segunda-feira, 21 de abril de 2008

Expelled, o filme

Estreou nesta sexta-feira nos EUA um documentário que, surpreendendo, ficou entre os dez filmes mais vistos do fim-de-semana. Custou 1 milhão de dólares e arrecadou três milhões só no fim de semana de estréia, bastante para um documentário.

O argumento do filme é que cientistas e acadêmicos nos EUA estariam censurando ou repelindo qualquer cientista que se apoximasse do “Design Inteligente” – ou seja, a idéia de que as coisas não surgiram por acaso, mas que houve... bem, alguma forma de design.

A teoria do “Design Inteligente” é, de fato, uma teoria científica (embora muitos a classifiquem como pseudociência), proposta pelo bioquímico Michael Behe, e não é necessariamente a mesma coisa que Criacionismo. De fato, a única coisa que a teoria argumenta, até onde sei, é que seria impossível a complexidade do DNA ter surgido “por acaso”, como argumentam os proponentes da teoria da evolução darwiniana.
O filme, conduzido pelo escritor cômico e ator Ben Stein, é claro, vai bastante além nas suas suposições, conectando o Darwinismo até com o Nazismo, e tem causado bastante polêmica. O ponto alto do filme parece ser quando entrevista o ateísta militante Richard Dawkins, e este afirma que a vida na terra poderia ter sido criada, não por Deus, mas por seres extraterrestres que foram fruto da evolução em outra galáxia...

O mais interessante é preceber a reação raivosa com que o filme está sendo recebido, levando a crer que existe mesmo uma perseguição a quem vai contra o establishment darwiniano... As críticas que li do filme até agora são impiedosas. Fiquei com curiosidade de ver. Pode que seja uma grande besteira, uma espécie de Michael Moore anti-Darwin... Ou pode ser que não.

Pessoalmente, não acho que teoria da evolução e religião estejam necessariamente em desacordo, e, embora não sendo cientista, o que li de Carl Sagan e Stephen J. Gould sobre o tema me parece fazer sentido (O Dawkins, acho meio chato, e ele parece mesmo mais interessado na sua implicância com a religião do que na divulgação científica).

De mais a mais, não sigo a rigor nenhuma religião, embora tenha sido educado no cristianismo. Sobre o ateísmo, a única coisa que me incomoda é que muitas pessoas que dizem não acreditar em Deus, no minuto seguinte estão perguntando qual o meu signo... Não acreditam em Deus mas sim em astrologia, ou no socialismo, ou que eram os deuses astronautas, ou qualquer outra irracionalidade. Na verdade, é impossível para o homem ser completamente racional, mesmo porque há tanta coisa que não sabemos e, provavelmente, nunca saberemos.

Aliás, como todo grupo humano parece seguir uma forma de religião, e como as sociedades religiosas monoteístas parecem ter se dado melhor na luta pela sobrevivência (os judeus ainda estão aí e ninguém mais ouviu falar de fenícios, babilônios, cretenses, etc; cristãos e muçulmanos se expandem enquanto o secularismo encolhe, etc.), daria para argumentar que a própria religião é uma estratégia da evolução... Mas isso seria uma outra teoria (Dawkins argumenta que a religião é um "erro" da evolução - mas, se a evolução é cega e sem direção, como falar em "erro"?)



Atualização: embora o filme apele (em teoria) maiormente aos criacionistas cristãos, Ben Stein é judeu, o que não deixa de ser uma curiosidade. Enquanto isso, a Scientific American e outros órgãos de divulgação científica publicaram pesadas críticas ao filme. O debate está apenas começando.

13 comentários:

Anônimo disse...

Um conceito interessante de que os filhos de Abraão são mais “eficientes”.

Entretanto há muitas religiões politeístas ou “não teistas” que vão muito bem.

Mas não discuto a eficiência das grandes religiões monoteístas em não aceitarem a existência de um pensamento diferente.

Enfim pode ser mesmo que em termos evolutivos judeus, muçulmanos e cristãos atinjam uma supremacia inquestionável no mundo todo e sigam até o fim dos tempos se matando com sua suprema eficiência.

Seria bom fantasiar um mundo globalizado no qual cada pessoa ou grupo pudesse viver seu misticismo como melhor lhe proviesse.

Anônimo disse...

O filme em si não me interessou muito. Parece mais um daqueles poderosos lobbies dos religiosos americanos. Quanto ao último parágrafo, realmente a religião pode ter desempenhado um papel muito relevante na sobrevivência de determinados grupos. É um argumento mais plausível do que conversar com meu colega evangélico de trabalho, que, ao contra-argumentar que a religião é uma criação essencialmente humana, crê que existe algo de divino na bíblia senão o cristianismo não teria 2 mil anos de vida e expandido para quase todos os cantos do planeta.

|3run0 disse...

