terça-feira, 26 de outubro de 2010

Eleições nos EUA e no Brasil (2)

A campanha para as eleições está esquentando, aqui e lá. O Reinaldo Azevedo já tem uma boa cobertura das cada vez mais disputadas eleições brasileiras. Falo então das americanas.

Um dos comerciais políticos mais polêmicos recentes é o que mostra um professor chinês em 2030 falando a seus estudantes sobre o trágico fim do império americano. A idéia é que, a continuar gastando assim, o colosso americano logo vai estar na mão da China. 

O comercial, de uma associação contrária ao aumento de impostos, teve efeito. Os progressistas odiaram e acusaram o vídeo de - adivinhem! - racista, acusação ridícula que apenas mostra o nível de seu desespero. É que, para os Democratas, a coisa não está indo bem. Ao contrário do toque mágico de Lula, nos EUA o apoio de Obama está virando uma maldição. Vários candidatos Democratas até tentam se afastar do presidente e suas políticas. Para se ter uma idéia do desgaste presidencial, Frank Caprio (sem relação com o Leonardo), candidato Democrata ao governo de Rodhe Island, até mandou Obama enfiar o seu apoio naquele lugar... 

Do lado Republicano, surgem candidatos populistas, representantes da classe média branca e ferozes críticos das elites políticas, a quem consideram traidoras do ideal americano. Christine O'Donnel, à maneira de Sarah Palin, ostenta com orgulho seu ar de dona de casa e o fato de não ter se formado em Harvard. A engenheira de foguetes Ruth McClung garante ser uma trabalhadora e não uma política profissional. O comercial de um folclórico candidato Republicano no Alabama, de chapéu de caubói, cavalo e rifle, tornou-se viral. Bom, a verdade é que esse negócio de "não sou político profissional" já tivemos por aqui, e não funcionou direito. Porém, é o modo que os candidatos tem de se afastarem de uma elite política que responde apenas a si mesma e efetivamente tornou-se distante dos anseios da maioria da população.

(Depois, cada povo é diverso, e o povo brasileiro é diferente do povo americano. No Brasil, como o Fábio Marton observou, todo político precisa de certa forma se fingir de mais simplório do que realmente é para seduzir o povão, e em especial as classes baixas. Às vezes penso que o sucesso de Lula talvez tenha menos a ver com o bolsa-família do que com essa identificação a nível popular: Lula não precisa fingir: ele é tão burro, ignorante, malandro e ishperto como grande parte do povo brasileiro... Por outro lado, talvez essa seja uma visão elitista. A verdade é que, até há pouco mais de uma década atrás, pobre não gostava do Lula. Pedreiros, porteiros e empregadas tinham ojeriza ao PT. O tal "Partido dos Trabalhadores" era um fenômeno exclusivo da classe média. Mas é como diz o Olavão: o tal Partido dos Trabalhadores só virou isso uma vez no poder, retroativamente, construindo um fabuloso esquema de propinas e bolsas-auxílio. Mas voltemos aos EUA...)

Por aqui, entre os temas mais discutidos pelos candidatos estão o aumento de impostos e gastos públicos, a imigração ilegal, o desemprego. O aborto, discussão sempre presente nos EUA, curiosamente (e ao contrário do que ocorre no Brasil) desta vez passou a segundo plano frente a tantos problemas econômicos. Também está na pauta, assim como a legalização da maconha e o casamento gay, mas de forma menos intensiva. O que preocupa é o bolso. 

Assim como ocorreu em 2008, o que mais motiva os eleitores é a situação econômica. Obama teve dois anos para resolver a situação: falhou miseravelmente. Em estados como a Califórnia, o desemprego já chega a 17% da população. (Mesmo assim, é provável que os californianos elejam um Democrata para seu governo, o jurássico Jerry Brown).

Seja quais forem os números exatos, é provável que os Republicanos obtenham a sonhada maioria do Congresso, efetivamente transformando Obama em um "pato manco". Porém, eles não devem cantar vitória antes de tempo, já que ainda há água para rolar. Quanto ao Brasil, quem sabe? Pelo desespero dos petistas, é possível que a coisa tampouco seja tão fácil.

