quarta-feira, 20 de maio de 2009

Quando a ciência vira marketing

A Ciência é idolatrada hoje em dia quase como um Deus. É o grande Oráculo, pai da Verdade Objetiva.

Não me entendam mal, sou pró-Ciência. Li Carl Sagan desde criancinha e sempre quis ser astrônomo. Talvez devesse ter seguido os conselhos do meu pai e ter virado cientista, ou vá lá, ao menos engenheiro. Acredito na Ciência. Acredito que seja mesmo a única forma de conhecimento objetivo sobre o mundo que nos cerca.

Mas o que acontece quando os cientistas mentem?

Tomemos a questão do "aquecimento global". O que sabemos ser verdade ou mentira nessa história? Alguns dos próprios cientistas envolvidos na pesquisa admitiram mentir ou exagerar para chamar a atenção. Alguns, alegando razões nobres - "é para salvar o planeta!" - outros, confessando abertamente que é para obter mais verbas. Eis a carta de uma cientista ao New York Times:

It is no secret that a lot of climate-change research is subject to opinion, that climate models sometimes disagree even on the signs of the future changes (e.g. drier vs. wetter future climate). The problem is, only sensational exaggeration makes the kind of story that will get politicians’ — and readers’ — attention. So, yes, climate scientists might exaggerate, but in today’s world, this is the only way to assure any political action and thus more federal financing to reduce the scientific uncertainty.

MONIKA KOPACZ
Applied Mathematics and Atmospheric Sciences

Outro exemplo: há grande hype hoje em torno da descoberta de um fóssil que, supostamente, indicaria a descoberta do famigerado "elo perdido" entre o homem e os primatas inferiores. Até o Google está comemorando o evento. Mas, se você ler o artigo e as reportagens com atenção, verá que na realidade, a descoberta não tem nada de miraculoso ou mesmo de tão inovador. O próprio cientista responsável admite ter criado o hype para obter verbas milionárias e até um acordo com um programa de TV.

No artigo acadêmico sério, é claro que os cientistas fazem questão de esclarecer que não existe "elo perdido" nenhum. Mas na reportagem para o New York Times, deixam passar as maiores exagerações para o ignorante público leigo, apenas para obter promoção:
"Qualquer banda pop está fazendo a mesma coisa", disse Jorn H. Hurum, um cientista na Universidade de Oslo que adquiriu o fóssil e reuniu o grupo de cientistas que o estudou. "Qualquer atleta está fazendo a mesma coisa. Precisamos começar a pensar do mesmo modo na ciência."
Quando a ciência vira marketing, boa coisa não é. Corre-se o risco de repetir o vexame do Homem de Piltdown.

7 comentários:

marcelo augusto disse...

"[...] Talvez devesse ter seguido os conselhos do meu pai e ter virado cientista, ou vá lá, ao menos engenheiro.[...]"Engenheiro? Tá louco, Mr. X?

Chesterton disse...

A questão é que muito poucas coisas na vida podem ser examinadas no aspecto objetivo exigido pela ciência, aí ela ser tão específica, táo pontual.
Principalmente quando se lida mcom seres humanos, no caso a medicina, os fatores subjetivos sempre preponderam. Afinal, é a satisfação do paciente que conta.
Tentativas de trazer objetividade a fenômenos subjetivos são feitas, algum sucesso se alcança, mas há um limite.
Quem vai salvar o planeta do cientistas?

Cláudio disse...

Mandou bem. Engraçado que muita gente esquece que, antes de tudo, cientistas são indíviduos com interesses e agenda próprios. Claro que há aqueles sérios cujo interesse é mesmo expandir o conhecimento do mundo que nos cerca, mas há - como sempre - os barulhentos pilantras que se travestem de ciência para outros fins. De uns tempos para cá, criticar cientistas virou heresia.

Chesterton disse...

Claudio, mesmo os que pretendem expandir o conhecimento, honestos, as vezes se perdem acreditando que o espectro de ação da ciência é mais amplo do que na realidade é. Ficam desumildes. Pretendem que os fatos se encaixem nas suas pesquisas.

Rolando disse...

Há também os achados arqueológicos. Ano passado "acharam" um busto no fundo de um rio na França, imediatamente noticiado como sendo de Julio César. Em duas semanas a notícia é esquecida, até por casualidade "acharem" um novo busto de César por aí. É o mesmo com tudo o que é encontrado em Jerusalém: qualquer ossinho ou caixinha desenterrada e já se tem um personagem bíblico revelado. O mesmo com os egípcios e seus aristocratas. Uma amiga historiadora já me havia dito que essas descobertas são quase sempre marmeladas. Deve ser para arrancar patrocínio como frisaram os próprios cientistas midiáticos.

Mr X disse...

É verdade, o que será que houve com aquele tal busto de César que não era César? E lembro também de uma moeda que revelaria o "verdadeiro" rosto de Cleópatra... Também sumiu.

Vitor Machado disse...

Recomendo a Leitura do Capítulo 16 do livro "O Mundo Assombrado pelos Demônios", de Carl Sagan, que se chama exatamente "Quando os cientistas conhecem o pecado". Uma excelente discussão sobre os cuidados que os cientistas devem ter ao misturar crenças com fatos.