Os biologos (em particular) detestam criacionismo (ou desenho inteligente, ou qualquer eufemismo equivalente) com a mesma intensidade, e pelas mesmas razões, que nós físicos abominamos astrologia. Em ambos os casos o problema não é só a picaretagem bastante obvia para quem entende do assunto, mas também os picaretas que acham que depois de lerem um panfleto ou verem um documentário, sabem mais sobre o assunto que quem passou a vida inteira estudando-o; e que acham ainda que cientistas tem a obrigação de engaja-los ad nauseam em debates entediantes e improdutivos.

Digo popperianiamente que a dita 'ciência da criação' não é ciência Esta afirmativa é falseável: é o só os criacionistas obterem resultados científicos relevantes usando suas teorias, que não podem ser obtidos usando a evolução/seleção natural

Alias, os matemáticos também tem quem odiar... Mencione 'topologia lacaniana' para eles, e veja como as palavras 'homeomórfico' e 'não-comutativo' podem ser usadas como xingamentos ;^).

Mr X disse...

Bons comentários.

Fora o tema básico de se existe ou não um Deus, eu acho que o tema da religião, e porque ela existe, e se realmente pode existir uma sociedade totalmente laica, sem religião ou ao menos algum tipo de mitologia unificadora (acho que não pode não), e se as sociedades religiosas funcionam melhor ou não, enfim, tudo isso me parece fascinante.

Duas coisas me chamam a atenção: a sobrevivência dos judeus face às mais terríveis perseguições, e a incrível expansão do cristianismo, não através da violência, mas da pregação e da paz (começaram sendo atirados pelos romanos aos leões, e pouco depois o próprio império romano assumia o cristianismo). Poderia falar também do budismo, se conhecesse algo.

Quanto ao que o Bruno coloca, achei bem interessante. Por outro lado, também os religiosos teriam o direito a se incomodar com o Dawkins por meter o bedelho em um tema (religião) que não é de sua especialidade.

Sobre a teoria da evolução, ela pode explicar muitas coisas, mas realmente não explica a origem da vida. Acho que não existem teorias de consenso sobre isso, aliás, né? Fora aquela da tal "sopa primeva", mas acho que hoje está desacreditada. Cadê o Darwinista, pra comentar aqui?

Abraços a todos, e obrigado pelos inteligentes comentários,

Anônimo disse...

O problema de não se acreditar en Deus, não é que você não acredita em nada, mas que você acredita em qualquer coisa...

HK Chesterton

O cara do filme é bom, principalmente porque põe o dedo na ferida. OS que hoje não admitem o debate, e por isso são absolutistas e retrógrados, sáo os que se dizem progressistas...

O Olavão tinha chamado a atenção para este filem, e alguns trechos já circula na net há semanas.

Anônimo disse...

...pessoas que tem convicção de suas idéias, não tem medo de ser contestadas.....eles estão escondendo alguma coisa....

Anônimo disse...

Mr. X, quem desacreditou a Sopa?

Poxa... :-/

Mr X disse...

Num lembro, acho que foi a Magi ou a Knorr... :-P

Marcelo disse...

X,

Pra que eu posso fazer um comentário mais correto, preciso assistir no mínimo um trailer do filme. Assim que o fizer, passo por aqui.

Abraço.

Anônimo disse...

1. Design Inteligente não é ciência. Pergunte à comunidade científica.

2. O grande problema desse tipo de filme é criar essa imagem de que existe uma "polêmica", um "debate", que coloca criacionistas (design-intelegentistas) no mesmo patamar de evolucionistas, o que é absurdamente equivocado.

A evolução é tão 'comprovada' quanto a gravidade, é ciência da melhor qualidade. Claro que faltam arestas a aparar, como em qualquer outra área de pesquisa científica (INCLUSIVE a gravidade, que só se aplica a casos especiais...).

Não existe polêmica, não existe debate, por mais que os criacionistas queiram fazer parecer.

Se eu escrever uma dezena de livros dizendo que não existe a gravidade, que é obra dos duendes subterrâneos que puxam todas as coisas com seus fios mágicos invisíveis a 9,8km/h2, devo ser levado em conta na hora do debate? Minha opinião tem o mesmo peso dos estudos desenvolvidos desde Galileu ou eu sou só um idiota tentando chamar a atenção? Meus livros mudam alguma coisa no que já se sabe sobre a gravidade? Eles contam como "pluralidade de idéias", ou é burrice pura e simples?

3. Colocar deus na história não ajuda em nada. SE é complicado acreditar na evolução (embora eu ache que não seja uma questão de acreditar, mas de pesquisar), quanto mais complicado é tentar explicar um deus com todos os atributos que alegadamente possui?

Anônimo disse...

4. Evolução e origem da vida são tópicos separados. Não precisamos dominar um para estudar o outro.

Anônimo disse...

Aliás, vou escrever mesmo esses livros contra a gravidade, a favor da teoria da Puxação das Coisas Inteligente.

Aí quando a comunidade científica reagir, eu vou dizer que "O mais interessante é preceber a reação raivosa com que os livros estão sendo recebidos, levando a crer que existe mesmo uma perseguição a quem vai contra o establishment gravitacional... "


Faça-me um favor...

|3run0 disse...

Gunnar, alguem já se antecipou a vc ;^)