segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Amores suicidas

Uma certa melancolia me invade às vezes, especialmente quando contemplo as relações amorosas e seus ocasionais resultados trágicos.

O blogueiro Sérgio de Biasi suicidou-se.

Nunca conheci o Sérgio, mas há tempos acompanhava O Indivíduo, desde quando ainda era uma parceria com o Pedro Sette, outro excelente escritor. Ele era pouco mais velho do que eu, fazia praticamente parte da mesma geração e, acho, tínhamos certas coisas em comum. 


domingo, 30 de outubro de 2011

Poema do Domingo

ÍTACA
 
Se partires um dia rumo a Ítaca,
faz votos de que o caminho seja longo,
repleto de aventuras, repleto de saber.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o colérico Posídon te intimidem;
eles no teu caminho jamais encontrarás
se altivo for teu pensamento, se sutil
emoção tocarem teu corpo e teu espírito.
Nem Lestrigões nem os Ciclopes
nem o bravio Posídon hás de ver,
se tu mesmo não os levares dentro da alma,
se tua alma não os puser diante de ti.
Faz votos de que o caminho seja longo.
Numerosas serão as manhãs de verão
nas quais, com que prazer, com que alegria,
tu hás de entrar pela primeira vez um porto
para correr as lojas dos fenícios
e belas mercancias adquirir:
madrepérolas, corais, âmbares, ébanos,
e perfumes sensuais de toda a espécie,
quanto houver de aromas deleitosos.
A muitas cidades do Egito peregrina
para aprender, para aprender dos doutos.
Tem todo o tempo Ítaca na mente.
Estás predestinado a ali chegar.
Mas não apresses a viagem nunca.
Melhor muitos anos levares de jornada
e fundeares na ilha velho enfim,
rico de quanto ganhaste no caminho,
sem esperar riquezas que Ítaca te desse.
Uma bela viagem deu-te Ítaca.
Sem ela não te porias a caminho.
Mais do que isso não lhe cumpre dar-te.
Ítaca não te iludiu, se a achas pobre.
Tu te tornaste sábio, um homem de experiência,
e agora sabes o que significam Ítacas. 

Konstantinos Kaváfis (1863-1933) 
(Trad. José Paulo Paes)

sábado, 29 de outubro de 2011

Compre o livro do Blog do Mr X!

Está à venda na Amazon e na loja online do Create Space um livro com o melhor do Blog do Mr. X! 

Ué! Por que comprar algo que é grátis online? Dez razões:

1) É um ótimo presente para dar para alguém que se quer bem. Afinal, você não pode dar um blog de presente, certo? E o Natal está quase chegando aí.

2) É um ótimo presente para dar aos inimigos, especialmente aquele seu vizinho petista safado. E já estamos no dia das bruxas. 

3) É uma concentração do melhor do blog. Ao longo do tempo escrevi alguns textos que alguns talvez julguem interessantes, mas também escrevi muita bosta. O livro tem uma coletânea apenas dos melhores textos, editados para maior clareza. Tem até alguns textos inéditos, jamais publicados aqui!

4) Pode-se ler na privada ou na praia, locais onde é meio complicado utilizar o notebook ou mesmo o iPad.

5) Pode-se não ler, mas simplesmente colocar o livro na estante ou na mesa da sala para impressionar as visitas e escandalizar os parentes. Modéstia à parte, a capa ficou bem bacana. 

6) Você estará ajudando o dono do blog a continuar. Convenhamos, não vou fazer isto pra sempre. O Adsense do Google não dá dinheiro algum. Porém, se cada um dos leitores comprar um livro (ou mais, para dar aos amigos, vizinhos, alunos...), garante-se o leitinho das crianças, e o blog talvez continue por mais algum tempo.

7) O livro não tem o Augusto Nascimento nem a Bárbara nem o Tiago nem nenhum troll ou mesmo comentarista. Tá, na verdade esse é um aspecto negativo. Até pensei em incluir os melhores comentários no livro, mas ia dar muito trabalho.