  
Pato manco.

domingo, 24 de outubro de 2010

Poema Piada do domingo

Um ateu estava passeando em um bosque, admirando tudo o que aquele "acidente da evolução" havia criado.
- Mas que árvores majestosas! Que poderosos rios! Que belos animais! - lá ia ele dizendo consigo próprio. À medida que caminhava ao longo do rio, ouviu um ruído nos arbustos atrás de si. Ele virou-se para olhar para trás. Foi então que viu um corpulento urso-pardo caminhando na sua direção. Ele disparou a correr o mais rápido que podia.
Olhou, por cima do ombro, e reparou que o urso estava demasiado próximo.
Ele aumentou mais a velocidade.
Era tanto o seu medo que lágrimas lhe vieram aos olhos.
Olhou, de novo, por cima do ombro, e, desta vez, o urso estava mais perto ainda.
O seu coração batia freneticamente. Tentou imprimir maior velocidade.
Foi, então, que tropeçou e caiu desamparado.
Rolou no chão rapidamente e tentou levantar-se. Só que o urso já estava em cima dele, procurando pegá-lo com a sua forte pata esquerda e, com a outra pata, tentando agredí-lo ferozmente.
Nesse preciso momento, o ateu clamou: - Oh meu Deus!....
O tempo parou.
O urso ficou sem reação
O bosque mergulhou em silêncio.
Até o rio parou de correr.
À medida que uma luz clara brilhava, uma voz vinda do céu dizia:
- Tu negaste a minha existência durante todos estes anos, ensinaste a outros que eu não existia, e reduziste a criação a um acidente cósmico. Esperas que eu te ajude a sair desse apuro? Devo eu esperar que tenhas fé em mim?
O ateu olhou diretamente para a luz e disse:
- Seria hipocrisia da minha parte pedir que, de repente, me passes a tratar como um cristão, mas, talvez, possas tornar o urso um cristão?!
- Muito bem - disse a voz.
A luz foi embora.
O rio voltou a correr.
E os sons da floresta voltaram.
E, então, o urso recolheu as patas, fez uma pausa, abaixou a cabeça e falou:
- Senhor, agradeço profundamente por este alimento que me deste e que agora vou comer. Amém.

(Autor anônimo, encontrada na Internet)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Burrocracia

Um espectro assombra o mundo: o espectro da burocracia. Todos sabemos a desgraça que é ter que realizar algum trâmite, e ter que preencher o formulário A e entrar na fila B para depois passar no guichê C, cujo ocupante saiu para almoçar com X.

O que poucos sabem é que a burocracia, por sua própria natureza, tende a aumentar, independentemente de qualquer outro fator. Segundo um recente estudo ue agora lamentavelmente não consigo encontrar, todo órgão estatal aumenta de 5% a 7% anualmente em número de funcionários e orçamento, mesmo nos casos em que o volume de trabalho diminui.

Isso ocorre por vários motivos. Em alguns casos, o próprio órgão não tem qualquer utilidade a não ser servir como cabide de empregos para ex-terroristas, como é o caso do ridículo Ministério da Pesca no Brasil. Em outros casos, mesmo o órgão tendo uma utilidade inicial, esta logo se perde e a burocracia se torna um fim em si mesma. Afinal, os burocratas também precisam comer. A vida deles depende de que as coisas fiquem como estão. 

A burocracia é um monstro que se alimenta de si mesmo, crescendo até não poder mais. Quando os erros fatalmente acontecem, cria-se uma comissão para investigar porque não deu certo e, quando essa investigação falha, cria-se uma nova comissão para investigar porque a primeira não funcionou, e assim por diante, ad infinitum.

Vejam o caso do Ministério da Educação, que até 1979 sequer existia nos EUA (foi criado pelo maldito Jimmy Carter). Antes disso, será que todos nos EUA eram analfabetos e ignorantes? Longe disso. Ao contrário: de 1979 pra cá, os números da educação americana só pioraram. O que aumentou, isso sim, foi o orçamento do departamento, que quintuplicou, bem como o número de funcionários: dos iniciais 400, hoje emprega 4.800 pessoas.

Mas todos sabem, criar um organismo estatal é fácil: o difícil, quase impossível, é aboli-lo.

Naturalmente, os gastos vão aumentando cada vez mais, e nos projetos mais absurdos. Por exemplo, no ano passado os americanos gastaram centenas de milhares de dólares para estudar o comportamento dos gays em bares de Buenos Aires, e dois milhões e meio de dólares para ajudar as prostitutas chinesas a moderarem o uso da bebida.

