No Brasil, índios recebem terras exclusivas e obedecem a uma legislação diferente da do resto da população. A questão das cotas raciais gera indignação em alguns e orgulho em outros, e cria uma divisão - real ou não, já não sei - entre "negros" e "brancos", ainda que haja muitos que fiquem no meio do caminho neste país de mulatos e mamelucos.
Nos EUA, Obama - que foi eleito por 95% dos negros americanos exclusivamente devido à cor de sua pele - colocou uma mulher latina como juíza da Suprema Corte. E ela disse o seguinte:
I would hope that a wise Latina woman with the richness of her experience would more often than not reach a better conclusion than a white male who hasn’t lived that life.
Já pensou se algum branco disesse que "sua experiência como homem branco lhe permitiria ser um melhor juiz"? O mundo viria abaixo. E no entanto ninguém se espanta com o fato de que uma juíza da Suprema Corte diga que suas decisões não só não derivam exclusivamente da Lei - mas que sua identidade como mulher latina seja tão ou mais importante na hora de decidir, pois por ser mulher e latina ela seria melhor do que um homem branco.
Ué. Será que isso não é racismo?
O que esses fatos - e muitos outros - mostram é que negros, indígenas, latinos, asiáticos, muçulmanos, e até mesmo em parte os judeus (ainda que estes sejam considerados parte dos brancos opressores, especialmente se "sionistas") - todos continuam, em maior ou menor grau, "tribalistas", isto é, associados com as pessoas do seu grupo e lutando pelos seus direitos enquanto grupo. Pelo jeito, os únicos otários que acreditaram na falácia do multiculturalismo são os brancos ocidentais. É o único grupo que se mistura ativamente com os outros e ao qual não é permitido o tribalismo explícito. Afinal, ao contrário dos outros grupos, qualquer coisa que falarem contra os outros e serão acusados de "racistas" ou até de "fascistas".
Não vai aqui uma apologia do racismo, ao contrário. Prefiro um sistema político, social e legal no qual as leis e os direitos sejam iguais para todos, independente de raça, cor ou religião (eu disse iguais, não com direitos maiores a minorias).
Mas o tribalismo é uma característica humana. Nada há nada de necessariamente errado nisso, é mesmo perfeitamente natural: preferimos viver com os que mais se assemelham conosco. Mesmo em uma cidade cosmopolita e multicultural como Los Angeles, os vários grupos étnicos, nacionais e/ou religiosos vivem em geral separados: há o bairro chinês, o bairro coreano, o bairro judeu ortodoxo, o bairro iraniano, os vários bairros latinos, os vários bairros negros, etc. Um pouco de mistura há, mas, no fundo, naquilo que importa, ninguém se mistura muito com ninguém.
Ocorre então uma coisa curiosa: quanto mais se propaga o multiculturalismo e a diversidade, mais se reforça o tribalismo. Na França, já são de conhecimento público os ataques dos imigrantes contra a polícia e a propriedade nos bairros de periferia, bem como casos espantosos de ataques a jovens judeus. Na Inglaterra, muçulmanos freqüentemente protestam violentamente. Nos EUA, provando que as minorias só são aliadas de conveniência, gangues de latinos atacam violentamente negros, querendo exterminá-los (e vice-versa). Na Suécia, já há bairros em que loiros de olhos azuis não mais se atrevem a entrar.
O problema, então, é que a esquerda, que antes tentava jogar os trabalhadores contra os "donos dos meios de produção", isto é, estimulava a luta de classes, agora parece que decidiu mudar de tática e dedicar-se sem escrúpulos a incentivar o ressentimento racial. De outra forma não podem ser entendidos os pronunciamentos cada vez mais agressivos contra o "homem branco", as políticas de "cotas raciais" e de reparações milionárias pela escravidão a negros e indígenas, políticas estas que já estão ou estarão logo a caminho na Bolívia, na Venezuela, no Brasil e até nos EUA.
Esse racismo explícito é bastante perigoso, pois - como somos sempre tribalistas, ainda que tentemos contê-lo - cedo ou tarde vai gerar um backlash, com os brancos também agindo de modo lamentavelmente violento e tribal. Em 1992 houve protestos raciais violentos aqui mesmo em Los Angeles. Se ocorrerem de novo, serão muito piores, por mais que haja um afro-americano na presidência e uma latina na Suprema Corte.