8) Você estará colaborando com o self-publishing, movimento que coloca o autor diretamente em controle do material. 

9) É uma oferta por tempo limitado; o livro é uma edição comemorativa que vai ficar disponível apenas por alguns meses. Amanhã você pode não ter essa chance!

10) O preço é baratinho: apenas 25 dólares. Tá bom, é uma facada. Mas não é diferente do preço dos lançamentos literários no Brasil. É o mesmo preço do livro do Chico Buarque em reais. Tem que pagar o frete, mas livro não paga imposto!

P. S. A Amazon é mais conhecida, mas se você comprar no site do Create Space (que também faz parte do grupo Amazon) eu ganho mais royalties. Mas você tem que se registrar no site antes de comprar. 

P.S.2. Sim, vai ter uma edição pro Kindle, mas ainda não está disponível. Provavelmente daqui a um mês. Aviso quando sair. Livro em papel é ultrapassado, já?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Democracia não é suficiente

A "democracia" na Líbia está prendendo e arrebentando. Depois de linchar Khadafi, a turba muçulmana no comando já executou uns outros 53. Agora afirma que a nova lei do Estado será baseada na sha'ria islâmica. Veja você, sob o terrível ditador Khadafi, o cidadão não podia ter mais do que uma única esposa. Agora vai poder ter quatro, como manda o Corão... Liberdade!

Certo, eles vão ter eleições. E daí? A União Soviética tinha eleições. Cuba tem eleições. Até a Venezuela chavista tem eleições.

Estamos vivendo em um tempo em que a forma substitui o conteúdo. Se um país tem eleições, é considerado uma "democracia", não importa que oprima os opositores, que tenha leis estúpidas ou que seja corrupto até o tutano. 

No Brasil, nos garantem, temos uma "democracia". Para mim, vai ficando cada vez mais parecida ao fascismo mussoliniano, com a diferença que Mussolini era provavelmente melhor. Getúlio Vargas e Perón continuam sendo o ideal de governo de todo presidente latrinoamericano que se preze.

Vejam o Lula. Não há dúvida alguma que queira voltar ao poder. A sua recente pose com cocar de cacique mostra bem as suas intenções. O PT quer "democracia", claro. Mas a antiga Alemanha Oriental não se chamava "República Democrática"? É esse o estilo de "democracia" que eles querem. Pode escolher o candidato de qualquer cor, desde que essa cor seja vermelha. 

Os terroristas dos anos 60 perderam a batalha, mas venceram a guerra. A demonstração mais cabal é a condenação à prisão perpétua de dezenas de generais argentinos. Não tiveram perdão. Tudo bem, eram criminosos e torturaram -- mas e os terroristas de esquerda que explodiram, seqüestraram, assaltaram, mataram, trucidaram? Ora, esses estão no comando, e continuam assaltando, só que agora em outro nível. Ninguém perguntou sobre o enriquecimento ilícito da "presidenta" Cristina Kirchner, nem sobre suas constantes tentativas de silenciar a imprensa local. 

Cada vez mais, no Ocidente e alhures, a democracia torna-se uma farsa, um teatrinho montado para divertir os imbecis. Os verdadeiros caciques fazem e acontecem debaixo dos panos. "O povo tem mais liberdade", garantem. "O povo pode votar e escolher quem quiser." E riem, sabendo que a população só pode escolher entre 6 e meia-dúzia (ambos comunas ou ladrões, mas me repito), e que as verdadeiras decisões são tomadas muito longe, sem qualquer apelo à vontade popular. Mas o povo? Feliz. Tem seu pão e seu circo garantidos, e a juventude jura que é "transgressora", mesmo repetindo unanimemente a cartilha repetida dia a dia por todos os meios de comunicação.

A democracia é um sistema bom, mas, por si só, não é suficiente. Não bastam eleições para fazer um país democrático. Seja a Líbia, sejam os EUA, seja o Brasil.

O Vaticano e a Nova Ordem Global

Embora não acredite em nenhuma delas, gosto de teorias da conspiração. Não seria fantástico se todos os problemas do mundo fossem causados por um único grupo secreto? Lamentavelmente, quase nunca é esse o caso: o mundo é na maior parte das vezes regido apenas pelo Caos. 

