quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Criminosos infelizes

Digamos que um sujeito estrangule uma moça grávida, depois de estuprá-la e espancá-la. Agora acrescente o seguinte detalhe: o criminoso teve uma infância infeliz. Quando era criança, morava na miséria, era abusado por seu tio, e sua mãe lhe batia com o ferro de passar.

O assassino deve ter uma pena menor por causa disso? O sofrimento pregresso de algum modo é um atenuante? Já que ele sofreu antes não deve sofrer depois?

Ou digamos que um criminoso roube um carro, no processo arrastando um menino de seis anos pelas ruas. Mas é pobre, jamais teve um tostão. Não seria a sua situação social a que o leva a cometer o crime?

Na verdade, nem a vida pregressa do cidadão nem sua condição socioeconômica deveriam interessar uma pinóia. Cometeu crime? Cadeia! Sei de muitas pessoas que tiveram infâncias difíceis e nem por isso saíram por aí matando e assaltando. E a maioria dos pobres não rouba ou mata só por ser pobre.

Se o assassino tivesse matado o tio que abusava dele, isso talvez poderia ser alegado em sua defesa; se tivesse roubado um pão para comer, poderia-se quem sabe entender; mas em casos em que a vítima não tem qualquer relação com os problemas psicológicos ou sociais do criminoso, como imputar a conduta criminosa a causas psicológicas ou sociais?

No entanto, muitos juízes parecem discordar de mim. Alguns parecem mesmo achar que a vítima é que tem culpa, por ter muito, ou por andar por onde não devia.

Há ainda a hipótese de que os criminosos, se pertencerem a minorias oprimidas, também deveriam receber uma redução de pena. É o caso de Rudy Guede, onde, provavelmente por ser um imigrante da Costa do Marfim, o assassino confesso recebeu uma pena menor do que os cúmplices (uma garota branca americana e um garoto branco europeu). Ou o caso de um gay que matou os pais e diz que a razão é que eles não aceitavam sua homossexualidade. Agora exige que o juiz que julgue a causa seja gay, pois só assim para ser compreendido.

Não duvido que obtenha seu desejo. A tendência dos progreçistas é ver o criminoso sempre como um coitadinho, humilhado pelo sistema.

O problema é que aí a vítima e seus familiares pagam duas vezes: a primeira quando ocorre o crime, a segunda quando seus apelos são ignorados e os criminosos são liberados com penas irrisórias. No Brasil, chega a ser ridículo: criminoso algum podem ficar mais de 30 anos presos, mesmo que tenha organizado um genocídio em seu quintal.

Mas considere esta última hipótese: e se os "verdadeiros culpados" pelo crime não fossem as "causas sociais" nem a "infância infeliz", mas os genes? Saiba que agora mesmo, na Itália, pela primeira vez na história um assassino teve a pena reduzida por - de acordo com os advogados que se basearam em estudos de geneticistas - ter um gene que causaria a predisposição à violência, o tal MAOA.

E se houvesse mesmo um gene do crime? O que ocorreria com a noção de Justiça? Afinal, o criminoso poderia sempre alegar: "não fui eu, foram os meus genes". Assim como hoje alega que foi sua infância infeliz ou sua pobreza.

Seriam então os criminosos tratados com medicamentos anticrime, em vez de cadeia, como em Laranja Mecânica? Mas isso já ocorre com os criminosos com transtornos mentais. Muitas vezes são liberados nas ruas, com a mera condição de que continuem tomando suas pílulas, o que nem sempre acontece (e aí voltam a matar).

Mas pode um gene realmente induzir alguém a cometer crimes? Mesmo que alguém tenha predisposição à violência, isso não deveria levá-lo necessariamente a se tornar um assassino. É mais provável que o criminoso seja influenciado por uma complexa série de fatores, que incluiriam sua predisposição genética, inteligência (baixa - é mito que os criminosos sejam inteligentes), aspectos econômicos, sociais e culturais, educação, formação moral e religiosa, e nível de testosterona.

Mas tudo isso é irrelevante, é claro.

Afinal, enquanto criminosos reais são perdoados ou têm as penas reduzidas por razões genéticas, multiculturais ou sociais, enfim, coitadismo, a Justiça progreçista preocupa-se mesmo é com sujeitos que mandam emails racistas ou fazem acusações politicamente incorretas. Esses sim são seres perigosos que devem ser punidos com o máximo rigor da lei.

"Num tenho culpa, seu guarda. Nasci assim!"

4 comentários:

DD disse...

Quando há magistrados que acreditam na bondade universal, a merda está feita.

Chesterton disse...

A justissa progreçista astravanco o pogreço do país.
Essa loucura não tem fim?

Klauss disse...

Isso me lembra um filme do Woody Allen, acho que o "Todos dizem eu te amo".

Tem uma família lá claramente democrata, e o filho, republicano e demonstrando um pouco daquele estereótipo conservador é tratado como se tivesse uma doença mental. Aí eles "adotam" um criminoso recém-saído da cadeia, que mexe com os hormônios da filha deles e depois ele a seqüestra.

O Woody Allen parece que enxerga além desses progressistas. E olha que ele não é o tipo que eu considere necessariamente conservador, he he he...

Mr X disse...

É o Todos dizem eu te amo, sim.