sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O retorno dos cartuns do pavor

A pedido do leitor J. Wollvsttaven, faço um comentário sobre a republicação dos cartuns de Maomé na Dinamarca.

Como todos sabem, foram presos recentemente na Dinamarca fanáticos que pretendiam matar alguns dos cartunistas. Como resposta, os jornais republicaram os cartuns. Mais do que provocação, foi um ato de solidariedade: como quem diz, "vocês vão ter que matar todos nós". Ora, sou plenamente a favor. Parece-me que a republicação é plenamente justificada; afinal, não é (ou não devia ser) com a intimidação que se deve determinar o que pode e o que não pode ser publicado nos jornais.

A questão nem é mais de liberdade de expressão. É de sobrevivência mesmo. É de poder falar qualquer coisa sobre o Islã sem ser ameaçado de morte ou ter que viver cercado de guarda-costas, como Hirsi Ali ou Magdi Allam. Vejam por exemplo esta notícia, que relata os distúrbios que estão ocorrendo agora mesmo em Copenhague:

Pelo menos 11 veículos foram queimados em vários bairros da capital dinamarquesa, e outros 10, na cidade de Kokkedal, ao norte de Copenhague.

A polícia deteve 17 jovens na madrugada de quinta, em Copenhague, onde dezenas de veículos acabaram incendiados com coquetéis Molotov.

"Não sabemos o porquê dos distúrbios. Suponho que estejam entediados. Alguns acham que tem a ver com as charges, mas eu não acho isso", disse à AFP o inspetor-chefe da polícia de Copenhague, Henrik Olesen.


A matéria revela ao menos três coisas preocupantes:
a) a imprensa não tem a coragem de dizer claramente que os agitadores são muçulmanos. Chama-os de "jovens", como se se tratassem do jovem Olaf e da jovem Ulrike. Mas depois fala nos tais cartuns de Maomé. Hum. Por que razão jovens dinamarqueses estariam irritados com a publicação de tais charges?
b) Já é o quinto dia seguido em que há distúrbios. Já houve similares distúrbios na França e em outros países europeus. Sempre em bairros de imigrantes muçulmanos. Hum.
c) A polícia não sabe o que está ocorrendo, acha que os "jovens" estão "entediados", e por isso queimam carros e escolas. Talvez o governo devesse construir mais campos de futebol.

Fica a pergunta: os cartões são realmente ofensivos? Bem, sim e não. É verdade que muitos muçulmanos podem tomá-los como ofensa à sua religião, e não estariam de todo errados. Afinal, os cartuns ligam os muçulmanos ao terrorismo (e, vamos combinar, nisso nada mais fazem do que seguir o que se lê todo dia no jornal).

Só que a ofensa alegada, para os fanáticos, não é essa. Mas sim que "haveria uma proibição de publicar a imagem de Maomé". Bem, informo aos mulás que os cartuns na verdade não são retratos de Maomé, quem os leva a sério não tem capacidade de discernimento. Segundo, que a proibição de publicação de imagens na verdade não existe, ou não é seguida por todas as escolas, os próprios muçulmanos já criaram muitas imagens do seu chamado profeta, como se pode ver aqui.

Não, senhores: todo esse escândalo foi cuidadosamente planejado, o que explica porque - quando da primeira publicação - os protestos globais começaram só muitos meses depois, e também porque havia tantas bandeirinhas da Dinamarca sendo queimadas em longínquos países árabes (de onde vieram as bandeiras? Quem as comprou? Será que os milhares de muçulmanos analfabetos que seguravam cartazes escritos em inglês para a mídia sabiam ler as mensagens? Sabiam onde ficava a Dinamarca?)

Nos países muçulmanos são feitos milhares de cartuns ridicularizando os judeus; religião cristã é alvo de sátira dendro dos próprios países ditos cristãos (há "artistas" que vivem quase só disso). Mas os únicos que pensam em matar alguém por causa de um cartum são esses misterioros "jovens".

Acho que eles deviam seguir o exemplo de Buda:

"Se alguém falar de modo desrespeitoso de mim, ou do Dharma, ou do Sangha, vocês não devem ficar zangados, ressentidos ou aborrecidos por isso. Se ficassem irritados ou aborrecidos com tal insulto, isso seria apenas um peso para vocês. Se outros me insultam, ou ao Dharma, ou ao Sangha, então vocês devem explicar o que é incorreto, dizendo, "Isto é incorreto, isto é falso, este não é o caminho, isto não é encontrado entre nós".

Em nenhum momento o Buda manda queimar carros ou explodir pizzarias ou degolar cartunistas.


6 comentários:

Anônimo disse...

Mr X:
انت كافر! جسمك سوف تحترق في الجحيم الرخام

Mr X disse...

Hum... Hã... Igualmente pra você...

Fred disse...

Caro Mr X

O homem é uma besta fera.
É so ver o pau que sai no Palmeiras X Coríntians depois e antes do jogo.
É uma besta fera:
1 - por instinto
2 - por falta de educação
Na sociedade amway, a que vivemos, é voce contra todos.
Manifestação de afeto é até confundida com boiolice.
Ora se um homem só precisa de uma partida de futebol para sair dando porrada em outro, e até matando outro, imagina o que pode fazer um indivíduo doutrinado, seja pela causa que for.
A palavra doutrina pode ser substituida por educação.
Se a educação da nossa sociedade é para o embate, a concorrência, a falta de solidariedade, o que voce pode esperar dos filhos dela?
O Amway leva a isso.
Portanto tudo que acontece por aí no mundo tem razão.
Eu sempre digo, e o Copacabana Way of life explica direitinho isso, que temos que mudar o projeto da nossa sociedade.
Precisamos modificar o Amway.
É a única oportunidade de dar uma chance a paz.

Shalom

Anônimo disse...

Mr X,

Sei que vc é um provocador, na época das publicações, eu não entendi o que tinha demais em mostrar aquelas charges.

Continuo sem entender, pra mim elas são até um pouco mal feitas.

No Mais o que eu sempre digo, quem mata em nome de Deus só pode ser louco.

Anônimo disse...

Vi todos os cartuns do link, bastante interessante, tirando o ultimo que realmente é ofensivo.

Mas o que eu posso fazer? fico tranquilo que a justiça divina fará sua parte.

Mr X disse...

Theo,
Pois é, tudo isso é uma manobra política de alguns religiosos em cima de uma coisa que jamais deveria ter gerado tanto escândalo. Tem gente a quem a confusão favorece...
Mas acho que o islã e as modernas sociedades abertas não são compatíveis, e o pau vai eventualmente rolar.