And now for something completely different. Para descontrair e evitar as costumeiras polêmicas aqui no blog, apresento um tema sem qualquer relevância política: os seios de silicone. Você gosta de seios de silicone?
Faz algum tempo um articulista britânico, falando genericamente em nome dos homens, afirmou que os seios de silicone não são nada sexy. Concordo com ele, muito embora imagine que alguns homens gostem, ou não haveria tantas mulheres se siliconando por aí.
O artigo em si não é grande coisa, mas as fotos que o acompanham são hilariantes. Nunca entendi bem essa opção estética, afinal é bastante fácil ver quais seios são reais e quais não. Demasiado arredondados, demasiado erguidos e demasiado afastados um do outro, são seios de desenho animado, não seios reais.
É também curioso que a estética dos seios de silicone se junte à estética da magreza anoréxica tão comum nas passarelas. Ora, os seios estão diretamente relacionados com o volume (para não dizer gordura) da pessoa, portanto seios enormes em uma pessoa magérrima chamam a atenção e parecem antinaturais.
Mas não estaremos vivendo uma época que valoriza justamente a estética antinatural? Piercings e tatuagens também são modificações corporais que são utilizadas por número cada vez maior de pessoas, para não falarmos em modificações mais extremas como a "troca de sexo" ou o implante de chifres. Eis a triste história de uma garota que colocou dezenas de tatuagens no rosto, e eis o seu tatuador. Seios artificiais de silicone não deixam de ser outro tipo de modificação corporal que se soma à crescente tentativa de modificar a biologia humana, ou ao menos a sua estética natural.
(E, entanto, não há nada de novo sob o sol: o que hoje chamamos de piercings e tatoos ja eram utilizados de forma pouco diversa há milhares de anos atrás pelos indígenas, quem sabe até pelos cavernícolas, e tal retorno a esses adornos corporais poderia constituir, longe de ser uma modernidade, um retorno ao primitivismo. Hoje as mulheres ocidentais aumentam seus seios, mas não há uma tribo cujas mulheres aumentam o tamanho do pescoço? As chinesas não diminuíam o tamanho de seus pés? É, não há nada de novo sob o sol.)
Tudo, no entanto, talvez faça parte de uma discussão mais ampla. O filósofo Roger Scruton, em recente artigo que pode ser lido em português aqui, falou sobre a importância da beleza e como a estamos perdendo. Seu texto é principalmente sobre a feiúra da arte moderna, que devido, segundo ele, principalmente à perda da religião (ou mais bem do cristianismo), teria perdido a espiritualidade e portanto o ideal de beleza. Porém, tanto no artigo quanto no vídeo que acompanha, um dos argumentos mais interessantes do filósofo é que a própria vida moderna estaria perdendo a sua beleza. Não são apenas as artes plásticas: a horrenda arquitetura moderna de Niemeyers (o comunista plagiador) e Corbusiers, o modo de vestir e até o de se comportar, tudo estaria perdendo a sua elegância.
Não é preciso ser cristão (e muito menos ter lido o artigo sobre os quatro estágios do niilismo do Frei Serafim Rose) para observar que vivemos em um mundo cada vez mais dominado pelo niilismo, pela crença de nada importa, e de que a missão do artista é apenas a de chocar e confundir. Se acreditamos que existe uma Verdade, uma Ordem Natural, podemos então passar a acreditar que existe uma Beleza (Beauty is truth, truth beauty,—that is all ye know on earth, and all ye need to know); se não acreditamos, fica fácil pensarmos que nem mesmo a arte tenha qualquer objetivo.
Poucos leitores deste blog parecem estar interessados na questão da arte moderna, e, no entanto, esta parece-me às vezes um dos sintomas mais claros da decadência do mundo ocidental. Às vezes fico imaginando que, daqui a milhares de anos, alguns arqueólogos desenterrarão os artefatos artísticos do século XXI, e ficarão perplexos ante a visão de uma sociedade que aparentemente odiava e desprezava a si mesma, e que não podia sequer conceber a Beleza, tanto que suas próprias mulheres já não sabiam mais o que esta era, e se enfeitavam inflando artificialmente os seios e lábios de forma grotesca e antinatural.
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Nerds idiotas e vândalos imbecis
Ontem havia filas quilométricas na frente das Apple Stores por aqui, com milhares de pessoas tendo passado a noite inteira na fila. Tudo para comprar o novo iPhone 4.