Os absurdos gastos do governo brasileiro, nem procuremos saber... Baste saber que Lula aumentou exorbitantemente os gastos federais em seus oito anos de governo. É um bom motivo para não votar no PT.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Eleições, mentiras e videotape

Ia parar de blogar por um tempo, mas um post do ressuscitado Fábio Marton no Not Tupy me inspirou. É sobre a necessidade da mentira na democracia. Será que democracia sempre implica em demagogia? Talvez seja um dos males deste sistema que é o pior com exceção de todos os outros. Como o político depende do voto do povo, precisa se disfarçar de Zé Povinho, mesmo que esteja muito distante físicamente, espiritualmente e financeiramente deste. Marton discute especialmente a questão do aborto, sobre a qual ambos candidatos precisam mentir para não desagradar 70% do eleitorado, mas esta é apenas a mentira mais óbvia. Um tema mais interessante é a questão do uso do dinheiro público. 

Há eleições em breve nos EUA e no Brasil, e o contraste entre os dois países não poderia ser mais grotesco. Nos EUA, há eleições parlamentares nas quais os Republicanos perigam ganhar em uma lavada histórica. Há uma atmosfera muito grande de rejeição aos Democratas estatistas, à gastança excessiva e ao elitismo dos políticos em geral. Já no Brasil, o grande vencedor entre os deputados foi Tiririca, que prova que "o grande mérito no Brasil é subir na vida sem ter mérito algum", e a eleição no segundo turno é entre dois candidatos estatistas, que lutam para decidir qual é mais contrário às privatizações. (Um dos poucos políticos que defende as privatizações, curiosamente, é o ex-comunista Roberto Freire, presidente de um partido que se declara "Popular Socialista").

Dilma mente sobre o aborto: mente também Serra quando diz que não irá privatizar? (Mas temo que Serra não minta, que seja mesmo contrário à privatização). Se eu sou contrário ao aborto e a favor das privatizações, deveria considerar a primeira uma mentira danosa e a segunda uma mentirinha válida? Não. Do ponto de vista dos princípios, seria melhor que ambos candidatos, em vez de tentar se acomodar ao desejo do público, tentassem convencer o eleitorado da validade de suas próprias idéias, que são as que colocarão em prática no final.

Tanto nos EUA quanto no Brasil, é patente a busca de identificação do candidato com o povo: o que muda é que, nos EUA, o "povo" é a classe média revoltada com a falta de melhoria econômica que quer menos gastança do governo, e no Brasil o povo é a maioria da população que quer mais governo e mais benefícios para si. 

Atire a primeira pedra quem nunca pecou ou recebeu dinheiro do Governo. Muitos criticam o bolsa-família como compra de votos, mas, de fato, não é um saco de farinha ou um auxílio no fim do mês um benefício econômico mais tangível do que vagas promessas de melhoria econômica através do liberalismo?

Todos gostam de receber dinheiro do "governo", isto é, dos impostos. O que incomoda é que outros recebam sem merecer. Mas quem é que define quem merece o quê?

Caiu em minhas mãos, por acaso, um texto de um cineasta e professor universitário declarando-se a favor da Dilma. Seu argumento é que o PT deu dinheiro ao cinema e às universidades. Que, por mera coincidência, constituem o seu ganha-pão. O cineasta é autor de filmes experimentais de "vídeo-arte", tão chatos que só poderiam ser produzidos com dinheiro público mesmo. Mas o sujeito é tão cara-de pau (ou tão esperto) que chegou a realizar um vídeo com dinheiro público no qual mostrava justamente como gastava o dinheiro do prêmio viajando para a Europa e EUA e comendo nos melhores restaurantes. A obra-prima pode ser assistida aqui. A crítica, naturalmente, elogiou:
O que o espectador presencia então é praticamente um homem em sua missão: queimar R$13 mil e fazer um filme deste seu processo. No meio tempo ele cruza o oceano duas vezes, se hospeda em belos hotéis, passeia por Europa e EUA, come do bom e do melhor. Tudo, conforme o logotipo da patrocinadora no início e no final deixa bem claro, às nossas custas. No final da sessão em que eu estive presente, uma mulher levantou revoltada: "Vagabundo! É o meu dinheiro também!"