De qualquer modo, uma recente notícia deixou os teóricos da conspiração em polvorosa. O Papa Bento XVI declarou que é a favor de uma "autoridade econômica mundial", uma espécie de Banco Central Mundial. Seria o Papa globalista?

Fui pesquisar, e descobri que não é a primeira declaração nesse sentido do Pontífice. Em 2009, o Vaticano publicou um texto até mais forte, no qual fala não apenas em autoridade econômica, como literalmente em um "governo global", uma entidade supranacional com "autoridade real" para resolver conflitos internacionais.

Não quero comprar briga com o pessoal da MSM. Sou católico por formação, e simpatizo com o Bento XVI. Porém, o Rodrigo Constantino destrinchou a encíclica papal de 2009, mostrando que o texto realmente fala em governo global, além de reciclar vários chavões quase marxistas, defendendo a imigração, a justiça social, etc. Estaria o Vaticano unido às elites globalistas que querem instituir a famosa "Nova Ordem Mundial"?

Não creio. Como dizem os americanos, jamais atribua à malícia o que pode ser mais facilmente explicado por ignorância ou estupidez. Acho que o Papa, ou seja quem for que redigiu o documento, está contaminado por algumas idéias progressistas (não todas; a Igreja Católica ainda é contra o homossexualismo e o aborto, até onde sei). Mas não é esse o caso do planeta inteiro? Nos EUA, igrejas luteranas e presbiterianas já tem pastores mulheres ou gays (quando houver um Papa gay é que precisamos ficar preocupados...). Na Europa, são as igrejas cristãs as que mais acolhem e auxiliam asilados e imigrantes ilegais da rival religião muçulmana, mesmo que isso esteja selando o seu fim (10% dos "cristãos" europeus freqüentam a missa; 90% dos muçulmanos freqüentam as mesquitas). 

No mais, é curioso que os progressistas se vendam (e vendam essa imagem à juventude) como "rebeldes" e "transgressores", quando são exatamente o contrário. Eles são o establishment! Eles mandam, desmandam, e até lincham quem ousar contestar. Não há quase nenhum aspecto da vida cultural, política ou social que não tenha ao menos algum elemento progressista. Como diria a Newsweek, somos todos socialistas. O Papa talvez apenas queira ser pop - e, isso, hoje, quer dizer progressista.

De qualquer modo, se até o Papa -- junto com o governo Obama, Wall Street, a União Européia e a maioria das instituições civis ocidentais -- já estão falando abertamente na possibilidade de um governo global, é sinal que a coisa não demora a tornar-se realidade. Segurem-se! 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

As flores da primavera árabe têm cheiro de morte

Khadafi foi morto de forma selvagem e o Ocidente celebra. Mas celebra o quê, exatamente?

Este não é um blog que goste de ditadores árabes, mas o fato é que o que vem aí é pior. Esses rebeldes não são flor que se cheire, e muitos deles são terroristas conhecidos.

O fato é o seguinte, com a possível exceção de Israel, existem apenas dois tipos de líderes no Oriente Médio (e na África): ditadores seculares ou fanáticos religiosos. A "democracia" traz ao poder estes segundos, pois o que ningém parece perceber é o seguinte -- o problema não são os líderes: o povo é que é fanático. O povo é que é violento. O povo é que quer sha'ria e terror. 

Segundo um velho ditado, "cada povo tem o líder que merece". Começo a crer que seja verdade. Lula e Dilma são a cara do Brasil. Os fanáticos líderes árabes são a cara de seu povo. Os líderes esquerdistas multiculturais da maioria dos países do Ocidente também são a expressão do que há de mais comum hoje entre o povo de lá, que é também, a seu modo, fanático do progressismo.

Nunca entendi esta guerra na Líbia e, até agora, continuo sem entendê-la. Alguns dizem que é pelo petróleo, e eu bem que gostaria que fosse. Parece mais é haver um desígnio das elites globalistas para colocar fogo no Oriente Médio e criar centenas de novas teocracias islâmicas na região.