Quem passaria toda a noite na rua para comprar um telefone? Evidentemente, não se trata de necessidade. Todos os que estavam na fila já tinham telefones celulares de, pelo menos, penúltima geração. Eu posso entender uma fila quilométrica do pão em tempos de escassez, e até mesmo uma fila quilométrica para assistir a um espetáculo único, mas uma fila para obter um objeto que poderiam comprar sem problemas uma semana depois?
Quem passaria toda a noite na rua para comprar um telefone? Evidentemente, não se trata de necessidade. Todos os que estavam na fila já tinham telefones celulares de, pelo menos, penúltima geração. Eu posso entender uma fila quilométrica do pão em tempos de escassez, e até mesmo uma fila quilométrica para assistir a um espetáculo único, mas uma fila para obter um objeto que poderiam comprar sem problemas uma semana depois?
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segunda-feira, 29 de março de 2010
Você está preparado para o caos?

"You are about to enter a world of pain." A frase é do filme "The Big Lebowski", dos irmãos Coen, que assisti apenas recentemente. (É bem bacana, e é um filme que só poderia ter sido rodado em Los Angeles. Esses personagens excêntricos não caberiam em nenhum outro lugar.)
Mas voltando à frase: acho que resume como poucas o sentimento que percorre grande parte do mundo civilizado hoje em dia.
Ou, parafraseando Marx. Há um fantasma rondando o mundo. O fantasma do colapso global. Não, não uma mera crise: um colapso total.
Ei, não gosto de ser apocalíptico, mas é o que está no zeigeist. A passagem do Obamacare nada mais é do que o último baile da ilha fiscal. Après Obama, le deluge.
Em recente post, Richard Fernandez observou que vem uma tempestade aí. Coisa séria. Desvalorização da moeda, guerra e tudo mais. A crise não é apenas americana, é mundial. Se os EUA estão gastando o dinheiro que já não têm, a Europa (leia-se Alemanha e França) está para emprestar o dinheiro que tampouco tem à Grécia, para que esta não entre em bancarrota e puxe o euro junto. A China? Não se iludam: também enfrenta uma housing bubble particular. Os países árabes? Vejam o caso da crise em Dubai. Isso sem falar nos vários conflitos que ameaçam pipocar aqui e ali, dos quais os atentados em Moscou são um mero lembrete. Ninguém se salva tão facilmente dessa.
Mas é possível que quem fique pior sejam os EUA, simplesmente devido ao velho ditado: quanto maior a altura, maior a queda.
Em um artigo extremamente interessante, um russo fez uma comparação entre o colapso soviético pós-comunismo e um hipotético colapso americano. Segundo ele, os russos estavam bem melhor preparados do que os americanos, e por isso sofreram menos do que os americanos irão sofrer.
O raciocínio é simples. Os soviéticos estavam acostumados à fila do pão, à falta de combustível, ao racionamento, ao cortes de luz. "In Soviet Russia, you don't go to party, the Party goes to you."
Mas a América? Os EUA vivem um grande sonho, e ainda não acordaram. Sempre digo que o grande problema dos EUA foi a excessiva prosperidade. Só esta pode explicar tantos e tão absurdos gastos, a ilusão de querer dar "saúde grátis para todos" em um momento que não há dinheiro nem empregos.
Imagine então quando o colapso vier. Não digo uma mera crise passageira, digo uma crise geral, total, como ocorreu na Rússia após o fim do comunismo ou em Berlim nos anos 20. Quebra das instituições. Moeda desvalorizada. Hiperinflação. Falta de comida. Falta de água. Falta de eletricidade. Falta de Internet. Imagine uma multidão de gordos, que até ontem estavam brincando com seus iphones, andando pela cidade como zumbis, em busca não de uma conexão wifi, mas de água e comida. Vai ser o caos.
Multiculturalismo? As diversas culturas juntas enfrentando unidas as ameaças? Não creio. Gangues de negros e mexicanos lutarão entre si pelo direito de assaltar brancos e asiáticos. Não espere solidariedade entre árabes e armênios, ou entre indianos e judeus. Vai ser cada um por si.
Alguns poucos estarão bem preparados. É bem verdade que os EUA também são o país dos survivalists, e que as pessoas aqui desde pequenas vão se acostumando à idéia de um apocalipse vindouro. Quase todo blockbuster americano que se preze tem cenas de destruição, cataclisma, morte e horror. E, depois, 9/11, Katrina e os riots de 92 ainda estão presentes na memória coletiva. Mas a sensação é de que algo ainda pior virá.