Desse grito (desejado e conseguido pelo filme) começam as inúmeras e necessárias perguntas que ele levanta: vagabundo por quê? O cineasta fez um filme com o dinheiro do prêmio, que era o que se exigia dele. Apresentou seu resultado final, com a duração pedida, dentro do orçamento proposto. Qual o problema, portanto? Que ele tenha se beneficiado pessoalmente deste dinheiro? Bom, pelo menos nós vimos como ele o fez. Quantos belos jantares e viagens foram pagas nos outros filmes produzidos com este prêmio e nós nem sabemos? Quantas contas de motel? Então, supomos que a revolta não pode ser no campo da ética, já que antiético seria fugir com o dinheiro sem fazer o filme ou escamotear prestações de conta escondendo tais gastos, coisas que Migliorin não fez.
É claro, o cineasta poderia ter sido ainda mais "ético" e devolvido o dinheiro, ou realizado um outro vídeo de protesto pagando do seu próprio bolso, mas isso talvez seria "provocativo" demais: também não devemos exagerar. No fundo, o videoartista não difere muito de tantos outros cineastas brasileiros, que adoram criticar o governo e a sociedade enquanto são financiados por este e esta.

Seria fácil dizer que o eleitor americano é mais politizado e consciente do que o brasileiro, mas não sei se é isso mesmo: eles estão, como todos, apenas defendendo o que é seu. Não querem dividir o dinheiro ganho com seu trabalho com as minorias parasitárias do welfare e com imigrantes ilegais, especialmente em uma época de crise econômica que só foi piorada pelos Democratas. E têm razão. Talvez a diferença seja apenas que essa equação (dinheiro público = dinheiro do contribuinte) ainda não tenha sido compreendida pela maioria dos brasileiros, mesmo os de classe média e alta.


sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ai, que preguiça!

Textos e temas repetitivos. Poucos leitores e comentários. Falta de idéias e de emoção. Tristeza e apatia. Cansaço geral e desolação. O blog vai fazer uma pausa por alguns dias.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Exército de gays

Uma juíza americana bloqueou o "Don't Ask, Don't Tell". Já havia acontecido o mesmo com a lei contra a imigração ilegal no Arizona, e com a determinação contrária ao casamento gay na Califórnia, muito embora esta última tenha sido colocada na lei estadual justamente devido ao voto popular. Em uma virada preocupante, cada vez mais juízes se advogam o direito de decidir quais leis valem e quais não, normalmente por motivos políticos.

O que é o "Don't Ask, Don't Tell"? É uma lei que permite a presença de gays no exército americano, desde que eles não sejam declaradamente gays. Ninguém vai perguntar sua preferência sexual, e você tampouco pode sair cantando ela aos quatro ventos. Se declarar abertamente sua homossexualidade, pode ser expulso.

Curiosamente, o "Don't Ask, Don't Tell" (ou DADT) foi um compromisso entre conservadores e liberais: afinal, anteriormente os gays eram simplesmente expulsos do exército sem apelo. Agora os liberais não acham a medida suficiente, e querem que todos aqueles que são assumidamente homossexuais possam entrar nas Forças Armadas, sem sofrer qualquer preconceito.

Anos atrás, lembro de uma polêmica do movimento gay devido a certa política do Vaticano para tentar impedir que homossexuais entrassem no seminário. Nunca entendi a razão da polêmica. Claramente, se você gosta de dar o rabo, com o perdão da expressão, seu lugar não é na sacristia. Da mesma forma, se você se excita vendo homens musculosos de uniforme, provavelmente seu lugar não é no exército.

Ou será que é? No Brasil, há alguns anos, houve um caso de dois sargentos homossexuais que assumiram publicamente sua relação, para grande escândalo midiático. Vejam algumas das declarações da dupla:

* "Para um gay as Forças Armadas são um paraíso". 
* "Existe coisa melhor para um homossexual do que tomar banho com um monte de homem pelado e sarado?"
* "Há muito mais homossexual no Exército do que se imagina. O problema é que muitos são enrustidos. Eu mesmo já fui assediado várias vezes, até por um general."

Se eles mesmos afirmam que um dos motivos para entrar no Exército é a presença maciça de homens sarados que podem ser vistos nus no banheiro, quem sou eu para discordar. Agora, imagine o outro lado, o dos os soldados heterossexuais que precisam se abaixar para pegar o sabonete sob o olhar ávido de seus colegas. É, no mínimo, algo constrangedor. Mulheres e homens no exército utilizam vestiários separados, justamente para evitar tais problemas. Homossexuais não podem ser igualmente isolados.