No Egito, quem sofre com a nova "democracia" são os cristãos coptas. Na Líbia, ironicamente, os que mais estão se ferrando são os negros africanos. Os próximos provavelmente serão os cristãos (tem só uns cem mil por lá).

Isso nos leva a um curioso paradoxo: a tal democracia, em muitos países pouco treinados, acaba virando mesmo ditadura da maioria, e por sua vez isso leva à limpeza étnica: a minoria, afinal, não tem voto nem vez, e pode ser mesmo eliminada. É o que acontece nos países muçulmanos com os não-islâmicos. É o que acontece na África do Sul com os brancos sul-africanos. É o que vai acontecer um dia aqui. 

Pode até estar havendo uma "primavera árabe". Mas suas flores cheiram muito mal!

sábado, 15 de outubro de 2011

Machado de Assis era branco ou negro?

Machado de Assis era branco ou negro? Um polêmico comercial levantou de novo a questão. A primeira versão do comercial, com um branco de aparência claramente européia no papel do escritor, foi duramente criticada por muitos espectadores, que acusaram o comercial de "racista", já que Machado era mulato.

Em seguida, o governo brasileiro entrou em ação mais uma vez (parece que a especialidade do governo Dilma é a propaganda!). Sob pressão do público e da Secretaria da Igualdade Racial, o comercial foi retirado e substituído por um outro em que o velho Machadão é interpretado por um ator mais escuro do que o Muçum. Se foi um erro colocar Machado no comercial como caucasiano, também acho que o segundo ator foi uma escolha equivocada, que acentua demais a cor da pele. Era tão difícil encontrar um mulato claro que atuasse decentemente?  

Confesso: na escola, para mim, Machado sempre tinha sido "branco", ou, ao menos, ninguém tinha chamado a atenção para a sua composição racial. Essa moda começou bem depois, quando eu já estava na universidade e o "politicamente correto" funcionava a todo vapor. Era então necessário chamar a atenção para a raça dos escritores, talvez até mais do que para a sua literatura. (Pergunto-me se algum desses críticos leu algum livro do Machado. Será que a própria secretária de inclusão racial já o leu?)

Machado de Assis era português por parte da mãe (50% branco), e seu pai era pelo menos metade branco, se não mais. Digamos que fosse meio-meio, o que daria 25% para Machado de Assis. Portanto, Machado de Assis era ao menos 75% branco, talvez um pouco mais, talvez um pouco menos, já que não sabemos muito sobre o seu pai. Isso importa? Provavelmente não. Gênio é gênio e é raro em qualquer raça ou país. Abaixo está a foto de Machado de Assis que encontrei na qual ele parece mais "afro". Se não poderia ser confundido com o Pelé, tampouco é europeu.

O curioso é o seguinte: embora a sociedade do período fosse mais "racista", isto é, acreditasse abertamente em diferenças raciais (leiam "Os Sertões", por exemplo, ou Silvio Romero), Machado de Assis chegou ao topo da sociedade de seu tempo. Autodidata e pobre, subiu na vida por seu próprio esforço e tornou-se um homem extremamente bem-sucedido, um intelectual reconhecido e celebrado por todos, podemos mesmo dizer que um membro da elite (ao menos intelectual) do período.

Paradoxalmente, hoje ninguém o faria esquecer que era "negro". Estudaria pelo sistema de cotas ou seria convidado a morar em um quilombo. Talvez, ao invés de escrever romances inspirados no melhor da literatura inglesa e francesa do período, se dedicasse a criar letras de funk e rap (inspirado no que se faz nos EUA, é claro). 

Talvez o verdadeiro problema então seja mesmo a incrível decadência dos ideais e da cultura brasileira (e mundial, pois somos apenas macaquitos copiões). Na época havia outros talentosos escritores mestiços: Lima Barreto, Mario de Andrade, Cruz e Sousa. Hoje, o que temos?

