O direito de não viver

Viver é (muitas vezes) sofrer. Dito isso, podemos dizer que estar vivo é um mal? Que seria melhor não ter nascido? A pergunta é ilógica. Para poder sequer pensar nisso, temos que ter nascido. Podemos então decidir se continuar a viver ou não. O suicídio é um tema filosófico desde os antigos gregos, passando por Shakespeare e chegando a Camus. O direito de não nascer... não tanto.




No seu último artigo, o idiota profissional Peter Singer sugere que esta deveria ser a última geração humana. Que as pessoas não deveriam mais ter filhos, pois a humanidade destrói o planeta, os seres humanos sofrem, etcétera -- portanto o caminho melhor seria a extinção voluntária humana (A idéia original nem é dele, mas do colega utilitarista David Benatar, cujo livro ele comenta).

Curiosamente, Singer têm três filhas e três netos, então não fará parte de nenhuma última geração. Apóia a eutanásia, mas para a sua avó doente pagou o melhor serviço de saúde que o dinheiro pode comprar. Apóia o infanticídio, mas preferiu não estrangular nenhum de seus netos. Diz que as pessoas dos países desenvolvidos deveriam doar uma grande parte de seu salário aos pobres da África, Índia e Cazaquistão (demostrando que entende tanto de economia quanto de filosofia) mas ganha um vultuoso salário como professor de Princeton, sem contar o que recebe como palestrante e demais.

Peter Singer não é um filósofo. Seu objetivo não é o de debater idéias, mas simplesmente o de jogar bosta no ventilador. Irritar, incomodar, chocar os otários. Não acredita em uma única palavra que diz. Eu nem deveria dar atenção a esse filho da puta, mas é domingo e não tenho mais o que fazer.

De qualquer modo, me chama a atenção este trecho do seu artigo, pois é a única razão que ele encontra para ser contrário à extinção humana:

I am enough of an optimist to believe that, should humans survive for another century or two, we will learn from our past mistakes and bring about a world in which there is far less suffering than there is now.

Singer não entendeu nada. Não vamos "aprender com nossos erros", pois isso jamais aconteceu ao longo de cem mil anos de história humana, e não vai acontecer nos próximos cem. Não vai haver um mundo "com menos sofrimento", pois o sofrimento faz parte da vida. É pegar ou largar.

Nada contra os filósofos pessimistas, houve alguns muito bons ao longo da história. Mas Singer não é filósofo, é animador de auditório.

De todos modos, o problema não é Singer. O problema é ele ser tão celebrado pelos bacanas e ter um cargo de professor de "ética" em Princeton. Esse é que é o problema.