Gays podem ser bons soldados? Sim, que o diga o exército de Esparta. E as temidas SA de Hitler lideradas por Ernst Rohm, antes da "noite dos longos punhais". Mas também há problemas com a presença de gays assumidos no exército, como por exemplo a reação dos soldados cristãos, aliás mais numerosos do que os gays. Além disso, não vejo por que os gays gostariam de entrar para o Exército, fora os motivos de desejo sexual declarados acima e que, aliás, são os mesmos que induzem pedófilos a se tornar líderes escoteiros. Mas é claro, faço a ressalva que para mim a guerra é uma coisa terrível e violenta, da qual prefiro distância. Para ser sincero, tampouco vejo utilidade na presença de mulheres nas Forças Armadas, acho que não deveriam estar em posições de combate, simplesmente porque são mais valiosas vivas do que mortas. Talvez o mesmo argumento poderia ser utilizado para os soldados gays, como sugere esta reportagem da The Onion.


 Tropa de elite.

Muito além de Goebbels

Ensinou Goebbles que uma mentira, repetida mil vezes, torna-se verdade. Mas e uma mentira que é desmascarada no dia seguinte, mas ainda assim continua a ser repetida, mesmo que todos saibam que é mentira? E uma mentira que suplanta outra mentira, contradizendo-a? E a contínua repetição de mentiras, repetidas não para enganar, mas apenas para atordoar o ouvinte?

Como vemos, a propaganda revolucionária petista está muito além de Goebbels. O Olavo de Carvalho escreveu várias vezes sobre esse fenômeno da aparente contradição da propaganda revolucionária, e não preciso repeti-lo aqui. Baste-me observar alguns casos recentes, bastante interessantes para os estudiosos dos recônditos mais malignos da alma humana.

Um, a atual posição de Dilma de ser contrária ao aborto. Ora, até os fetos sabem que Dilma e o PT são a favor da liberação do aborto. A propria Dilma assumiu isso em declaração de 2007. O problema é que, com 70% da população brasileira sendo contrária, isso não pode ser admitido diretamente. Mas pode apostar que, caso ganhe a eleição, serão feitos todos os procedimentos possíveis para legalizar o aborto no menor tempo possível. Afinal, o mesmo caso deu-se, de forma similar, na declaração da candidata de que "jamais vestiria o boné do MST". Menos de um mês depois, eis que estava a candidata fazendo discurso com o boné do MST na cabeça...

Nada disso é novidade para quem acompanha a política no Brasil. Mais interessante é o caso em que os revolucionários atacam seus adversários por serem a favor daquilo que eles próprios são. Todo o mundo sabe que o PT é a favor da legalização da maconha, do aborto e da prostituição. Porém, como tais medidas são impopulares, o que o partido faz? Nega ser a favor delas e até critica os adversários do Partido Verde como defensores de tais práticas. "Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é", indeed.

Uma das coisas mais curiosas de tudo isso é que o povo brasileiro, dentro de tudo, talvez por religiosidade, talvez por tradição, talvez por não ter sido bem "educado" -- isto é, educado com o abecedário marxista -- o povo brasileiro é conservador, ao menos no que se refere aos costumes: segundo pesquisas, 70% são contrários ao aborto, 55% a favor da pena de morte, 57% contrários à eutanásia e 52% contra a adoção de crianças por homossexuais. Coloque um candidato presidencial defendendo tais valores e será eleito com maioria de votos, no primeiro turno. E, no entanto, isso nunca acontece. Por quê?

domingo, 10 de outubro de 2010

O fim da era do escândalo

Após a propaganda ecológica tiro-no-pé dos britânicos, vi agora uma outra propaganda supostamente chocante, esta contra a obesidade. A propaganda, de novo apostando na linguagem do choque, compara o ato de injetar heroína com o ato de comer um hambúrguer. É uma das propagandas mais idiotas de todos os tempos, até porque os atores são magros, bonito e saudáveis. A junk food não deveria fazer mal?