Essa sensação só aumentou no governo Obama. Que a venda de armas e munições bateu todos os recordes não é segredo. Alguns vão além e estão construindo bunkers, com mantimentos de água e comida. Eu mesmo estou pensando em estocar água e alimentos, o que sempre é útil, mesmo em caso de terremotos. Nunca se sabe o que pode acontecer.
Os analistas apontam uma reprise da crise de 29 em escala global. Possivelmente seguida de guerra também. Ou o contrário, guerra seguida de crise. Basta o Irã atacar Israel, ou Israel atacar o Irã, ou a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, ou a China atacar Taiwan, ou algum novo terrorista atacar os EUA com uma dirty bomb. Não só explode a guerra, como o preço do combustível sobe as alturas, o comércio mundial é interrompido, e inicia a escassez.
E não pense que o Brasil escapa dessa. Essa não vai ser uma mera "marolinha" não.
A questão não é mais se a crise global vai acontecer. A questão é apenas quando.
Você está preparado?

domingo, 27 de dezembro de 2009
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Gays vs. negros vs. latinos, ou: Papel, pedra, tesoura
Faz um tempo escrevi um post sobre a Proposition 8 e como negros e latinos haviam votado contra os gays, que são na maioria brancos, mostrando uma divisão entre a chamada "coalizão arco-íris" que vota Democrata. Hoje leio que Perez Hilton, o militante gay e drama queen que detonou Miss Califórnia, levou um soco de um cantor negro e terminou chorando. Curiosamente, o mesmo público esquerdista que apoiou sua guerrinha particular contra Carrie Prejean, a Miss Califórnia cristã, hoje o critica por ter se metido com um rapper da moda.
Andrew Breitbart explica que tudo na sociedade liberal de hoje funciona como um jogo de papel, pedra e tesoura:
"Negro ganha de branco. Gay ganha de branco. Negro ganha de gay."
Poderíamos continuar infinitamente: Judeu ganha de cristão. Palestino ganha de judeu. Palestino ganha de gay. Mulher branca perde de homem negro (vide o caso Hillary). Mulher negra ganha de homem negro. Pobre ganha de rico. (O coringa é uma mulher, negra, lésbica, muçulmana, abortista e pobre).
Mas e os latinos? Os latinos, ou melhor dizendo os mexicanos mestiços indígenas, também estão na parada, e lutam violentamente contra os negros. Sim, violentamente é a palavra certa. Gangues de um e de outro grupo disputam território na cidade. Mas, mesmo fora do ambiente das gangues, um povo não tolera o outro. Em muitos casos, odeiam-se e desprezam-se mutuamente.
E, de fato, ambos competem pelos mesmos benefícios estatais. Os negros vêem os latinos como usurpadores que estão começando a roubar as regalias às quais antes só eles, membros da principal minoria oprimida americana, tinham direito. (Os negros são totalmente contrários à imigração ilegal, como indica este excelente artigo do City Journal). Já os mexicanos, que não se sentem culpados por escravidão nenhuma (há poucos negros no México), vêem os negros americanos como um empecilho na sua luta para obter as vantagens da ação afirmativa.
No momento em que a minoria não-branca em breve se tornará maioria nos EUA, é interessante - ou assustador, dependendo do ponto de vista - observar o que poderá acontecer.
Andrew Breitbart explica que tudo na sociedade liberal de hoje funciona como um jogo de papel, pedra e tesoura:
"Negro ganha de branco. Gay ganha de branco. Negro ganha de gay."
Poderíamos continuar infinitamente: Judeu ganha de cristão. Palestino ganha de judeu. Palestino ganha de gay. Mulher branca perde de homem negro (vide o caso Hillary). Mulher negra ganha de homem negro. Pobre ganha de rico. (O coringa é uma mulher, negra, lésbica, muçulmana, abortista e pobre).
Mas e os latinos? Os latinos, ou melhor dizendo os mexicanos mestiços indígenas, também estão na parada, e lutam violentamente contra os negros. Sim, violentamente é a palavra certa. Gangues de um e de outro grupo disputam território na cidade. Mas, mesmo fora do ambiente das gangues, um povo não tolera o outro. Em muitos casos, odeiam-se e desprezam-se mutuamente.
