Estreou nesta sexta-feira nos EUA um documentário que, surpreendendo, ficou entre os dez filmes mais vistos do fim-de-semana. Custou 1 milhão de dólares e arrecadou três milhões só no fim de semana de estréia, bastante para um documentário.
O argumento do filme é que cientistas e acadêmicos nos EUA estariam censurando ou repelindo qualquer cientista que se apoximasse do “Design Inteligente” – ou seja, a idéia de que as coisas não surgiram por acaso, mas que houve... bem, alguma forma de design.
A teoria do “Design Inteligente” é, de fato, uma teoria científica (embora muitos a classifiquem como pseudociência), proposta pelo bioquímico Michael Behe, e não é necessariamente a mesma coisa que Criacionismo. De fato, a única coisa que a teoria argumenta, até onde sei, é que seria impossível a complexidade do DNA ter surgido “por acaso”, como argumentam os proponentes da teoria da evolução darwiniana.
O filme, conduzido pelo escritor cômico e ator Ben Stein, é claro, vai bastante além nas suas suposições, conectando o Darwinismo até com o Nazismo, e tem causado bastante polêmica. O ponto alto do filme parece ser quando entrevista o ateísta militante Richard Dawkins, e este afirma que a vida na terra poderia ter sido criada, não por Deus, mas por seres extraterrestres que foram fruto da evolução em outra galáxia...
O mais interessante é preceber a reação raivosa com que o filme está sendo recebido, levando a crer que existe mesmo uma perseguição a quem vai contra o establishment darwiniano... As críticas que li do filme até agora são impiedosas. Fiquei com curiosidade de ver. Pode que seja uma grande besteira, uma espécie de Michael Moore anti-Darwin... Ou pode ser que não.
Pessoalmente, não acho que teoria da evolução e religião estejam necessariamente em desacordo, e, embora não sendo cientista, o que li de Carl Sagan e Stephen J. Gould sobre o tema me parece fazer sentido (O Dawkins, acho meio chato, e ele parece mesmo mais interessado na sua implicância com a religião do que na divulgação científica).
De mais a mais, não sigo a rigor nenhuma religião, embora tenha sido educado no cristianismo. Sobre o ateísmo, a única coisa que me incomoda é que muitas pessoas que dizem não acreditar em Deus, no minuto seguinte estão perguntando qual o meu signo... Não acreditam em Deus mas sim em astrologia, ou no socialismo, ou que eram os deuses astronautas, ou qualquer outra irracionalidade. Na verdade, é impossível para o homem ser completamente racional, mesmo porque há tanta coisa que não sabemos e, provavelmente, nunca saberemos.
Aliás, como todo grupo humano parece seguir uma forma de religião, e como as sociedades religiosas monoteístas parecem ter se dado melhor na luta pela sobrevivência (os judeus ainda estão aí e ninguém mais ouviu falar de fenícios, babilônios, cretenses, etc; cristãos e muçulmanos se expandem enquanto o secularismo encolhe, etc.), daria para argumentar que a própria religião é uma estratégia da evolução... Mas isso seria uma outra teoria (Dawkins argumenta que a religião é um "erro" da evolução - mas, se a evolução é cega e sem direção, como falar em "erro"?)
Atualização: embora o filme apele (em teoria) maiormente aos criacionistas cristãos, Ben Stein é judeu, o que não deixa de ser uma curiosidade. Enquanto isso, a Scientific American e outros órgãos de divulgação científica publicaram pesadas críticas ao filme. O debate está apenas começando.
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
13 comentários:
Um conceito interessante de que os filhos de Abraão são mais “eficientes”.
Entretanto há muitas religiões politeístas ou “não teistas” que vão muito bem.
Mas não discuto a eficiência das grandes religiões monoteístas em não aceitarem a existência de um pensamento diferente.
Enfim pode ser mesmo que em termos evolutivos judeus, muçulmanos e cristãos atinjam uma supremacia inquestionável no mundo todo e sigam até o fim dos tempos se matando com sua suprema eficiência.
Seria bom fantasiar um mundo globalizado no qual cada pessoa ou grupo pudesse viver seu misticismo como melhor lhe proviesse.
O filme em si não me interessou muito. Parece mais um daqueles poderosos lobbies dos religiosos americanos. Quanto ao último parágrafo, realmente a religião pode ter desempenhado um papel muito relevante na sobrevivência de determinados grupos. É um argumento mais plausível do que conversar com meu colega evangélico de trabalho, que, ao contra-argumentar que a religião é uma criação essencialmente humana, crê que existe algo de divino na bíblia senão o cristianismo não teria 2 mil anos de vida e expandido para quase todos os cantos do planeta.