Sempre tive dúvidas se essas propagandas enfatizando imagens fortes ou grotescas funcionam. São especialmente comuns em campanhas públicas contra as drogas, a AIDS ou o aquecimento global. Jamais vi algum estudo comprovando que tivessem algum efeito; na minha opinião, o seu efeito provavelmente é exatamente o contrário. Por exemplo, após ver a propaganda acima, fiquei com vontade de comer um hambúrguer, coisa que não faço há muito tempo.

No mundo da suposta "arte" moderna, ocorre a mesma coisa. Há tempos que a única linguagem que os "artistas" parecem entender é a do escândalo. E, no entanto, o público cada vez menos se interessa por esse tipo de arte. Na Bienal de São Paulo, que está ocorrendo agora, o escândalo da vez foi uma obra com urubus, que terminaram tendo sido retirados por ordem do IBAMA. A maioria dos comentários nas notícias é de críticas veementes ao artista.

Na boa: a arte moderna com suas instalações e seus ready-mades e seus épater la bourgeousie já encheu. Duchamp enviou seu urinol para o concurso há 93 anos, acredite. Quase um século! E os artistas de hoje continuam repetindo o mesmo velho truque. Chega! Cansou!

A melhor performance artística ocorrida recentemente foi quando uma faxineira, por engano, jogou fora uma das peças da coleção de uma galeria de arte moderna, achando que fosse lixo. De fato, era. Seu erro foi não ter jogado fora o restante das obras do local. É importante reciclar.

E no mundo pop? Pior ainda. É quase engraçado ver imbecis como Lady Gaga e similares tentando tudo o que podem para chocar um público bocejante, completamente anestetizado, sem conseguir. Who cares?

Escandalizada ficava a sua avó. Hoje, o suposto escândalo só causa tédio. Ou, curiosamente, é o anti-politicamente correto a única coisa que, hoje, consegue escandalizar. Que tal este comercial dos Flinstones fumando e sendo abertamente "sexista"? Hoje em dia, jamais poderia ser feito, pois de fato chocaria as sensibilidades modernas, que odeiam cigarro e qualquer coisa que indique que não somos todos iguais.


sábado, 9 de outubro de 2010

Poema do domingo sábado

Meru

Civilisation is hooped together, brought
Under a rue, under the semblance of peace
By manifold illusion; but man's life is thought,
And he, despite his terror, cannot cease
Ravening through century after century,
Ravening, raging, and uprooting that he may come
Into the desolation of reality:
Egypt and Greece, good-bye, and good-bye, Rome!
Hermits upon Mount Meru or Everest,
Caverned in night under the drifted snow,
Or where that snow and winter's dreadful blast
Beat down upon their naked bodies, know
That day brings round the night, that before dawn
His glory and his monuments are gone.

W. B. Yeats (1865-1939)

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Megalomania ou ingenuidade?

Enquanto aguardava uma consulta médica, meus olhos caíram sobre uma revista chamada "American Prospect". É uma revista progressista americana. A edição, como é natural em salas de espera, era de vários anos atrás, mais precisamente dois anos atrás, logo antes da inauguração de Obama. O título exultava com o fim da era Bush, e perguntava: "O que fazer para resolver os problemas da América e salvar o mundo."

Desnecessário dizer que a manchete, como a reportagem, era absolutamente séria, sem qualquer pingo de ironia.

Nunca sei se atribuir o pensamento progressista à megalomania ou à ingenuidade, ou a uma indigesta mistura de ambas. O progressista acredita piamente que suas políticas insanas não só melhorarão, como salvarão o mundo. Aliás, a única coisa que impede o avanço da História em direção à perfeição igualitária são os malditos reacionários, pessoas que precisam ser eliminadas a qualquer custo, pessoas que nem mesmo têm direito à sua opinião. O explosivo comercial ecológico (ver abaixo) é apenas o último e mais extremo exemplo dessa tendência, mas há muitos outros. Baste observar como a esquerda exulta com a inexistência de candidatos de direita em uma eleição. Parece-lhe o justo e o correto. Não entendem a possibilidade de qualquer comportamento ou crença contrária aos seus dogmas: quem não pensa com o grupo é, por definição, o inimigo a ser eliminado. Aperte um botão: bum!