E, de fato, ambos competem pelos mesmos benefícios estatais. Os negros vêem os latinos como usurpadores que estão começando a roubar as regalias às quais antes só eles, membros da principal minoria oprimida americana, tinham direito. (Os negros são totalmente contrários à imigração ilegal, como indica este excelente artigo do City Journal). Já os mexicanos, que não se sentem culpados por escravidão nenhuma (há poucos negros no México), vêem os negros americanos como um empecilho na sua luta para obter as vantagens da ação afirmativa.
No momento em que a minoria não-branca em breve se tornará maioria nos EUA, é interessante - ou assustador, dependendo do ponto de vista - observar o que poderá acontecer.
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sexta-feira, 26 de junho de 2009
Ready for his close-up
Michael Jackson morreu há poucas quadras do meu atual apartamento. Ontem, helicópteros, carros e multidões faziam um barulho insuportável, e perguntei-me o que estava acontecendo. Só então descobri que o autor de "Thriller" havia morrido no hospital da UCLA.
Foi estranho ligar a televisão e ouvir centenas de personalidades e jornalistas falando sobre as grandes qualidades de Michael Jackson, sobre o seu incrível talento para a dança e a música. Está certo que é justo respeitar os mortos e a tradição é só falar bem deles, mas no caso de Michael Jackson soou um pouco falso. O sujeito, afinal, mesmo para os parâmetros da stardomship americana, tinha se tornado uma lamentável e grotesca figura de circo. A Norma Desmond da música pop.
Talvez a morte de Michael Jackson represente o fim de uma era. Hoje, afinal, não há mais superstars, ou se os há eles duram apenas um par de anos, logo sendo ofuscados pelas novas estrelas do momento. Pense nas maiores estrelas de cinema há meros cinco anos atrás, e tente saber onde elas estão hoje. A segmentação de público gerada pelas novas tecnologias também está acabando com a longevidade e ubiquidade das stars. Curiosamente, foi a própria Internet (o site de fofocas TMZ) que deu a exclusiva sobre a morte, com 45 minutos de antecedência sobre a grande mídia. Mais um "fim de uma era" aí.
Mas será que Michael Jackson não é, no fundo, a vítima dessas mesmas mudanças que ocorreram? Incapaz de manter-se no estrelato apenas com a sua música (para a qual de fato tinha inegável talento), apelava para transformações e comportamentos cada vez mais radicais. Isso sem falar no bizarro aspecto de sua relação com as crianças, nunca definitivamente explicado. Pedófilo ou Peter Pan freak?
Sou daqueles que acompanharam o fenômeno ao longo de suas várias transformações: quando eu estava na escola, Michael, ainda negro, era uma figura cool que fazia sucesso com "Bad" e "Thriller", e todos queriam imitar os seus passos. Quem poderia imaginar naquele momento que tudo terminaria tão mal?
O dinheiro não traz felicidade, diz o ditado, mas não sei se é bem isso. Acho que é o seguinte: o dinheiro (e a fama) aumentam a infelicidade dos infelizes, pois estes procuram compensar com bens materiais aquilo que não podem ter. Sei de um sujeito que, ao ganhar uma insuspeitada herança, abandonou a mulher (namorada desde a adolescência) e os filhos, foi morar com uma garota de 16 anos, entupiu-se de cocaína, comprou dezenas de carros e motos, foi fazendo gastos cada vez mais estrambóticos até acabar com todo o dinheiro, foi finalmente abandonado pela adolescente e terminou suicidando-se. Se Michael Jackson não tivesse todos esses milhões para realizar todo e qualquer capricho, não teria se transformando na figura bizarra que se tornou. Talvez fosse igualmente infeliz, mas não de modo tão público e grotesco. Que a terra lhe seja leve.
You know it's thriller, thriller night.
Foi estranho ligar a televisão e ouvir centenas de personalidades e jornalistas falando sobre as grandes qualidades de Michael Jackson, sobre o seu incrível talento para a dança e a música. Está certo que é justo respeitar os mortos e a tradição é só falar bem deles, mas no caso de Michael Jackson soou um pouco falso. O sujeito, afinal, mesmo para os parâmetros da stardomship americana, tinha se tornado uma lamentável e grotesca figura de circo. A Norma Desmond da música pop.
Talvez a morte de Michael Jackson represente o fim de uma era. Hoje, afinal, não há mais superstars, ou se os há eles duram apenas um par de anos, logo sendo ofuscados pelas novas estrelas do momento. Pense nas maiores estrelas de cinema há meros cinco anos atrás, e tente saber onde elas estão hoje. A segmentação de público gerada pelas novas tecnologias também está acabando com a longevidade e ubiquidade das stars. Curiosamente, foi a própria Internet (o site de fofocas TMZ) que deu a exclusiva sobre a morte, com 45 minutos de antecedência sobre a grande mídia. Mais um "fim de uma era" aí.