Os biologos (em particular) detestam criacionismo (ou desenho inteligente, ou qualquer eufemismo equivalente) com a mesma intensidade, e pelas mesmas razões, que nós físicos abominamos astrologia. Em ambos os casos o problema não é só a picaretagem bastante obvia para quem entende do assunto, mas também os picaretas que acham que depois de lerem um panfleto ou verem um documentário, sabem mais sobre o assunto que quem passou a vida inteira estudando-o; e que acham ainda que cientistas tem a obrigação de engaja-los ad nauseam em debates entediantes e improdutivos.
Digo popperianiamente que a dita 'ciência da criação' não é ciência Esta afirmativa é falseável: é o só os criacionistas obterem resultados científicos relevantes usando suas teorias, que não podem ser obtidos usando a evolução/seleção natural
Alias, os matemáticos também tem quem odiar... Mencione 'topologia lacaniana' para eles, e veja como as palavras 'homeomórfico' e 'não-comutativo' podem ser usadas como xingamentos ;^).
Bons comentários.
Fora o tema básico de se existe ou não um Deus, eu acho que o tema da religião, e porque ela existe, e se realmente pode existir uma sociedade totalmente laica, sem religião ou ao menos algum tipo de mitologia unificadora (acho que não pode não), e se as sociedades religiosas funcionam melhor ou não, enfim, tudo isso me parece fascinante.
Duas coisas me chamam a atenção: a sobrevivência dos judeus face às mais terríveis perseguições, e a incrível expansão do cristianismo, não através da violência, mas da pregação e da paz (começaram sendo atirados pelos romanos aos leões, e pouco depois o próprio império romano assumia o cristianismo). Poderia falar também do budismo, se conhecesse algo.
Quanto ao que o Bruno coloca, achei bem interessante. Por outro lado, também os religiosos teriam o direito a se incomodar com o Dawkins por meter o bedelho em um tema (religião) que não é de sua especialidade.
Sobre a teoria da evolução, ela pode explicar muitas coisas, mas realmente não explica a origem da vida. Acho que não existem teorias de consenso sobre isso, aliás, né? Fora aquela da tal "sopa primeva", mas acho que hoje está desacreditada. Cadê o Darwinista, pra comentar aqui?
Abraços a todos, e obrigado pelos inteligentes comentários,
O problema de não se acreditar en Deus, não é que você não acredita em nada, mas que você acredita em qualquer coisa...
HK Chesterton
O cara do filme é bom, principalmente porque põe o dedo na ferida. OS que hoje não admitem o debate, e por isso são absolutistas e retrógrados, sáo os que se dizem progressistas...
O Olavão tinha chamado a atenção para este filem, e alguns trechos já circula na net há semanas.
...pessoas que tem convicção de suas idéias, não tem medo de ser contestadas.....eles estão escondendo alguma coisa....
Mr. X, quem desacreditou a Sopa?
Poxa... :-/
Num lembro, acho que foi a Magi ou a Knorr... :-P
X,
Pra que eu posso fazer um comentário mais correto, preciso assistir no mínimo um trailer do filme. Assim que o fizer, passo por aqui.
Abraço.
1. Design Inteligente não é ciência. Pergunte à comunidade científica.
2. O grande problema desse tipo de filme é criar essa imagem de que existe uma "polêmica", um "debate", que coloca criacionistas (design-intelegentistas) no mesmo patamar de evolucionistas, o que é absurdamente equivocado.
A evolução é tão 'comprovada' quanto a gravidade, é ciência da melhor qualidade. Claro que faltam arestas a aparar, como em qualquer outra área de pesquisa científica (INCLUSIVE a gravidade, que só se aplica a casos especiais...).
Não existe polêmica, não existe debate, por mais que os criacionistas queiram fazer parecer.
Se eu escrever uma dezena de livros dizendo que não existe a gravidade, que é obra dos duendes subterrâneos que puxam todas as coisas com seus fios mágicos invisíveis a 9,8km/h2, devo ser levado em conta na hora do debate? Minha opinião tem o mesmo peso dos estudos desenvolvidos desde Galileu ou eu sou só um idiota tentando chamar a atenção? Meus livros mudam alguma coisa no que já se sabe sobre a gravidade? Eles contam como "pluralidade de idéias", ou é burrice pura e simples?
3. Colocar deus na história não ajuda em nada. SE é complicado acreditar na evolução (embora eu ache que não seja uma questão de acreditar, mas de pesquisar), quanto mais complicado é tentar explicar um deus com todos os atributos que alegadamente possui?
4. Evolução e origem da vida são tópicos separados. Não precisamos dominar um para estudar o outro.
Aliás, vou escrever mesmo esses livros contra a gravidade, a favor da teoria da Puxação das Coisas Inteligente.
Aí quando a comunidade científica reagir, eu vou dizer que "O mais interessante é preceber a reação raivosa com que os livros estão sendo recebidos, levando a crer que existe mesmo uma perseguição a quem vai contra o establishment gravitacional... "
Faça-me um favor...
Gunnar, alguem já se antecipou a vc ;^)
Postar um comentário