Mesmo se ficarmos na cultura popular, até há poucas décadas tínhamos pessoas como o Cartola, sambista que apesar da baixa instrução escreveu letras sentimentais primorosas (outro exemplo seria o Lupicínio Rodrigues). Hoje? O grande sucesso no Brasil das classes baixas e nem tão baixas é uma canção que, pelo que entendo, se chama "Dou o c* até de cabeça para baixo". Tem inclusive uma dança associada, como se pode ver no vídeo, que ainda celebra a harmonia multiracial políticamente correta, com uma garota branca e outra japonesa realizando a "performance". É o Brasil atual! 

Dentro do seu túmulo, Brás Cubas sorri feliz: "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria!" 

domingo, 9 de outubro de 2011

A World Without Jobs

O título deste texto era pra ser "Um mundo sem empregos", mas ficou em inglês porque não resisti a fazer um trocadilho infame. Dito isso, são dois fatos incontestáveis: Steve Jobs se foi, e os empregos do mundo estão sumindo. 

Steve Jobs está sendo chorado como poucas figuras da história recente, e como quase nenhum empresário jamais foi (empresários são quase sempre universalmente execrados). Por quê? Talvez por ter criado os aparelhos mais representativos da era atual: os iPhones e iPads, que nada mais são do que brinquedos para gente grande. Mas há algo mais aí: Steve Jobs, filho de um imigrante sírio, abandonado enquanto bebê, adotado por um casal de classe média-baixa sem curso superior, abandonando os estudos, virando hippie vagabundo de férias na Índia e mesmo assim no fim das contas chegando ao topo do topo, ele representa a máxima afirmação do "sonho americano", a "terra da liberdade" onde qualquer um pode chegar lá. E digamos a verdade: se Jobs tivesse crescido na Síria, será que teria qualquer possibilidade de jamais chegar a ser o que foi? 

Mas casos como o de Jobs são cada vez mais exceções. Sim, ainda há muitos jovens milionários e histórias de sucesso, a América ainda é a América, mas tudo está mudando cada vez mais.

A Europa, em crise econômica e sem empregos, está virando um parque temático. Sua função, se o crescimento populacional muçulmano por lá não impedir, será a de conservar seus monumentos em pé para que possam ser visitados por turistas de todo o mundo. O mundo muçulmano está se reduzindo à sua própria insignificância. China ainda cresce -- mas até quando? E mesmo os EUA estão com taxas de desemprego que parecem apenas aumentar. (Obama já é menos popular do que o vírus da febre suína). Enquanto isso, jovens americanos "ocupam Wall Street" e querem -- o quê? Provavelmente achar algum culpado fácil para tudo.

Em um de seus últimos posts, o marxista Sakamoto mostra mais uma vez que, como 99%, tá bom, 100% dos blogueiros de esquerda, não entende nada de economia. Ele quer que as empresas reduzam a jornada de trabalho sem reduzir o salário. Quer que o açougueiro, o padeiro e o cervejeiro trabalhem, não por interesse próprio, mas por benevolência. Leia Adam Smith, rapaz! Na verdade, tais trabalhadores devem agradecer aos céus que o desemprego no Brasil está baixo e que o mercado de trabalho ainda está em expansão.

Afinal, o grande problema do mundo moderno é que a globalização e a automação tornaram e ainda estão tornando grande parte das pessoas inúteis. O imenso número necessário de pessoas que eram necessárias para plantar, colher e transportar alimentos reduziu-se muito com a mecanização da agricultura. Paradoxalmente, hoje produz-se bem mais alimentos. Salvo algumas regiões da África e do Oriente Médio, os pobres hoje tem maior problema com obesidade do que com fome.

Bem, mas é claro que o fim do trabalho agrícola não significou o fim do trabalho. Muitos migraram para as cidades onde trabalhavam em fábricas, que logo passaram também pelo mesmo processo de automação. Robôs cada vez mais podem fazer o trabalho de humanos, e com muito maior eficiência, e sem reclamar. Sim, ainda há muitas fábricas com pessoas trabalhando, mas elas estão na China ou na Índia, e também ali eles trabalham sem reclamar.

