente? É fácil acusar os outros de "racistas" quando não se tem que aturar batuques de africanos na madrugada, venda de drogas por árabes na esquina de casa, prostituição de romenas duas quadras mais além, desemprego e aumento generalizado do crime. Os pobres são os que mais sofrem com o multiculturalismo, pois no fundo é isso o que significa para eles.

Nem sempre fui contra o multiculturalismo, e ainda hoje posso ver alguns de seus aspectos positivos. A primeira vez que visitei Londres fiquei encantado. Tanta gente de tantos povos, todos convivendo em paz!  Que cidade tão cosmopolita! (Naqueles tempos, a palavra nem era "multicultural", mas "cosmopolita.") Ainda hoje tenho respeito e curiosidade pelas pessoas de outras culturas, gosto de conhecer pessoas de outros países, e provavelmente jamais sairia gritando como a moça do vídeo.

Por outro lado, posso ver que o multiculturalismo, quando ocorre de forma massiva e especialmente entre a população de classe baixa, tem efeitos nefastos. Voltemos à moça: mesmo que a imigração não tivesse efeitos negativos e todos os povos se entendessem bem, não teria ela o direito de viver entre ingleses nativos, se assim o desejasse? O que é um país? Hoje em dia, qualquer coisa. Mas, originalmente, os países eram tribos, formados por grupos de pessoas geneticamente parecidas. Muitas vezes podemos reconhecer, só pelo rosto, quem é inglês, quem é italiano, quem é armênio (tenho uma amiga que é ótima em descobrir a origem da pessoa só pela fisionomia). Além disso, existe também uma série de fatores culturais que costumam definir cada nação. Sem isso, aquela piada sobre o inferno ser um lugar onde o cozinheiro é inglês, o humorista alemão, etc, nem existiria.

O discurso sobre a imigração dos países pobres aos ricos tem se dividido em duas partes: a direita a favor do assimilacionismo e a esquerda a favor do multiculturalismo. Assimilacionismo seria aceitar imigrantes mas de modo a que estes se adaptem à cultura ocidental; multiculturalismo seria não julgar nenhuma cultura como superior ou mesmo diferente da outra, mas que todas convivam juntas e separadas num mesmo local.

O multiculturalismo, por sua natureza, quase sempre dá lugar a conflitos tribais. O assimilacionismo claramente é uma solução melhor, mas implica que os imigrantes muçulmanos ou mexicanos (para dar um exemplo) tenham o interesse ou a capacidade de replicar e manter a cultura ocidental. Mas e se eles não tivessem tal interesse nem capacidade? E se eles preferirem replicar a sua própria cultura quando forem maioria?

Acho que é isso que muitos não entendem. A idéia de que todos vão simplesmente copiar o que é bom só porque é bom é ingênua.

Por outro lado, a verdade é que a Inglaterra de hoje não é nem multicultural e, se é assimilacionista, é ao contrário: o britânico é que tem que se assimilar!

Afinal, o que mais incomoda mesmo é o comportamento das autoridades britânicas. Sabem o que aconteceu com a moça do vídeo? Foi presa. Enquanto isso, três muçulmanas bêbadas que espancaram uma mulher britânica chamando-a de "puta branca" não foram presas porque, no entender do juiz, "devido à sua religião, não estavam acostumadas a ficar embriagadas".

É... Por outro lado, hoje é muito fácil encontrar bons restaurantes em Londres...

Londres, hoje.