Não é que os progressistas sejam todos malvados. Muitos até que são pessoas decentes. É simplesmente que enxergam as coisas de forma parcial: na sua dicotomia mental, quem não é a favor do "progresso" só pode ser um canalha racista que odeia os gays ou a Natureza. É simplesmente que - logo eles que tanto valorizam o Outro, o Diferente! - não conseguem enxergar alguém que não seja progressista como Outro. É curioso: tentam sempre entender o lado dos criminosos, das minorias, dos terroristas, dos pobres, mas jamais vi que tentassem entender os motivos dos conservadores, da classe média ou dos "fundamentalistas cristãos".

Em um artigo de um importante jornal italiano, um jornalista de esquerda observou a falta de representantes da direita nas eleições presidenciais brasileiras e - acredite - afirmou que esse deveria ser o exemplo a ser seguido pela Europa. Do ponto de vista do progressista europeu, a corrupta política brasileira é que estaria virando um modelo de civilidade, sem os maldito reacionários que tudo atrasam.

O outro lado da moeda do progressismo é sua extrema ingenuidade. Aqueles que apontam Brasil ou Venezuela como modelos normalmente vivem muito longe e não conhecem de perto a realidade. Como, naturalmente, as políticas progressistas pouco fazem para salvar o mundo, aliás, em geral só o pioram, o progressista só pode concluir que, ou o mundo ainda não foi à esquerda o suficiente, ou então são de novo os malditos direitistas que estão bloqueando a passagem. A solução, assim, é repetir de novo os mesmos erros, na esperança que desta vez dê certo. Essa, aliás, é a mesma definição da loucura.

Quem controla a mídia?

Ôuquei, este é um blog filosemita e filoisraelense, mas a questão apareceu aqui por estes dias na mídia americana e precisa ser discutida, ainda que possa terminar por chamar de novo alguns aloprados antisemitas aqui para o blog, o que seria lamentável.

Basicamente, o apresentador de televisão Rick Sanchez, cubano de nascença, ficou irritado com as piadinhas sobre ele realizadas pelo colega comediante (judeu secular) Jon Stewart. Além de acreditar estar sendo perseguido e discriminado por ser latino, Sanchez choramingou contra a CNN e afirmou ainda que os judeus estariam muito longe de ser uma minoria oprimida nos EUA, e que, de fato, praticamente controlariam não só a CNN como praticamente toda a televisão.

Pouco tempo depois, Sanchez receberia um bilhete da CNN dizendo "You are fired".

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ser ou não ser: a questão do suicídio

Alguns curiosos casos de suicídio têm chamado a atenção da mídia nas últimas semanas, em maior ou menor grau.

O primeiro deles é o do designer Tobias Wong, que enforcou-se em New York. O detalhe é que isso ocorreu enquanto ele dormia: Tobias era sonâmbulo, podendo realizar atividades complexas mesmo não estando em completo controle do seu corpo. Tobias era um artista em ascenção e aparentemente não tinha problemas sentimentais; o suicídio pode ter sido um mero efeito da sua vida sonhada. O que será que Wong sonhou? Jamais saberemos. Partiu do mundo dos sonhos para o sono eterno.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ecologia explosiva

Um comercial ecofascista, perdão, ecologista, está sendo bastante comentado aqui por estas bandas. O comercial, britânico, em favor de uma iniciativa que luta contra o suposto aquecimento global, dura quase quatro minutos, custou vários milhares de libras para ser produzido, foi escrito por Richard Curtis ("Quatro casamentos e um funeral") e tem entre seus atores a bela Gillian Anderson, do X-Files.

O detalhe é que, no vídeo, explodem criancinhas. Literalmente.

A mensagem parece ser: junte-se à luta contra o aquecimento global, ou vamos explodir com você. Mesmo que você seja uma criancinha indefesa.

A reação do público foi tão negativa que o vídeo não ficou nem um dia no ar. Foi retirado e substituído por um pedido de desculpas. É claro que, na era da Internet, uma vez na rede, sempre na rede. Alguns gaiatos copiaram o vídeo e ele pode ser assistido abaixo. 

O mais curioso de tudo é o seguinte: em toda a produção, desde o roteiro à montagem, não houve uma única alma que tenha ao menos pensado: ei, será que isto aqui não é um pouquinho de mau gosto?

O que demonstra que os ecologistas-melancia vivem em seu mundinho à parte, totalmente isolados da dura realidade do dia-a-dia.

De qualquer modo, o filme é divertido, ainda que não no modo em que seus produtores provavelmente imaginaram.