Então então essas pessoas que saíram do campo para trabalhar nas fábricas agora trabalham nas cidades na indústria de serviços, ou então em alguma repartição pública. Não produzem nada, mas realizam serviços para aqueles que produzem, e portanto ajudam a fazer com que estes últimos produzam mais. Mas mesmo muitos desses empregos hoje em dia estão acabando graças à tecnologia. As grandes redes de livrarias americanas desapareceram graças à Amazon; as indústrias locais foram engolidas pela China, que tem muita gente e pode fabricar tudo mais barato (e não eram e são os iPods e iPads fabricados por lá?); os robôs no Japão já podem até cozinhar pratos simples; até alguns empregos que antes exigiam diploma hoje podem ser substituídos por um software. Até o fim deste século, que outros empregos desaparecerão? Talvez motorista: a Google já está experimentando com carros que se dirigem a si mesmos

Tudo isso é deveras maravilhoso, mas o que fazer com os milhões de pessoas tornadas redundantes na era da automatização, da globalização e da Internet?

A visão romântica é que viveríamos em um mundo de lazer e de crescimento espiritual. Num mundo sem empregos, as pessoas se dedicariam às atividades artísticas, intelectuais e de supervisão e gerência do mundo robotizado. Mas isso é fantasia. O fato é que, contrariamente ao que sustenta a teoria da tabula rasa, nem todas as pessoas têm as mesmas capacidades, físicas, mentais ou psicológicas. Dito de outra forma, em um mundo supertecnológico no qual o QI e o conhecimento técnico são os valores mais importantes, grande parte das pessoas não estão e jamais estarão qualificadas para trabalhar naquilo que realmente importa, nas poucas atividades realmente produtivas. E mesmo pra criar arte seriam inúteis, pois tampouco são todos os que tem talento.

Nesse admirável mundo novo, seria o welfare a solução mais moral, ou a mais imoral? Sustentar os incompetentes, ou deixar que eles morram de fome? É possível também que, sem trabalho, algumas pessoas se dedicassem mais ao crime, ou ao menos essa é a desculpa dos esquerdistas para manter o sistema. Porém, como o welfare (isto é, ser pago apenas por existir) é socialmente e moralmente nocivo para o indivíduo, estimulando a preguiça, o ócio e os maus costumes, é preciso que exista um outro caminho.

Seria a solução então manter um tipo de welfare light, no qual empregos desnecessários são mantidos apenas devido à sua função social? O trabalho enobrece, já diziam os antigos. Penso por exemplo nos ascensoristas que ainda tem tal emprego em tantas repartições públicas no Brasil, quando são já de todo desnecessários, e talvez sempre tenham sido. Penso nos frentistas de posto de gasolina, que hoje já quase não existem mais nos EUA, mas que são mantidos na maioria de países latinoamericanos e europeus.

Não acho que a automação seja de todo boa. Por exemplo, detesto os números de telefone com gravações. Acho preferível quando há outra pessoa do outro lado da linha. Precisamos de interação com outros humanos; mesmo que seja possível, e até já existam, supermercados totalmente automatizados, não é melhor que exista alguém real recebendo o dinheiro e colocando os produtos nos pacotes?

Será então que os empregos serão mantidos apenas para que não morramos de solidão? Os robôs humanóides não tem dado muito certo, apesar de alguns estarem melhorando de aparência. Há certas coisas que os seres humanos ainda fazem melhor. O trabalho braçal tampouco está de todo extinto, e provavelmente não o estará enquanto um ser humano for mais barato (e mais eficiente) do que um robô.

Bem, quem pode dizer o que ocorrerá no futuro? Ninguém previu a Revolução Industrial, ninguém previu a Revolução da Informática, ninguém previu sequer o iPad - ou o teria inventado antes. Como dizia Daniel Defoe, só há duas coisas certas nesta vida, a morte e os impostos. Steve Jobs escapou de um, mas não do outro. Adeus, Steve Jobs, adeus. 

O futuro da automação.
O blogueiro Sakamoto em Wall Street.