Mas será que Michael Jackson não é, no fundo, a vítima dessas mesmas mudanças que ocorreram? Incapaz de manter-se no estrelato apenas com a sua música (para a qual de fato tinha inegável talento), apelava para transformações e comportamentos cada vez mais radicais. Isso sem falar no bizarro aspecto de sua relação com as crianças, nunca definitivamente explicado. Pedófilo ou Peter Pan freak?
Sou daqueles que acompanharam o fenômeno ao longo de suas várias transformações: quando eu estava na escola, Michael, ainda negro, era uma figura cool que fazia sucesso com "Bad" e "Thriller", e todos queriam imitar os seus passos. Quem poderia imaginar naquele momento que tudo terminaria tão mal?
O dinheiro não traz felicidade, diz o ditado, mas não sei se é bem isso. Acho que é o seguinte: o dinheiro (e a fama) aumentam a infelicidade dos infelizes, pois estes procuram compensar com bens materiais aquilo que não podem ter. Sei de um sujeito que, ao ganhar uma insuspeitada herança, abandonou a mulher (namorada desde a adolescência) e os filhos, foi morar com uma garota de 16 anos, entupiu-se de cocaína, comprou dezenas de carros e motos, foi fazendo gastos cada vez mais estrambóticos até acabar com todo o dinheiro, foi finalmente abandonado pela adolescente e terminou suicidando-se. Se Michael Jackson não tivesse todos esses milhões para realizar todo e qualquer capricho, não teria se transformando na figura bizarra que se tornou. Talvez fosse igualmente infeliz, mas não de modo tão público e grotesco. Que a terra lhe seja leve.

Atualização: Pronto. Tinha que acontecer: já saíram as piadinhas cretinas sobre a morte de Michael.
Atualização 2: RW lembra da morte de Farrah Fawcet, que ocorreu no mesmo dia, poucas horas antes.

Atualização 2: RW lembra da morte de Farrah Fawcet, que ocorreu no mesmo dia, poucas horas antes.

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segunda-feira, 6 de outubro de 2008
A cidade dos carros

Tem uma cena em "Sunset Blvd." (já o filme tem nome de rua - no Brasil se chama O Crepúsculo dos Deuses) em que os credores do protagonista levam embora o seu carro. Ele, que está hospedado na casa de uma atriz decadente, fica desesperado: "Meu Deus, nunca vou sair daqui!"
De fato, não ter carro em Los Angeles pode causar uma sensação de claustrofobia e impotência. Sei de pelo menos um leitor (nosso amigo Gunnar) que detestaria Los Angeles. A cidade, de fato, não é construída para pessoas, mas para carros.
Não me entendam mal: é possível caminhar ou andar de bicicleta, e a cidade conta ainda com um excelente sistema de ônibus. Na verdade, os ônibus aqui são melhores do que em muitos lugares da Europa: limpos, razoavelmente rápidos, chegam sempre no horário (há uma tabela na parada), possuem acomodação externa para transportar até duas bicicletas, e um sistema para pessoas em cadeiras de rodas que - já vi em ação - funciona muito bem. Comparando, os famosos ônibus londrinos são péssimos).
Mas quase toda a arquitetura da cidade é pensada para quem tem carro. Avenidas largas, distâncias quilométricas, restaurantes com drive through. Vi mesmo algumas lojas que têm a sua entrada principal para os carros - a entrada para meros pedestres fica nos fundos da loja e é preciso dar a volta no quarteirão. Há alguns bairros nos quais é possível passear e caminhar (Rodeo Drive, Westwood) como em qualquer cidade normal, mas há outros lugares nos quais para ir do ponto A ao ponto B você precisa caminhar mais de um quilômetro.
A cidade pode ser aproveitada mesmo sem um automóvel, é claro. Eu mesmo não tenho carro ainda e, por ora, não senti falta: vou à Universidade de bicicleta. Porém, sei que eventualmente vou ter que comprar um. Los Angeles não é Amsterdam.
No dia em que o petróleo acabar, temo que esta cidade entrará em colapso. Isso, é claro, se não acabar antes com o Big One (não, não me refiro a Obama, mas ao grande terremoto que, dizem, um dia virá. Talvez ocorra no mesmo dia da posse de Obama, como um anúncio do final dos tempos).
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