6 comentários:
Cada vez melhor, Mr X. Essas pessoas são burras, culturalmente tacanhas, não veem o futuro, nas ações que promovem no presente. É claro que vai haver uma reação branca. Afinal, um dia, essas ações de recalcados e raivosos vão estimular o radicalismo até de quem não é radical. Essa gente não quer justiça, só quer levar vantagem.
Bom, Sr.X. Bom mesmo.
As cotas raciais representam uma das grandes safadezas da esquerda. Solapam a meritocracia com o discurso fajuto de estarem democratizando o acesso ao ensino superior dos negros, pardos, indígenas e afins -- até filhos de policiais militares e bombeiros estão nessa também. Isso apenas cria um grupo de pessoas que têm tratamento especial perante a lei e isso é algo extremamente errado, pois abala uma das estruturas mais básicas da democracia: A isonomia perante a lei.
Sem dizer que, com as cotas, a esquerda e os políticos mais oportunistas da oposição dão várias cartadas ao mesmo tempo: Escondem um seríssimo problema brasileiro, o péssimo ensino das escolas públicas, e o convertem em uma política democraticamente mascarada, mas que, no final, serve apenas para angariar mais votos, além de atacar, com uma tacada apenas, as "elites", tirando delas, em tese, algo que sempre pertenceu ao povo sofrido e explorado. Ah, claro, e ainda estigmatizam aqueles que são contra as cotas, rotulando-os de "filhinho de papai", "playboy/playba", "patricinha", "mauricinho", "burro" (até mesmo por cotistas que tiraram uma nota no vestibular menor do que os não-cotistas!) e etc.
Uma pessoa que pôde estudar em boas escolas particulares nada tem a ver com a pessoa que, por uma fatalidade do destino e da vida, não teve acesso ao mesmo ensino. Isto não pode servir de motivo para avacalhar com a Constituição e a meritocracia.
Um excerto desse discurso fajuto dos pró-cotas (cortesia do reitor da UERJ):
"— Os cursos de medicina, direito, odontologia e jornalismo, por exemplo, ficaram mais negros. Sem as cotas, a maioria dos alunos era branca e de alto poder aquisitivo[...]".
Percebo um tanto de ódio nessas palavras. Parece que, de acordo com o que vai acima, o importante não é o vestibulando ter um bom desempenho no vestibular, mas, bem mais importante do que isso, poder tornar mais negro cursos onde a concorrência é elevada. A cor da pele vale mais do que o mérito.
Nenhuma pessoa deve pedir desculpas e/ou dar concessões aos demais por ter qualidades que os outros não têm.
Mérito é mérito.
Muito bom, Marcelo Augusto: esse ressentimento é coisa da turma do "quanto pior melhor". Não importa tanto melhorar a vida dos pobres ou dos negros, quanto que os "mauricinhos brancos" se ferrem.
Acho pior ainda o seguinte: o sistema de cotas causa literalmente um emburrecimento. Quando os alunos não são selecionados pela capacidade intelectual e/ou estudo, mas por outros fatores como cor da pele, origem, ou até mesmo amizade com o político Fulano, o resultado vai ser um só: piores engenheiros, piores médicos, piores professores, piores cientistas, etc.
Daqui há alguns anos, a qualidade dos universitários brasileiros vai ser sofrível (ja é, mas vai ficar pior).
Pessoal, adivinhem quem o atual presidente culpa como sendo os responsáveis pela péssima qualidade do ensino público...?
A classe média!
"Uma das razões pelas quais a escola pública foi se deteriorando é porque grande parte da classe média se afastou dela. Para não brigar [por qualidade], decidiu colocar os filhos na escola particular. E pagar na mensalidade de 3º ano primário o mesmo preço de uma universidade particular"
Link: http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/05/28/ult105u8133.jhtm
Vai ver isso tem algo em comum com aquela velha tática de guerrilha do "acuse-os daquilo que nós fazemos".
Daqui a pouco aparece algum doido varrido para dizer que os hospitais públicos se deterioraram porque a classe média se afastou deles.
Sei não, mas parece que a classe média brasileira tem fortes possibilidades de se tornar os judeus do petismo.
Lógico. A primeira missão de todo governo socialista é exterminar a classe média. O povaréu é mais fácil de controlar.
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