segunda-feira, 25 de maio de 2009

Desconexão


Está havendo um grande escândalo de corrupção na Inglaterra. Naturalmente, um escândalo risível para nós aqui brasileiros: deputados que utilizaram dinheiro público para cobrir gastos pessoais. Nada além do que vemos no governo Lula todo santo dia. "Vocês chamam isso de corrupção?", diria o brasileiro médio, entre gargalhadas.

Mesmo assim, o caso está dando o que falar na Inglaterra. Há um ódio contra políticos que não se via há tempos por lá.

O fato mostra ainda a total desconexão que existe hoje em dia na maior parte dos países entre a classe política e o resto da população. Não apenas no aspecto da corrupção, que sempre existiu e sempre existirá, mas nas idéias e interesses diferentes que ambos grupos têm. Quer dizer, em teoria os políticos existiriam para representar as vontades dos seus votantes, náo é mesmo? Mas na prática é um pouco diferente.

Por exemplo, de acordo com recente pesquisa cujo link não consigo encontrar agora, o combate ao "aquecimento global" era considerado uma "prioridade absoluta" pela maioria dos políticos ingleses. Já para a população, representava uma preocupação menor, bem abaixo da violência urbana e do cocô de cachorro nas ruas. (A mesma coisa no Brasil, aliás: enquanto o grande problema para a imensa maioria da população é a violência urbana, a preocupação em Brasília é com aborto e células-tronco...)

Outro tema é a imigração: não há pessoa de classe média na Europa ou nos EUA para quem a imigração ilimitada não seja um problema. Mas os políticos, de esquerda ou de direita, se recusam sequer a discutir a questão.

Por outro lado, é verdade que o povo vota nessas mesmas pessoas. Quer dizer, esses políticos não estão ali por força da magia. E o Lula tem 80% de aprovação popular. Então talvez a desconexão não seja tanto entre o eleitor e o político, mas entre os desejos delirantes da população e a realidade possível.

O círculo vicioso funciona mais ou menos assim: os políticos prometem um mundo de maravilhas, igualdade social, saúde e educação para todos, tudo de grátis. Os eleitores, seduzidos, acreditam e votam neles. Mas, quando as "soluções" prometidas ficam muito aqüem do esperado, quando os políticos que prometem lugar contra a corrupção - ó surpresa - roubam em escala jamais vista, ou quando o dinheiro para as benesses acaba e vem a crise, os eleitores ficam surpresos e frustrados.

A Califórnia de Schwarze está devendo até as calças, e agora o governo se vê forçado a cortar milhões bilhões. Ao mesmo tempo, não foi o mesmo público que em anos anteriores votou sempre em políticos que realizavam gastos cada vez maiores, inchando fenomenalmente o déficit?

O caso de Obama é apenas o exemplo mais extremo desse mesmo fenômeno. O presidente que mais endividou o país na história dos EUA, e isso apenas nos seus 100 primeiros dias de mandato, recentemente disse uma coisa absurda que poderia ser parafraseada mais ou menos assim: "efetivamente, estamos sem dinheiro, mas o problema pior é não termos solucionado a questão da saúde pública."

Ou seja, a "solução" de Obama para a crise e o endividamento é gastar mais alguns trilhões em um plano de saúde pública e gratuita para 300 milhões de pessoas. Tudo bem. Afinal, como todo estatista sabe, o dinheiro nasce em árvores.

3 comentários:

marcelo augusto disse...

Muito bom o post!

Esse negócio de tudo ser cedido pelo Estado é um tanto complicado. Eu sou contra esse tipo de prática, pois o Estado não produz riqueza, mas apenas consome aquilo que é arrecadado pelos impostos, sem dizer que empresas públicas estão muito mais sujeitas à corrupção do que a iniciativa privada -- claro, neste último setor há também corrupção, no entanto, o empreendedor privado não seria idiota o bastante para roubar (adivinhem?) o próprio dinheiro e/ou investí-lo em causas perdidas e utopias das mais ilusórias (universidade "gratuita" para todos; saúde "gratuita" para todos; transporte público para todos; e etc.).

Há de convir, também, que o Brasil é um país extremamente anti-capitalista. O brasileiro médio vê o capitalismo como esse sistema tosco que a esquerda tanto propaga como sendo o responsável pelos males do mundo, ao passo que as nações, que o adotaram e o desenvolveram sob uma forma refinada, atingiram um elevado nível de qualidade de vida e seus cidadãos têm acesso a serviços que, no Brasil, ou são inexistentes, ou são muito caros, exclusividade de poucas pessoas. Sei lá, mas, na cabeça louca dos esquerdistas, parece que há algum mal muito pernicioso no fato de um cidadão comum trabalhar, se dedicar ao seu empreendimento e ganhar dinheiro honestamente, sem ter que pagar ao Estado taxas confiscatórias de impostos.Nem é de se espantar que não tenhamos um Rockfeller ou um Fulbright: Como criar capitalistas em um ambiente que tem aversão a eles?

Mr X disse...

"parece que há algum mal muito pernicioso no fato de um cidadão comum trabalhar, se dedicar ao seu empreendimento e ganhar dinheiro honestamente, sem ter que pagar ao Estado"

Acho que fiz uma vez um post sobre isso. Não gostamos do capitalismo, mas do feudalismo. A diferença é que os servos recebem bolsa do Estado para NÃO trabalhar.

Diogo disse...

Bem, os primeiros da fila que prjudicam o capitalismo, são justamente os empresários brasileiros [vou ser politicamente incorreto e incluir todos].

Capitalismo não tem somente relação com os serviços básicos serem públicos, ou privados.

Temos um histórico muito grande de "empreendedores" que recebem/receberam BOLSA do Estado para não trabalhar[desenvolver o verdadeiro capitalismo]: Sudene, BNDES, Sudam, guerra fiscal.

Como é que a direita brasileira vai argumentar contra os esquerdistas, com um histórico de perversões e promiscuidade de seus "doges" e o empresariado?

Mas, concordo que a base de todo caos no capitalismo brasileiro são as taxas confiscatórias de impostos, que nem todos empreendedores tem o direito honesto de tentar burlar,ou o camelô que vende pirata na esquina, tem a mesma "liberdade" que o empresário que investe no caixa dois do político, para receber incentivos fiscais [menos impostos] mais tarde?