sábado, 13 de junho de 2009

Eleições no Irã e a "vontade do povo"

Amadinehjad foi "reeleito", quase certamente com a ajuda de uma pequena fraude, e o Irã está literalmente pegando fogo.

A administração Obama está num dilema. Queria negociar com o Irã. Porém, com censura e estudantes levando pancada na rua, fica mais difícil fingir que o sujeito é "moderado" e só quer "dialogar". Obama vai ter que endurecer, ou passar por otário. Talvez prefira passar por otário, mas o resto do mundo não vai acompanhar - nem mesmo os países árabes sunitas, que estão cada vez mais preocupados com a beligerância persa xiita.

Ao contrário do que poderia parecer, talvez a situação seja melhor para Israel também. Um falso moderado (não existem reformistas reais no Irã, já que quem manda mesmo é o Ali Khamenei e seus 40 aiatolás) deixaria o mundo menos preocupado com os iranianos e suas bombas nucleares. Do jeito que está, com a ditadura escancarada mesmo para o mais ardente esquerdista, justifica-se cada vez mais um ataque preventivo às instalações nucleares ou, quem sabe, ao próprio governo dos aiatolás (não custa sonhar).

Outra opção seria uma revolução popular no Irã, mas é pouco possível que esta funcione. Quem detém as armas detém o poder (e é por essa razão que uma das primeiras coisas que os ditadores fazem ao tomar o poder é tirar as armas da população). Além disso, a maioria dos descontentes são o pessoal que mora na cidade (e por isso todo o conflito centra-se em Teerã), mas nas zonas rurais miseráveis o regime ainda tem apoio (faz lembrar um outro longínquo país...).

O que é espantoso, mesmo, é o apoio irrestrito que Amadinehjad tem entre os esquerdistas. Só com esse público Amadinehjad é unânime. Fico impressionado. Prova de que tem gente que gosta mesmo é de um ditador, seja de que tipo for.

Agora, uma coisa que é preciso dizer é o seguinte: mesmo que não tivesse havido fraude, e a vitória de Amadinehjad representasse a real "vontade do povo", isso não mudaria tanto as coisas. Muitas pessoas acreditam que democracia significa apenas respeitar a vontade da maioria, independentemente do que esta vontade significar. Assim, segundo estes "esclarecidos", se a maioria do povo iraniano quiser apedrejar suas mulheres, ou enforcar suas crianças, ou tirar o dinheiro de uma minoria e escravizá-la, ou matar judeus, ou detonar uma bomba atômica em Tel Aviv, tudo bem, "devemos respeitar".

Errado. Ditadura (ou imoralidade) da maioria continua sendo ditadura (ou imoralidade).

2 comentários:

marcelo augusto disse...

Eita! E tem gente na esquerda dizendo que essas eleições no Irã foram honestas!

Segue um artigo delinqüente:

http://www.guardian.co.uk/commentisfree/2009/jun/13/iranian-election

Tsc, tsc, tsc...

RW in Miami disse...

X, tem um artigo no Haaretz de hoje que fala justamente sobre isso - sobre como a eleicao do Ahamadinejad seria melhor para Israel....